quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Questões sobre Doutrina: legado teológico - Perfeccionismo? Justificação forense? etc.

Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor; como a alva, a sua vinda é certa...
Oséias 6:3

Todos os assuntos espirituais são relevantes e importantes, não há hierarquia! Entretanto cada ser humano que estuda a Palavra de Deus encontra assuntos que mais lhe chamam a atenção e queimam no coração! Nesse início de 2012 fico imensamente feliz de trazer a vocês um texto a respeito de um dos meus assuntos prediletos na Palavra de Deus e em Ellen White, a questão da salvação e da perfeição, com todos os inúmeros assuntos relacionados (Justificação, Santificação, Perfeição absoluta, Perfeição relativa, Fechamento da porta da Graça). 
Esse texto foi escrito por um ícone da teologia adventista, Woodrow Whidden, e consiste em um artigo (acesse o artigo original em PDF, em inglês, aqui!!!) preparado em comemoração dos 50 anos do lançamento do livros "Questões sobre doutrina" nos Estados Unidos (lançado recentemente no Brasil), e seu legado teológico na questão da soteriologia (doutrina da Salvação), e as crescentes tensões entre as alas perfeccionistas e anti-perfeccionistas da Igreja Adventista do Sétimo Dia!

Espero que esse trabalho enriqueça profundamente o estudo e as reflexões pessoais de todos aqueles que têm, à minha semelhança, profundo interesse nesse tema, estejam eles de que lado for da discussão!

Para ter acesso ao artigo apenas clique no link "Mais informações logo abaixo!!!"

Graça e Paz!!!




Questões Sobre Doutrina: O que deveria consistir seu legado teológico permanente?[1]
Woodrow W. Whidden

Introdução
            Primeiro de tudo, quero expressar minha apreciação por todos os brilhantes estudiosos que têm sido dedicados à história controversa do livro Questões sobre Doutrina.[2] Isso tem lançado luz sobre o pano de fundo da produção do livro e sobre seu agitado legado. Estamos em dívida com Julius Nam, A. Leroy Moore, George Knight, Paul Mcgraw, e outros que trouxeram fatos à tona e pelas análises que produziram. Mas esse artigo não é primariamente sobre o pano de fundo, as interações entre Barnhouse e Martin e seus parceiros adventistas do sétimo dia[3] no diálogo, a publicação do livro, ou as acusações que foram lançadas de um lado para o outro entre M. L. Andreasen e os participantes da conferência geral e administradores. Esse artigo é sobre os aspectos controversos da teologia da expiação vista em QSD e seu contestado, ainda que “criativo” legado.
            O verão de 2007 foi um interessante tempo de reflexão para mim enquanto eu completava os toscos esboços do que viria a ser uma biografia de Ellet Joseph Waggoner. A produção daquele trabalho me proveu algumas perspectivas históricas e teológicas interessantes sobre os assuntos que ainda estão borbulhando no despertamento da igreja ASD (IASD) em sua passagem pelas águas tormentosas levantadas por QSD. Não há nenhuma dúvida em minha mente de que existe uma linha direta de descendentes da teologia de Jones e Waggoner para a teologia de Andreasen, para Herbert Douglas, Dennis Prieble e Larry Kirkpatrick. A sua “vindicação da última geração,” “teologia da última geração” tem sido sustentada por sua (a) Cristologia pós-lapsariana, (b) forte ênfase em certa variedade de total vitória sobre atos de pecado conhecido que conduz a uma espécie de perfeição sem pecado, e (c) uma diminuição de ênfase sobre a tônica protestante evangélica sobre a primazia da justificação pela fé somente (Kirkpatrick é explícito, mas com toda misericórdia, outros que advogam ideias semelhantes parecem ser mais práticos do que teológicos em suas exposições da doutrina da justificação pela fé).
            A despeito do fato de que tem havido fraturas nesta tradição teológica perfeccionista[4] ASD entre os grupos auto-intitulados como “adventistas históricos” e o “comitê de estudo de 1888,” isso não muda o fato de que eles continuam a ensinar as ênfases fundamentais de M. L. Andreasen, A. T. Jones, e E. J. Waggoner. A soma total da obra desses dois grupos e de muitos que seguem seus passos tem sido a de solidificar e de proclamar as convicções básicas que todos os teólogos perfeccionistas têm a respeito da chamada “última/final geração.”[5]
            Agora, surgindo das direções e das convicções perceptíveis dos autores de QSD (L. E. Froom, R. A. Anderson, e W. E. Read), existe uma menos enfática (clara), porém claramente perceptível linha de uma teologia adventista reformada/arminiana. Nos últimos 50 anos esse grupo foi representado principalmente pelos teólogos acadêmicos adventistas (e vários pastores) que têm servido a igreja nos seminários, nas faculdades de teologia, nos escritórios das editoras/casas publicadoras, e pela liderança do Instituto de Pesquisas bíblicas da Conferência geral. Eu percebo que isso representa de forma ampla aquilo que encontrei nas minhas pesquisas históricas e teológicas. Mas eu sinto que ambas as linhas de sucessão foram mais claramente precipitadas e expostas pelo evento QSD.
            Então aqui temos duas tradições teológicas identificáveis, ou paradigmas moderadamente conservadores de “verdade presente” (os “pilares” ou “marcos” doutrinários distintivos) no adventismo. Essas duas tradições desenvolveram versões essencialmente diferentes de Cristologia, Soteriologia, e Escatologia dentro da IASD. Mas precisamos ser mais específicos sobre os assuntos que eram, e ainda são, motivo de discussão nos diálogos entre esses dois grupos. Enquanto existam amplas áreas de concordância entre os dois, existem diferenças bem definidas.
            O que tem se tornado bastante evidente é que há apenas dois assuntos profundamente questionados entre esses líderes da IASD em relação ao livro QSD. Uma breve revisão da reação de Andreasen ao livro colocará o contexto teológico direto para as reflexões mais específicas desse artigo.
A teologia da expiação de Andreasen
            Para Andreasen, a expiação envolvia três fases intimamente relacionadas e essenciais: A primeira consistia na vida perfeitamente sem pecado de Cristo em obediência à vontade de Deus (especialmente: o decálogo); a segunda era a sua morte sobre a cruz onde “Cristo completou sua obra como vítima e sacrifício.”[6] Até aqui tudo bem. Não existem muitos debates demorados sobre esses dois assuntos. Portanto, conquanto essas primeiras duas fases eram certamente fundamentais para o ensino completo de Andreasen sobre a expiação, era a terceira fase que provia o centro de sua teologia distintiva e proveu a principal fonte desse debate de 50 anos e todas as subseqüentes controvérsias relacionadas à questão. Andreasen colocou de forma clara e em linguagem incapaz de não ser entendida.
Na terceira fase Cristo demonstra que o homem pode fazer o que ele fez, com a mesma ajuda que Ele teve. Essa fase inclui Sua estada à direita de Deus, Seu ministério Sumo-Sacerdotal, e a final exibição de Seus santos em sua última luta contra Satanás, e sua gloriosa vitória...
Essa terceira fase está agora em progresso no santuário celestial acima e na igreja abaixo. Cristo quebrou o poder do pecado na obra de sua vida enquanto na terra. Ele destruiu o pecado e Satanás por Sua morte. Ele está agora eliminando e destruindo o pecado em seus santos sobre a terra. Isso é uma parte da purificação do verdadeiro santuário.[7]
O princípio teológico chave que sustentava essa fase “Sumo-Sacerdotal/lugar santíssimo” da expiação era a Cristologia de Andreasen. Ele firmemente sustentava que Cristo tinha tomado uma natureza pecaminosa, igual à de Adão depois da queda (em outras palavras, uma natureza pecaminosa com algum tipo de tendência, propensão ou inclinação ao pecado). Dessa forma com Cristo como exemplo, especialmente para seus seguidores da última geração, a expiação final poderia se tornar efetiva a partir do santuário celestial pelo caráter perfeito sem pecado dos santos dos últimos dias, assim preparados para a batalha. Essa teologia da expiação final foi mais claramente estabelecida no capítulo chamado “a última geração” em seu bem conhecido livro O ritual do Santuário (1937, 1947).[8]
É nesse capítulo fundamental que Andreasen positivamente afirma que satanás não foi definitivamente derrotado na cruz. A derrota cabal de Satanás seria finalmente efetivada através da história da perfeição sem pecado da “última geração” de salvos “selados.”
Andreasen, nesse ponto, foi rápido em dizer que tal vitória final seria alcançada através da graça que seria concedida pelo Grande Exemplo que está ministrando no lugar santíssimo do santuário celestial. Em outras palavras, esse “remanescente” fiel desenvolveria um caráter sem pecado que replicaria a vida perfeitamente sem pecado que Cristo viveu na mesma natureza caída e pecaminosa na qual a última geração terá de ser vitoriosa. Dessa forma Cristo, através da vitória do remanescente, deve derrotar Satanás, para plenamente e finalmente vindicar a exigência de Deus por perfeita obediência; e essa vindicação da vontade de Deus nos últimos dias finalmente tornará possível que Cristo retorne.[9]
O que deve ser feito com esse entendimento de expiação em relação às respostas dadas pelos autores adventistas do livro Questões sobre doutrina?
Onde estamos agora?
Agora que toda a poeira aparentemente baixou, podemos afirmar o seguinte. Mas mais uma vez sejamos claros de que os autores de QSD e Andreasen não discordavam entre si sobre as fases um e dois da expiação. Haviam, todavia, duas discordâncias sobre a frase três:
A primeira discordância tinha mais a ver com a terminologia do que com o conteúdo: a expressão “expiação completada” que é encontrada em QSD era plenamente consistente com a posição de Andreasen no seguinte sentido: A obra expiatória de Cristo na cruz foi completa no sentido de que ali foi feita a provisão para a salvação de todos. Mas não fora completa no seguinte sentido: “aquela completa obra de redenção na cruz é sem valor para qualquer pessoa a menos que, e até que, seja aplicada por Cristo nosso Sumo-Sacerdote, e seja apropriada pelos indivíduos.”[10] Dessa forma se torna bastante claro que L. E. Froom, R. A. Anderson e W. E. Read não estavam negando a fase do “santíssimo” em relação à expiação. Eles usaram consistentemente a linguagem “expiação provida” na cruz e “expiação aplicada” no ministério celestial de Cristo durante o dia antítipico da expiação no lugar santíssimo.
A segunda discordância sobre a terceira fase era, contudo, bem mais substancial: Os autores de QSD não eram muito animados com a visão de M. L. Andreasen a respeito da “última geração” como sendo agentes aperfeiçoados através dos quais Cristo efetuaria a expiação final. Enquanto parece que eles não atacaram diretamente a expiação através da última geração de Andreasen, certamente eles discordavam da Cristologia que provia a base desse conceito.
Dessa forma é possível afirmar que os dois legados mais controversos de QSD são de que ele suscitou novas discussões do que os adventistas queriam dizer com (1) “expiação final,” e (2) a “natureza caída/pecaminosa de Cristo.”
Perspectivas interpretativas pessoais
            As conclusões acima expostas clamam por alguma perspectiva interpretativa. Enquanto o espaço não permite uma crítica detalhada desses assuntos sensíveis, e muito debatidos, desejo expor aqui minhas disposições interpretativas antes de proceder àquilo que acredito ser o real centro que fundamenta a agenda de Andreasen e a resposta reformada/arminiana adventista a ela.
            “Expiação final:” Para aqueles que ainda com alguma versão da noção da expiação através de última geração (com a manifestação da perfeição sem pecado nos remanescentes) de Andreasen, eu gostaria de levantar as seguintes questões:[11] Onde nas Escrituras ou nos escritos de Ellen G. White nós podemos encontrar esse tipo de teologia explicitamente colocada? As Escrituras ou Ellen White claramente ensinam que Deus tornou o sucesso final da obra expiatória de Cristo dependente da experiência do aperfeiçoamento do “remanescente”? Não existe sólida evidência bíblica e em Ellen White para a afirmação de que Cristo vindicou plenamente a exigência de Deus por obediência perfeita por sua própria vida e obra? Além do mais, não seria apropriado sugerir que Cristo vindica Seu Pai no lugar santíssimo, a fase do juízo pré-advento do “grande conflito” por demonstrar que a Trindade foi absolutamente consistente com sua natureza de infinito amor na disposição dos casos de cada ser humano redimido?
            “A humanidade de Cristo:”[12] Em última análise, o legado mais controverso de QSD flui deste assunto. Sem a Cristologia “pós-lapsariana” que sustenta a visão (versão?) de Andreasen do aperfeiçoamento da última geração, todo o projeto da vindicação da última geração fica seriamente comprometida. E aqui está o mais importante legado de Questões sobre Doutrina.
            Enquanto dificilmente exista alguém hoje que concorde completamente com a versão particular de Cristologia “pós-lapsariana” que os autores de QSD rejeitaram (que Cristo não tomou uma natureza “caída, pecaminosa,” apenas a recebeu como “imputação,”),[13] eles iniciaram reflexões posteriores que produziram duas (não apenas uma) interpretações claramente articuladas do que significam tais expressões como “caída” ou “pecaminosa” (usadas por Ellen White) e “semelhança de carne pecaminosa” (usada por Paulo em Romanos 8:3) quando aplicadas à natureza humana de Cristo.
            Essas posições são (1) a clássica posição “pós-lapsariana” de Andreasen e (2) a “Cristologia Alternativa” cujo pioneiro foi Edward (”Ted”) Heppenstall e que é proposta por seus sucessores no Seminário Adventista de Teologia (e outros) até o dia de hoje. A “cristologia Alternativa” reconhece as afirmações “pós-lapsarianas” de Ellen White, mas sugere que elas se referem não à “infecção” do pecado na natureza humana de Cristo, mas somente à forma como o pecado “afetou” a Ele. É a essência da “cristologia alternativa” que eu acho mais coerente, tanto em termos de evidência textual da bíblia e dos escritos de Ellen White, e de suas implicações teológicas.
            Agora, essas são verdadeiramente as questões chaves que nos pressionam e que têm sido relativamente resistentes a qualquer solução definitiva. Então a questão lógica parece ser: Para onde devemos nos dirigir no meio dessa condição aparentemente estagnada?
Como então devemos proceder?
            A resposta que estou sugerindo é mais ou menos assim: Proponho que todos estamos lidando com um assunto mais profundo, mais fundamental e mais essencial!
            Talvez eu poderia colocar a questão da seguinte forma na forma de algumas perguntas adicionais: Qual o papel das respostas humanas à graça tal como o crescimento moral, o cultuar a Deus, e o testemunho missionário no grande plano da salvação? Mas talvez a questão possa ser reformulada de forma um pouco diferente: Exatamente quanto Deus dependeria do sucesso da santificação graciosa de seus professos seguidores para sua vindicação última?
            O que eu pretendo com todas essas questões é que desejo lidar mais diretamente com a questão sobre em que realmente consiste a perfeição da geração final. Se pudermos esclarecer isso, então eu sinto que existe uma boa chance de que a tese da “vindicação final através da última geração” cuidará de si mesma.
A Tese central do coração da questão
            Minha tese central é essa: A contribuição teológica chave de QSD foi impulsionar o adventismo do sétimo dia em um caminho que exigia posteriores esclarecimentos de sua Cristologia e de sua Teologia da expiação e Soteriologia. Alem do mais, esse caminho de esclarecimento deveria continuar a se desdobrar de tal maneira que seríamos conduzidos a re-afirmar a experiência da graça justificadora como o fundamento de toda a experiência de salvação (especialmente para a experiência da santificação, perfeição e glorificação).
            E é nesse nexo dos assuntos relativos à salvação que está o coração dos assuntos dos quais estamos tratando: Toda a justiça produzida por cristãos convertidos deste lado da glorificação (em cooperação com o Espírito Santo) devem ser forensicamente justificada pelos méritos de Cristo, que está constantemente intercedendo como seu Sumo-Sacerdote e “substituto e penhor.”
            Tendo exposto minha tese, sou obrigado a analisar suas implicações práticas e convidar respostas dos dois grupos adventistas que de forma mais vital têm se preocupado com esta controvérsia de grande duração – Os perfeccionistas da última geração e os advogados da justificação forense apenas. Esperançosamente esses grupos receberão meu convite como um desafio positivo.
Questões preliminares para os Perfeccionistas da Última Geração
            Por favor, ponderem nas seguintes questões e reflexões: Eu desejo que esses intérpretes de Ellen White e das Escrituras apareçam e sejam bastante específicos em o que eles querem dizer quando falam de uma geração final que tem a obrigação de vindicar a Deus antes que Ele possa ganhar a vitória final sobre o Diabo no Grande Conflito. Eu sei que vocês afirmam que Jesus ainda está sustentando esses santos cercados de todos os lados com graça santificadora para impedi-los de cometer atos de pecado. Mas essa posição sugere que haverá um tempo, antes da glorificação (que só ocorre na Segunda Vinda de Cristo) quando eles não mais precisarão dos méritos da intercessão de Jesus em benefício desses “remanescentes” por causa de sua pecaminosidade (e vamos ser bem cuidadosos em como definimos o termo “pecaminosidade”)? Haverá um momento quando os verdadeiros e cansados santos que constituem os “144 mil” reduzirão seu olhar ao que Jesus já colocou em seus corações, mas não mais ao ministério de Jesus por causa de “deficiências” reminiscentes? Apenas para esclarecimento, permitam-me refazer a pergunta: A posição de vocês significa que eles não deverão olhar para aquilo que Jesus é naquele momento e está fazendo por eles para continuar a declará-los justos por si mesmo – uma vez que sua lealdade em vencer os pecados conhecidos esteja fora de questão? Esse é o meu desafio para a ala perfeccionista do adventismo.
Questões preliminares aos advogados da justificação forense apenas
Vocês querem dizer ou implicam que a justificação forense pela fé somente é algo abstrato ou separado da regeneração pela fé? Pode uma pessoa estar justificada por uma fé que é puramente um assentimento intelectual apenas? Vocês realmente desejam abandonar Lutero e Calvino (especialmente a soteriologia muito bem definida de Calvino) em suas visões profundamente relacionais de justificação forense? Vocês estão cientes de que para esses dois gigantes do Magistério, a justificação era uma realidade legal, ou forense, que consistia em apenas uma de três ações importantes que são feitas por Cristo e pelo Espírito Santo quando estamos unidos misticamente com Cristo pela fé?
Não é verdade que eles (os reformadores) afirmaram que quando crentes recebem a Cristo eles O recebem como (1) Alguém que perdoa os pecados passados, (2) declara o pecador penitente tão justo e, portanto, perfeito por causa de Si mesmo, e que (3) continua a prover a eles os benefícios de uma obra regenerativa em andamento realizada pelo Espírito Santo e que prossegue a semear o mesmo caráter e o mesmo amor de Cristo na fábrica de seus caracteres?  Vocês realmente querem negar esses preciosos entendimentos tanto de Lutero quanto de Calvino (que Hans LaRondelle tem elegantemente e compreensivamente descrito como “justificação forense efetiva”).[14]
Vocês querem continuar a trabalho sob a pressuposição falsa da “fórmula de Concórdia” que, muito depois da morte de Lutero e de Calvino, decidiu “restringir o evangelho a uma doutrina puramente forense” que fora criada mais para “enfatizar o contraste entre Lutero e Calvino (especialmente Lutero) e o “decreto de justificação” do Concílio de Trento (1547).”?[15]
Eu fortemente insisto que existe uma terceira, e mais satisfatória, alternativa!
A alternativa “justificação forense efetiva”
Eu gostaria de expor uma pequena tese e um desafio: A verdadeira Reforma Protestante do século 16, e a verdadeira doutrina da justificação Wesleyana e Arminiana do século 18 são mais bem destiladas nessa jovem expressão – “justificação forense efetiva.” Além disso, quando ela é aplicada em todas as suas poderosas implicações, ela conclama a uma séria reconsideração de ênfases tanto de “perfeccionistas da última geração” seguidores de Andreasen quanto os proclamadores de uma visão estéril e abstrata de justificação. O último grupo incluindo muitos dos assim chamados adventistas orientados evangelicamente que trabalham a partir do despertamento produzido por Desmond Ford e de sua trágica apropriação do protestantismo escolástico pós-Reforma de Melanchton (o escolástico líder do mundo luterano) e dos pensadores calvinistas/reformados tais como Teodoro Beza de Genebra, Vermigli, Zanchi, e Ursinus.[16]
Eu simplesmente quero admoestar ambos os grupos, que desejam ser adventistas do sétimo dia genuínos, a que desistam de suas teologias sinceras, mas equivocadas. Existe uma alternativa muito melhor – e ela é uma soteriologia bíblica e em Ellen White que seja mais relacional.
Eu falarei aos adventistas que enfatizam a questão forense mais adiante nesse artigo. Mas eu quero primeiro falar à ala perfeccionista do adventismo com mais algumas questões elaboradas e desafios.
O apelo e o desafio aos advogados perfeccionistas
Os assuntos chaves com que os perfeccionistas adventistas (que se inspiram em M. L. Andreasen[17] e em seus admiradores) necessitam se confrontar são os seguintes:
Como alguém harmoniza uma clara doutrina de justificação pela fé somente com as tradicionais ênfases perfeccionistas? Quando uma clara doutrina da justificação pela fé somente é ensinada, uma justificação que vai além do perdão de pecados passados da vida antes da conversão, esses esforçados advogados da plena salvação do pecado imediatamente começam a sentir o poluído cheiro do antinomismo. E aqui está o problema central que todos os partidos precisam encarar. Como se pode evitar os extremos do “desespero” e do “antinomismo.”
Eu não desejaria resolver essa questão em última instância sob a base dos escritos de Ellen White, mas uma vez que ela é tão freqüentemente citada pelos partidários perfeccionistas de Andreasen (que usava esses escritos liberalmente e pessoalmente para justificar[18] sua teologia), eu gostaria de apresentar alguns avisos de precaução e vislumbres positivos que ela nos legou para nossa edificação tanto teologicamente quanto na prática em relação a esse assunto.
Evidências chave para uma justificação forense
Essencialmente existem quatro grupo de evidências nos escritos de Ellen White que erguem sinais de precaução e oferecem vislumbres importantes que podem iluminar as pessoas que advogam as fortes ênfases da perfeição.
O primeiro grupo de afirmações é explícito: Testemunhos Seletos, Vol. 1, pp. 176ss. Ellen White adverte diretamente contra ensinamentos de pessoas que tomam “passagens dos Testemunhos que falam do fim do tempo da graça, da sacudidura do povo de Deus, e falam da saída dentre esse povo de um outro povo mais puro, santo, que surgirá.” Ellen White claramente rejeita tal ênfase ao dizer que todo esse ensinamento “agrada ao inimigo.”[19]
O segundo grupo de afirmações envolve o grupo das poderosas afirmações que expõe o tema de que quanto mais perto o crente chega de Jesus, mais claras serão suas percepções espirituais e mais pecaminosos eles parecem aos seus próprios olhos. (as melhores dessas citações estão em Atos dos apóstolos, 560ss., santificação, 50 e Signs of the times, 23 de março de 1888). Esse conceito poderosamente perceptivo clama ardentemente por uma resposta de como uma justificação objetiva cobre os defeitos desses esforçados, mais ainda imperfeitos, seguidores de Cristo.
O terceiro grupo inclui o maravilhoso conjunto de afirmações que ensinam clara e positivamente que cristãos convertidos são “reconhecidos,” ou “declarados” como justos e tal reconhecimento inclui o desenvolvimento pós-conversão de seu caráter o qual necessita do constate assentimento de Cristo em declará-los legalmente algo que de fato (pelo menos em algum sentido da palavra pecaminoso) eles não são (e aqui está uma das melhores é: Mensagens escolhidas, Vol. 1, pp. 367, 389ss. [a próxima seção (da página 389 em diante é um capítulo chamado Justificação pela fé].
O quarto e final grupo de afirmações inclui aquelas afirmações às quais eu tenho chamado de “atenuantes” ou afirmações de segurança: a afirmação chave é aquela onde nos é dito que Jesus está constantemente compensando nossas “deficiências inevitáveis” (Mensagens escolhidas, Vol. 3, pp. 195-197; ver também o meu livro Ellen White on Salvation [Hagerstown, MD: Review and Herald, Publishing Association, 1995], pp. 99 ff.).

Reservas perfeccionistas relacionadas à justificação puramente forense

Quando esses temas são enfatizados de forma particular e trazidos à luz, os advogados do perfeccionismo começam a ficar nervosos e começam a esbravejar: “Nova Teologia,” “Fordismo [em relação a Desmond Ford],” “Graça barata,” “presunção,” “você está tornando a Lei de Deus de nenhum efeito.” Eu desejo me dirigir diretamente a respeito dessas preocupações importantes e sinceras. Vamos tentar pensar na situação de forma tão clara quanto nos é possível.

Solução sugerida para as reservas perfeccionistas

            Primeiro de tudo, vamos mais uma vez relembrar que o ponto chave da vida santificada, que está em questão nessa discordância de longa data, é o período de crescimento dinâmico na graça que começa na abençoada manhã da conversão com a experiência inicial da graça justificadora.  Essa experiência posterior, que sempre será um acompanhamento indispensável da conversão, inclui a cobertura, ou seja, o perdão dos pecados passados da vida não-cristã que Cristo realiza e continua sua obra. Em segundo lugar, devemos reconhecer de forma realista a verdade de que a experiência da conversão ao carrega consigo a concessão instantânea da santificação sem pecado (ao nível da perfeição) a qualquer converso. A razão do por que isso acontece não é algo de que iremos nos ocupar nessa conjuntura.
            O que simplesmente precisa ser admitido é a absoluta veracidade desse fato – a verdadeira conversão, ou regeneração inicial, não concede santificação instantânea ou um caráter impecável ao novo crente. De fato, tal santificação só será instantaneamente concedida no futuro (e não vamos nos preocupar se esse futuro de refere ao fechamento da porta da graça ou à glorificação por enquanto). Vamos apenas admitir que a experiência normal dos verdadeiros crentes será, pelo menos em certo sentido, sempre imperfeita!
            Agora eu imediatamente que me apressar em dizer que tal imperfeição não inclui atitudes conscientes, ou premeditação de pecados, ou o hábito de se justificar qualquer tipo de pecado. Essas imperfeições irão consistir particularmente e principalmente daquelas “deficiências inevitáveis” dos cristãos em constante crescimento que também estão se aprofundando em sua experiência de penitência e arrependimento ao passo em que eles se aproximam cada vez mais de Jesus.
            Então o que devemos fazer em uma situação como essa? Como alguém poderia ter segurança, na sua perfeição menos que absoluta, de que eles não serão desamparados e condenados pelo julgamento de um Deus Santo?
            Agora, creio que todos irão admitir, se formos verdadeiramente honestos conosco mesmo e com Deus, que nós freqüentemente estamos e somos presentemente necessitados dos méritos justificadores de Cristo.
            Permita-me te fazer uma pergunta, mas por favor não a responda com uma afirmação: “Algum de vocês gostaria de ter um registro público exato de seus pensamentos, motivos, ações, e palavras conscientes das últimas quarenta e oito horas a serem lidas por qualquer pessoa no mundo? A única razão pela qual eu levanto essa pergunta é simplesmente para apontar a necessidade que todos nós temos, pelo menos de tempos em tempos, de sermos perdoados de pecados recentes. E alguém deseja dizer que esse perdão não está disponível ao pecador penitente? Espero que não.
            Se estamos todos juntos até aqui, então vamos agora proceder em aplicar essa discussão em um sentido prático. Qual é a diferença entre o conceito de que a graça justificadora está constantemente disponível para os pecadores penitentes (que têm falhado) quando eles conscientemente se arrependem e confessam seus pecados conhecidos e o conceito de que existem crentes que estão vivendo constantemente em um estado de imperfeição e que estão em constante necessidade de que Jesus os reconheça momento a momento como filhos fiéis a despeito de suas “deficiências inevitáveis”?
            Certamente a maioria dos adventistas perfeccionistas se sentiria mais confortável com a primeira opção, mas não com a segunda. Mas deixe-me forçar a questão um pouco mais adiante. O segundo conceito é “mais aberto” a uma presunção abusiva do que o primeiro conceito? Eu penso que se formos honestos conosco mesmo, e uns com os outros, e com Deus, nós seremos capazes de responder “não!” a essa pergunta. Ambos os conceitos podem ser abusados de forma presunçosa ao lidar com a graça de Cristo para o perdão dos pecados.
            O que obviamente é o caso daqueles que experimentam aquela paz que vem do conhecimento de que Jesus está momento a momento suprindo graça para seus fracassos imaturos é que eles irão consistentemente se tornando conscientes de pecados sobre os quais efetuarão penitência específica e confissão específica de pecados. E dessa forma seu alimento diário será o Espírito que conduz à tristeza pelo pecado e uma mais profunda renúncia no coração dos pecados que conduzem a “crucificarem novamente o filho de Deus,” e o “expondo à ignomínia” (Hebreus 6:6).
Mas alguém aqui deseja argumentar que a graça de Cristo nos capacitará a vislumbrar de forma perfeita todos os nossos motivos e pecados em qualquer sentido para que sejamos totalmente impecáveis em todas as nossas ações, pensamentos, e razões ao fazermos o que fizermos? Se você pensa assim, eu diria que você deve ter uma visão bastante superficial da sua depravação pessoal e das demandas infinitamente justas Deus Cristo através de seus mandamentos.
O que eu creio que todos nós devemos combater é contra a atitude da presunção e de sua irmã mortal – a atitude de justificar qualquer pecado. Mas a justificação pela fé que cobre os pecados conhecidos e reconhecidos de um pecador penitente pode ser um conceito tão abusado através da presunção como o conceito de que a ideia da justificação que provê uma ponte que sustentará aqueles que não desejam cair em sua peregrinação para a perfeição e glorificação ao soar da última trombeta. Tudo gira em torno da uma atitude santificada daquele que seja verdadeiramente um crente justificado!
 Dessa forma, eu concluiria que visão mais plena e rica da graça justificadora gerará uma experiência genuína de santificação mais segura, alegre e humilde. E longe de gerar a atitude presunçosa ela será o único caminho para um crescimento saudável em direção à consciência da enorme podridão do pecado, e da infinita misericórdia divina para o perdão, e do poder da graça de Deus que concede uma vitória real sobre os pecados (“cultivados” ou “herdados”) que nos cercam.
Eu não quero sacrificar nenhuma pequena parte do alto otimismo encontrado na Bíblia e em Ellen White em relação à perfeição de caráter – antes do fechamento da porta da graça, em direção à glorificação e além. Sim, “Mais alto do que o mais elevado pensamento humano pode alcançar está o ideal de Deus para seus filhos.” Mas alto como pode ser, ainda há uma diferença entre o que Ellen White chama de “esfera de Deus” e a “nossa esfera” quando se trata de uma santidade em genuína harmonia com o Evangelho tanto no período antes da glorificação e na eternidade depois da vinda do Senhor. Mas será que realmente desejamos dizer que seremos salvos meritoriamente por vislumbrar de forma perfeita nossos pecados e por nosso desempenho perfeito das últimas revelações de Deus sobre o que seja o dever?
Sem a intercessão constante de Jesus por nossas “deficiências inevitáveis,” temo que as alternativas seriam apenas (a) desespero mortal para os santos conscientes e sinceros, ou (b) presunção para aqueles que pensam ser muito melhor do que eles de fato são. A primeira direção ao desespero é a experiência normal das pessoas sensíveis e altamente éticas, mas que ainda não entendem a graça justificadora. A tentação desse grupo é cometer suicídio espiritual (e às vezes suicídio literal). A segunda opção é a experiência consistente com aquelas pessoas que possuem um entendimento superficial de pecado e da justiça infinita dos mandamentos de Deus. Sua trágica porção é o farisaísmo e seu pernicioso fruto de um legalismo sutil que sempre necessita rebaixar a norma dos justos mandamentos de Deus para que uma manifestação externa e superficial de conformidade com a Lei. Para um fariseu, se no basquetebol a cesta estivesse a 2 metros de distância, ele possivelmente pode convencer a si mesmo de que ele é realmente um jogador excelente. Mas nós sabemos que tal não é o caso. A cesta continua a mais de dez metros de distância e isso significa que todos nós estamos necessitamos da “graça esportiva” que nos cubra por nossas inúmeras “deficiências inevitáveis” em relação à nossas pequenas e fracas “mãos.”

Alguma ajuda do “Pai” Wesley a seus filhos “santificados”

            A luta adventista em como incorporar esses vislumbres dentro de uma soteriologia equilibrada não é nada nova em relação aos antigos dilemas da tradição da “santificação.” Wesley teve de lutar com esses mesmos desafios, mesmo partindo de seus próprios “campeões da santidade.” Poucas observações se provarão úteis quando analisarmos a experiência wesleyana e algumas críticas que ela recebeu. Pois Wesley é o pai de praticamente todas as ênfases evangélicas modernas na santificação, incluindo das ênfases que emanaram da grande enfatizadora da santificação Ellen G. White que fora profundamente influenciada por Wesley e a tradição wesleyana americana.
            Wesley pregou uma doutrina de santificação instantânea. Ainda assim, mesmo Wesley ensinou que havia a necessidade de alguma qualificação para atingir tal perfeição absoluta. Ele nunca usou a expressão “perfeição sem pecado” e desenvolveu uma interessante doutrina chamada “justificação final, ou segunda” para cobrir o que ele chamou de “pecados impróprios” dos santos aperfeiçoados que faziam parte de seu movimento. Em outras palavras, ele fez uma interessante distinção entre um “pecado impróprio” e um “pecado próprio.” Para Wesley essa era essencialmente a diferença entre pecados premeditados e conscientes e os pecados de ignorância e assim por diante. Dessa forma, os aperfeiçoados eram aqueles que chegavam ao estágio onde eles não mais cometiam pecados conscientes e premeditados.
            Agora em alguns aspectos, essa é uma distinção prática e bíblica (Hebreus 10:26) que muitos cristãos têm reputado como um ponto útil – pecados conscientes e de presunção são muito mais mortais em seus efeitos espirituais sobre o transgressor do que os pecados de ignorância, as ações não intencionais nas quais eles erram. Ainda assim essas distinções de Wesley receberam algumas justas críticas.
            Primeiro de tudo, nós sabemos que sua doutrina de perfeição instantânea gerou muito fanatismo sob o despertar de seu ministério pessoal e nas subseqüentes eras da tradição wesleyana. Dessa forma é pouco surpreendente que a maioria dos estudiosos metodistas modernos tem deixado de lado a noção da obra instantânea da perfeição pela graça de Wesley. E a experiência tem nos ensinado que existem algumas cortantes razões do por que essa visão é inerentemente aberta ao fanatismo. Essa sutil dinâmica enganosa envolve uma preocupação não saudável com o desenvolvimento moral de uma pessoa. A crítica mais aguda desse último conceito foi dada por um erudito metodista moderno chamado R. Newton Flew.[20]
            Em relação aos desafios da ideia que define perfeição como principalmente a abstinência de se cometer pecados conhecidos, Flew sugere que se a libertação da transgressão consciente é o principal objetivo da santificação, então a perfeição dependerá de nossa própria forma de ver nossos motivos, nosso desenvolvimento moral prévio, e “conhecimento” de nós mesmos. Tudo isso é um fundamento muito vacilante para se clamar por perfeição, e os comentários de Flew são vislumbres poderosos:
            “Muitas pessoas boas, por outro lado, são inconscientes de seu próprio egoísmo. O homem inclinado a discutir pensa que todo mundo é irrazoável a não ser ele mesmo. O homem vingativo pensa ser movido apenas por uma correta noção de amor-próprio.” “...essas considerações que continuam a ser verdadeiras a respeito dos vícios mais comuns, os pecados mais flagrantes, estão em conformidade com os pecados mais sutis e mortais cometidos no espírito. O orgulho em todas as suas formas, a vaidade, o egoísmo, e ainda a falsa bondade – todas essas formas de mal moral são mais comumente manifestas na vida daqueles que são disciplinados e virtuosos.”[21] Palavras sobre as quais cada advogado adventista da perfeição da última geração faz bem em meditar com seriedade.

O apelo e desafio para os advogados do Evangelho da justificação forense

            Para os adventistas evangélicos que advogam alguma versão da visão “escolástica” protestante de uma justificação forense abstrata, eu faço a seguinte pergunta: Como vocês encaixam a regeneração e seus inevitáveis frutos da graça santificadora através do dom do Espírito Santo em sua soteriologia sem cair em algo do tipo: uma graça barata antinomianista que se manifesta na fórmula “uma vez salvos, salvos para sempre”? Como vocês explicam a afirmação de Paulo “os que guardam a lei é que serão justificados” (Romanos 2:13)? Por vocês estão tão otimistas com os fatores legais, mas tão suspeitos a respeito das obras poderosas de transformação do poder de Cristo através da “agência” do Espírito Santo? Vocês não têm, de fato, chegado às bordas de um antinomianismo prático em sua tentativa de colocar todo o foco apenas na questão da segurança da salvação?
            Por que vocês não podem afirmar que a experiência transformadora da graça é tão essencial em uma experiência genuína de conversão como uma nova posição legal na graça de Jesus Cristo que é nosso “substituto e penhor”? Eu diria que há uma maravilhosa bênção no Evangelho em relação ao crescimento na graça. Essa, entre outras bênçãos, nos garante a graça de um discernimento cada vez mais claro a respeito da enorme malignidade do pecado e da infinidade da misericórdia de Deus. E aqui é onde a abençoada experiência da graça santificadora e aperfeiçoadora ajudam o crente a evitar o efeito bumerangue da cegueira a respeito da enormidade do pecado. A metáfora bíblica mais familiar é a do endurecimento à podridão do pecado e a de estar cansado quando se trata das verdadeiras riquezas que possuímos na maravilhosa misericórdia de Deus.

Genuína perfeição cristã

            Agora, quando as implicações da absoluta necessidade de uma “justificação forense efetiva” nos alcançam, em todo o seu equilíbrio e clareza, não podemos afirmar que esse é o tipo de “santo perfeito” que Deus deseja? Além do mais, um mundo perdido está esperando para contemplar tal testemunho vitorioso do poder do Evangelho? O que se segue é uma visão inspirada na Bíblia e em Ellen White de como uma “última geração” deveria ser: Humildes diante de Deus por causa de sua pecaminosidade, responsivos à oferta de misericórdia da parte de Deus, demonstrando essa mesma misericórdia no relacionamento com as outras pessoas, plenamente participantes das vitórias sobre os pecados conscientes, e equipados para uma vida rica de amor, e serviço, e soerguimento do próximo. Essa não é uma visão equilibrada nesses conceitos que nos levarão todo o caminho na estrada até a glorificação?
            Agora permitam-me terminar com algumas reflexões sobre o status legal dos santos selados depois (e no tempo) do fechamento da porta da graça. A perfeição sem pecado oferece bons pontos para se pensar, mas o que isso importa? Tudo que nos é possível fazer é cuidar dos momentos providenciais do presente, hoje. Ellen White tem muito que dizer sobre os terrores do “tempo de angústia,” mas ela também deu bons conselhos para que ninguém criasse ou fizesse um tempo de angústia antecipado, antes que ele aconteça. Estou sugerindo que se formos responsivos à liderança da graça de Deus em cada passo do caminho e tivermos aprendido a dar passos para trás, quando chegar o tempo de “pular de pára-quedas,” ou fazer um “bung-jump” para o Senhor, haverá graça suficiente para nos fazer aterrissar no porto seguro. Mas tudo isso será apenas um fruto glorioso de uma atitude de constantemente olharmos para Cristo através de atitudes responsivas de fé confiante. Mas será que Deus necessita desse “bung-jump” espiritual para se livrar das acusações de Satanás no fim do Grande conflito? Eu penso que não. Mas com certeza desejo ser prontamente responsivo caso os perfeccionistas estejam corretos em qualquer sentido. Eu apenas creio que Jesus estará suprindo o necessário para as minhas “deficiências inevitáveis.” Mas não nos tornemos presunçosos, continuemos a se aproximar dEle, Cristo, diariamente em busca tanto de graça justificadora quanto de graça santificadora.


[1] Esse artigo foi apresentado na conferência dos 50 anos de aniversário do livro Questões sobre doutrina, realizado nos dias 24-27 de outubro no seminário teológico da Andrews, Barrien Springs, MI.
[2] Mais adiante referido apenas como QSD.
[3] Mais adiante referidos apenas como ASD.
[4] Esse termo é aqui usado de forma “descritiva,” não “pejorativa” (negativamente). Existem muitos aspectos positivos  dessa teologia com as quais eu concordo, e eu creio que é possível encontrarmos uma solução teológica para a questão. Quando leio os escritos de Herbert Douglas e de Kirkpatrick, eu sinto que estamos mais próximos do que gostamos de admitir. Eu espero que esse artigo possa ajudar a reduzir essa divisão e torne cada participante mais consciente das forças e das fraquezas de cada ênfase respectiva.
[5] A principal espinha dorsal de contenda entre esses dois grupos tem sido a agitação e fervorosa promulgação das ênfases problemáticas sobre uma “justificação legal universal” feitas pelo “comitê de estudos de 1888” e de seu principal seguidor, Jack sequeira.  Eu simplesmente sugeriria que toda essa agitação é uma desafortunada “mania por contenda de palavras” que tem sido o originador não teológico da contenda entre ambos os grupos.  Eu insto que o “comitê de estudos de 1888” e Sequeira sigam o conselho dado a eles pelo relatório final do “comitê da primazia do Evangelho” apontado pela Conferência Geral (que funcionou entre 1995-2000) de que eles desistissem da agitação infrutífera sobre essa versão particular de justificação pela fé. O “comitê da primazia do Evangelho” não encontrou apoio bíblico para essa doutrina. Além disso, a questão de sua presença nos escritos de Waggoner e de Ellen White é na melhor das hipóteses fraca, e na pior inexistente. Demanda uma grande quantidade de torções fantasiosas para que alguém veja um ensino implícito de “justificação legal universal” e o peso das evidências sugere uma explicita inexistência de tal doutrina. Aos “adventistas históricos” eu insto a desistir desse debate infrutífero e refletirem mais cuidadosamente em como a Bíblia e Ellen White relacionam a fé justificadora e a santificação. Eu estou dessa forma apelando a ambos os grupos a cuidadosamente ponderar nas direções às quais eu estou delineando nesse artigo.
[6] M. L. Andreasen, O livro de Hebreus (Washington, DC: Review and Herald Pub. Assoc., 1948), pp. 53.
[7] Ibid., pp. 59, 60.
[8] O ritual do santuário (Washington, DC: Review and Herald Pub. Assoc., 1947).
[9] Ibid., pp. 299-301.
[10] L. E. Froom, “A aplicação sacerdotal da obra expiatória,” Revista Ministério, Fevereiro de 1957,p. 10; compare com QSD, pp. 349-355.
[11] As seguintes publicações apresentam os prós e contras dessa teologia. No lado “prós”, veja Herbert Douglass, “Deus em risco: O custo da liberdade em um Grande Conflito” (Roseville, CA: Amazing Facts, Inc., 2004); and Larry Kirkpatrick, “Purificado e Perto: A teologia da última geração em 14 pontos” (Highland, CA: GCO Press, 2005). No lado “contras” veja Eric C. Webster, “Seguimentos na Teologia Adventista” (New York: Peter Lang, 1984; Republished by Andrews University Press, Berrien Springs, MI, in 1992), pp. 396–428; and Woodrow W. Whidden, “A vindicação de Deus e o princípio da colheita,” Revista Ministério de Outubro de 1994 (Vol. 67,Número 10), pp. 44-47.
[12] Para uma excelente amostra do debate adventista a respeito da humanidade de Cristo e uma defesa clássica da visão tradicional “pós-lapsariana” veja, J. R. Zurchier, tocado por nossos sentimentos (Hagerstown, MD: Review and Herald Pub. Assoc., 1999). Para uma defesa da visão “alternativa” ou posição “pré-lapsariana” veja, Nisto Cremos (Hagerstown, MD: Review and Herald Pub. Assoc., 1988), pp. 45-52; Woodrow W. Whidden, Ellen White e a humanidade de Cristo  (Hagerstown, MD: Review andHerald Pub. Assoc., 1997); Roy Adams, A natureza de Cristo  (Hagerstown, MD: Review andHerald Pub. Assoc., 1994); and Stephen Wallace, “Nosso impecável e ainda assim compassivo Salvador,” Uma séria de dezenove áudios apresentados em CD (Harrisburg, PA: American Cassette Ministries, nd), originalmente gravado em 1980.
[13] Devo confessar de que refletindo a posteriori sobre esse assunto, a posição de QSD sobre uma natureza pecaminosa “imputada” me pareceu mais atraente. Isso ao significa dizer que ela deva substituir a posição “alternativa” que eu e muitos outros têm advogado depois do despertar conduzido pelos estudos de Heppenstall; mas suplemente adiante a Cristologia “alternativa” da seguinte forma: Se é verdade que estaremos sem natureza pecaminosa no céu, então isso deve significar que seremos salvos de sua presença ontológica. E se precisamos ser salvos disto no processo da graça glorificadora, então Jesus deve tê-la carregado por imputação sobre si mesmo, no mesmo sentido de que nossos atos pecaminosos foram imputados sobre Ele. Em outras palavras, a obra expiatória de Cristo inclui o oferecimento de um sacrifício por nossa natureza pecaminosa. Dessa forma a morte de Cristo em última instância remirá pecadores não apenas de suas “tendências cultivadas para o pecado,” mas também de suas “tendências herdadas para o pecado.” Isso faz sentido? Gostaria de receber reações sobre isso.
[14] Essa terminologia tem sido evocada ou cunhada por Hans LaRondelle em sua apresentação excelente, até mesmo “clássica,” realizada para os delegados da federação da mundo luterano durante as bi-laterais “conversas entre Luteranos e Adventistas do Sétimo Dia nos anos de 1994-1998.”  O artigo de Hans LaRondelle é intitulado “A visão adventista do sétimo dia da relação entre justificação, santificação, e juízo final” e foi publicado em Luteranos e Adventistas em diálogo: relatório e artigos apresentados 1994-1998 (Silver Spring, MD USA: General Conference of Seventh-day Adventists and Geneva, Switzerland: The Lutheran World Federation, 2000), p. 123ss. Essa publicação pouco conhecida merece mais ampla distribuição. Cópias estão disponíveis no departamento de relações públicas e liberdade religiosa da Conferência Geral dos adventistas do Sétimo Dia.    
[15] Ibid., p. 126.
[16] Veja a excelente recapitulação do escolasticismo protestante em Justo L. Gonzalez, Uma história do pensamento cristão: da reforma protestante ao século vinte. Edição revisada. Vol III (Nashville: Abingdon Press, 1975), Capítulos  IX (pp. 248-265) e X (pp. 266-288) e
Alister McGrath, Pensamento Reformado: Uma introdução, Terceira edição (Oxford, UK: Blackwell
Publishers, 1999), pp. 119-131.
[17] Os assim chamados “adventistas históricos” e os constituintes do “comitê de estudos de 1888” têm todos sido defensores dele.
[18] Talvez a palavra “santificar” seja uma melhor opção do que “justificar” nesse contexto!
[19] Testemunhos seletos, Vol. 1, p. 179. Não é totalmente claro o que o irmão “k” (agora claramente identificado com o evangelista adventista E. R. Jones) estava ensinando, mas com certeza seu ensinamento soa muito similar aos ensinamentos da teologia da última geração que está presente desde o fim do século 19 e começo do século 20 e que formou o coração de teologia da expiação de Andreasen.
[20] Ironicamente o suficiente, R. Newton Flew é o pai do militante filósofo ateísta Anthony Flew. Conquanto Anthony tenha aderido recentemente a uma forma limitada de crença em uma entidade sobrenatural que poderia ser chamada de “Deus” (sob a profunda influência dos argumentos de filósofos cristãos contemporâneos), ele não é um cristão professo. Ao mais, ele poderia ser categorizado como um filósofo deísta reducionista.
[21] R. Newton Flew, A ideia da perfeição (London: Oxford University Press, 1934), p. 333.

Um comentário:

Anônimo disse...

Bom Dia querido!
Gostei Muito do Material,mas precisa corrigir o texto do link 19 pois o livro é Mensagens Escolhidas, vol. 1, pág. 176ss.Obrigado

Junior irmão em Cristo

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