sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Fraqueza - o conceito teológico de Paulo

Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte
2 Coríntios 12:10

O conceito de fraqueza nos escritos de Paulo é um conceito interessante e diferente da maioria dos conceitos a esse respeito no pensamento da humanidade. Trago nesse post a tradução de um verbete do Dicionário de Paulo e suas cartas (Dictionary of Paul and His Letters, Gerald F. Hawthorne, Ralph P. Martin [editors]), e espero que seja útil aqueles que buscam mais conhecimento da Palavra de Deus!

Para ter acesso à tradução apenas clique no link "Mais informações"

Graça e Paz!!!




Fraqueza

Na literatura paulina, o termo astheneia (“fraqueza”) cumpre uma função distinta. Em seu uso no grego clássico, na Septuaginta (LXX), e nos outros escritores do NT, o termo quase sempre quer dizer “enfermidade” ou “falta de poder.” Em Paulo, contudo, a palavra é usada dentro de um conceito teológico significativo, especialmente em seus escritos mais longos: 1 e 2 aos coríntios e Romanos. o termo astheneia e seus cognatos (astheneō, asthenēma, asthenēs) ocorrem 15 vezes em 1 aos coríntios, 14 vezes em 2 aos coríntios, 8 vezes em Romanos, mas somente 7 vezes em todas as outras cartas de Paulo. A fraqueza como um tema teológico significativo é desenvolvido mais plenamente nas correspondências aos coríntios, onde Paulo argumenta contra oponentes judeus-cristãos que se gabavam de seu conhecimento e suficiência comparados com as inadequações aparentes de Paulo. Em face dessa oposição, Paulo toma as acusações sobre sua “fraqueza” e a transforma de acordo com seu propósito de defender seu evangelho e seu ministério.
  1. O tema paulino da “fraqueza”
  2. Fraqueza: apostolado e espiritualidade cristã.

1. O tema paulino da “fraqueza”
Paulo desenvolve seu conceito de três formas básicas: Antropologicamente, cristologicamente, e eticamente.
Antropologicamente, a fraqueza pressupõe que uma toda a existência de uma pessoa é dependente de Deus e está sujeita às limitações de uma criatura (1 Cor. 2:3). A fraqueza também envolve a inabilidade dos seres humanos de atingirem o favor de Deus por eles mesmos (1 Cor. 9:22).
Cristologicamente, a fraqueza se torna uma insígnia de honra para o crente “em Cristo” e a plataforma pela qual o poder de Deus é demonstrado no mundo. Para Paulo, a fraqueza humana provê o melhor canal para o poder Divino. A maior revelação deste fato se vê na pessoa e obra de Jesus Cristo em sua existência terrena/humana (1 Cor. 1:25-26). Paulo se tornou como Cristo no fato de que o poder de Cristo foi revelado na fraqueza de Paulo (2 Cor. 10-13).
Finalmente, no nível ético Paulo enfatizou contra seus oponentes que, devido à prioridade do amor sobre o conhecimento e sobre os dons, os crentes devem “suspender” sua liberdade cristã diante das sensibilidades de cristãos fracos (1 Cor. 8-10). No serviço de Cristo não há espaço para o individualismo egoísta, não importa o quão grande ou impressivo as habilidades de alguém possam ser. Os membros mais fracos da família da igreja são de fato indispensáveis para o funcionamento apropriado de todo o corpo, assim como o corpo humano é dependente de seus órgãos internos mais fracos (coração, pulmão, etc.), cuja única proteção é aquela que os membros mais fortes podem providenciar. Portanto, uma falha em ajudar ao fraco (1 Tess 5:14) é uma falha em reconhecer a dependência mútua de cada membro da unidade que caracteriza o corpo de Cristo (1 Cor. 12:12-13).
O conceito de fraqueza de Paulo, em suma, é marcadamente teocêntrico. Deus não depende de força humana, nem de realizações humanas, nem mesmo na igreja. Ao contrário, Ele vai em busca do fraco, do ímpio, e do hostil, para os redimir e para os preencher com vasos de sua própria força. A fraqueza é – como o Senhor mesmo expressou para Paulo – o lugar (a condição) onde o poder de Deus é aperfeiçoado (2 Cor. 12:9). Dessa forma, há uma íntima identificação na fraqueza entre Cristo e o crente quando se pode dizer que ambos vivem “pelo poder de Deus” (2 Cor. 13:4).

                           2. Fraqueza, apostolado e espiritualidade cristã

A visão paulina de fraqueza não deve ser entendida apenas como uma doutrina abstrata, pois ela foi desenvolvida em vista de condições factuais. Em primeiro lugar, a fraqueza fala da realidade da finitude humana e de sua dependência de Deus. É apenas isso que Paulo afirma quando ele diz se fraco. Ele não pode reclamar nenhum crédito por qualquer de seus sucessos, pois ele sabe que ele tem sido sustentado por Deus. Se ele tem alcançado alguma coisa, é somente por causa do poder de Deus agindo através de um vaso fraco ainda que consagrado. (cf. 2 Tim. 2:20-21).
Da mesma forma, Paulo ensina que a forma de Deus exibir poder é totalmente diferente das formas humanas. Homens e mulheres tentam vencer suas fraquezas; Deus está satisfeito em usar a fraqueza para seu propósito especial. A forma de Deus trabalhar, corretamente entendida, não é por fazer as pessoas mais fortes, mas cada vez mais e mais fracas, até que somente o poder de Deus seja visto nelas.
Finalmente, para Paulo a fraqueza é o maior sinal do apostolado, pois identifica o humano com o Senhor crucificado. Por sua morte Cristo provou que a fraqueza de Deus é mais forte do que a força humana. Esse mesmo Cristo é agora o exemplo que os cristãos devem seguir. Por viverem sob a cruz de Cristo e por morrerem a cada dia com Ele, eles participam da fraqueza de Cristo. Essa identificação com seu Senhor crucificado os capacita, não somente a perseverar em suas fraquezas, mas a se gloriar nelas.

Bibliografia
D. A. Black, Paul, Apostle of Weakness: Astheneia and its Cognates in the Pauline Literature (New York: Lang, 1984);

idem, “Paulus Infirmus: the Pauline Concept of Weakness,” GTJ 5 (1984) 77–93;

E. Fuchs, “La Faiblesse, Gloire de l’Apostolat Selon Paul (Etude sur 2 Co 10–13),” ETR 2 (1980) 231–53;

E. Güttgemanns, Der leidende Apostel und sein Herr (FRLANT 90; Göttingen: Vandenhoeck & Ruprecht, 1966);

M. Rauer, Die “Schwachen” in Korinth und Rom (Freiburg: Herder, 1923).

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