quarta-feira, 9 de maio de 2012

Perfeitos em Cristo - Um livro de Helmut Ott

...nEle estais Perfeitos
Colossenses 2:10

Hoje tenho o prazer de trazer a vocês o fruto de MUITO trabalho! Durante meses traduzi o livro de Helmut Ott (Disponível em inglês aqui!!!) "Perfeitos em Cristo" que trata da visão do Espírito de Profecia a respeito da perfeição cristã.  Estou tentando negociar a publicação desse livro por meios não eletrônicos, mas ainda sem sucesso, entretanto obtive autorização do autor para compartilhar a tradução do livo na íntegra em português para todos que se interessarem em saber mais sobre esse assunto fascinante e extremamente importante!!!

Para ter acesso ao livro, apenas clique no link "Mais informações logo abaixo"

Graça e Paz!!!



Introdução
Um dos ensinamentos mais significativos da Igreja Adventista do Sétimo dia se refere ao Santuário celestial. A doutrina é geralmente dividida em duas partes distintas ainda que interligadas, o chamado Juízo pré-advento e o ministério mediador de Cristo. A primeira lida com o que Cristo, em seu papel como juiz, faz para estabelecer o destino eterno dos que estão mortos – como ele formaliza a posição justa daqueles que durante seu período de vida estiveram dispostos a cooperar com a atividade redentora de Deus em seu favor. A segunda se preocupa com o que Cristo, como representante e advogado do homem, faz para estabelecer o destino eterno dos vivos – como ela torna certa a salvação daqueles que vivem dependendo da morte expiatória do Salvador, de sua vitória redentora, e de sua justiça Toda-Suficiente para estar em uma correta posição diante de Deus.
Desde o princípio os adventistas perceberam que essa doutrina era tanto importante como adequada para seu tempo. Ao apontar a Cristo como o único mediador, justo e efetivo, entre Deus e o homem, um falso sistema de mediação que havia rastejado para dentro da igreja cristã foi exposto. O sistema humano de sacerdócio que por séculos havia prevalecido na cristandade tinha usurpado para si mesmo o papel e a função que, de acordo com as Escrituras, pertence unicamente para Cristo, o sumo sacerdote celestial. Esse sistema estabelecia a igreja como outra mediadora entre Deus e o homem, outra forma de encontrar o favor de Deus.
A introdução desse sistema sacerdotal tanto refletiu como perpetuou uma mudança na auto-compreensão da igreja. A igreja apostólica via a si mesma como a comunhão dos crentes – aqueles que por responder ao evangelho com arrependimento e fé, aceitaram a Jesus como seu Salvador pessoal. Os primeiros crentes tinham uma forte auto-compreensão centrada em Cristo. Eles viam a Jesus como sua “justiça, e santificação, e redenção” sua “vida,” sua “esperança,” seu “tudo” (1 Cor. 1:30; Col. 3:4; 1 Tim.1:1; Col. 3:11). Para eles Cristo era a “realidade” (Col. 2:17) da qual o crente participa pela fé.
A igreja apostólica sabia que eles já eram “filhos de Deus através da fé em Jesus Cristo” (Gál. 3:26). Porque eles eram filhos, eles eram também “herdeiros segundo a promessa” (verso 29). Mas eles também reconheceram que muitas das promessas do evangelho não se tornaram uma realidade concreta durante a existência presente deles. Essas promessas serão plenamente concretizadas somente no futuro, na vida eterna. Enquanto isso elas eram reais apenas em Cristo. Portanto, o único caminho pelo qual o crente pode ter acesso às promessas do evangelho é através de Jesus Cristo.
E a vós outros também que, outrora, éreis estranhos e inimigos no entendimento pelas vossas obras malignas, agora, porém, vos reconciliou no corpo da sua carne, mediante a sua morte, para apresentar-vos perante ele santos, inculpáveis e irrepreensíveis, se é que permaneceis na fé, alicerçados e firmes, não vos deixando afastar da esperança do evangelho (Col. 1:21-23). Irmãos, venho lembrar-vos o evangelho que vos anunciei, o qual recebestes e no qual ainda perseverais; por ele também sois salvos, se retiverdes a palavra tal como vo-la preguei, a menos que tenhais crido em vão. (1 Cor. 15:1-2).

E o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está no seu Filho. Aquele que tem o Filho tem a vida; aquele que não tem o Filho de Deus não tem a vida. (1 João 5:11-12). Porque nos temos tornado participantes de Cristo, se, de fato, guardarmos firme, até ao fim, a confiança que, desde o princípio, tivemos. (Hebreus 3:14). Filhinhos, agora, pois, permanecei nele, para que, quando ele se manifestar, tenhamos confiança e dele não nos afastemos envergonhados na sua vinda. (1 João 2:28). Ora, como recebestes Cristo Jesus, o Senhor, assim andai nele, nele radicados, e edificados, e confirmados na fé, tal como fostes instruídos, crescendo em ações de graças. (Col. 2:6-7).
Os primeiros cristãos entenderam que tudo o que elas eram, e tudo que eles tinham como filhos e filhas de Deus, eles eram e tinham somente porque – e enquanto – eles permeneciam em Cristo pela fé. Eles sabiam que se eles jamais perdessem sua permanência nele – e consequentemente cessassem de participar na obra redentora feita em seu favor – eles voltariam a seu estado prévio de perdição e estariam submetidos à velha ordem de pecado, condenação e morte.  Era, portanto, imperativo que eles continuassem a viver pela fé em Cristo por toda sua vida. Esse era o único caminho no qual isso, que agora eles tinham pela fé, como uma promessa, se tornaria uma realidade histórica para eles na segunda vinda de Cristo.
Com o tempo essa auto-compreensão centrada em Cristo mudou, e a igreja se tornou uma instituição hierárquica que via a si mesma, não como um dependente objeto da graça de Deus, mas como a única possuidora e destribuidora dessa graça. Dessa forma, a igreja cada vez mais funcionada como a agência autorizada que presumivelmente poderia atualizar, ou frustrar, a reconciliação de um pecador com Deus. Para todos os propósitos práticos Jesus foi, pela igreja, tirado de seu lugar como “autor de consumador da fé,” a única “fonte de eterna salvação” (Heb.12:2; 5:9). Os adventistas acreditavam que uma correta compreensão da doutrina do santuário protagonizaria um papel importante em retomar as percepções e experiências apostólicas. Primeiro essa doutrina exporia o falso sistema de mediação que foi estabelecido, e revelaria a falácia de se depender de qualquer instituição, método, mérito ou conquista humana para ter uma correta relação com Deus.
A doutrina do santuário também chamou a atenção para o correto caminho que Deus providenciou em Cristo, para a reconciliação da humanidade com o Pai. A cristandade tinha quase que completamente perdido de vista o papel de Cristo como mediador/substitutivo no céu. A doutrina do santuário traria essa dimensão á linha de frente. Ela apresentaria a Jesus como o Salvador vivo que, como substituto e penhor, “em pé no Santo dos Santos, para comparecer agora na presença de Deus por nós. Ali, Ele não cessa de apresentar Seu povo, momento após momento, perfeito nEle.” (Fé e obras, p.107).
O fato de que o mediador apresenta su povo perfeito em si mesmo, ou seja, imputando a eles Seus próprios méritos pessoais – claramente indica que em Cristo todos os pecadores têm igual acesso ao Pai. Graças ao papel substitutivo de Cristo -  Primeiramente na cruz como sacrifício expiatório, e agora no Trono como advogado que faz mediação – todos os verdadeiros crentes permanecem diante de Deus totalmente perdoados e perfeitamente justos em Cristo.
Terceiro, ao chamar a atenção dos crentes para longe de si mesmos e e para suas consecuções magérrimas – sua obediência imperfeita, seu crescimento inconstante, e maturidade incompleta – e por focar sua atenção em Jesus e em seu ministério redentor em seu benefício, a doutrina do santuário removeria o medo e a insegurança e as substituiria com paz, e segurança, e alegria. As seguintes passagens dos escritos de Ellen G. White revelam isso claramente:
“A intercessão de Cristo em nosso favor consiste em apresentar Seus méritos divinos, oferecendo-Se a Si mesmo ao Pai como nosso Substituto e Penhor; pois Ele ascendeu ao alto para fazer expiação por nossas transgressões. "Se... alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o Justo. E ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo." I João 2:1 e 2. "Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que Ele nos amou e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados." I João 4:10. "Portanto, pode também salvar perfeitamente os que por Ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles." Heb. 7:25. Diante dessas passagens, é evidente que não é a vontade de Deus que sejais receosos e aflijais vossa alma com medo de que Deus não vos aceite porque sois pecaminosos e indignos. "Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós." Tia. 4:8. Apresentai vosso caso diante dEle, implorando os méritos do sangue derramado por vós na cruz do Calvário.” (ibid, 105,106).
Não devemos absolutamente confiar em nós mesmos nem em nossas boas obras; mas quando, como seres erradios e pecadores, nos chegamos a Cristo, encontramos descanso em Seu amor. Deus aceitará a cada um dos que se chegam a Ele, confiando inteiramente nos méritos de um Salvador crucificado. (ibid, 39). Temos de polarizar nossas esperanças quanto ao Céu tão-somente em Cristo, porque Ele é nosso Substituto e Penhor. Transgredimos a lei de Deus, e pelas obras da lei nenhuma carne será justificada. Os melhores esforços que o homem, em suas próprias forças, pode fazer, não têm valor para satisfazer a santa e justa lei que ele transgrediu; mas pela fé em Cristo pode ele alegar a justiça do Filho de Deus como toda suficiente. (ibid, 93).
Finalmente, um conhecimento pessoal do sacerdócio sumo sacerdotal de Cristo no céu capacitaria o povo de Deus a estabelecer e manter uma relação de fé salvífica com Ele, e cumprir o papel que Deus intencionou para eles. Note como a próxima declaração expressa essa ideia:
Todos necessitam para si mesmos de conhecimento sobre a posição e obra de seu grande Sumo Sacerdote. Aliás, ser-lhes-á impossível exercerem a fé que é essencial neste tempo, ou ocupar a posição que Deus lhes deseja confiar... A intercessão de Cristo no santuário celestial, em prol do homem, é tão essencial ao plano da redenção, como o foi Sua morte sobre a cruz. (O Grande conflito, pp. 488-489).
A passagem apresenta dois conceitos principais. Primeiro, ela sublinha o tremendo significado da intercessão de Cristo a favor do homem para o plano da redenção: que é “tão essencial... como foi sua morte sobre a cruz.” E segundo, ela indica que não podemos tem fé essencial nem ocupar o lugar ordenado por Deus para nós a menos que tenhamos um confiável entendimento pessoal de Jesus como nosso Grande Sumo Sacerdote.
A importância do ministério mediador de Cristo e suas implicações para nossa experiência cristã pessoal deve nos mover, como igreja, a colocá-la em destaque em nossa agenda. Infelizmente, esse não tem sido o caso. Historicamente a comunidade adventista tem prestado consideravelmente mais atenção ao papel de Cristo como juiz dos mortos do que a seu papel de mediador a favor dos vivos.
A razão para isso não é que o primeiro seja mais importante – por que isso definitivamente não é o caso – mas por que é mais controverso. Com o objetivo de estabelecer alguns aspectos sobre essa fase do julgamento, alguém tem que construir pontes, estabelecer relações textuais, delinear soluções, e derivar implicações que não são tão evidentes escrituristicamente como muitos gostariam que fosse. Como resultado, nós temos estado tão intensamente ocupados com alcançar um consenso sobre alguns detalhes do julgamento de Deus sobre os mortos que temos quase que completamente negligenciado a nós mesmos em relação com a ativa obra de Cristo para a redenção dos vivos.
Presumivelmente, tal ênfase unilateral, teve alguns efeitos colaterais. De um lado, ela nos distraiu de proclamar a Cristo como o único justo e efetivo mediador entre Deus e a humanidade. Dizer ao mundo que não podemos basear nossa segurança de salvação nem na igreja terrena (seu papel, suas instituições, e ministério) ou no crente em si (sua bondade pessoal, consecuções, e méritos) mas em Jesus, e no que ele está fazendo por nós no céu, certamente não tem sido uma de nossas principas ocupações. Conseqüentemente, na extensão em que falhamos em tornar essa verdade central para nossa mensagem e missão, nós já falhamos em ocupar a posição que Deus deseja que ocupemos.
Por outro lado, nossa ênfase unilateral nos impediu de adquirir um entendimento mais claro do que exatamente Jesus está presentemente fazendo em nosso favor, e como seu ministério deve determinar a natureza e a qualidade de nosso relacionamento de fé pessoal com Ele. Como resultado, algumas ideias se introduziam no adventismo que, ao invés de apontar a Jesus como a única fonte de justiça salvífica para o homem caído, atualmente faz do desenvolvimento do próprio caráter e da transformação do comportamento a critério último para determinar sua posição diante de Deus. Assim o centro de atenção, como a esperança da salvação são deslocadas de Jesus, e no que Ele faz em favor do crente no céu, para o que o crente experimenta em sua vida pessoal aqui na terra – uma mudança sutil ainda que tremendamente siginificativa que contradiz a essência bem como o propósito da doutrina do santuário.
Isso nos traz aos três maiores objetivos de nosso presente estudo: Primeiro, restaurar o ministério sumo sacerdotal de Cristo ao centro de nossas atenções e refinar nosso entendimento sobre o que Jesus, como nosso representante e advogado diante do Pai, está fazendo presentemente. Segundo, melhorar nosso relacionamento com Cristo como nosso mediador e nos lembrar que sua morte expiatória, vitória redentora, e justiça salvífica são a única base de nossa aceitação diante de Deus. E terceiro, prover uma estrutura justamente sistematizada, e racionalmente compreensível, em relação aos muitos ensinos que encontramos sobre esse assunto nos escritos de Ellen White.
No processo tentaremos encontrar as respostas que seus escritos provêem para, pelo menos, duas perguntas básicas: 1. Por que a mediação de Cristo é considerada tão importante para o plano da salvação? Ou seja, o que Jesus está fazendo como nosso “substituto e segurança” – dois de seus termos favoritos – que é tão vital para nossa final salvação? 2. Que resposta o papel mediador de Cristo deveria produzir em nós que cremos? E o que precisamos fazer para permitir que o Salvador leve adiante sua obra redentora em nosso favor para sua final e total realização na Segunda Vinda de Cristo?
Baseei esse estudo quase que exclusivamente nos escritos de Ellen White. Como resultado, apresentei apenas evidência bíblica suficiente para mostrar que os conceitos de seus escritos se harmonizam com as Escrituras, e que podemos portanto tê-los como confiáveis. Eu tenho duas razões para esse procedimento. Primeiro, Ellen White é de longe o maior exponente do entendimento adventista do ministério mediador de Cristo e seu significado. Segundo, apesar de ela ter escrito muito sobre esse tema – referências a ele aparecem quase em todos os lugares em seus escritos – na maior parte ela não foi nem sistemática ou definitiva o suficiente para evitar maus-entendidos. Portanto não deveria ser surpresa que alguns usem porções dos seus escritos para apoiar visões que, ao invés de estarem centralizadas em Cristo e seu ministério expiatório no céu, focam primariamente no homem e em suas magérrimas consuções aqui nesta terra.
Devessem essas ideias centradas no homem prevalecer dentro do adventismo, e elas tornariam “impossível” para nós “exercer a fé que é essencial para esse tempo.” Tenho escrito esse livro na esperança que, por ajudar nosso entendimento do ministério mediador de Cristo, ele nos permitirá reconhecer e lidar com visões enganosas, e por nos mover a estabelecer e manter um forte relacionamento pessoal de fé com Jesus até que Ele venha.
O estudo se divide em oito seções gerais: 1. A mediação de Cristo em favor do crente como indivíduo. 2. A mediação de Cristo pela performance do crente. 3. A mediação de Cristo como a única fonte de justiça salvífica para todos. 4. A mediação de Cristo como a única fonte de justiça até que Ele venha. 5. A mediação de Cristo completada no fechamento da porta da graça. 6. Ellen White e um engano apontado particularmente para adventistas. 7. Dois grupos de pessoas dentro da igreja: os justos em Cristo e os injustos. 8. Sumário e conclusões.
O apêndice sublinha alguns princípios básicos referentes ao uso dos escritos de Ellen White e provê alguns exemplos de formas de lidar com passagens que à primeira vista pareçam estar em tensão com os conceitos estabelecidos nesse livro.
Helmut Ott.

1. Cristo faz mediação pelo crente para apresentá-lo – como indivíduo – perfeitamente justo ao Pai
Nesse capítulo examinaremos a primeira razão básica por que Ellen White considera o ministério mediador de Cristo tão essencial ao plano da salvação. Começamos por estabelecer por que o crente precisa depender de Cristo como seu mediador e representante diante do Pai. Então veremos exatamente o que, de acordo com nossa fonte, Jesus está fazendo para apresentar o crente perfeitamente aceitável a Deus. Na terceira seção discutiremos o relacionamento entre o processo de santificação do crente que dura a vida toda e sua dependência de mediação para estar numa posição correta para com Deus. Finalmente nós examinaremos algumas relevantes passagens contidas nas Escrituras.

1. Por que o crente depende da mediação de Cristo para estar numa condição correta relativamente a Deus
A condição da vida eterna é agora exatamente o que sempre foi – exatamente o que era no paraíso antes da queda – perfeita obediência à lei de Deus, perfeita justiça (Caminho a Cristo, p. 62). Separados de Cristo não temos nenhum mérito, nenhuma justiça. Nossa pecaminosidade, fraqueza e imperfeição humana tornam impossível que compareçamos a presença de Deus a menos que estejamos revestidos da justiça imaculada de Cristo (Mensagens escolhidas, Vol. 1, p.333).
“Justiça sem culpa só pode ser obtida através da justiça de Cristo imputada.” (Review and Herald, 03/09/1901). “Os convidados às bodas foram inspecionados pelo rei. Só foram aceitos os que obedeceram aos seus requisitos e usaram o vestido nupcial. Assim ocorre com os convidados para a ceia do evangelho. Todos são examinados pelo grande Rei, e só serão recebidos os que trajarem as vestes da justiça de Cristo.” (Parábolas de Jesus, p. 312). “A única maneira em que pode alcançar a justiça é pela fé. Pela fé pode ele apresentar a Deus os méritos de Cristo, e o Senhor lança a obediência de Seu Filho a crédito do pecador. A justiça de Cristo é aceita em lugar do fracasso do homem, e Deus recebe, perdoa, justifica a alma arrependida e crente, trata-a como se fosse justa, e ama-a tal qual ama Seu Filho. Assim é que a fé é imputada como justiça.” (mensagens escolhidas, Vol. 1, p. 367).
Alguém dificilmente poderia ler tais afirmações sem ser impressionado pela definitiva, quase radical natureza de ambos os conceitos e a linguagem que ela usou para expressá-los. Note os importantes pontos:
1. Deus requer justiça perfeita daqueles que herdarão a vida eterna – nada menos que isso satisfará.
2. Separados de Cristo não temos nenhuma justiça, nenhum mérito, sobre o qual podemos prover a Deus uma base na qual poderíamos ser aceitos.
3. Nossa pecaminosidade, nossa imperfeição humana, o torna impossível comparecer perante Deus a menos que formos revestidos da justiça de Cristo.
4. Podemos obter justiça sem mancha – a única justiça que Deus aprova – somente através da justiça de cristo a nós imputada.
5. O rei checa todos os convidados para o banquete do evangelho – aqueles que respondem ao convite e vêm – para ter certeza de que eles alcançaram o que foi requerido. Somente aqueles que se revestiram da justiça de Cristo podem participar. Todos os outros – independentemente de quaisquer qualificações ou virtudes morais que eles possam ter – serão lançados fora.
6. Deus considera a perfeita justiça de Cristo substituindo o fracasso do homem. “é dessa forma que a fé é considerada justiça.”
Tais considerações conduzem nossa conclusão de que o cristão depende da medição de Cristo por que Deus requer justiça perfeita – algo que o crente não consegue produzir. Ele é um pecador, e nada que um pecador é, tem, ou faz, é aceitável a Deus em seus próprios méritos. O pecador se torna digno somente quando Cristo o torna digno imputando a ele sua própria justiça.
O crente tem respondido ao convite do evangelho, tem vindo à festa de casamento. Agora ele deve passar pela inspeção do rei – um símbolo do juízo pré-advento – usando a única roupa no universo capaz de cobrir a pecaminosidade de seres caídos. Isso é, deve usar uma vestimenta espiritual da justiça salvadora de Cristo. Somente quando ele satisfaz esse requerimento o crente terá o direito de participar do banquete do evangelho.

2. O que Jesus está fazendo para assegurar a aceitação do crente para com o Pai

“Jesus está em pé no Santo dos Santos, para comparecer agora na presença de Deus por nós. Ali, Ele não cessa de apresentar Seu povo, momento após momento, perfeito nEle... Somos perfeitos nEle, aceitos no Amado, unicamente se permanecemos nEle pela fé.” (Fé e obras, p. 107). “A providência tomada é completa, e a eterna justiça de Cristo é colocada ao crédito de toda alma crente. As vestes, preciosas e sem mácula, tecidas nos teares do Céu, foram providas para o pecador arrependido e crente... Em nós mesmos somos pecadores; mas em Cristo somos justos. Tendo-nos feito justos, mediante a imputada justiça de Cristo, Deus nos pronuncia justos e nos trata como justos. Considera-nos Seus filhos amados.” (Mensagens escolhidas, Vol. 1, p. 394).
“Somente as vestes que Cristo proveu, podem habilitar-nos a aparecer na presença de Deus. Estas vestes de Sua própria justiça, Cristo dará a todos os que se arrependerem e crerem.” (Parábolas de Jesus, p. 311). “Cristo foi tratado como nós merecíamos, para que pudéssemos receber o tratamento a que Ele tinha direito. Foi condenado pelos nossos pecados, nos quais não tinha participação, para que fôssemos justificados por Sua justiça, na qual não tínhamos parte. Sofreu a morte que nos cabia, para que recebêssemos a vida que a Ele pertencia.” (O desejado de todas as nações, p. 25).
“Por Sua vida imaculada, obediência e morte na cruz do Calvário, Cristo intercedeu pela raça perdida. E agora o Príncipe de nossa salvação não intercede por nós como mero peticionário, mas como um Conquistador que reclama a vitória. Seu sacrifício está consumado e como nosso Intercessor cumpre a obra que a Si mesmo Se impôs, apresentando a Deus o incensário que contém os Seus méritos imaculados e as orações, confissões e ações de graças de Seu povo. Perfumados com a fragrância de Sua justiça, sobem como cheiro suave a Deus. A oferenda é inteiramente aceitável, e o perdão cobre todas as transgressões.” (Parábolas de Jesus, p. 156).
“...serei vosso representante no Céu. O pai não vê vosso caráter defeituoso, mas vos olha revestidos de Minha perfeição.” (O desejado de todas as nações, p. 357). “Cristo vestirá Seus fiéis com Sua própria justiça, para que os possa apresentar a Seu Pai como "igreja gloriosa, sem mancha, nem ruga, nem coisa semelhante". Efésios. 5:27.” (O grande conflito, p. 484).
Essas afirmações indicam bem precisamente que a mediação de Cristo em favor do crente é tão essencial quanto o foi sua morte sobre a cruz, por que através de sua mediação ele aplica os benefícios de sua atividade redentora a todos aqueles que respondem ao evangelho em arrependimento e fé. Não como um mero pedinte, mas como um conquistador clamando sua vitória, o capitão de nossa salvação credita sua morte expiatória, sua vitória redentora, sua justiça perfeita a nós e por causa disso nos apresenta totalmente aceitáveis ao Pai.
Note os seguintes conceitos contidos nas citações antecedentes:
1. Como nosso representante e substituto, Cristo apresenta seu povo momento a momento completo nele mesmo. Então nós participamos de duas diferentes realidades ao mesmo tempo: em nós mesmos por nossa natureza somos pecaminosos; ainda assim, em Cristo, pela fé, somos justos. Se Deus fosse nos julgar e retribuir na base do que nós somos, do que nós temos, do que nós somos, do que nós fazemos, Ele teria que nos deixar perecer por nossa condição caída. Contudo, por que Deus nos avalia sob a base de nossa participação pela fé nos méritos de Cristo. Ele nos pronuncia justos e nos trata como seus queridos filhos, a despeito do fato de que em nós mesmos ainda somos pecaminosos, imperfeitos e indignos.
2. Somente a cobertura que o próprio Cristo proveu pode nos qualificar a comparecer perante a presença de Deus. Essa vestimenta, um veste tecida nos teares do céu, Cristo coloca individualmente sobre cada crente arrependido. A posição do crente perante Deus – sua participação no banquete do evangelho – se baseia não em seu faltoso caráter, mas no fato de que ele está vestido com a perfeição de Cristo.
3. Uma transação acontece entre o crente e Cristo. O salvador assume o pecado do homem, sofre sua condenação, e morre a sua morte. Em troca o crente recebe acesso à justiça de Cristo, e participada vida que justamente pertence somente a Cristo.
4. A última passagem citada anteriormente não diz que Jesus provê o poder do qual a igreja necessita com o objetivo de se fazer a si mesma apresentável. Ao invés disso, ela diz que Ele irá revesti-la para que Ele a apresente como glorioso e incontaminado corpo. A roupa nunca é uma parte integral daquele que a usa. É algo que é colocado sobre com intenção de fazer uma pessoa se apresentar apropriadamente. Então a passagem não descreve a realidade atual da condição espiritual da igreja – não fala de uma real conquista por parte da igreja. Ao contrário, a passagem descreve o que Jesus faz pela igreja apara apresentá-la ao Pai. Jesus veste seu povo com a vestimenta que ele mesmo providenciou. – a vestimenta espiritual de sua própria justiça – e por causa disso os traz ao Pai como igreja gloriosa e sem manha.
Note que Ellen White estabelece um relacionamento direto e necessário entre o que Cristo fez por nós ontem como nosso substituto e hoje como nosso representante no trono. Portanto, enquanto Ele completa sua obra redentora em nosso favor, quando deu sua vida como sacrifício expiatório na cruz, a aplicação individual aos crentes individuais é algo presente, acontecendo na realidade e que continuará até o tempo de graça terminar.
Por seu sacrifício expiatório na cruz o Salvador recebeu o direito de compartilhar sua vitória pessoal, sua justiça pessoal, e sua herança pessoal com aqueles que se tornarem os filhos e filhas adotivas de Deus pela fé nele. Como nosso mediador, ele agora exercita esse direito ao efetivamente aplicar aos crentes, individualmente, o que ele conquistou, em princípio, por toda a humanidade através de sua morte vicária.
3. A santificação do crente e sua dependência da mediação de Cristo para uma correta relação para com Deus.
Os escritos de Ellen White expressão a idéia de que a santificação é um processo que dura a vida toda e que, por causa de sua própria natureza, nunca é totalmente completa na vida presente. O crente nunca supera sua pecaminosidade pessoal nem transcende sua condição perdida. Ele também nunca alcança o padrão de perfeição absoluta que Deus requer em um universo sem pecado. Como resultado, ele continua em um estado de constante dependência da mediação de Cristo para estar numa correta posição diante de Deus enquanto ele viver.
“A santificação não é obra de um momento, de uma hora, de um dia, mas dá vida toda. Não se alcança com um feliz vôo dos sentimentos, mas é o resultado de morrer constantemente para o pecado, e viver constantemente para Cristo... Enquanto reinar Satanás, teremos de subjugar o próprio eu e vencer os pecados que nos assaltam; enquanto durar a vida não haverá ocasião de repouso, nenhum ponto a que possamos atingir e dizer: "Alcancei tudo completamente."” (Atos dos apóstolos, pp. 560, 561). “Há tendências hereditárias e cultivadas para o mal que precisam ser vencidas. O apetite e a paixão devem ser postos sob o controle do Espírito Santo. Não há fim ao conflito do lado de cá da eternidade.” (Conselhos aos pais, professores e estudantes, p. 20).
“O ser humano pode crescer à estatura de Cristo, sua cabeça viva. Não é obra de um momento, mas de uma vida toda. Por crescer diariamente na vida espiritual, ele não alcançara a plena estatura de homem perfeito em Cristo senão quando terminar seu tempo de graça. O crescimento é uma obra contínua.” (testemunhos para a igreja. Vol. 4, 367).
“Há os que já experimentaram o amor perdoador de Cristo, e que desejam realmente ser filhos de Deus, contudo reconhecem que seu caráter é imperfeito, sua vida faltosa, e chegam a ponto de duvidar se seu coração foi renovado pelo Espírito Santo. A esses eu desejaria dizer: Não recueis, em desespero. Muitas vezes, teremos de prostrar-nos e chorar aos pés de Jesus, por causa de nossas faltas e erros; mas não nos devemos desanimar. Mesmo quando somos vencidos pelo inimigo, não somos repelidos, nem abandonados ou rejeitados por Deus. Não; Cristo está à destra de Deus, fazendo intercessão por nós... E se tão-somente vos renderdes a Ele, Aquele que em vós começou a boa obra há de continuá-la até o dia de Jesus Cristo. Orai com mais fervor; crede mais plenamente.” (Caminho a Cristo, p. 64).
Tais afirmações conduzem a três questões significantes:
1. Santificação como um processo de mudança, crescimento, e amadurecimento, é uma genuína realidade na experiência do crente. Enquanto ele avança em sua caminhada cristã, o discípulo de Cristo de fato vence tendências pecaminosas, atitudes e disposições. Ele modifica características de seu caráter e de seus hábitos de vida que não são coerentes com seu alto chamado como filho de Deus em Cristo. Crescentemente ele reflete as virtudes justas do santo caráter de Cristo em sua vida pessoal. E ele progressivamente padroniza sua vida sob tudo aquilo que é verdadeiro e justo e amável.
2. Conquanto o crente realmente cresça, se desenvolva, e amadureça como cristão, ele nunca alcança a estatura de um homem perfeito, ou atente totalmente a um estado de santificação completa durante sua vida presente. Sua batalha tanto contra o pecado e contra o eu continua enquanto ele viver. “Não há fim ao conflito do lado de cá da eternidade.”
3. Somente no “Dia de Jesus Cristo” – no ponto do tempo em que o eterno substitua o histórico, quando o Reino da Glória supere o Reino da Graça, e o crente experimente a transformação da natureza que se concretiza no evento da ressurreição/glorificação – irá a obra que começou na conversão atingir sua completude total e permanente (Filipenses 1:6).
A Escritura promete que aqueles “que são filhos de Deus” agora, durante sua existência presente, serão como Jesus “quando Ele aparecer,” não antes (1 João 3:2), “seremos transformados. Quando o que é corruptível se revestir de incorruptibilidade e o mortal de imortalidade” (1 Cor 15:52, 53). Quando Deus totalmente e permanentemente remover todos os efeitos do pecado dos redimidos e restaurá-los ao estado original de integridade espiritual do qual Adão e Eva desfrutaram antes da queda, então o processo de santificação será completado. Isso é quando todos eles “juntos” serão “feitos perfeitos” (hebreus 11:40). Como resultado de seu ato re-criador e restaurador, os redimidos serão pela primeira vez por natureza aquilo que hoje eles podem ser somente em Cristo, pela fé.
A batalha com o pecado é apenas um aspecto da santificação não ainda completa nessa vida. Um crescimento que não teve seu fim, desenvolvimento, e amadurecimento devem também prosseguir tanto quanto a vida durar.
“Toda pessoa crente deve submeter sua vontade inteiramente à vontade de Deus e manter-se num estado de arrependimento e contrição, exercendo fé nos méritos expiadores do Redentor e avançando de força em força, e de glória em glória.” (fé e obras, p. 103). “A santificação é obra de toda uma vida. Multiplicando-se as oportunidades, ampliar-se-á nossa experiência e crescerá nosso conhecimento. Tornar-nos-emos fortes para assumir as responsabilidades, e nossa maturidade será proporcional aos nossos privilégios.” (Parábolas de Jesus, pp. 65, 66).
“Necessitamos constantemente de uma revelação nova de Cristo, de uma experiência diária que ser harmonize com os Seus ensinos. Estão ao nosso alcance resultados altos e santos. Deus deseja que façamos contínuos progressos na ciência e na virtude. Sua lei é um eco de Sua própria voz, fazendo a todos o convite: "Subi mais alto. Sede santos, mais santos ainda." Cada dia podemos avançar no aperfeiçoamento do caráter cristão.” Ciência do bom viver, 503). “Deve haver contínuo esforço e constante progresso para frente e para cima, rumo à perfeição do caráter.” (Conselhos aos pais, professores e estudantes, 365).
“A cada avanço na experiência cristã nosso arrependimento aprofundar-se-á. Justamente àqueles a quem Deus perdoou e reconhece como Seu povo, diz Ele: "Então, vos lembrareis dos vossos maus caminhos e dos vossos feitos, que não foram bons; e tereis nojo em vós mesmos das vossas maldades e das vossas abominações." Ezeq. 36:31... Então nossos lábios não se abrirão para nos gloriarmos. Saberemos que só em Cristo temos suficiência. Faremos nossa a confissão do apóstolo: "Eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum." Rom. 7:18.” (Parábolas de Jesus, 160, 161).
Essas passagens claramente indicam que, além de nunca desistir de transcender o estado de pecaminosidade pessoal no qual ele se encontra, o crente nunca termina de adquirir as positivas virtudes de um caráter cristão maduro nesta vida. Seu crescimento é tanto real quanto significativo, mas nunca é completo. Ele sempre carece da glória de Deus e, portanto, deve viver num estado de arrependimento constante e fé, plenamente ciente que sua suficiência encontra-se em Cristo somente.
“Aqueles que estão realmente buscando o perfeito caráter cristão, jamais condescenderão com o pensamento de que estão sem pecado. Sua vida pode ser irrepreensível; podem estar vivendo como representantes da verdade que aceitaram; porém, quanto mais consagram a mente para se demorar no caráter de Cristo e mais se aproximam de Sua divina imagem, tanto mais claramente discernirão Sua imaculada perfeição e mais profundamente sentirão seus próprios defeitos.” (Santificação, p.7, itálicos supridos). “Nunca podemos alcançar a perfeição por nossas próprias boas obras. A pessoa que vê a Jesus pela fé, rejeita sua própria justiça. Encara a si mesma como incompleta, seu arrependimento como insuficiente, sua mais forte fé como sendo apenas debilidade, seu mais custoso sacrifício como escasso, e se prostra com humildade ao pé da cruz. Mas uma voz lhe fala dos oráculos da Palavra de Deus. Com estupefação ela ouve a mensagem: "NEle estais aperfeiçoados." Agora tudo está em paz nessa pessoa. Não precisa mais esforçar-se para encontrar algum merecimento em si mesma, alguma ação meritória pela qual alcance o favor de Deus.” (Fé e obras, pp. 107-108).
O indivíduo que vê a Jesus pela fé não rebaixa a si mesmo por ser ainda um pecador em aberta rebelião. Seu problema não é que ele seja inteiramente sem qualidades positivas como sem boas obras, mas por que elas são todas imperfeitas. Ele admitidamente tem certo grau de justiça, arrependimento, fé, sacrifício. Mas por que ele tem uma visão da perfeição de Cristo, ele tem tanto o ponto de referência e a percepção espiritual necessária para admitir que ele fica aquém do padrão Divino de perfeita justiça, e portanto merece, não a aprovação de Deus, mas sua condenação. Sua percepção de Cristo o capacita a discernir a imperfeição no que ele é, a inadequação do que ele tem, e a insuficiência do que ele faz. Isso o conduz a perceber sua dependência total de Cristo, e o move a se curvar em humilhação aos pés da cruz.
Mas então, quando ele percebe sua real condição como pecador perdido, se dá conta de sua total dependência de Cristo para estar diante de Deus, e em humilhação se ajoelha aos pés da cruz, ele ouve a boa notícia do evangelho – toda a boa notícia que o evangelho pode lhe conceder hoje, durante sua vida presente, histórica. Que tudo está bem: ele está completo em Cristo, aceito no amado, e portanto não precisa “se esforçar para encontrar algum merecimento em si mesmo, alguma obra meritória pela qual há de ganhar o favor de Deus.”
Na segunda vinda de Jesus, quando Deus restaurar o crente à perfeição original com a qual Deus criou o ser humano no princípio, ele será justo por natureza, assim como nossos primeiros pais eram antes da queda. Entrementes ele só pode ser justo, santo, digno, um filho de Deus, somente em Cristo. Ele depende totalmente da mediação de Cristo para ser aceito pelo Pai, e conseqüentemente deve viver pela fé nEle até o fim de sua vida.
É, portanto lógico – bem como imperativo – concluir que a primeira razão pela qual os escritos de Ellen White consideram o ministério mediador de Cristo essencial para o plano da redenção é que esse ministério constitui o único caminho para um pecador assegurar uma correta posição para com Deus. Jesus faz mediação pelo crente para apresentá-lo – como indivíduo – perfeitamente justo diante do Pai. O Salvador imputa sua morte expiatória, sua vitória redentora, e sua justiça salvífica ao crente para que ele possa, pela fé, estar diante de Deus impecável em Cristo a despeito de que por natureza ele continua pecaminoso, imperfeito, e indigno em si mesmo.
4. Algumas considerações escriturísticas
Como indiquei na introdução, esse livro não é uma declaração doutrinária baseada em uma investigação exaustiva da Escritura, mas uma tentativa de se sistematizar e a articular os escritos de Ellen White sobre a mediação de Cristo. Portanto eu trago a evidência escriturística apenas para mostrar que seus conceitos são consistentes com a Bíblia sendo confiáveis. Ou seja, eles têm valor doutrinário por serem consistentes com a Escritura.
            A primeira passagem que vamos examinar é Hebreus 7:25:
“Por isso, também pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles.” Esse verso contém pelo menos três conceitos significativos:

1. Jesus “pode salvar” por que vive “para interceder por” nós. Assim o texto estabelece  uma relação direta de causa e efeito entre a mediação de Cristo e nossa salvação. Como mediador vivo, Jesus realiza agora algo que é essencia para a salvação – hoje ele torna a salvação uma realidade para nós. Isso justifica a passagem de Ellen White que afirma que a mediação de Cristo é “tão vital para o plano da salvação como foi sua morte sobre a cruz” (O grande conflito, 489).

2. Por fazer mediação em favor deles, Jesus salva “aqueles que vão a Deus por meio dele.” Claramente ele não salva a todos, mas somente a um grupo específico. Sua mediação não inclui aqueles que querem encontrar um caminho diferente até o Pai, que tentam alcançar uma posição apropriada diante dEle com base em suas próprias consecuções – sua justiça pessoal e “perfeita” obediência.

“Acesso... a essa graça” (Romanos 5:2) é possível apenas pela fé em Cristo e garantida apenas àqueles que procuram estar em posição correta para com Deus sob a base de Sua obra redentora. Mas quando alguém quer alcançar o mesmo objetivo através de suas façanhas espirituais pessoais, ele cria uma forma de salvação diferente e conseqüentemente perde o que está disponível para aqueles que se aproximam através de Cristo. É isso que Paulo ensina quando atesta, “de Cristo vos desligastes, vós que procurais justificar-vos na lei; da graça decaístes” (Gálatas 5:4).
Em outras palavras, as fontes disponíveis para aqueles que participam na aliança da graça de Deus não estão acessíveis para aqueles que se empenham por encontrar outro caminho para chegar a Deus. Se eles não centralizam sua segurança de Salvação na obra redentora de Cristo, então eles se responsabilizam completamente por si mesmos. (Rejeitaram a provisão feita por Deus, dessa forma Ele não pode cancelar a condenação deles, ou concedê-los os méritos de Cristo para substituir sua destruição espiritual). Ellen White expressa esse mesmo princípio quando ela diz que “em nós mesmos somos pecadores; mas em Cristo somos justos” (Mensagens escolhidas, Vol. 1, p. 394). Que “estamos perfeitos nEle, aceitos no amado, somente enquanto permanecemos nEle pela fé” (Fé e obras, p. 107).
3. Jesus “pode salvar totalmente” – “até o máximo” (King James Version), “totalmente e completamente (J. B. Phillips: The new Testament in modern english Revised edition), “Absolutamente” (New English Bible), “Para todo o tempo” (Revised Standard Version) – “aqueles que se achegam a Deus por meio dele.” “como autor e consumador da fé” (Hebreus 12:2), Ele salva não parcialmente, mas completamente.
A passagem seguinte fala daqueles que querem ganhar a salvação por boas obras como parte da base de sua salvação:
“Jesus, pensam eles, efetuará uma parte da salvação, e eles precisam fazer o resto. Necessitam ver pela fé a justiça de Cristo como sua única esperança para o tempo e para a eternidade.” (Fé e obras, p.26).
Paulo diz que Jesus nos apresentará “santos, inculpáveis e irrepreensíveis, se é que permaneceis na fé, alicerçados e firmes, não vos deixando afastar da esperança do evangelho.” (Col. 1:22-23). Note que o texto não afirma que Jesus capacitará os crentes a desenvolver justiça perfeita, ou atingir completude espiritual, mas que ele os apresentará como sendo santos, inculpáveis e irrepreensíveis perante Deus. Como em Hebreus 7:25, Judas 24, Efésios 5:27, etc., isso é uma referência, não a algo que os crentes atingem em suas vidas pessoais/históricas, mas a algo que Cristo faz por eles.
A segunda passagem das Escrituras que queremos estudar brevemente é Mateus 22:1-14. Ela retrata a parábola das bodas, ou do homem sem os trajes nupciais, que provê muito do simbolismo usado nos escritos de Ellen White. E desde que estamos examinando várias passagens das Escrituras para encontrar as fontes dos conceitos dela, vamos discutir essa parábola junto da seguinte afirmação:
“Quando o rei entrou para ver os convidados, foi revelado o verdadeiro caráter de todos. A cada um foi provido um vestido de bodas. Essa veste era uma dádiva do rei. Usando-a, os convidados demonstravam respeito ao doador da festa. Um homem, porém, estava com seus trajes comuns. Recusara fazer a preparação exigida pelo rei. A veste provida para ele com grande custo, desdenhou usar. Deste modo insultou seu senhor.” (Parábolas de Jesus, p. 309).
Pelo menos seis pontos chamam nossa atenção aqui:
1. O Rei solicitou aos servos que estavam a cargo de trazer os convidados ao banquete das bodas a ir “para as encruzilhadas dos caminhos e convidai para as bodas a quantos encontrardes. E, saindo aqueles servos pelas estradas, reuniram todos os que encontraram, maus e bons; e a sala do banquete ficou repleta de convidados.” (Mt 22:9-10). Qualquer um, fosse bom ou mal, que aceitasse o convite poderiam entrar na sala do banquete.
 2. A inspeção dos convidados por parte do Rei – um ato de julgamento – determinou quem seria e quem não seria recebido como convidado e a quem seria permitido permanecer para efetivamente participar da festa de casamento. O critério usado não se centralizou no caráter moral dos que vieram – fossem eles bons ou maus. Ao contrário, o critério envolveu sua relação com os trajes nupciais que o rei pessoalmente tinha providenciado para eles – tenham eles usado esses trajes ou não. Portanto o resultado dessa inspeção revelou não a bondade ou dignidade dos convidados, mas a generosidade do Rei. Qualquer um que vestisse o traje concedido pelo Rei poderia ser um convidado e participar do banquete do casamento. Por outro lado, qualquer um que, por esse próprio ato, falhasse em se vestir com as vestes providas pelo Rei seria desqualificado como convidado.
3. Através desse único requerimento, o Rei colocou a todos no mesmo nível. Ninguém poderia atribuir sua aceitação fosse por sua bondade moral superior, ou para as qualidades mais elevadas da roupa que ele pessoalmente escolheu antes de comparecer ao banquete. Um convidado particular ser um pouco melhor que seus vizinhos, ou estar vestido de roupas mais custosas do que os outros poderiam comprar, não faz diferença aqui. Os convidados eram igualmente dependentes de algo que o Rei providenciou como um presente – uma veste única que eles não poderiam assegurar em qualquer outro lugar, nem produzir por si mesmos por quaisquer meios. Por que as vestes nupciais eram um presente gratuito concedido pelo Rei, todos tinham a mesma oportunidade de possuí-la, e ninguém teria uma desculpa válida para não usá-la.
4. Como foi descoberto, apenas um homem recusou a preparação requerida pelo Rei. O Rei não o atirou fora por que ele era o pior entre as “más” pessoas que compareceram. Tanto quanto concerne a parábola, ele poderia ser o melhor entre os “bons.” Nem Ele o rejeitou por que suas próprias vestes fossem feias, ou defeituosas, ou sujas. Aquele que seria convidado teve que ir para as trevas por que usou a roupa errada. Ao invés de estar vestido com as vestes providenciadas pelo Rei, ele vestiu algo que ele produziu por ele mesmo, ou adquiriu por seus próprios meios em outro lugar.
5. Ao vestir suas próprias vestes ao invés das vestes nupciais do Rei, ele insultou seu Senhor. Como resultado ele não apenas foi excluído do casamento – como aqueles que haviam sido convidados, mas se recusaram a comparecer – mas também foi punido por se recusar a estar de acordo com as condições específicas estabelecidas pelo Rei. Ele, ou ignorou, ou tentou violar as ordens do Rei, uma ordem de acordo com a qual “só serão recebidos os que trajarem as vestes da justiça de Cristo.” (ibid. p. 312).
6. O verso 14 afirma que “muitos são chamados, mas poucos, escolhidos.” Na verdade Deus chama a todos, uma vez que a obra redentora de Jesus Cristo abarca a humanidade toda – o Evangelho não deixa absolutamente ninguém de fora. Quem, então, são os poucos escolhidos?  De acordo com a parábola, os escolhidos foram aqueles que fizeram três coisas básicas: (1) todos eles aceitaram o convite do rei para as bodas, (2) todos vieram para a recepção do casamento, e (3) todos se vestiram com os trajes nupciais. Ao vestirem as roupas apropriadas, e deste modo cumprindo os preparativos requeridos pelo Rei, eles demonstraram, primeiro, que eles eram verdadeiramente obedientes, e segundo, que eles tinham fé genuína. Eles baseavam sua segurança de aceitação em relação ao Rei, não por quem eles eram, tinham, ou no que fizeram por si mesmos, mas nos trajes nupciais, que simbolizam a justiça salvadora de Cristo livremente imputada a cada um que se arrepende e crê.
A terceira a última passagem que queremos discutir é Gálatas 3:26-4:7. Dois conceitos particularmente nos interessam nesse ponto. Primeiro: “Todos vocês são filhos de Deus através da fé em Jesus Cristo” (Gál. 3:26). Adoção, como definindo uma garantia de filiação à alguém que não é um filho natural, é um dos primeiros benefícios que os crentes recebem através da fé em Jesus Cristo. O Salvador concede “o direito de sermos feitos filhos de Deus”... “a todos que crêem no seu nome” (João 1:12). Os crentes são, portanto, “adotados como filhos (de Deus) através de Jesus Cristo” (Efésios 1:5). Filiação, então, não é algo que os crentes conquistam, mas um presente da Graça de Deus para aqueles que aceitam a Jesus como seu Salvador pessoal.
Segundo: “E, se sois de Cristo, também sois... herdeiros segundo a promessa” (Gálatas 3:29). “De sorte que já não és escravo, porém filho; e, sendo filho, também herdeiro por Deus.” (Gál. 4:7). Nós observamos uma clara relação de causa e efeito aqui, uma reação em cadeia, se preferir. 1. O crente se torna um filho adotivo de Deus na base de seu relacionamento de fé com Cristo – sua fé em Cristo lhe dá o direito de filiação. 2. E ele se torna um herdeiro por que ele é um filho adotivo de Deus – sua filiação lhe dá direito à herança. Em outras palavras, a filiação pertence àqueles que tem fé em Jesus Cristo, e a herança – a vida eterna e tudo que lhe envolve – pertence àqueles que são filhos de Deus em Cristo.
Essa direta relação de causa e efeito entre fé e filiação, em uma mão, e filiação e herança, na outra, devem permanecer intactas. As Escrituras ensinam ensinam que os filhos de Deus crescem em todos os aspectos de sua vida. Mas a bíblia nunca estabelece uma relação de causa e efeito entre um grau de desenvolvimento espiritual e seu direito à herança eterna. Pais humanos dividem suas posses entre todos os seus filhos independentemente de suas relativas idades, tamanhos, ou graus de maturidade. Mesmo nosso imperfeito senso de justiça nos diz que seria extremamente injusto privar da herança um filho por que ele ainda era jovem, e consequentemente não atingiu a plena maturidade.
Como resultado de sua vida longa com Deus, Matusalém experimentou um grau de maturidade relativmente alto. Mas de nenhuma maneira isso o torna mais qualificado para receber a herança eterna do que o ladrão da cruz que, por causa da sua adoção na undécima hora, morreu como um bêbe em Cristo. Tantos os casos ilustram o fato de que a herança eterna pertence aos filhos e filhas de Deus em Cristo independentemente do grau de seu desenvolvimento espiritual. Os bêbes em Cristo que devem encarar o juízo final - seja na morte, ou no fechamento da porta da graça - brevemente depois de seu nascimento na família espiritual de Deus tem exatamente o mesmo direito, garantida pela Graça, de ser herdeiros como são aqueles que são “adultos” mais velhos e experimentados.
Os maduros filhos de Deus, que experimentaram um real e significativo crescimento espiritual, nunca se tornaram nada além do que eles inicialmente. Ele sempre permanece um filho adotivo de Deus cujo direito à herança jaz no fato de que ele é um filho de Deus em Cristo, e não no grau de desenvolvimento espiritual que ele experimentou durante a sua vida como cristão. Se ele morrer como um bêbe recém nascido em Cristo ou viva uma longa vida de crescimento e desenvolvimento não faz diferença no que se se refere ao direito à herança. Ele é um herdeiro somente por que ele é um filho, e um filho por causa da adoção.
Isso explica, de um outro ângulo, o mesmo conceito que vimos anteriormente: a saber, que conquanto nunca iremos alcançar um estado de santificação total nesta vida, nós podemos ter plena segurança de salvação. Conquando sejamos pecadores por natureza, somos justos em Cristo pela fé. Por causa da imputação da justiça de Cristo a nós, Deus nos declara justos e nos trata como seus filhos a despeito do fato de que nós ainda somos pecadores, imperfeitos, e indignos. Então Deus, não nos julga ou recompensa sob a base de nosso progresso relativo de desenvolvimento de caráter e modificação do comportamento, mas antes em nossa aceitação da obra redentora do Salvador.
Cristo faz mediação pelo crente, para que seu desempenho – Obediência, serviço, adoração – seja aceitável ao Pai
Muitos escritos de Ellen White falam de outros aspectos, como uma segunda dimensão, do ministério mediador de Cristo. Eles indicam que além de apresentar os crentes, como indivíduos, momento a momento, perfeitos em si mesmo, Jesus torna seu desempenho – suas vidas como filhos adotivos de Deus – perfeitamente aceitáveis ao Pai.
Tanto quanto eu saiba, ninguém jamais publicou um estudo sobre esse aspecto do ministério mediador de Cristo. Aparentemente os estudantes dos escritos de Ellen White têm, ou passado por cima, ou falhado em perceber sua significância. Iremos, portanto tentar substanciá-lo aqui. Primeiro, veremos por que os crentes precisam da mediação de Cristo por seu desempenho. Então investigaremos como, de acordo com Ellen White, o ministério mediador de Cristo aperfeiçoa as ações dos crentes para que elas alcancem o padrão exigido por Deus.
  1. Por que o crente depende da mediação de Cristo para render obediência perfeita
A necessidade de os cristãos dependerem da mediação de Cristo para render um desempenho aceitável jaz primeiro, na natureza absoluta do padrão de perfeição que Deus estabeleceu, e segundo, em suas próprias limitações como pecador para cumprir as exigências da lei.
“Deus requer neste tempo exatamente o que Ele requereu do santo par no Éden - perfeita obediência a Seus preceitos. Sua lei continua sendo a mesma em todos os séculos. A grande norma de justiça apresentada no Antigo Testamento não é rebaixada no Novo.” (Fé e obras, p. 52). “A condição de vida eterna é hoje justamente a mesma que sempre foi - exatamente a mesma que foi no paraíso, antes da queda de nossos primeiros pais - perfeita obediência à lei de Deus, perfeita justiça.” (Caminho a Cristo, p.62).
“Muitos estão enganados quanto à sua verdadeira condição perante Deus. Congratulam-se pelos maus atos que não cometem, e esquecem-se de enumerar as boas e nobres ações que Deus exige deles, mas negligenciaram cumprir.” (O grande conflito, p.601). “A lei requer obediência perfeita... O mínimo desvio de suas reivindicações, por negligência ou transgressão deliberada, é pecado, e todo pecado expõe o pecador à ira de Deus.” (Mensagens escolhidas, Vol.1, p.218). “Mais elevado do que o sumo pensamento humano pode atingir, é o ideal de Deus para com Seus filhos. A santidade, ou seja, a semelhança com Deus é o alvo a ser atingido.” (Educação, p.18).
Chamamos a atenção para apenas três aspectos de suas declarações: 1. O padrão a ser alcançado não é apenas o da obediência, mas da perfeita obediência, total conformidade com a vontade de Deus para a humanidade – meras aproximações da perfeição não são aceitáveis. 2. O mínimo desvio das reivindicações de Deus é pecado, e todo pecado expõe a pessoa à ira de Deus. 3. Homens são culpados não apenas por fazer o mal, mas também por não fazer obras suficientemente boas.
Perfeita obediência significa a satisfação tanto da letra quanto do espírito da Palavra revelada de Deus. Ela demanda absoluta harmonia com todos os princípios que formam a base de toda a sua vontade para a humanidade. Qualquer coisa abaixo disso significa obediência imperfeita – uma obediência que, ao invés de conseguir a aprovação de Deus, merece sua condenação. Como resultado, alguém pode nunca ter violado uma única proibição específica do decálogo – tal como tomar o nome de Deus em vão, cobiçar, ou sustentar falso testemunho – e ainda assim ser condenada por ter falhado em fazer de Deus o primeiro, ou amar ao próximo como a ele mesmo em todo o tempo, e em todas as circunstâncias. Ele negligenciou “justiça, misericórdia e fé,” que, de acordo com Jesus, são “os preceitos mais importantes da lei” (Mat. 23:23).
A questão quanto a se o crente pode ou não atingir o padrão de Deus para perfeita obediência foi respondida por Ellen White em seus escritos tanto negativamente quanto positivamente.
Não. Por ser um pecador, o crente não poder render obediência perfeita a Deus, a menos...
“Era possível a Adão, antes da queda, formar um caráter justo pela obediência à lei de Deus. Mas deixou de o fazer e, devido ao seu pecado, nossa natureza se acha decaída, e não podemos tornar-nos justos. Visto como somos pecaminosos, profanos, não podemos obedecer perfeitamente a uma lei santa. Não possuímos justiça em nós mesmos com a qual pudéssemos satisfazer às exigências da lei de Deus. Mas Cristo nos proveu um meio de escape.” (Caminho a Cristo, p. 62).
“Justiça é obediência à lei. A lei requer justiça, e esta o pecador deve à lei; mas é ele incapaz de a apresentar.” (Mensagens escolhidas, Vol.1, p. 367). “ela (A lei) não podia justificar o homem, porque em sua natureza pecaminosa este não a poderia guardar.” (Patriarcas e profetas, p. 373). “Deus não abaixará Sua lei para acomodar-se ao imperfeito padrão humano; e o homem não pode satisfazer os reclamos dessa santa lei sem manifestar arrependimento para com Deus e fé para com o nosso Senhor Jesus Cristo.” (Fé e obras, p. 29).
Sim. A despeito de sua pecaminosidade, o crente pode render obediência perfeita a Deus, provida...
“Por Sua obediência perfeita tornou possível a todo homem obedecer aos mandamentos de Deus... Cristo, porém, veio na forma humana, e por Sua perfeita obediência provou que a humanidade e a divindade combinadas podem obedecer a todos os preceitos de Deus.” (Parábolas de Jesus, pp. 312-113).
“A cruz de Cristo testifica da imutabilidade da lei de Deus... Jesus morreu para que pudesse imputar ao pecador arrependido a Sua própria justiça, e tornar ao homem possível guardar a lei.” (Mensagens escolhidas, p. 312).
Existe uma óbvia tensão entre esses dois grupos de afirmações que citamos. Se analisarmos precipitadamente, elas parecem ser contraditórias entre si. Contudo, quando as examinamos mais cuidadosamente e as estudamos sobre uma base mais ampla, nós descobrimos que elas não são contraditórias, mas complementares entre si. Elas pertencem a um tipo de escrita que não deveríamos considerar compreensivos isoladamente, sistemáticos, ou conclusivos. Antes, devemos vê-las como afirmações parciais que ela nunca pretendeu que constituíssem uma resposta completa em relação à questão com a qual elas se relacionam. Elas meramente apontam para uma verdade que é tanto mais profunda quanto mais ampla do que elas expressam especificamente – uma verdade que, uma vez entendida, descortina sua natureza complementária e harmonia essencial.
O primeiro grupo de afirmações na realidade afirma que, por ser um pecador, o crente não pode render obediência perfeita a Deus sem participar do que Cristo tornou disponível através de seu ministério mediador. Em contrapartida, o segundo grupo afirma que, a despeito de sua pecaminosidade pessoal, o crente pode alcançar o padrão de obediência perfeita de Deus, que fez provisão de que ele participe daquilo que Cristo tornou acessível para ele.
Note mais uma vez: “O homem não pode cumprir as exigências daquela lei santa, sem exercer arrependimento para com Deus e fé para com Cristo.” Através do arrependimento o crente assegura o perdão de Deus e pela fé ele se torna participante na justiça salvadora de Cristo - ambas as coisas foram tornadas disponíveis para ele através da mediação de Cristo. Então o problema não é que a lei esteja exigindo coisas irrazoáveis, mas que o homem caído é incapaz de obedeça-la perfeitamente. Portanto a solução não é tentar transcender nossa pecaminosidade – por que isso não é possível nesta vida – mas se tornar participante na vitória e nos méritos de Cristo.
  1. Como o Mediador torna o desempenho do crente perfeitamente aceitável a Deus
Nós vimos que, de acordo com Ellen White, Deus requer não apenas obediência, mas perfeita obediência. E sugerimos que ela também indica que tal obediência é possível somente através do arrependimento do crente para com Deus e fé em Jesus. Agora devemos nos esforçar para estabelecer exatamente como a mediação de Cristo torna possível para o crente alcançar o padrão que Deus estabeleceu.
“Cristo, nas vitórias consumadas em Sua morte na cruz do Calvário, põe claramente a descoberto o caminho para o homem, tornando-lhe assim possível guardar a lei de Deus por meio do Caminho, da Verdade e da Vida. Não há outro meio.” (Mensagens escolhidas, Vol.1 p.342). “Jesus tornou-Se o Mediador entre Deus e o homem, para restaurar a pessoa arrependida ao favor de Deus, concedendo-lhe graça para guardar a lei do Altíssimo.” (Fé e obras, p. 119). “Mediante a graça de Cristo viveremos em obediência à lei de Deus, escrita em nosso coração.” (Patriarcas e profetas, p.372). “Nenhum pecado pode ser tolerado naqueles que caminharão com Cristo vestidos de branco. As vestes sujas devem ser removidas, e as vestes da justiça de Cristo devem ser colocadas sobre nós. Através de arrependimento e fé somos capacitados a prestar obediência a todos os mandamentos de Deus, e ser encontrados sem culpa diante dEle” (Testemunhos para a igreja, Vol. 5, p.472). Unicamente por meio da fé em Cristo é possível essa (perfeita) obediência (às exigências da lei). (Nos lugares celestiais, p.146).
“Através da fé em Cristo a obediência a todos os princípios da Lei de Deus é possível.” (Comentário bíblico adventista, comentários de Ellen G. White, Vol. 6, p.1077). “Para satisfazer os reclamos da lei, nossa fé tem de apoderar-se da justiça de Cristo, aceitando-a como nossa justiça. Mediante a união com Cristo, mediante a aceitação de Sua justiça pela fé, podemos ser habilitados para fazer as obras de Deus e ser cooperadores de Cristo.” (Mensagens escolhidas, p. 374, itálicos supridos). “Cristo tornou-Se o sacrifício sem pecado por uma raça culpada, fazendo dos homens prisioneiros de esperança, para que pelo arrependimento para com Deus por haverem transgredido Sua santa lei, e pela fé em Cristo como seu Substituto, Penhor e Justiça, pudessem ser reconduzidos à lealdade a Deus e à obediência a Sua santa lei.” (Fé e obras, p.118).
Examinaremos três idéias que aparecem nessas afirmações: 1. Obediência perfeita à vontade de Deus é possível ao crente. 2. A única maneira de alcançá-la é através de Jesus Cristo – “através do caminho, verdade e vida. Não há outro caminho.” 3. A graça de Deus, a justiça de Cristo, e o arrependimento e fé são as verdadeiras chaves para a obediência perfeita.
Nosso exame dos escritos de Ellen White nos conduziu a uma descoberta de certa forma surpreendente. Eles consistentemente ensinam que obediência perfeita para com a vontade de Deus é possível somente quando, através da fé, o crente participa no que Cristo faz por ele como seu mediador e substituto na presença do Pai.
A mediação de Cristo torna a obediência do crente perfeitamente aceitável ao Pai em três maneiras distintas, ainda que interligadas: (1) Através de substituição, (2) através de purificação, e (3) através de complementação.
a. Perfeita obediência através de substituição: O Pai aceita a justiça Toda-Suficiente de Cristo – seu caráter santo, seus méritos perfeitos, e obediência impecável – em lugar das imperfeições, falhas e pecaminosidade do crente.
“Visto como somos pecaminosos, profanos, não podemos obedecer perfeitamente a uma lei santa. Não possuímos justiça em nós mesmos com a qual pudéssemos satisfazer às exigências da lei de Deus. Mas Cristo nos proveu um meio de escape. Viveu na Terra em meio de provas e tentações como as que nos sobrevêm a nós. Viveu uma vida sem pecado. Morreu por nós, e agora Se oferece para nos tirar os pecados e dar-nos Sua justiça. Se vos entregardes a Ele e O aceitardes como vosso Salvador, sereis então, por pecaminosa que tenha sido vossa vida, considerados justos por Sua causa. O caráter de Cristo substituirá o vosso caráter, e sereis aceitos diante de Deus exatamente como se não houvésseis pecado.” (Caminho a Cristo, p. 62). “A única maneira em que pode alcançar a justiça é pela fé. Pela fé pode ele apresentar a Deus os méritos de Cristo, e o Senhor lança a obediência de Seu Filho a crédito do pecador. A justiça de Cristo é aceita em lugar do fracasso do homem, e Deus recebe, perdoa, justifica a alma arrependida e crente, trata-a como se fosse justa, e ama-a tal qual ama Seu Filho. Assim é que a fé é imputada como justiça; e a alma perdoada avança de graça em graça, de uma luz para luz maior.” (Mensagens escolhidas, p. 367).
“No momento em que o pecador crê em Cristo, permanece sem condenação à vista de Deus; pois a justiça de Cristo é sua: é-lhe imputada a perfeita obediência de Cristo.” (Fundamentos da educação cristã, p. 429). “A verdade é clara, e quando ela é contrastada com o erro, seu caráter pode ser discernido. Todos os súditos da graça de Deus podem compreender o que é requerido deles. Pela fé podemos submeter nossa vida à norma da justiça, porque podemos apropriar-nos da justiça de Cristo.” (Fé e obras, p. 97).
b.  Perfeita obediência através da Purificação: Como um incenso purificador, a justiça salvadora de Cristo de Cristo purifica sua adoração, obediência e serviço de sua pecaminosidade tornando-as aceitáveis a Deus.
“Perante o crente é apresentada a maravilhosa possibilidade de ser semelhante a Cristo, obediente a todos os princípios da lei. Mas por si mesmo é o homem absolutamente incapaz de alcançar esta condição. A santidade que a Palavra de Deus declara dever ele possuir antes que possa ser salvo, é o resultado da operação da divina graça, ao submeter-se à disciplina e restritoras influências do Espírito de verdade. A obediência do homem só pode ser aperfeiçoada pelo incenso da justiça de Cristo, o qual enche com a divina fragrância cada ato de obediência.” (Atos dos apóstolos, p. 532). “O incenso que subia com as orações de Israel, representa os méritos e intercessão de Cristo. Sua perfeita justiça, que pela fé é atribuída ao Seu povo, o que unicamente pode tornar aceitável a Deus o culto de seres pecadores.” (Patriarcas e profetas, p. 353). “Nem tempo, nem eventos, podem diminuir a eficácia do sacrifício expiatório. Como a perfumada nuvem de incenso acendia de forma aceitável ao céu, e Arão aspergia o sangue sob o trono da misericórdia e purificava o povo da culpa, assim os méritos do cordeiro são aceitos por Deus como purificador das contaminações do pecado.” (Testemunhos para a igreja, vol. 4, p.124).
“tudo precisa ser colocado sobre o fogo da justiça de Cristo, a fim de que seja purificado de seu odor terreno, antes que ascenda numa nuvem de fragrante incenso ao grande Jeová e seja aceito como aroma suave... Cristo Se fez pobre por amor de nós, para que pela Sua pobreza nos tornássemos ricos. E quaisquer obras que o homem pode prestar a Deus serão muito menos do que nada. Meus pedidos só se tornam aceitáveis por estarem baseados na justiça de Cristo. A idéia de fazer algo para merecer a graça do perdão é errônea do começo até o fim. ‘Senhor, não trago na mão valor algum; simplesmente me apego a Tua cruz.’” (Fé e obras, p.24). 
“Cristo olha ao espírito com que fazemos as coisas, e quando nos vê levando nossa carga com fé, Sua santidade perfeita faz expiação por nossas faltas. Quando fazemos o melhor possível, Ele Se torna nossa justiça.” (Mensagens escolhidas, Vol. 1, p.368). “...os méritos de Jesus se têm de misturar com nossas orações e esforços, do contrário eles se tornarão tão sem valor como a oferta de Caim. Pudéssemos ver toda a atividade dos instrumentos humanos, tais como ela se apresenta diante de Deus, haveríamos de ver que unicamente a obra efetuada mediante muita oração, santificada pelos méritos de Cristo, há de suportar a prova do juízo.” (Serviço cristão, p.263).
c. Perfeita obediência através de complementação: Cristo toma os esforços honestos, ainda que imperfeitos, do crente, para viver em harmonia com Deus e os completa – os aperfeiçoa – com seus próprios méritos para que eles atinjam os requerimentos de Deus.
“A fé e as obras andam de mãos dadas; elas atuam harmoniosamente na obra de vencer. As obras sem fé são mortas, e a fé sem obras é inoperante. As obras nunca nos salvarão; é o mérito de Cristo que será eficaz em nosso favor. Mediante a fé nEle, Cristo tornará todos os nossos esforços imperfeitos aceitáveis a Deus.” (Fé e obras, p.48). “Embora as boas obras do homem, sem a fé em Jesus, não sejam de mais valor do que foi a oferta de Caim, contudo, cobertas com o mérito de Cristo, testificam da dignidade do que as pratica, de herdar a vida eterna. Aquilo que no mundo é considerado moralidade, não alcança a norma divina e não tem mais mérito diante do Céu do que teve a oferta de Caim.” (Mensagens escolhidas, vol.1, p.382).
“Mediante os méritos do Redentor, Deus aceita os esforços do pecador para observar Sua lei, que é santa, justa e boa.” (Filhos e filhas de Deus, p. 42, itálicos supridos). “Quando o coração está disposto a obedecer a Deus; quando se fazem esforços neste sentido, Jesus aceita esta disposição e este esforço como sendo o melhor serviço do homem, e preenche a deficiência, dando-lhe Seu mérito divino.” (Minha consagração hoje, p.250, itálicos supridos).
Embora a próxima passagem se refira especificamente à oração, ela nos ajuda a entender como, de acordo com Ellen White, a mediação de Cristo aperfeiçoa o deficiente desempenho do crente.
“Toda sincera oração é ouvida no Céu. Talvez não seja expressa fluentemente; mas se nela está o coração, ascenderá ao santuário em que Jesus ministra, e Ele a apresentará ao Pai sem uma palavra desalinhada, sem uma dificuldade de enunciação, bela e fragrante com o incenso de Sua própria perfeição.” (Desejado de Todas as nações, p. 667).
Claramente a mediação de Cristo tem um efeito duplo sobre a “oração sincera”: 1. São removidas as imperfeições da oração feita por aquele que orou, 2. Cristo torna-a “bela” com o incenso de sua própria perfeição.
Essas considerações nos levam a concluir que, de acordo com Ellen White, o ministério mediador de Cristo é tão essencial como foi sua morte sobre a cruz por que através dele Cristo conduz o plano da redenção a sua realização efetiva em favor daqueles que o aceitam como Salvador pessoal, por compartilhar com eles os benefícios da obra redentora completada na cruz. Esse compartilhamento ocorre de uma forma dupla: 1. Cristo imputa sua morte expiatória, vitória redentora, e sua justiça salvadora ao crente e por isso o apresenta – como indivíduo – perfeitamente justo diante do Pai. 2. Cristo imputa seus méritos pessoais à vida deficiente do crente como filho de Deus, e assim torna sua obediência, seu serviço, e sua adoração agradáveis ao Pai.
  1. Algumas considerações escriturísticas
Enquanto alguns detalhes contidos nas afirmações anteriores discutidas não estejam na bíblia, os conceitos básicos que eles apresentam são plenamente escriturísticos. As passagens que discutimos nessa seção deveriam demonstram essa correlação. Paulo afirma:
“Pois assim como, por uma só ofensa, veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também, por um só ato de justiça, veio a graça sobre todos os homens para a justificação que dá vida. Porque, como, pela desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores, assim também, por meio da obediência de um só, muitos se tornarão justos.” (Romanos 5:18-19).
Note dois aspectos básicos aqui: 1. A justificação dos pecadores repousa não sobre o que eles são ou fazem – como possuir um caráter perfeito ou uma obediência impecável – mas no “ato de justiça” de Cristo. 2. Os muitos [direta referência aos redimidos] “serão feitos justos” “através da obediência de um homem,” a saber, Jesus Cristo.
Nós vimos que, de acordo com Ellen White, “No momento em que o pecador crê em Cristo, permanece sem condenação à vista de Deus; pois a justiça de Cristo é sua: é-lhe imputada a perfeita obediência de Cristo.” O crente pode “apresentar a Deus os méritos de Cristo, e o Senhor credita a obediência de seu Filho à conta do pecador.” Embora o texto de Romanos não use essas exatas palavras, é claro que ele estabelece o mesmo princípio. Paulo revela o fato, de que o ato de justiça de Cristo resulta em “justificação que dá vida a todos os homens.” Ele então indica que a obediência de Jesus conta – ou é creditada – em favor do crente que é então feito justo sob a base da obediência de Cristo imputada a ele pela fé.
O fato de que a mediação de Cristo aperfeiçoa e completa as consecuções parciais, e os esforços imperfeitos do crente, não elimina a necessidade de obediência, contudo. Jesus não torna a transgressão consciente e desobediência deliberada aceitável a Deus – apenas perdão, através de arrependimento e confissão pode remediar isso. São as tentativas verdadeiras do crente, de viver uma vida digna de um filho adotivo de Deus em Cristo (Efésios 4:1ss.; 5:8ss.) que a justiça salvadora purifica do pecado e torna perfeitas à vista do Pai.
As Escrituras ensinam que Jesus “se tornou a fonte de salvação eterna para todos que o obedecem” (Hebreus 5:9). Isso significa que Jesus é o Salvador, não daqueles que conscientemente rejeitam, e deliberadamente contradizem a vontade de Deus para a vida deles, mas apenas daqueles que lhe obedecem. Também é indicado que aqueles que lhe obedecem precisam de Jesus como Salvador. Não é sua obediência, mas Cristo, a fonte – a causa, a base – de sua Salvação.
O “obediente” precisa de um Salvador, não por que eles estejam errados em obedecer, mas por que Deus nunca intentou que a obediência fosse uma maneira alternativa de atingir uma justiça salvadora – não é a maneira de seres caídos transcenderem sua condição perdida, superar sua pecaminosidade pessoal, ou atingir um estágio de inteireza (perfeição) espiritual. Paulo afirma que “se fosse promulgada uma lei que pudesse dar vida, a justiça, na verdade, seria procedente de lei.” (Gál 3:21). Essa é a razão do por que nenhuma quantidade de obediência nos pode conceder acesso à salvação. Por que a vida Eterna só existe em Cristo, nós só podemos possui-la se tivermos a Cristo.
A segunda razão pela qual o obediente necessita de um Salvador é que sua obediência, sendo parcial e imperfeita, ao invés de ganhar o favor de Deus, na realidade é merecedora de condenação. Essas é a razão do por que Aquele que é o “autor e consumador de nossa fé, ... suportou a cruz... e se assentou à direita do Trono de Deus” (Hebreus 12:2), deve originar e conduzir a salvação à consumação (Filipenses 1:6).
Pedro afirma que os sacrifícios espirituais do crente – sua adoração, orações, obediência, serviço – são aceitáveis a Deus através de Jesus Cristo (1 Pedro 2:5). Evidentemente a base sobre a qual Deus aceita os dons de amor e testemunho, de louvor e obediência, de adoração e serviço, do crente, não é o valor desses dons, ou o mérito do doador. Ao invés disso, Deus responde favoravelmente a eles somente quando – e por causa desse fato – o crente os oferece através de Jesus Cristo, o mediador, que os purifica do pecado, remove suas imperfeições, e os aperfeiçoa através da imputação de seus méritos pessoais. Apenas ao se aproximar de Deus através de Jesus Cristo é que o crente demonstra que reconheceu sua verdadeira condição.
  1. A obediência da fé
Uma vez que não existe nenhum entendimento uniforme sobre o que constitui a verdadeira obediência, vamos brevemente discutir esse assunto nesse ponto. Alguns crêem que na obediência, o que conta é a motivação. Se o motivo for egoísta, então a obediência não tem valor. Mas se o motivo é o amor, então a obediência é genuína e agradável a Deus. De acordo com essa visão, a capacidade de amar de uma pessoa é a chave para a verdadeira obediência.
Outros dizem que a diferença entre a obediência legalista e a obediência que Deus requer jaz no poder do qual o indivíduo se utiliza. Se alguém obedece por suas próprias forças, então sua resposta é legalista e conseqüentemente inaceitável. Contudo, se alguém obedece no poder do Espírito, então essa obediência é verdadeira e genuína. Portanto a capacidade da pessoa em usar o poder do Espírito é a chave para a verdadeira obediência.
Ainda há outros que argumentam que alcançamos verdadeira obediência quando precisamente guardamos todos os dez mandamentos da lei moral. Na visão deles, pecado não é mais a transgressão da letra da lei, estreitamente definida como o decálogo. Assim que se alguém obedece e se abstém daquilo que a lei proíbe, então ele rende uma verdadeira, total, e impecável obediência – uma obediência aceitável por seus próprios méritos uma vez que satisfaz plenamente o padrão estabelecido por Deus.
Obviamente as três visões têm algum mérito – elas são genuínas e necessariamente fazem parte da resposta. Mas elas não provêem a explanação completa de em que consiste a verdadeira obediência. Iremos considerar cada visão:
1. O amor é de fato o único motivo verdadeiro. Mas o amor não dita o que é bom ou o que é mal. Não pode determinar a qualidade moral de uma obra, nem tem poder de tornar uma má ação em boa. Então a menos que alguém esteja propriamente informado e corretamente guiado pelos princípios de ordem moral pelos quais Deus governa o universo, o amor pode impulsioná-lo a fazer algo contrário ao que seja verdadeiramente bom, correto e amável. Motivos corretos e boas intenções nem sempre conduzem a ações em harmonia com a vontade de Deus.  
2. Dizer que é o tipo de poder que usamos que determina a natureza de nossa obediência é inadequado por dois motivos básicos. Primeiro, por que a lei nos exorta a fazer, ou deixar de fazer algo, sem especificar o método, ou o poder através do qual devemos obedecer. Por exemplo, o mandamento não diz: “não furtarás pelo poder do Espírito.” Ao invés disso diz: “Não furtarás”, fim. Portanto, se temos de fato deixado de roubar, então temos obedecido tudo que esse mandamento específico pede de nós. Como fizemos para obedecer é totalmente irrelevante no que se refere às exigências da lei.
Segundo, e mais importante para fazer uma distinção entre obedecer pelo poder do Espírito e o realizar pelo nosso próprio poder cria uma falsa contraposição. De acordo com as Escrituras, a natureza pecaminosa do homem caído nem deseja, nem é capaz de obedecer à vontade de Deus. Note essa passagem de Paulo:
“Por isso, o pendor da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem mesmo pode estar. Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus. Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito...” (Romanos 8:7-9).
Portanto, concluímos que nenhum ser caído se esforça para obedecer a vontade de Deus por si mesmo. Por ele mesmo ele não teria nem a vontade, nem o poder de fazer o que é certo. Sua mente pecaminosa não quer se submeter à vontade de Deus, e sua natureza pecaminosa não tem a força que tal submissão requer. Em vista disso, nós concluímos que, em qualquer extensão na qual um ser pecador obedeça a Deus, nessa extensão ele está respondendo aos apelos do Espírito, agindo por seu poder capacitador.
3. A visão de que a verdadeira obediência signifique fiel submissão para com os dez mandamentos da lei é falha por que a vontade de Deus para os homens caídos transcende os mandamentos específicos e as proibições contidas no decálogo. Como uma afirmação parcial da vontade de Deus para nós, a lei nos diz apenas o que precisamos fazer para viver corretamente em termos morais, mas não tem nada a dizer a relativamente ao que precisamos fazer para sermos salvos. A lei avalia nosso comportamento e nos diz onde temos pecado, mas não nos explica como nos livrar de nossa culpa e ter nossa condenação revogada; nem nos revela tudo que devemos fazer para continuar vivendo um relacionamento adequado com Deus uma vez que tenhamos sido aceitos nessa comunhão. Em outras palavras, a lei revela que somos pecadores, mas não nos diz como somos salvos do pecado. Ela nos lembra de que precisamos de um Salvador, mas não diz como ou onde podemos encontrá-lo.
As instruções de Deus – seus decretos, estatutos, e mandamentos – nos dizendo o que fazer para remediar o problema de nosso pecado não aparecem no decálogo. Nos as encontramos no Evangelho como expresso em ambos os Testamentos das Escrituras.
Para ser breve, o pecador no Antigo Testamento tinha que trazer, por exemplo, um cordeiro ao tabernáculo como oferta pelo pecado, confessar seu pecado sobre sua cabeça, e imolá-lo para que o sacerdote pudesse usar o sangue do cordeiro para fazer expiação e assegurar o perdão Divino em seu favor (Lev. 4-6). Falhar em cumprir as leis que regulamentavam esa cerimônia tinha muito maiores conseqüências do que render algo menos do que impecável obediência ao decálogo. Deus fez provisão em favor daqueles cuja obediência não fossem suficientes em relação às exigências da lei, mas nenhuma provisão em favor daqueles que falham em que assegurar seu perdão através dos meios que Deus providenciou.
Isso é uma clara indicação de que, em última instância, o que decidia se um israelita em particular era obediente, ou não, dependia não de sua relação com a lei, mas de sua relação para com o cordeiro que Deus providenciou como símbolo de Cristo. Nós portando concluímos que, de acordo com o Antigo Testamento, aqueles que eram verdadeiramente obedientes eram aqueles que, tendo feito seu melhor para viver em completa harmonia com as leis de Deus, reconheciam suas transgressões e erros, e vinham a Deus com o sangue de um sacrifício para assegurar Seu perdão, e então mantinham seu lugar como membros do povo do concerto de Deus. A verdadeira obediência obviamente incluia submissão às exigências da lei moral e também submissão para com as demandas do Evangelho como representadas nos serviços do tabernáculo.
O mesmo é verdade no Novo Testamento. Jesus afirmou claramente que ele não tinha vindo “abolir a lei e os profetas..., mas para os cumprir” (Mat. 5:17). Ele não veio nos libertar da responsabilidade de viver de forma moralmente correta, ou abolir os princípios que governam a criação de Deus, para que pudéssemos satisfazer nossa natureza pecaminosa a vontade. Ao dizer isso não significa, definitivamente, que toda vez que Jesus impeliu seus ouvintes a guardar, tantos os seus mandamentos, ou os mandamentos do Pai, ele tenha se referido especificamente aos dez mandamentos. Nem isso significa que o chamado do Salvador ao discipulado não impõe obrigações além daquelas requeridas pela lei – que suas exigências sobre nós começem, ou terminem com o que o decálogo diretamente expõe.
Quando lemos a asserção de Cristo: “Se me amais guardareis os meus mandamentos” (João 14:15), muitos de nós automaticamente pensamos que Ele está se referindo aos dez mandamentos. Devemos lembrar, contudo, de que aqui Jesus está se referindo primariamente em Seu papel de Salvador. Portanto a expressão “guardareis os meus mandamentos,” conquanto isso possa incluir os dez mandamentos, certamente não está limitado somente a eles. A ordem de Cristo está focada especialmente das exigências e obrigações que o evangelho impõe sobre o crente. Ela lida não somente com o que devemos fazer para viver uma “vida digna do chamado” que recebemos, como Paulo coloca (em Efésios 4:1), mas especialmente com o que devemos fazer de forma a responder a esse chamado por temos sido reconciliados com o Pai e recebido a adoção de filhos e filhas de Deus.
Os mandamentos do Evangelho se originam de sua natureza particular, e contribuem para a realização de seus objetivos únicos. Portanto eles são essencialmente diferentes dos mandamentos da lei. É desnecessário dizer, que as exigências do Evangelho são tão obrigatórias e normativas quanto às da lei. A salvação que Deus provê em Cristo demanda certas respostas específicas da parte do pecador. Por exemplo, quando durante seu ministério terrestre Jesus proclamou as boas novas do Reino de Deus, dizendo, “O tempo está cumprido, e o Reino de Deus está as portas; se arrependam a creiam no Evangelho” (Marcos 1:15), Ele fez mais do que apenas apelar para a consiência dos seus ouvintes. Ele, de fato, tornou a fé e o arrependimento mandamentos para qualquer pecador buscando reconciliação com Deus. No processo, Ele revelou que eles são o teste da obediência do pecador tão verdadeiramente quanto qualquer mandamento da lei.
Lucas nos diz que a “Palavra de Deus crescia,” e “muitíssimos sacerdotes  obedeciam a fé” (Atos 6:7). Podemos com certeza dizer que muitos desses sacerdotes eram tão fiéis a lei quanto é razoável esperar de qualquer ser caído. Como Paulo eles eram “irrepreensíveis” de acordo com a lei (Filipenses 3:6). Contudo, se eles não tivessem se tornado obedientes  ao Evangelho, e  eles não teriam tido acesso à Graça e conseqüentemente não teria esperança na vida eterna.
Paulo recebeu “apostolado... para chamar pessoas de entre todos os gentios para a obediência que vem pela fé” (Romanos 1:5). A “obediência por fé” vem somente daqueles que aceitaram a Jesus Cristo como seu Salvador pessoal. Sem essa fé – participação na obra redentora de Cristo – nenhuma quantidade de “obediência à lei” será capaz de nos reconciliar com Deus, nos garantir o direito de adoção, e nos dar acesso à herança eterna do Pai.
Jesus revelou que as exigências do Evangelho tem força de mandamento quando disse que “quem quer que nele crer não perecerá, mas terá a vida eterna” e “quem não crer já está condenado por que não acretida no nome do filho de Deus” (João 3:16,18). Claramente o destino eterno de uma pessoa não depende dele obedecer ou não à lei – se esse fosse o padrão ninguém jamais seria salvo – mas de qual seja a resposta em relação às demandas do Evangelho. Paulo expressou o mesmo ponto quando afirmou que “os que não conhecem a Deus e contra os que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus” “sofrerão penalidade de eterna destruição, banidos da face do Senhor.” (2 Tessalonicenses 1:8-9). Como era o caso nos tempos do Antigo Testamento, Deus fez provisão para nossas falhas em render perfeita obediência à lei, mas nenhuma provisão para quem não respondem favoravelmente às demandas do Evangelho.
É portanto, lógico, concluir que de acordo com o Novo testamento a verdadeira obediência é determinada em última instância, não pelo sucesso de uma pessoa em obedecer às exigências da lei, mas pela submissão fiel para com as demandas do Evangelho. Consequëntemente, os verdadeiramente obedientes são aqueles que, tendo feito seu melhor para viver de forma digna de filhos e filhas de Deus em Cristo, reconhecem sua pecaminosidade, imperfeição, e indignidade, e se aproximam do Pai em arrependimento e fé de forma que o sangue expiador de Cristo possa purificá-los de sua culpa e para que a justiça salvadora de Cristo possa mantê-los em uma posição correta diante de Deus.
Em vista disso, também é lógico dizer que quando o escritor bíblico afirma que Jesus é a “fonte da salvação eterna para todos que o obedecem” (Hebreus 5:9), ele não está se referindo a um grupo hipotético de super pessoas que através de obediência impecável à lei, tenham desenvolvido em suas próprias vidas uma justiça tão completa e meritória como aquela de Cristo. Ao invés disso, o escritos bíblico fala daqueles que são obedientes ao Salvador quando confrontados por Ele com o Evangelho – a saber, os crentes de todas as eras que “obedeceram ao evangelho de nosso Senhor Jesus” (2 Tess. 1:8) no sentido pleno da expressão.
Embora diferente na fraseologia, os elementos básicos que derivamos das Escrituras são essencialmente os mesmas que vimos anteriormente nos escritos de Ellen White: 1. Obediência perfeita é possível somente através de arrependimento para com Deus relativamente aos nossos pecados e fé para com Cristo para receber justiça salvadora. 2. Quando respondemos ao Evangelho com arrependimento e fé, e vamos ao Pai, confiando nos méritos do Filho, nosso Sumo Sacerdote imputa os benefícios de sua obra redentora em nosso favor para substituir nossas deficiências e nos apresentar a Deus perfeitamente justos em Cristo.
A mediação de Cristo é o único caminho rumo à justiça salvadora para todos
Outro conceito claramente detalhado nos escritos de Ellen White é que todos os seres caídos dependem da mediação de Cristo para estar em uma posição correta para com Deus. Nenhum pecador jamais teve sucesso em desenvolver uma justiça perfeita ou uma vida sem pecado. Portanto todos devem se beneficiar da morte expiatória de Cristo, de sua vitória redentora, e justiça imputada para salvação.
1.      Justiça perfeita nunca atingida que por ninguém separado de Cristo
“A pena da inspiração, fiel à sua tarefa, nos diz dos pecados que venceram a Noé, Ló, Moisés, Abraão, Davi e Salomão, e que mesmo o forte espírito de Elias submergiu sob a tentação durante seu temeroso julgamento. ...As falhas e enfermidades dos profetas e dos apóstolos foram tornadas conhecidas pelo Espírito Santo, que levanta o véu do coração humano. Ali diante de nós está a vida dos crentes, com todas as suas falhas e erros, que tem por objetivo servir de lição para as seguintes gerações. Se eles não tivessem pontos fracos eles teriam sido mais que humanos, e nossa natureza pecaminosa iria se desesperar de jamais alcançar tal grau de excelência.” (Testemunhos para a igreja, Vol. 4, p. 12)
“Aquele que tem contínuo senso da presença de Cristo não pode condescender com a confiança em si mesmo nem com a justiça própria. Nenhum dos profetas ou apóstolos fez arrogantes proclamações de santidade. Quanto mais se aproximavam da perfeição de caráter, tanto menos se consideravam dignos e justos. Aqueles, porém, que possuem o menor senso da perfeição de Jesus, aqueles cujos olhos são menos voltados para Ele, são os que têm as maiores pretensões de perfeição.” (Fé e obras, p.54)
“Devemos ser sempre surpreendidos e indignados quando ouvirmos um pobre ser mortal exclamando: “Sou Santo; Sou impecável!” Nenhuma alma a quem Deus tenha concedido a maravilhosa visão de sua grandeza e majestade jamais proferiu uma palavra nessa direção. Pelo contrário, eles se sentiram como se estivessem afundando com a mais profunda humilhação da alma, enquanto viam a pureza de Deus, e a contrastaram com suas próprias imperfeições na vida e no caráter. ...Quando o Espírito agita o coração com seu magnífico poder despertador, há um senso de deficiência na alma que conduz à contrição da mente, e humilhação do eu, e não à ostentação orgulhosa do que já foi atingido.” (Review and Herald, 16 de outubro de 1888).
“Os que experimentam a santificação bíblica manifestarão um espírito de humildade. Como Moisés, depois de contemplar a augusta e majestosa santidade, vêem a sua própria indignidade contrastando com a pureza e excelsa perfeição do Ser infinito. O profeta Daniel é um exemplo da verdadeira santificação. Seus longos anos foram cheios de nobre serviço a seu Mestre. Foi um homem "mui amado" do Céu (Dan. 10:11). Todavia, ao invés de pretender ser puro e santo, este honrado profeta, quando pleiteava perante Deus em prol de seu povo, identificou-se com os que positivamente eram pecadores em Israel: "Não lançamos as nossas súplicas perante Tua face fiados em nossas justiças, mas em Tuas muitas misericórdias." "Pecamos; obramos impiamente." Declara ele: "Estando eu ainda falando e orando, e confessando o meu pecado, e o pecado do meu povo." E quando, em ocasião posterior, o Filho de Deus lhe apareceu a fim de lhe dar instrução, diz Daniel: "Transmudou-se em mim a minha formosura em desmaio, e não retive força alguma." Dan. 9:18, 15 e 20; 10:8.” (O Grande conflito, pp. 470,471).
"Se dissermos que não temos pecado", diz João não se excluindo de seus irmãos, "enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós." (1 João 1:8) (Atos dos apóstolos, 562). “Enoque era homem de espírito forte e altamente cultivado, e de extenso saber; era honrado com revelações especiais de Deus; todavia, estando em constante comunhão com o Céu, achando-se sempre diante dele a intuição da grandeza e perfeição divina, foi um dos homens mais humildes. Quanto mais íntima a ligação com Deus, mais profunda era a intuição de sua própria fraqueza e imperfeição.” (Patriarcas e profetas, p. 85).
“Homem algum pode, olhando para dentro de si, encontrar em seu caráter o que quer que seja que o recomende a Deus, ou lhe assegure aceitação. É unicamente por Jesus, a quem o Pai deu para que o mundo vivesse, que o pecador pode encontrar acesso a Deus. Jesus, unicamente, é nosso Redentor, nosso Advogado e Mediador; nEle reside nossa única esperança de perdão, paz e justiça.” (Mensagens escolhidas, pp. 332, 333).
As afirmações precedentes descrevem a experiência dos patriarcas, profetas, e apóstolos – os gigantes espirituais das Escrituras – que tiveram a chance, melhor do que quaisquer outras pessoas, de desenvolverem uma imaculada justiça de existência e de aprenderem a viver sem pecar. Ainda assim (1) nenhum deles alcançou o alvo da perfeição inculpável por si mesmo; (2) todos admitiram serem pecaminosos, imperfeitos, e indignos; e (3) eles todos dependeram da justiça imputada de Cristo para salvação. Sua admissão de culpa e pecaminosidade não era resultado de um falso senso de modéstia, ou de inabilidade em reconhecer sua verdadeira condição espiritual. Ao invés disso, ela estava baseada no fato de que sua relação próxima, e incomum, com Deus os capacitava a reconhecer tanto o ponto de referência quanto a percepção espiritual de que eles precisavam para ver a si mesmos como eles realmente eram.
Seria difícil argumentar convincentemente que os apóstolos e profetas não alcançaram o alvo da impecaminosidade tanto por que Deus não lhes tenha dado poder Divino suficiente, ou por que eles não tenham se esforçado na medida ou durante o tempo que seria necessário. Ao contrário, vemos em Atos dos apóstolos que eles eram homens “a quem Deus... honrou com luz e poder divinos.” E que “viveram o mais próximo de Deus, homens que sacrificariam a própria vida antes do que realizar conscientemente uma ação errada.” Então se alguém teve a oportunidade de atingir perfeição sem pecado, eles foram essas pessoas.
É importante notar que esses gigantes espirituais reconheceram sua total dependência de Cristo para a salvação, não tanto porque sua obediência era deficiente, ou por que eles ocasionalmente se envolviam em comportamento pecaminoso, mas primariamente por que eles vieram a perceber a condição caída na qual eles se encontravam como indivíduos. Eles sabiam que era sua imperfeição espiritual, caráter defeituoso, natureza pecaminosa, que os tornava injustos, e os fazia indignos.
“Quando ao servo de Deus é permitido contemplar a glória do Deus do céu, enquanto Ele é desvelado para a humanidade, e percebe uma pequena porção do grau de pureza daquele que é o Santo de Israel, ele fará confissões surpreendentes da poluição de sua alma, ao invés de jactância orgulhosa de sua santidade. ...um raio da glória de Deus, um brilho da pureza de Cristo, penetrando a alma, torna cada ponto de contaminação dolorosamente distinto, e testifica da deformidade e dos defeitos do caráter humano (Review and Herald, 16 de outubro de 1888, itálicos supridos).
“Nenhum dos apóstolos e profetas declarou jamais estar sem pecado. Homens que viveram o mais próximo de Deus, que sacrificariam a vida de preferência a cometer conscientemente um ato mau, homens a quem Deus honrou com divina luz e poder, confessaram a pecaminosidade de sua natureza. Eles não puseram a sua confiança na carne, nem alegaram possuir justiça própria, mas confiaram inteiramente na justiça de Cristo.” (Atos dos apóstolos, p. 561, itálicos supridos).
Ellen White dá uma grande ênfase e significado ao fato de que a alma do crente é poluída, e sua natureza humana é pecaminosa. Alguém pode até mesmo dizer que ela considerava isso a razão mais importante pela qual nenhum ser caído é capaz de render obediência perfeita à lei ou desenvolver uma justiça que Deus possa aceitar. Isso também clarifica adiante, por que seres caídos são igualmente dependentes da mediação de Cristo como seu representante e substituto. A seguinte passagem explica isso com bastante força:
Os cultos, as orações, o louvor, a penitente confissão do pecado, sobem dos crentes fiéis, qual incenso ao santuário celestial, mas passando através dos corruptos canais da humanidade, ficam tão maculados que, a menos que sejam purificados por sangue, jamais podem ser de valor perante Deus. Não ascendem em imaculada pureza, e a menos que o Intercessor, que está à mão direita de Deus, apresente e purifique tudo por Sua justiça, não será aceitável a Deus. Todo o incenso dos tabernáculos terrestres têm de umedecer-se com as purificadoras gotas do sangue de Cristo. Ele segura perante o Pai o incensário de Seus próprios méritos, nos quais não há mancha de corrupção terrestre. Nesse incensário reúne Ele as orações, o louvor e as confissões de Seu povo, juntando-lhes Sua própria justiça imaculada. Então, perfumado com os méritos da propiciação de Cristo, o incenso ascende perante Deus completa e inteiramente aceitável. Voltam então graciosas respostas. 
Oxalá vissem todos que quanto a obediência, penitência, louvor e ações de graças, tudo tem que ser colocado sobre o ardente fogo da justiça de Cristo! A fragrância desta justiça ascende qual nuvem em torno do propiciatório.” (Mensagens escolhidas, Vol. 1, p. 344, itálicos supridos).
Quando damos conta das implicações de longo alcance dos conceitos expressos aqui, começamos a ver que essa passagem é a chave para um correto entendimento de pelo menos duas idéias essenciais que de outra forma continuam vagas e ambíguas. São elas, 1. Que seres pecaminosos não podem oferecer obediência perfeita à vontade de Deus e, portanto são incapazes de desenvolver um caráter justo por si mesmos. 2. E que obediência perfeita somente é possível por participarmos pela fé dos méritos redentores de Cristo.
“Era possível a Adão, antes da queda, formar um caráter justo pela obediência à lei de Deus. Mas deixou de fazê-lo e, devido ao seu pecado, nossa natureza se acha decaída, e não podemos tornar-nos justos. Visto como somos pecaminosos, profanos, não podemos obedecer perfeitamente a uma lei santa. Não possuímos justiça em nós mesmos com a qual pudéssemos satisfazer às exigências da lei de Deus.” (Caminho a Cristo, p. 62, itálicos supridos). “A lei requer justiça, e esta o pecador deve à lei; mas é ele incapaz de a apresentar.” (Mensagens escolhidas, Vol. 1, p. 367) (A lei) “não podia justificar o homem, porque em sua natureza pecaminosa este não a poderia guardar.” (Patriarcas e profetas, 373, itálicos supridos).
“Se a lei alcançasse apenas a conduta exterior, os homens não seriam culpados em seus maus pensamentos, desejos e desígnios. Mas a lei requer que a própria alma seja pura e a mente santa, para que os pensamentos e a sensibilidade estejam de acordo com a norma de amor e justiça.” (Mensagens escolhidas, Vol. 1, p. 211). “o homem não pode satisfazer os reclamos dessa santa lei sem manifestar arrependimento para com Deus e fé para com o nosso Senhor Jesus Cristo.” (Fé e obras, p. 29).
Devemos notar vários pontos aqui: 1. O homem não pode obedecer perfeitamente a lei por que ele é pecaminoso – sua natureza pecaminosa torna isso impossível. Mais uma vez, o assunto aqui é obediência perfeita, uma obediência que Deus possa aceitar por seus próprios méritos, sem a mediação de Cristo. 2. O homem não tem – nem é capaz de desenvolver – uma justiça pessoal capaz de satisfazer as exigências da Lei Santa. 3. A lei cobre não apenas o que uma pessoa faz, mas também o que ela é – ela requer “que a própria alma seja pura.” Ou seja, a lei exige nada menos do que total ausência de pecado na essência do ser e numa conduta perfeitamente justa.
A passagem citada da página 62 de caminho a Cristo claramente indica uma diferença radical entre as possibilidades iniciais de Adão e àquelas de seus descendentes caídos. Note novamente:
Era possível a Adão, antes da queda, formar um caráter justo pela obediência à lei de Deus. Mas...  nossa natureza se acha decaída, e não podemos tornar-nos justos...  não podemos obedecer perfeitamente a uma lei santa.
Se tomarmos essa passagem literalmente – e não há razão para não o fazermos – então devemos concluir que, de acordo com Ellen White, Adão podia fazer pelo menos duas coisas que nós, seus descendentes caídos não podemos: Primeiro, Ele podia render obediência perfeita à lei de Deus. E segundo, ele poderia desenvolver um caráter perfeito por obedecer à lei de Deus.
A relação de causa e efeito que circunda esse argumento de fato tem três partes, e precisamos considerar essas três partes para entendê-la adequadamente. 1. Como um ser criado por Deus, Adão começou sua vida com uma natureza que era justa, santa, e boa, e conseqüentemente ele desfrutava da aprovação absoluta de Deus sem a necessidade de um mediador. 2. Desde que sua natureza era pura e livre de pecado, ele vivia em união espiritual ilimitada com Deus – um ramo perfeitamente conectado à videira – ele podia viver em completa harmonia com a vontade de Deus em todos os momentos e em cada aspecto singular. 3. Desde que ele era justo em si mesmo, por natureza, e conseqüentemente podia oferecer perfeita obediência, ele também podia desenvolver um caráter justo – um caráter que por causa de sua qualidade sem mancha poderia receber a aprovação de Deus baseada em seus próprios méritos intrínsecos.
Nossa situação é bem diferente, contudo. “Por causa do pecado (de Adão) nossa natureza é caída. Uma vez que somos pecaminosos, profanos, não podemos obedecer perfeitamente a uma lei santa.” E uma vez que um caráter justo pode ser formado apenas através de perfeita obediência, segue-se logicamente que não podemos desenvolver um caráter justo como Adão podia ter feito – um caráter tão intrinsecamente bom, santo, e perfeito que ganharia o veredito da aceitação de Deus sem a mediação de Cristo.
Tais considerações nos ajudam a delinear pelo menos suas conclusões lógicas e significativas: 1. Apenas seres sem pecado – aqueles que não têm uma natureza pecaminosa para corromper e poluir tudo que eles são e fazem – podem viver o tipo de vida capaz de formar o caráter que ganhará veredito favorável inteiramente na base de seus próprios méritos. 2. A única maneira através da qual seres caídos podem satisfazer o padrão de Deus em relação à perfeição sem pecado é através de “arrependimento para com Deus e fé para com o Senhor Jesus Cristo.” Somente assim sua condenação é revogada e seu pecado removido. E somente assim ele se torna um participante da justiça Toda-Suficiente de Cristo – a única justiça no universo disponível a seres caídos que preenche o padrão de Deus de obediência perfeita em todos os aspectos.
Esse entendimento reforça o significado de outras passagens que indicam que é somente a imputada justiça de Cristo – seu caráter inculpável aceito em lugar de nossa imperfeição – que nos qualifica para estarmos puros e inculpáveis na presença de Deus. Note:
“você é impotente para fazer o bem, e não pode melhorar sua condição. Separados de Cristo não temos nenhum mérito, nenhuma justiça. Nossa pecaminosidade, nossa fraqueza, nossa imperfeição humana torna impossível que compareçamos perante Deus a não ser que sejamos vestidos com a justiça sem mancha de Cristo. Devemos ser achados nEle não tenho justiça própria, mas a justiça que há em Cristo.” (Mensagens escolhidas, Vol. 1, p. 333). “Cristo aperfeiçoou um caráter justo aqui sobre a terra, não para si mesmo, pois seu caráter era puro e sem mancha, mas para o homem caído. Seu caráter ele oferece ao homem se ele o aceitar.” (Testemunhos para a igreja, Vol. 3, 371).
Jesus diz:
“Assim, serei vosso representante no Céu. O pai não vê vosso caráter defeituoso, mas vos olha revestidos de Minha perfeição. Sou o meio pelo qual as bênçãos do Céu descerão a vós. E todo aquele que Me confessa, partilhando Meu sacrifício pelos perdidos, será confessado como participante na glória e alegria dos salvos.” (O desejado de todas as nações, 357). “Os que rejeitam o dom da justiça de Cristo estão rejeitando os atributos de caráter que os constituiriam filhos e filhas de Deus. Rejeitam aquilo que, unicamente, lhes poderia conceder aptidão para um lugar na ceia de bodas.” (Parábolas de Jesus, pp. 316, 317).
“Ele viveu uma vida impecável. Ele morreu por nós, e agora ele se oferece para tirar nossos pecados e nos dar sua justiça. Se você se entregar a Ele, e aceitá-lo como Salvador, então, pecaminosa como sua vida possa ter sido, por causa dEle você será contado como justo. O caráter de Cristo toma o lugar do seu caráter, e você é aceito diante de Deus como se você nunca tivesse pecado.” (Caminho a Cristo, p.62) “Cristo imputa a nós seu caráter sem pecado, e nos apresenta ao Pai em sua própria pureza.” (Review and Herald, 12 de julho de 1892).
Alguns acreditam que um pecador pode viver uma vida sem pecado por usar apropriadamente o poder do Espírito Santo. Aparentemente eles falham em ver que a idéia de um ser pecaminoso vivendo uma vida sem pecado é em si mesmo uma contradição de termos. A Passagem de Mensagens escolhidas, Vol. 1, página 344, citada anteriormente claramente indica que mesmo que um ser caído fosse capaz de agir de acordo com o que Deus estipulou – em sua adoração e obediência à lei – os “canais corruptos” de sua humanidade pecaminosa poluiriam tudo que ele faz e o tornaria inaceitável sem a mediação de Cristo.
Por que “nossa natureza é caída” e “somos pecaminosos e profanos,” mesmo as boas obras que fazemos carregam as marcas incriminatórias de nossa pecaminosidade pessoal. Nossa adoração e louvor, obediência e serviço, nosso desenvolvimento de caráter e modificação de comportamento são todas obras de seres pecaminosos, e nada que seres pecaminosos possam oferecer a Deus é aceito em seus próprios méritos. É somente quando nos apropriamos da mediação de Cristo em nosso favor, e ele purifica e aperfeiçoa tudo através da imputação de seus méritos pessoais, que nossa oferta chega ao Pai. A próxima passagem sublinha o fato de que mesmo as boas obras do homem são indignas a menos que cobertas com os méritos de Cristo:
“Embora as boas obras do homem, sem a fé em Jesus, não sejam de mais valor do que foi a oferta de Caim, contudo, cobertas com o mérito de Cristo, testificam da dignidade do que as pratica, de herdar a vida eterna.” (Mensagens escolhidas, vol. 1, 382).
Um segundo conceito que a passagem de Mensagens escolhidas, vol. 1, página 344, citada anteriormente nos ajuda a entender mais plenamente é a idéia de que a perfeita obediência é possível através da união com Cristo – por participarmos da natureza divina, por combinar a humanidade com a divindade. Note como Ellen White explica esse conceito em outro lugar:
“Para satisfazer os reclamos da lei, nossa fé tem de apoderar-se da justiça de Cristo, aceitando-a como nossa justiça. Mediante a união com Cristo, mediante a aceitação de Sua justiça pela fé, podemos ser habilitados para fazer as obras de Deus e ser cooperadores de Cristo.” (ibid.,p. 374). “Cristo, porém, não veio para destruir a lei senão para cumpri-la. Nem um jota ou um til do padrão moral de Deus podia ser mudado para vir ao encontro do homem em sua condição de caído. Jesus morreu para que pudesse imputar ao pecador arrependido a Sua própria justiça, e tornar ao homem possível guardar a lei.” (ibid., p. 312).
“Tudo que o homem pode fazer sem Cristo é poluído pelo egoísmo e pecado; mas aquilo que é operado pela fé é aceitável a Deus. Quando procuramos alcançar o Céu pelos méritos de Cristo, a alma faz progresso. Olhando para Jesus, autor e consumador de nossa fé, podemos prosseguir de força em força, de vitória em vitória; pois por meio de Cristo a graça de Deus operou nossa salvação completa.” (Fé e obras, p.94).  
“Cristo tomou sobre Si a humanidade, por nós. Cobriu Sua divindade, e a divindade e a humanidade foram combinadas. Ele mostrou que era possível observar aquela lei que Satanás declarou não se poder observar. Cristo assumiu a forma humana para estar aqui em nosso mundo e mostrar que Satanás havia mentido. Tomou sobre Si a natureza humana para demonstrar que, com a divindade e a humanidade combinadas, o homem podia guardar a lei de Jeová. Separai a humanidade da divindade, e podereis procurar desenvolver vossa própria justiça desde agora até que Cristo venha, e isso não passará de um fracasso.” (ibid., p. 71, itálicos supridos).
“Satanás declarara que era impossível ao homem obedecer aos mandamentos de Deus; e é verdade que por nossa própria força não lhes podemos obedecer. Cristo, porém, veio na forma humana, e por Sua perfeita obediência provou que a humanidade e a divindade combinadas podem obedecer a todos os preceitos de Deus.” (Parábolas de Jesus, p. 314, itálicos supridos).
“Temos de polarizar nossas esperanças quanto ao Céu tão-somente em Cristo, porque Ele é nosso Substituto e Penhor. Nós transgredimos a lei de Deus, e pelas obras da lei nenhuma carne será justificada. Os melhores esforços que o homem, em suas próprias forças, pode fazer, não têm valor para satisfazer a santa e justa lei que ele transgrediu; mas pela fé em Cristo pode ele alegar a justiça do Filho de Deus como toda-suficiente. Cristo, em Sua natureza humana satisfez as exigências da lei. Suportou a maldição da lei pelo pecador, por Ele fez expiação, para que todo aquele que nEle cresse não perecesse mas tivesse vida eterna. A fé genuína apropria-se da justiça de Cristo, e o pecador é feito vencedor com Cristo; pois ele se faz participante da natureza divina, e assim se combinam divindade e humanidade.” (Fé e obras, pp. 93, 94, itálicos supridos).
“Deus afirmou claramente que ele espera que sejamos perfeitos, e por que Ele espera isso, Ele fez provisões para que nós participássemos da natureza divina.” (Review and Herald, 28 de janeiro de 1904). “Unicamente o evangelho de Cristo o pode livrar da condenação ou contaminação do pecado. Deve ele exercer o arrependimento em relação a Deus, cuja lei transgrediu, e fé em Cristo, seu sacrifício expiatório. Obtém assim "remissão dos pecados passados", e se torna participante da natureza divina.” (O grande conflito, p. 468; itálicos supridos).
Um exame contextual dessas declarações claramente revela que elas não se referem a algo que pertença à concreta realidade física. Ao contrário, falam de um fenômeno espiritual que é real somente nos domínios da fé. Conseqüentemente não podemos tomar expressões tais quais: “união com Cristo,” “divindade e humanidade combinados,” e “participantes da natureza divina” como referências tanta a uma mistura panteísta entre Deus e homem ou a uma combinação mística das identidades Divina e humana. As frases não sugerem uma integração sobrenatural das naturezas divina e humana, ou algum tipo de deificação do homem. Ao contrário, elas falam sobre o crente se tornando participante pela fé, na morte expiatória do Salvador, sua vitória redentora, e em Sua justiça Toda-Suficiente.
“União com Cristo” acontece quando nossa fé agarra “a justiça de Cristo, aceitando-a como nossa justiça.” “divindade e humanidade são combinadas” quando “fé genuína se apropria da justiça de Cristo.” O crente se torna “co-participante da natureza divina” quando – e pelo fato de que ele – exerce “fé em Cristo, em seu sacrifício expiatório.” Claramente a justiça de Cristo não é uma substância espiritual ou um elemento moral que de alguma forma é implantado dentro do crente. Ao invés disso, é uma qualidade intrínseca do caráter Santo de Cristo – um mérito, um valor, uma virtude – que Ele, como representante do homem e seu substituto, pode compartilhar ou imputar àqueles que pela fé o aceitam como Salvador pessoal.
Nós, portanto concluímos que as afirmações tais qual “humanidade e a divindade combinadas podem obedecer a todos os preceitos de Deus” apontam para a mesma dinâmica que já estudamos anteriormente, a saber, que perfeita obediência é possível somente através da mediação de Cristo. Quando o crente faz seu melhor para viver em harmonia com o que sabe ser a vontade de Deus para o homem, e depende da obra redentora de Cristo em seu favor para sua posição diante de Deus, Cristo imputa sua justiça pessoal a ele e assim apresenta a ele, bem como seu desempenho, perfeitamente aceitável ao Pai.
2.      Como Cristo assegura a Eterna Salvação àqueles que morreram dependendo da graça de Deus para Salvação.
Nós já vimos que, de acordo com Ellen White, nenhum dos gigantes espirituais dos tempos bíblicos – o que significa absolutamente nenhum – jamais alcançou um estado de perfeição sem pecado por si mesmo. Eles todos foram pecaminosos, imperfeitos, indignos, e portanto, totalmente dependentes da justiça imputada de Cristo. Também vimos que nenhum deles de si mesmos renderam obediência perfeita. Além de serem pecaminosos e imperfeitos, seu desempenho na vida foi contaminado e tornado inaceitável pelos efeitos poluidores de sua natureza pecaminosa inerente. Todos eles foram, todos eles tiveram, e todos eles carregaram as marcas incriminatórias de seu estado caído e pecaminosidade pessoal. Adiante encararemos duas perguntas: 1. Uma vez que eles não atingiram nem natureza justiça, nem conduta livre de pecado, eles serão salvos? 2. E se sim, em que base?
A seguinte passagem da pena de Ellen White responde ambas as perguntas de forma direta, clara, e suficientemente compreensiva. É parte de uma discussão de algo que na terminologia adventista chamamos de juízo investigativo, um juízo que, para os crentes que não estarão vivos quando Jesus retornar acontecerá após a morte deles, quando já será tarde demais para que eles possam fazer qualquer coisa para afetar a decisão de Deus. Nesse julgamento o veredito final e permanente de Deus sela o destino eterno de cada pessoa. Entre outras coisas, a passagem mostra por que a mediação de Cristo é tão essencial para aqueles que morreram confiando em sua obra redentora.
“Enquanto Jesus faz a defesa dos súditos de Sua graça, Satanás acusa-os diante de Deus como transgressores... Agora aponta para o relatório de sua vida, para os defeitos de caráter e dessemelhança com Cristo, que desonraram a seu Redentor, para todos os pecados que ele os tentou a cometer; e por causa disto os reclama como súditos seus.
Jesus não lhes justifica os pecados, mas apresenta o seu arrependimento e fé, e, reclamando o perdão para eles, ergue as mãos feridas perante o Pai e os santos anjos, dizendo: "Conheço-os pelo nome. Gravei-os na palma de Minhas mãos. "Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus!"" Sal. 51:17. E ao acusador de Seu povo, declara: "O Senhor te repreende, ó Satanás; sim, o Senhor, que escolheu Jerusalém, te repreende; não é este um tição tirado do fogo?" Zac. 3:2. Cristo vestirá Seus fiéis com Sua própria justiça, para que os possa apresentar a Seu Pai como "igreja gloriosa, sem mancha, nem ruga, nem coisa semelhante". Efés. 5:27. Seus nomes permanecem registrados no livro da vida, e está escrito com relação a eles: "Comigo andarão de branco; porquanto são dignos disso." Apoc. 3:4. 
Assim se realizará o cumprimento total da promessa do novo concerto: "Porque lhes perdoarei a sua maldade, e nunca mais Me lembrarei dos seus pecados." "Naqueles dias, e naquele tempo, diz o Senhor, buscar-se-á a maldade de Israel, e não será achada; e os pecados de Judá, mas não se acharão." Jer. 31:34; 50:20.” (O grande conflito, pp. 484, 485).
Note vários detalhes significativos:
1. A passagem descreve uma cena de julgamento que estabelece para sempre o destino eterno dos objetos da graça de Cristo – aqueles que viveram e morreram dependendo da graça de Deus para salvação.
2. O registro de suas vidas mostra que eles não atingiram o alvo da perfeição sem pecado durante seu tempo de vida – seus “defeitos de caráter” e “dessemelhança de Cristo” tornam isso suficientemente óbvio.
3. Jesus não questiona a exatidão das muitas acusações de Satanás, nem Ele argumenta que os acusados eventualmente desenvolveram caráter justo ou aprenderam a viver sem pecar.
4. Em sua defesa, Jesus aponta para seu arrependimento e fé – a única resposta considerada aceitável – o que permite a Cristo interceder ativamente em seu favor.
5. Levantando suas mãos feridas como uma testemunha de sua morte expiatória, Jesus os cobre com sua própria justiça e assim os apresenta ao Pai como sem mácula, sem ruga, uma igreja gloriosa.
6. Seus nomes continuam no livro da vida, e Deus os declara dignos, não pela que eles eram de fato ou pelo que eles fizeram durante seu tempo e vida, mas por que os méritos de Cristo os cobre e assim completa sua deficiência.
7. Então a promessa do Evangelho chega à realização plena para aqueles a quem Paulo chama de “mortos em Cristo” (1 Tess. 4:16). Ou seja, seu destino é selado, seu caso é permanentemente encerrado. Eles herdarão a vida eterna, graças a sua fé na obra redentora de Jesus em seu favor. Por que eles viveram em um estado de permanente arrependimento e fé seu mediador assegurou o perdão deles e os cobriu com Sua própria justiça imputada e assim fez sua salvação certa. Quando Deus finalmente estabelecer seu Reino Eterno de Glória, ele os fará ressurgir de volta à vida para que eles tomem lugar entre os redimidos de todas as eras.
Essa passagem do Grande conflito também nos ajuda a ver que Satanás tem sua própria concepção de justiça, seu próprio padrão pelo qual um ser caído pode se tornar digno da salvação, sua própria versão do evangelho. De acordo com essa passagem, Satanás reclama essas pessoas como sendo suas por três razões básicas: seu caráter defeituoso, sua dessemelhança com Deus, e seu comportamento pecaminoso. É, portanto, razoável concluir que se o registro de suas vidas mostrasse que eles tivessem desenvolvido caráter sem mancha, que eles tivessem atingido semelhança com Cristo, e que tinham aprendido a viver sem pecar, Satanás iria confirmar, reconhecer, que eles eram dignos de salvação.
Note três detalhes na teologia de salvação de Satanás:
1. Seu método é centrado em obras, desempenho, ou alcance. Ele quer que cada pessoa seja recompensada segundo aquilo que merece, baseando-se em suas próprias consecuções. O diabo quer que Deus determine o destino eterno de cada um baseando-se no registro, atual e objetivo, da vida de cada um.
2. O relacionamento de cada pessoa com o pecado é o fator decisivo. Se ele de alguma forma esteve envolvido com o pecado, então Deus deve executar a pena – ele é digno de morte, então a morte deveria ser o seu destino.
3. O método de Satanás não abre espaço nem para a graça nem para a fé. Ele decide o destino do pecador como se não houvesse Salvador. A morte expiatória, vitória redentora, e justiça salvadora não fazem nenhuma diferença aqui. O que Jesus realizou ontem como nosso substituto por toda sua vida terrena, e particularmente na cruz, e o que ele está fazendo por nós hoje como nosso representante diante o Trono de Deus, não tem nenhum papel no plano de Satanás. Tudo o que conta é o que acontece em nossas vidas históricas. Ou mostramos que temos um caráter justo, como o caráter de Jesus, e demonstramos que podemos viver sem pecar, como Jesus fez, ou de outra forma estaremos perdidos para sempre.
Não deveria ser nenhuma surpresa que Satanás tenha incorporado alguns elementos do plano de redenção de Deus no seu próprio plano. A contrafação sempre se parece com o original em algum grau, e o engano nunca se distancia totalmente da verdade a qual ele distorce. Em ambos os planos a lei funciona como o padrão para avaliar a conduta pessoal. Ambos os planos vêem em Jesus o exemplo último do que significa ser verdadeiramente justo, bom e santo – o que o Criador intencionava que o homem fosse. E ambos terminam um julgamento que revê a história pessoal de vida e decide seu destino eterno.
Quando examinamos as similaridades e consideramos as diferenças, contudo, nós rapidamente descobrimos que enquanto Satanás tenha incorporado algumas das exigências de Deus para nós, ele deixou de lado algumas provisões que Deus realizou, em Cristo, para satisfazer essas exigências. Satanás gosta da lei, não por que ela provê o padrão básico pelo qual podemos distinguir o que é verdadeiro e bom e amável daquilo que é pecaminoso, mas por que ela condena a todos nós como transgressores.
Satanás não usa o conceito de Jesus como nosso exemplo por que Ele provê uma revelação de como o caráter de Deus realmente é, e de como o homem – inicialmente criado à imagem de Deus – seria se o pecado não tivesse pervertido sua integridade espiritual e perfeição moral. Antes, ele enfatiza o exemplo de Jesus como modelo por que ele sabe que nada mais fará com que nossa pecaminosidade, imperfeição, e indignidade apareçam de forma mais óbvia e torne nosso caso mais desesperançado do que uma comparação (que não inclua a mediação de Cristo em nosso favor) entre nós mesmos e o Senhor Jesus Cristo.
O inimigo também dá as boas vindas ao julgamento, não por que ali a graça de Deus encontra sua glória em Jesus como aquele que absolve nossa condenação e nos declara justos em si mesmo (ver Romanos 3:21-26). Ao contrário, ele quer que encaremos o julgamento por que ele sabe que somos culpados. Se ele pudesse fazer com que nós fôssemos recompensados pelo que nós somos, temos e fazemos, nossa condenação estaria assegurada.
A passagem do Grande conflito mostra que o plano de redenção de Deus é diferente da teologia de Satanás em todas as três principais áreas listadas abaixo:
1. O programa de Deus de salvação não é centrado no desempenho do pecador, mas é centrado em Cristo. De acordo com o plano de Deus, o crente tem seu destino eterno determinado em última instância não por quão bom ele é, por quanta justiça ele desenvolveu, ou por quantas tentações ele derrotou com sucesso, mas por sua participação pela fé na obra redentora de Cristo.
2. No sistema de Deus, o que é decisivo não é o envolvimento pessoal do pecador com o pecado, mas seu relacionamento com o Salvador. Com Deus a real questão não é “O que fez faz relativamente ao pecado?”, mas “O que você fez com Jesus Cristo e com a salvação que ele proveu para pecadores como você?” De acordo com o plano de Deus, o assunto crucial é se o pecador respondeu favoravelmente ou não ao evangelho em arrependimento e fé, e em fazendo isso obteve acesso tanto ao perdão de Deus, como à justiça imputada de Cristo para cobrir sua inadequação espiritual e imperfeição moral.
3. Contrariamente à contrafação satânica, o plano da redenção de Deus faz da graça e da fé elementos centrais. Pela graça Deus proveu uma solução para o problema do pecado do homem que concede perdão e justiça salvadora através da obra redentora de Cristo em favor da humanidade. E tanto o perdão quanto a justiça estão acessíveis ao pecador somente através de arrependimento e fé. Deus pode perdoar o pecador arrependido somente por que a obra redentora de Cristo é tanto expiatória como substitutiva. E o pecador pode ser participante na atividade redentora de Cristo – ele pode se beneficiar dela, pode se apropriar dela – somente enquanto sua fé se apossa de Cristo como seu Salvador pessoal.
Essa comparação/contraste nos ajuda a ver a diferença radical entre o programa de salvação de Deus e a contrafação de Satanás. Na contrafação tudo gira em torno do pecador e suas consecuções pessoais. Seu destino eterno depende em última análise do que ele é em si mesmo – se ele é espiritualmente perfeito, ou imperfeito. Do que ele tem – seja mérito pessoal, ou culpa. E do que ele faz – se ele é moralmente justo, ou pecaminoso. Satanás afirma que: todos que possuem “defeito de caráter,” que demonstram “dessemelhança com Cristo,” e que tiveram engajamento em comportamentos pecaminosos “pertencem a ele,” e, portanto merecem não a vida eterna, mas a destruição eterna.
Em contraste, o evangelho faz com que tudo gire em torno de Cristo e da resposta do pecador a Ele quando é chegado o tempo de decidir o destino eterno dos “objetos de sua graça.”
“Jesus não lhes justifica os pecados, mas apresenta o seu arrependimento e fé, e, reclamando o perdão para eles, ergue as mãos feridas perante o Pai. ... Cristo vestirá Seus fiéis com Sua própria justiça, para que os possa apresentar a Seu Pai como "igreja gloriosa, sem mancha, nem ruga, nem coisa semelhante". Efés. 5:27. ... Assim se realizará o cumprimento total da promessa do novo concerto.”
3.      Algumas considerações escriturísticas
O fato de que todos os crentes dependem igualmente da mediação de Cristo tanto para receberem perdão e justiça salvadora é ilustrado graficamente pela experiência de Israel como povo de Deus. Sua relação especial com Deus começou quando Ele agiu em favor deles os libertando do cativeiro e o concedendo liberdade. A base sobre a qual Deus os escolheu como Seu povo não foi a própria bondade, justiça, ou méritos do povo – pois eles tinham nada disso – mas o amor e fidelidade do Deus que guarda a aliança. (Deut. 9:5-7; 7:7-9).
Sua participação na ação redentora de Deus os separou como Seu povo pessoal para desfrutar de um relacionamento especial com Ele para seres santos para Ele. Pouco depois de seu livramento Deus selou seu relacionamento com eles em uma aliança ao lhes dar duas instituições separadas, ainda que interligadas, a saber, a lei e o santuário. A função mais óbvia da lei consistia em prescrever a conduta daqueles que Deus tinha remido e santificado. A lei regulamentava seu relacionamento com Ele, uns com os outros, com outros povos, e com a herança que Deus iria conceder a eles para que eles desfrutassem e administrassem como seus mordomos.
A obediência à lei de Deus era uma benção em si mesma. Ela capacitaria os israelitas a viver em paz e de forma produtiva, e torná-los um povo santo, feliz e saudável. Mas a lei de Deus era mais do que um caminho efetivo para enriquecer a vida deles: era um teste de lealdade para com seu Redentor igualmente. Para o povo de Deus, seus mandamentos e preceitos não eram opcionais, mas obrigatórios. De fato, eles constituíam o padrão que determinava o direito de um israelita de continuar como um membro do povo do concerto de Deus. A violação da lei de Deus poderia resultar na exclusão da comunidade de Israel (Números 15:30, 31), ou mesmo a morte (Êxodo 21:14).     
A função menos óbvia da lei, mas ainda significativa, era de servir como constante lembrança a Israel de que eles não adquiriram por si mesmos o direito de ser o povo de Deus, nem mereciam o status especial de relacionamento no qual foram colocados pelo Senhor. Suas falhas constantes em obedecer perfeitamente a lei mostravam de novo, e de novo, que tudo que eles eram e tudo a que eles tinham acesso era, e sempre seria, não um direito adquirido através da infalível obediência da lei, mas um dom da graça de Deus mediada através do santuário na forma de perdão.
Quando Deus os deu Sua lei, os israelitas solenemente prometeram em “cuidarem em obedecer toda essa lei perante o Senhor nosso Deus” (Deut. 6:25; cf. Ex. 19:8; 24:3, 7). E eles tinham essa intenção. Não temos razão para acreditar que eles não estavam sendo honestos nessa resolução. Mesmo por que, eles tinham aceitado a redenção de Deus e estavam desfrutando de um status/relacionamento privilegiado com Ele como Seu povo. Mas Deus percebeu que Ele não poderia tornar a perpetuação da aliança dependente das boas intenções deles.
Deus conhecia a “estrutura” do seu povo e os lembrou que eles eram “pó,” como Davi nos diz (Salmo 103:14). Ele viu que o “espírito” de seus filhos “está ponto, mas a carne é fraca,” como Jesus disse (Mateus 26:41). Deus entendeu o seu desejo, mas Ele providenciou uma aliança adaptada à grande necessidade deles, e seu potencial limitado. E então ele os concedeu o santuário também. “E me farão um santuário, e eu habitarei no meio deles,” Ele disse a Moisés (Êxodo 25:40).
O santuário era para os tempos do Antigo Testamento o que é o Evangelho para os tempos do Novo testamento. Os serviços que ali aconteciam simbolizavam a Jesus e seu ministério sacrifical e mediador – o ministério através do qual ele proveu tanto perdão quanto justiça para aqueles que o aceitam pela fé. O santuário garantia expiação para aqueles que, a despeito de sua resolução de serem fiéis a Deus e à aliança graciosa que Deus tinha feito com eles, encontravam a si mesmos culpados de deslealdade; Àqueles que, apesar de suas sérias tentativas de obediência à lei de Deus violaram essa lei; E àqueles que, tendo reconhecido sua infidelidade, se arrependeram de seus pecados e com fé trouxeram a Deus o sacrifício que Ele tinha estipulado.
Os principais pontos da administração da justiça através do santuário eram da seguinte forma: Sempre que alguém violava a lei de Deus, ele se tornava “culpado. Quando o pecado em que ela caiu lhe era notificado” (Lev. 4:27-28) – através do convencimento do Espírito (João 16:7-8) – ele tinha que confessar “aquilo em que tinha caído em pecado” e trazer “uma oferta pelo pecado” ao santuário (Lev. 5:5). Depois ele imolava o sacrifício (Lev. 4:29), o sacerdote fazia “expiação por ele,” e ele era “perdoado” (Lev. 4:31).
O santuário providenciava perdão para o sacerdote ungido, para o “líder” (“governante,” RSV) do povo e para o “membro comum da comunidade” de igual forma (Lev. 4:3, 22, 27). E todos dependiam desse perdão para continuarem a participar da aliança de Deus com Israel. Não podemos considerar nem mesmo o sumo sacerdote uma exceção, pois, de acordo com as Escrituras, “todo sumo sacerdote” é rodeado de fraqueza. Por causa disso ele é obrigado a oferecer sacrifícios por si mesmo bem como por todo o povo (Hebreus 5:1-3; cf. Lev. 16:3-6).
Ser perdoado significava que a punição que Deus pronunciou sobre os transgressores da lei não cairia sobre o pecador. Ele não era excluído, mas continuava como membro do povo de Deus em posição correta e regular – como se ele não tivesse transgredido a lei de forma nenhuma. A verdade é que ele tinha pecado e era culpado de quebrar sua aliança com Deus, e ainda assim Deus o tratava como se ele tivesse sido fiel – como se ele tivesse guardado a lei de forma absolutamente impecável – graças a provisão do perdão que Deus tornara disponível através do santuário.
Sob esse arranjo vetero-testamentário o santuário funcionava como corte, ou local de julgamento, onde Deus decidia se um indivíduo em particular continuava ou não a pertencer à comunidade de Seu povo. Uma vez que nenhum deles jamais teve sucesso em render obediência perfeita, a lei corretamente condenava todos os israelitas como igualmente culpados e imerecedores. Mas se eles se apropriassem da expiação providenciada, o santuário invalidaria a condenação da lei. Ele substituía o veredito de culpa, baseado nas obras individuais, com um veredito de justificação, ou de não culpa, baseado na graça perdoadora de Deus. Conseqüentemente era o relacionamento do israelita com o santuário que decidia, em última instância, seu destino, pois era o santuário – e não a lei – que tinha a palavra final concernente à sua posição diante de Deus.
A provisão do perdão através do santuário era essencial para a continuidade da existência de Israel como povo de Deus. Se Ele não tivesse colocado o santuário no meio do acampamento, os israelitas teriam perdido seu relacionamento especial de aliança com Deus muito antes de chegarem às fronteiras da terra prometida. E por toda sua história posterior, em nenhum tempo seu relacionamento/status como povo de Deus não dependeu em última instância da provisão que Deus tornou disponível para eles através dos serviços que prefiguravam o papel redentor de Cristo.
O que era verdade para Israel como povo era também verdade para cada um dos indivíduos de Israel. Em nenhum lugar as Escrituras falam de alguém na longa e variada história das nações que jamais tenha ocupado seu lugar entre o povo de Deus baseado em uma perfeita obediência à lei. Como ocorreu com Paulo, “e o mandamento que me fora para vida, verifiquei que este mesmo se me tornou para morte.” ocorreu com eles, (Romanos 7:10), precisamente por que sua obediência era na melhor das hipóteses parcial e imperfeita. Esse é o porquê todos eles – reis e juízes, profetas e sacerdotes, ricos e pobres igualmente – retiveram sua condição de membros da comunidade de Israel somente através da graça de Deus expressa através do santuário.
A provisão era tão completa que os israelitas não precisavam jamais ter perdido sua relação especial na aliança com Deus, e ainda assim foi precisamente o que aconteceu com eles enquanto nação. Devagar eles começaram a trocar os fundamentos de sua segurança da graça de Deus, como mediada através do santuário, em favor de algumas de suas tradições religiosas e personalidades de destaque em sua herança religiosa. Eles chegaram a crer que uma vez que Deus os escolheu eles permaneceriam seu povo escolhido para sempre.
Sua dependência de obediência à lei para obterem uma posição correta diante de Deus eventualmente se tornou tão inclusiva que quando Jesus surgir pregando arrependimento do pecado e fé em sua morte substitutiva (veja: Marcos 1:14, 15; Hebreus 9:26-28; 1 Pedro 1:18, 19; João 6:35), quando ele veio “salvar o seu povo dos seus pecados” (mat. 1:21), para levar, fazer expiação, remover através da morte vicária, “o pecado do mundo” (João 1:29) – eles os rejeitaram em troca de suas próprias tradições.
A tragédia é que quando eles rejeitaram a verdadeira expiação providenciada através do sacrifício de Jesus, em quem “o Senhor fez cair... a iniqüidade de nós todos,” e que morreu como “oferta pelo pecado” (Isaías 53:6, 10), Deus não podia fazer mais nada para mantê-los como o exclusivo povo da aliança. Evidentemente os israelitas perderam sua relação especial pela aliança com Deus e caíram da graça, não por causa de sua falha em render obediência perfeita à lei – Deus fez provisão para isso – mas antes pela sua falha em aceitar o sacrifício expiatório de Cristo, previamente simbolizado pelos serviços do santuário.
Parece que uma grande parte do problema espiritual de Israel resultava de – e seu destino como povo foi eventualmente determinado por – uma má compreensão em duas direções a respeito da condição real do homem como pecador. Eles pensavam que somente violações conscientes da letra da lei eram pecaminosas. Essa é a razão pela qual os líderes espirituais sentiam que apenas ladrões, criminosos, adúlteros, e semelhantes pecadores necessitavam de arrependimento e de perdão. Aparentemente nunca ocorreu a eles que a despeito de sua intensa religiosidade e zelo relativo à lei, eles eram espiritualmente destituídos, moralmente imperfeitos, e conseqüentemente necessitavam de um salvador tanto quanto o publicano, as prostitutas e outros pecadores declarados.
 Jesus disse aos judeus que “os sãos não precisam de médico, mas os doentes. Eu não vim chamar justos, mas pecadores.” (Marcos 2:17). De acordo com as Escrituras, “não há um justo sequer” (Romanos 3:10; cf. Salmo 14:1-3). Portanto não devemos interpretar a afirmação de Cristo como se ela significasse que somente algumas pessoas estariam “doentes” e necessitadas de cura espiritual, ou pior, que já existiriam pessoas “sãs” que não precisariam dEle como Salvador.
Ao invés disso, Jesus está revelando o fato que apenas aqueles que reconhecem ser pecadores, aqueles que estão conscientes de sua imperfeição espiritual – os “pobres de espírito” aqueles que “gemem” por causa de sua pecaminosidade pela “justiça de Deus” (Mateus 5:3, 4; 6:33) – sentem sua necessidade de um salvador e se apropriam eles mesmos da obra redentora de Cristo. “Cristo só pode salvar quem reconhece ser pecador... Precisamos conhecer nossa verdadeira condição, do contrário não sentiremos nossa carência do auxílio de Cristo.” (Parábolas de Jesus, p. 158).
Em contraste, aqueles que se consideram justos permanecem inconscientes de suas deficiências espirituais e conseqüentemente não dependem da obra redentora de Cristo para estarem diante de Deus em uma posição correta. Como resultado, a expiação de Cristo não é eficiente em favor deles.
Em outro lugar Jesus explica de forma mais detalhada a diferença entre aqueles que reconhecem sua necessidade espiritual e aqueles que não o fazem.
“Em verdade vos digo que publicanos e meretrizes vos precedem no Reino de Deus. Por que João veio a vós outros no caminho da justiça, e não acreditastes nele; ao passo que publicanos e meretrizes creram. Vós, porém, mesmo vendo isto, não vos arrependestes, afina, para acreditardes nele.” (Mateus 21:31, 32).
Por que os judeus definiam pecado somente em termos de ações conscientes que violavam a letra da lei, eles falharam em perceber sua pecaminosidade pessoal, que clamava por um salvador. Eles não perceberam que por eles serem imperfeitos e indignos, eles eram tão dependentes dos méritos do sangue de Cristo quanto o eram os publicanos e prostitutas que viviam em pecado deliberado. Essa má compreensão dos judeus eventualmente os conduziu a pessoalmente rejeitar a Jesus como “principal pedra, angular” (Mat. 21:42) de sua salvação pessoal. Portanto, Jesus disse para eles “o Reino de Deus será tirado de vós” (Mat. 21:43).
Então, de acordo com Jesus, tais judeus não perderam sua participação no Reino da graça de Deus por que eles negligenciaram Sua lei por vontade própria, conscientemente viveram em pecado aberto, ou deliberadamente se rebelaram contra o senhorio de Deus. Ele o rejeitaram, antes, por que em sua própria suficiência religiosa, eles não “se arrependeram e creram” de forma a assegurar o perdão e a justiça salvadora tornados disponíveis em Cristo. Conseqüentemente, eles não tinham parte no Reino da Graça de Deus e nenhum direito à vida eterna.
Nem todos os israelitas perderam sua relação de aliança com Deus, contudo. Alguns dos que a mantiveram foram os primeiros seguidores de Cristo, bem como a maior parte da igreja primitiva, que era judia. E quando Deus finalmente conduzir a aliança à plena realização, quando Ele estabelecer seu Reino eterno de glória na segunda vinda de Cristo, muitos israelitas receberão tudo para o que sua relação de aliança com Deus lhes designa. Falando daqueles que baseavam sua esperança na vinda do messias e “morreram na fé” (Hebreus 11:13), as Escrituras afirmam:
“Todos esses que obtiveram bom testemunho por sua fé não obtiveram, contudo, a concretização da promessa. Por haver Deus provido coisa superior a nosso respeito, para que eles, sem nós, não fossem aperfeiçoados.” (Hebreus 11:39, 40).
Note particularmente dois detalhes aqui: 1. Todos os gigantes espirituais do Velho Testamento dos quais essa passagem fala realizaram grandes coisas por Deus – todos eles obtiveram bom testemunho – mas nenhum deles atingiu a perfeição sem pecado durante seu tempo de vida. Isso é algo que os espera por eles no futuro. 2. “nenhum deles recebeu a concretização da promessa,” mas por que eles “morreram na fé” eles “ganharam aprovação através de sua fé” (NASB) e portanto serão “feitos perfeitos” junto com todos os redimidos de todas as eras na segunda vinda de Jesus.
A experiência dos heróis da fé do Antigo Testamento ilustra de forma bela como Deus realiza Sua obra redentora. A promessa escriturística é que “qualquer que nele (Jesus Cristo) crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” (João 3:16). Jesus afirmou ser o único caminho: “Ninguém vai ao Pai senão por mim,” Ele disse (João 14:6). De acordo com a promessa profética de João 3:16 todos que vivem pela fé no plano de Deus para a redenção dos pecadores terão a vida eterna. Exatamente da mesma forma todos que recusam colocar sua fé na obra redentora de Cristo como único caminho para o Pai perecerão.
Sob a base de tais considerações, concluímos que todos os seres humanos igualmente – de Abel, o primeiro crente e morrer, ao último pecador a aceitar a graça salvadora de Deus em Cristo logo antes do fechamento da porta da graça – dependem igualmente da atividade redentora para salvação. Por que todos são pecaminosos, imperfeitos, e indignos, e Deus divisou um plano de redenção de acordo com o qual Jesus Cristo é o único caminho para o Pai, todos os seres humanos serão salvos pela graça ou não serão salvos de forma nenhuma.
De acordo com as Escrituras, “Não há um justo sequer... todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Romanos 3:10-23). Portanto, ou eles aceitam o imerecido perdão de Deus, baseado na morte expiatória de Cristo em seu favor, ou eles estarão culpados diante do tribunal de Deus. E, ou eles aceitam a justiça imputada de Cristo, centrada na vida substitutiva do Salvador, ou eles permanecerão em um estado de perdição, desamparo espiritual, e eventual morte. Homens caídos simplesmente não têm outras opções disponíveis.
A mediação de Cristo é o único caminho para a justiça salvadora até o fim
Os escritos de Ellen White também expressam a idéia de que todos os crentes devem possuir a justiça de Cristo para desfrutarem de uma posição correta diante de Deus até o fim. A expressão “até o fim” tem uma aplicação dupla: Ela significa, primeiro, que aqueles que morrerem antes do fechamento da porta da graça continuarão a confiar na mediação de Cristo para salvação até o fim de suas vidas. E, segundo, que última geração de crentes – aqueles que estarão vivos quando o fechamento da porta da graça ocorrer para o mundo, e conseqüentemente deverão encarar o juízo pré-investigativo durante seu tempo de vida – precisam da mediação de Cristo, para assegurar o veredito final positivo para sua salvação, tanto quanto todas as gerações que os precederam.
1.      Um relacionamento progressivamente íntimo com Deus conduzindo a uma consciência mais profunda da pecaminosidade pessoal, e uma maior confiança em Cristo para salvação.
O senso comum parece indicar que quanto mais um crente continue em um processo de crescimento cristão, o mais perto ele deveria se encontrar de atingir o objetivo da perfeição sem pecado, e conseqüentemente ele iria precisar cada vez menos de que Cristo fizesse mediação por ele. A consciência de sua pecaminosidade, imperfeição, e indignidade deveriam decrescer em uma proporção direta àquela de seu amadurecimento, desenvolvimento de caráter, e mudança de comportamento. Contudo, estranho como isso pode parecer, Ellen White rejeita essa noção. Note particularmente que a percepção de um indivíduo de sua própria condição espiritual – tenha ele a visão de si mesmo como justo e bom, ou como imperfeito e pecador – é dito ser determinado relativamente à sua proximidade de Jesus, e por uma adequada visão da perfeição de Cristo.
“Quanto mais nos aproximarmos de Jesus, e quanto mais claramente distinguirmos a pureza de Seu caráter, tanto mais claro veremos a excessiva malignidade do pecado, e tanto menos nutriremos o desejo de nos exaltar a nós mesmos. Haverá um contínuo anelo da alma em direção a Deus, uma contínua, sincera, contrita confissão de pecado e humilhação do coração perante Ele.” (Atos dos apóstolos, p. 561).
“Não pode haver exaltação própria, jactanciosa pretensão à libertação do pecado, por parte dos que andam à sombra da cruz do Calvário. Sentem eles que foi seu pecado o causador da agonia que quebrantou o coração do Filho de Deus, e este pensamento os levará à humilhação própria. Os que mais perto vivem de Jesus, mais claramente discernem a fragilidade e pecaminosidade do ser humano, e sua única esperança está nos méritos de um Salvador crucificado e ressurgido.” (O grande conflito, p. 471).
“Nunca podemos alcançar a perfeição por nossas próprias boas obras. A pessoa que vê a Jesus pela fé rejeita sua própria justiça. Encara a si mesma como incompleta, seu arrependimento como insuficiente, sua mais forte fé como sendo apenas debilidade, seu mais custoso sacrifício como escasso, e se prostra com humildade aos pés da cruz.” (Fé e obras, p. 107). “Quando vemos a Jesus... não mais o próprio eu clama por atenções. Olhando a Jesus, envergonhamo-nos de nossa frieza, nossa letargia, nosso espírito interesseiro.” (O desejado de todas as nações, p. 439).
“Quanto mais perto vos chegardes de Jesus, tanto mais cheio de faltas parecereis aos vossos olhos; porque vossa visão será mais clara e vossas imperfeições se verão em amplo e vivo contraste com Sua natureza perfeita. Isto é prova de que os enganos de Satanás perderam seu poder; que a influência vivificante do Espírito de Deus está a despertar-vos. Não pode habitar um amor profundo e arraigado no coração daquele que não reconhece sua pecaminosidade. A alma transformada pela graça de Cristo admirará o Seu caráter divino; se, porém, não reconhecemos nossa própria deformidade moral, é isto uma prova inequívoca de que não obtivemos uma visão da beleza e excelência de Cristo.” (Caminho a Cristo, pp. 64, 65).
“Nosso amor a Cristo será proporcional à profundeza de nossa convicção do pecado.” (Fé e obras, p. 96). “Todavia precisamos ter conhecimento de nós mesmos, conhecimento que resultará em contrição, antes de podermos achar perdão e paz. ...Cristo só pode salvar quem reconhece ser pecador.” (Parábolas de Jesus, p. 158). “Quando os homens vêem sua nulidade, então eles estão preparados para serem vestidos com a justiça de Cristo.” (A fé pela qual eu vivo, Meditações matinais, p. 111).
“E a alegação de estarem sem pecado é em si mesma evidência de que aquele que a alimenta longe está de ser santo. É porque não tem nenhuma concepção verdadeira da infinita pureza e santidade de Deus, ou do que devem ser os que se hão de harmonizar com Seu caráter; é porque não aprendeu o verdadeiro conceito da pureza e perfeição supremas de Jesus, bem como da malignidade e horror do pecado, que o homem pode considerar-se santo. Quanto maior a distância entre ele e Cristo, e quanto mais impróprias forem suas concepções do caráter e requisitos divinos, tanto mais justo parecerá a seus próprios olhos.” (O grande conflito, p. 473). 
“Só de um modo o verdadeiro conhecimento do próprio eu pode ser alcançado. Precisamos olhar a Cristo. O desconhecimento dEle é que dá aos homens uma tão alta idéia de sua própria justiça. Ao contemplarmos Sua pureza e excelência, veremos nossa fraqueza, pobreza e defeitos, como realmente são. Ver-nos-emos perdidos e sem esperança, vestidos com o manto da justiça própria, como qualquer pecador. Veremos que se afinal formos salvos, não será por nossa própria bondade, mas pela graça infinita de Deus.” (Parábolas de Jesus, p. 159). 
“O verdadeiro seguidor de Cristo não fará arrogantes pretensões de santidade. É pela lei de Deus que o pecador se convence de seu erro. Ele vê sua própria pecaminosidade em contraste com a perfeita justiça imposta por ela, e isso o conduz a humildade e arrependimento. É reconciliado com Deus por meio do sangue de Cristo, e, continuando a andar com Ele, obterá mais clara compreensão da santidade do caráter de Deus e da natureza abarcante de Seus requisitos. Verá mais claramente os seus próprios defeitos e sentirá a necessidade de contínuo arrependimento e fé no sangue de Cristo.” (Fé e obras, pp. 53, 54).
Essas afirmações de Ellen White descrevem as visões teológicas, as percepções espirituais, e experiências pessoais de dois grupos de pessoas religiosas radicalmente diferentes. Aqueles do primeiro grupo não têm um relacionamento de fé íntimo e iluminado com Cristo e conseqüentemente lhes falta tanto o ponto de referência como a visão espiritual que os capacitaria sua verdadeira condição como seres caídos. Eles são moralistas religiosos obviamente preocupados em atingir uma condição sem pecado. Infelizmente eles subestimam sua pecaminosidade e superestimam seu potencial. Como resultado eles não sentem que toda a aceitação de Deus em favor eles vem através de Cristo. Eles aparentemente vêem a mediação de Cristo como um arranjo temporário com o objetivo de ajudá-los até que eles atinjam um estado de incontaminação e aprendam a viver sem pecar.
Ellen White menciona várias características negativas desse grupo:
1. Eles vivem espiritualmente à grande distância de Cristo – aparentemente sem o perceber.
2. Controlados pelos enganos de Satanás de justiça própria eles não têm permitido que a influência vivificante do Espírito Santo os levante.
3. Não tendo uma visão clara da pureza e amabilidade de Cristo eles crêem poder atingir o padrão de justiça dEle em suas vidas pessoais.
4. Sem uma concepção verdadeira das exigências divinas eles pensam poder satisfazê-las.
5. Uma concepção inadequada do que eles devem se tornar para estar em harmonia com o caráter de Deus os leva a subestimar o quanto eles realmente falham diante do padrão Divino.
6. Eles não discernem a fragilidade e pecaminosidade da humanidade – o que os cega a respeito da verdadeira profundidade de sua ruína espiritual.
7. Eles têm uma definição simplista de pecado, um entendimento inadequado de sua verdadeira malignidade, o que os cega para o fato de que somente Cristo pode concedê-los uma posição correta diante de Deus.
 O segundo grupo consiste dos “verdadeiros seguidores de Jesus Cristo,” que vivem em um relacionamento íntimo e iluminado de fé com Ele e são, portanto, espiritualmente sensíveis. Tendo tido uma visão da pureza e excelência de Jesus, eles vêem “sua própria fraqueza, e pobreza, e defeitos como eles realmente são. É por isso que repudiam sua própria justiça, vêem a si mesmos como incompletos, seu arrependimento insuficiente, sua fé mais forte como fraca, e reconhecem que “sua única esperança está nos méritos de um salvador crucificado e ressurreto.”
Aqueles que pertencem a esse segundo grupo possuem pelo menos as seguintes características:
1. Eles chegaram a apreciar a beleza do santo caráter de Jesus.
2. Eles têm um entendimento claro da natureza de longo alcance das exigências de Deus, daquilo em que eles precisam se tornar para satisfazer o padrão que Ele estabeleceu.
3. Eles têm uma concepção adequada da malignidade do pecado e da fragilidade, e pecaminosidade humanas.
4. Eles reconhecem sua pecaminosidade, inadequação e indignidade pessoal.
 5. Eles vivem em um estado de “arrependimento contínuo e fé no sangue de Cristo,” plenamente cientes de que sua salvação depende não de sua própria bondade, mas da infinita graça de Deus.
Podemos, portanto, dizer que o bloco de passagens de Ellen White citadas previamente nesse capítulo conduz a pelo menos quatro conclusões: Primeiro, o crente que mantém um relacionamento de fé com Jesus Cristo saudável e crescente chega cada vez mais perto do Salvador. Segundo, o mais perto ele chega de Jesus, o mais claramente ele vê suas imperfeições, pecaminosidade, e indignidade. Terceiro, essa percepção não surge de um falso senso de modéstia, nem de um discernimento espiritual pobre. Ao contrário, ele está baseado (1) em sua crescente capacidade espiritual em ver a si mesmo como ele realmente é – como Deus o vê separado da justiça imputada de Cristo – e (2) em sua crescente percepção da absoluta perfeição de Cristo. Quarto, a percepção crescente do crente em relação à sua verdadeira inadequação espiritual o conduz a depender mais e mais de Cristo até o fim de sua vida.
2.      A experiência da igreja remanescente
De acordo com Ellen White, todos os verdadeiros crentes continuarão a viver em um estado de constante arrependimento por causa de seus pecados, e de fé em Jesus para receberem justiça salvadora, e isso até o fim de suas vidas. A seguinte passagem descreve a experiência da última geração de crentes enquanto eles encararão o julgamento final de Deus quando o tempo de graça chegar a seu fim. Entre outras coisas, ela mostra o papel decisivo de Jesus como mediador.
“o fato de que o reconhecido povo de Deus é representando como estando perante o Senhor em trajes imundos deveria conduzir a todos que professam o Seu nome à humilhação e profunda analisa do coração. Aqueles que estão de fato purificando suas almas pela obediência à verdade terão a opinião mais humilde a respeito de si mesmos. Quanto mais de perto eles vêem o caráter sem mancha de Cristo mais fortemente eles desejam se conformar com a Sua imagem, e menos eles verão pureza ou santidade em si mesmos. Mas enquanto devamos reconhecer nossa condição pecaminosa, devemos confiar em Cristo como nossa justiça, e santificação e redenção. Não podemos responder às acusações de satanás contra nós. Somente Cristo pode pleitear favoravelmente em nosso favor. Ele é capaz de silenciar o acusador com argumentos não fundamentados em nossos méritos, mas nos méritos próprios dEle.
A visão de Zacarias sobre Josué e o Anjo se aplica com força especial à experiência do povo de Deus no final do grande dia (antitípico) da expiação. A igreja remanescente será colocada em grande prova e aflição. Aqueles que guardam os mandamentos de Deus e a fé de Jesus sentirão a ira do dragão e de suas hostes.
 Como Josué estava pleiteando diante do Anjo, assim a igreja remanescente, com coração quebrantado e fé intensa, pleiteará pelo perdão e livramento através de Jesus, seu advogado. Eles estão plenamente conscientes da pecaminosidade de suas vidas, eles vêem sua fraqueza e indignidade, e quando eles olham para si mesmos eles ficam a ponto de se desesperar. O tentador está a postos para acusá-los, como resistiu a Josué.  Ele aponta suas vestes sujas e seu caráter defeituoso. Ele apresenta sua fraqueza e leviandade, seus pecados de ingratidão, sua dessemelhança com Cristo, que desonraram seu redentor...
O povo de Deus está gemendo e chorando pelas abominações que são feitas na terra. ...com completa tristeza eles humilham a si mesmos diante do Senhor por causa de suas próprias transgressões. ...é por que eles estão se achegando mais perto de Cristo, e seus olhos estão fixos na pureza perfeita, que eles discernem tão claramente a excessiva malignidade do pecado. Sua contrição e auto-abatimento são infinitamente mais aceitáveis às vistas de Deus do que o espírito auto-suficiente e arrogante daqueles que não vêem razão para lamentar, que desprezam a humilhação de Cristo, e que reclamam perfeição enquanto transgredindo a santa lei de Deus. Mansidão e humildade de coração são as condições para o poder e a vitória. A coroa da glória aguarda aqueles que se ajoelham aos pés da cruz. Bem aventurados os tristes, pois eles serão consolados...
Enquanto o povo de Deus aflige sua alma perante Ele, pleiteando por pureza de coração, a ordem é dada, “tirem as vestes sujas” deles, e as palavras encorajadoras são proferidas, “Eis que tenho feito que passe de ti a tua iniqüidade e te vestirei de finos trajes.” A veste da justiça de Cristo, sem mancha, é colocada sobre o experimentado, tentado, e ainda fiel filho de Deus. Os remanescentes desprezados são vestidos de traje glorioso, nunca mais para serem contaminados pelas corrupções do mundo. Seus nomes estão mantidos no livro da vida do cordeiro, arrolados juntos aos fiéis de todas as eras.” (Testemunhos para a igreja, vol. 5, pp. 471-475).
            A passagem dificilmente necessita de qualquer explicação. Mas para enfatizar seus significados em relação ao tema geral de nosso estudo, vamos chamar a atenção para quatro pontos:
Primeiro, a passagem discute a experiência do “reconhecido povo de Deus,” da “igreja remanescente,” no tempo do “fim do grande dia da expiação.” Podemos dizer que ela resume o que acontecerá com a última geração de crentes enquanto Deus decide permanentemente e irreversivelmente seu destino eterno no juízo pré-advento.
Segundo, a passagem claramente afirma que a igreja remanescente não alcança a perfeição sem pecado em si mesma, ou em sua conduta, no tempo do fechamento da porta da graça. Eles não são super-santos que atingiram plenamente a justiça sem falhas diante do tribunal de Deus e a mantém adelante. Ao contrário, eles são pecadores que, a não ser pela justiça de Cristo, não possuem nada a não ser “vestes sujas” para vestir. Dolorosamente cientes da “pecaminosidade de suas vidas. ...de sua fraqueza e indignidade,” “caráter defeituoso,” “dessemelhança com Cristo,” eles “afligem suas almas” em arrependimento diante de Deus “por causa de suas transgressões” e pleiteam por uma “pureza de coração” que obviamente eles ainda não possuem.
Terceiro, se aqueles crentes, vivos quando o juízo pré-advento for concluído, transcenderam sua condição caída, desenvolveram justiça sem mancha em si, aprenderam a viver sem pecar, então eles deveria ser capazes de responder às acusações de Satanás contra eles. Mas definitivamente esse não é o caso. Os acusados não podem responder as acuações formalizadas contra eles por que elas são verdadeiras. Eles são de fato culpados, imperfeitos e pecaminosos. Essa é precisamente a razão por que “quando eles olham para si mesmos eles ficam a ponto de se desesperar.” Eles não têm fundamento para uma autodefesa.
Devesse Deus determinar o destino eterno deles sob a base de sua verdadeira condição espiritual e real performance comportamental, então seu caso seria sem esperança. Mas então Jesus, o poderoso mediador, faz uma petição efetiva em favor deles. Ele silencia o acusador com argumentos fundamentados, não nos méritos dos crentes – pois eles não possuem nenhum – mas sobre os seus próprios méritos. Ele credita, aplica, seus méritos a eles na base de sua fé nEle como seu advogado diante do Pai.
Quarto, o julgamento final da igreja remanescente chega a uma resolução permanente quando Jesus, o mediador, faz duas coisas essenciais em favor seu favor. 1. Ele ordena que suas vestes sujas sejam tiradas deles – Ele faz com que as iniqüidades deles passem deles e perdoa seus pecados. 2. Ele os cobre com o glorioso manto de sua justiça sem mancha – ele imputa sua justiça pessoal a eles e então eles são completos em Cristo pela fé. Como resultado, seus nomes permanecem no livro da vida do Cordeiro, arrolados entre os fiéis de todas as eras, para nunca serem removidos. O julgamento deles agora está acabado, seus casos fechados para sempre, seu destino eterno está permanentemente selado.
Claramente, então, a mediação de Cristo é tão vital como foi sua morte sobre a cruz para a última geração por que sem sua justiça imputada a igreja remanescente não teria nada com que opor as acusações de Satanás contra eles, nenhuma justiça com a qual poderia satisfazer a padrão requerido por Deus para a salvação. É isso que torna a seguinte citação tão pertinente:
“Não é a vontade de Deus que sejais desconfiados, e torturem suas almas com o medo de que Deus não vos aceitará por que sois pecaminosos e indignos... Apresente seu caso diante dEle, implorando os méritos do sangue que foi derramado na cruz do calvário. Satanás o acusará de ser um grande pecador, e você deve admitir isso, mas você pode dizer “Eu sei que eu sou um pecador, e essa é a razão pela qual eu preciso de um Salvador... eu não tenho mérito, ou bondade pelos quais eu mereça salvação, mas eu apresento diante de Deus o sangue expiatório do inculpável Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Esse é meu único pedido. O nome de Jesus me dá acesso ao Pai.” (Signs of the times, 4 de julho de 1892).
 “Se você passará pelo tempo de angústia, então deves conhecer a Cristo e se apropriar do dom de sua justiça, que Ele imputa sobre o pecador arrependido” (Review and Herald, 22 de novembro de 1892) 
As exigências para a salvação, e a forma de satisfazê-las são as mesmas do começo ao fim do tempo. Isso significa duas coisas: Primeiro, a última geração deve atingir o mesmo padrão de perfeição como todos os outros que viveram antes. Uma vez que Deus requereu existência totalmente justa e obediência impecável à sua vontade de todas as gerações anteriores, isso é precisamente o que Ele espera da igreja remanescente – o padrão não foi aumentado, nem diminuído para eles.
Segundo, a última geração atingirá o padrão e alcançará o objetivo da mesma maneira que as gerações anteriores. Todos os que vivem anteriormente – incluindo os gigantes da fé e mártires de todas as eras – eram culpados, imperfeitos, e indignos pecadores, totalmente dependentes de Cristo para salvação. Isso também é verdade em relação aos crentes desses últimos dias. Deus os salvará, não sob a base de suas consecuções espirituais sem precedentes, mas por que o mediador remove suas vestes sujas – a justiça parcial e imperfeita que eles desenvolveram em suas próprias vidas – e os cobre com o manto de sua justiça Toda-suficiente. Assim Cristo os apresenta ao Pai como perfeitamente justos pela fé.
Obviamente podemos encontrar algumas similaridades significativas entre aqueles que viveram pela fé em Cristo até morrer e aquele que estarão vivos quando o tempo da graça se acabar. 1. Ambos os grupos, Ellen White diz, são indignos, imperfeitos, e pecaminosos - ela menciona sua “dessemelhança de Cristo,” seu “caráter defeituoso.” 2. Ambos os grupos estão culpados e desajudados diante de Deus – eles não podem se opor às acusações de Satanás contra eles por que elas refletem acuradamente quem eles realmente são e o que eles têm feito de fato. 3. O julgamento faz a salvação eterna de ambos os grupos permanentemente segura, não por que eles tenham atingido perfeita integridade espiritual e aprenderam a viver sem pecar – pois tal não é o caso – mas por que o Salvador aplica os benefícios de Sua vitória redentora a eles e os apresenta ao Pai como justos, santos, e dignos em Cristo pela fé.
3.      Algumas considerações escriturísticas
Os escritores do Novo Testamento acreditavam que eles estavam vivendo perto do fim da história humana. Tanto quanto era concernente a eles, eles eram a última geração de crentes. Um senso de urgência permeava os escritos deles precisamente por que eles sentiam que o Dia do Senhor estava às portas. Portanto, podemos considerar muito do que eles escreveram tendo seus contemporâneos em mente, com algumas adaptações, como diretamente aplicável àqueles vivendo no fim do tempo.
Quando examinamos os escritos apostólicos à procura de algo que possa se aplicar àqueles que estarão vivos na volta de Jesus, encontramos três principais preocupações: 1. Eles previnam os crentes de desistirem de sua fé, pois ao fazerem isso eles estariam perdendo sua participação nas promessas do evangelho. “por esse evangelho também sois salvos, se retiverdes a palavra tal como vo-la preguei,” disse Paulo, “a menos que tenhais crido em vão.” (1 Cor. 15:2). 2. Eles encorajavam os crentes a viverem em “santo procedimento e piedade” enquanto aguardam pelo advento (2 Pedro 3:11,12). 3. Eles instam para que eles continuem na fé “até o fim” (Heb. 3:14) para que o “não vos deixem afastar da esperança do evangelho” (Col. 1:23) se tornasse uma realidade para eles.
Falando de sua própria experiência cristã, Paulo disse:
“Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé. Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda.” (2 Tim. 4:7,8).
Primeiro, notamos que Paulo baseou sua segurança de receber “a coroa da justiça” no fato de que ele “combateu o bom combate,” “completou a carreira,” e “guardou a fé.”
Obviamente ele morreu como viveu, dependendo não de seus próprios méritos e consecuções, mas da “justiça que procede de Deus, baseada na fé” (Filipenses 3:9). Segundo, o apóstolo não fez distinções entre aqueles que estarão vivos na segunda vinda de Jesus e os que morrerem antes disso. Deus recompensará com a coroa da justiça “todos os que amam a sua vinda.” Claramente seu conselho “assim andai nele (em Cristo), nele radicados, e edificados, e confirmados na fé, tal como fostes instruídos...” (Col. 2:6,7), revela o segredo de uma posição correta diante de Deus para todos os crentes de igual forma até o fim do tempo.
Os ensinamentos de Jesus refletem uma preocupação similar. Ele aconselhou os discípulos a serem cuidadosos e estarem de prontidão para que o segundo advento não os pegasse de surpresa. Nosso Salvador os avisou contra os falsos ensinamentos e milagres que “enganariam, se possível, os próprios eleitos” (Mateus 24:24). E Ele os lembrou que apenas “o que perseverar até o fim será salvo” (Mateus 10:22; cf. Marcos 13:35, 36; Lucas 21:34-36). Usando a vinha e os ramos como ilustração, Jesus explicou a necessidade de estar nEle, de permanecer em seu amor (João 15:1-10). Ele parecia verdadeiramente preocupado se caso “O Filho do homem... achará na terra” quando Ele vier (Lucas 18:8).
Nós, portanto, concluímos: 1. De acordo com o Novo Testamento, todos os crentes devem possuir os méritos de Cristo para ocuparem uma correta posição diante de Deus. As Escrituras focam no relacionamento de fé do crente com o Salvador e enfatiza a absoluta necessidade de permanecer em Cristo pela fé até que Ele retorne. 2. Jesus e os escritores apostólicos não dão nenhuma indicação de que a última geração deveria ser especial – que ela deveria ter sucesso onde todas as gerações anteriores passadas falharam. Jesus e os apóstolos não revelaram nenhuma preocupação de que o crente pudesse falhar em subir o suficiente na escada de seu desenvolvimento e modificação comportamental. Ao invés disso, eles se concentram no perigo de que alguns possam renunciar sua fé e quebrar a união espiritual com Cristo e ao fazerem isso perderiam o acesso à esperança que vem do evangelho.
Talvez a passagem escriturística mais específica para descrever a experiência da última geração de crentes é a mensagem para a igreja de Laodicéia, registrada em Apocalipse 3:14-21. Os adventistas sempre acreditaram que essa passagem descreve o último movimento religioso especificamente destacado nas Escrituras, e que ela se aplica, portanto, com força particular, para nós como igreja. É, portanto, adequado que examinemos a mensagem para estabelecer se ela descreve (1) uma igreja superior capaz de se apoiar em sua moralidade impecável e integridade espiritual, ou (2) uma igreja totalmente dependente do papel redentor de Cristo para estar em posição correta diante de Deus, como vimos anteriormente.
De acordo com o testemunho da “testemunha fiel e verdadeira” (verso 14), os laodicenses encontram-se em uma terrível enrascada, estando totalmente enganados sobre sua verdadeira condição espiritual. 1. Eles pensam que são ricos e que de nada necessitam, quando na realidade eles estão espiritualmente falidos. 2. Eles são culpados dos pecados da justiça própria e da arrogância – pecados contrários à lei e ao evangelho. 3. Eles vivem em um estado de vergonhosa nudez espiritual, de lamentável cegueira, de desgraça e pobreza. 4. Eles não têm fé verdadeira nem amor real (“ouro refinado no fogo” (Verso 18; cf. 1 Pedro 1:7; Hebreus 3:14, 11:7).
 É importante notar que a situação crítica dos laodicenses não é uma questão de conduta ou de natureza pecaminosa. O fato de que a testemunha não menciona nenhuma prática pecaminosa específica, tais quais adoração de ídolos, roubo ou adultério, sugere que provavelmente eles não participavam em muitos comportamentos pecaminosos praticados por aqueles que não se importavam com os padrões morais estabelecidos por Deus. Os laodicenses não estão rejeitando abertamente a lei de Deus. Nem são eles como o filho pródigo, desperdiçando suas vidas em comportamentos pecaminosos. Ao contrário, sua situação é crítica por que eles não têm respondido ao evangelho em arrependimento e fé, e conseqüentemente eles não têm acesso à obra redentora de Cristo.
De acordo com a testemunha verdadeira, a solução para a condição espiritual quase desesperada dos laodicenses não envolve mais e melhores obras, nem está numa versão melhorada de sua própria marca de roupa – que significa dizer, de sua justiça pessoal, bondade e méritos. Ao contrário, eles podem encontrar a solução para sua condição somente em Cristo e no que Ele tornou disponível para eles. A testemunha os insta a assegurar três coisas específicas com Jesus (verso 18): (1) O “ouro” da fé para que eles se tornem ricos por participar da abundância de Cristo; (2) As “vestes brancas” de Sua justiça salvadora para cobrir sua vergonhosa nudez espiritual; e (3) O “colírio” que os capacitará a ver sua verdadeira condição espiritual, e irá movê-los ao arrependimento de sua auto-suficiência para que Deus possa perdoar os seus pecados e remover sua culpa.
Cristo também os admoesta ao arrependimento de sua arrogância espiritual (verso 19), e os convida a abrir a porta para que Ele possa ter comunhão com eles (verso 20). Aqueles que atentarem para a mensagem e seguirem os conselhos da testemunha fiel serão os vencedores – eles são os verdadeiros crentes que sentarão no trono de Jesus assim como Jesus sentou com o Pai em seu trono (verso 21) depois de ter obtido a vitória redentora.
Existe algo muito peculiar – e realmente perturbador – sobre o formato da mensagem à igreja de Laodicéia. Enquanto a mensagem é endereçada à igreja corporativamente, o convite e a promessa final vão, não para a igreja no geral, mas a pessoas individuais dentro dela. A última exortação à igreja como igreja é um apelo ao arrependimento (verso 19). A mensagem estão se modifica do corporativo para o individual. Jesus diz:
Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo. Ao vencedor, dar-lhe-ei sentar-se comigo no meu trono, assim como também eu venci e me sentei com meu Pai no seu trono. (Apocalipse 3:20,21).
A mensagem aos laodicenses sugere que essa igreja profética encara o perigo real de repetir o erro fatal cometido por tantos em Israel no tempo de Cristo. Como corporação, os laodicenses aparentemente nunca abrirão a porta para Cristo como sua fonte exclusiva de justiça salvadora. Eles provavelmente continuação em seu orgulho religioso, totalmente esquecidos de sua inadequação moral e destituição espiritual. Aparentemente eles não responderão ao chamado do evangelho com arrependimento e fé. Mas se eles não o fizerem, a verdadeira testemunha os vomitará de sua boca (verso 16). Ou seja, Deus terá de rejeitá-los como povo, e eles perderão sua participação na aliança da graça de Deus. Eles não estarão entre os convidados do Rei que “comerão” com Jesus (Compare Apocalipse 3:20 com Mateus 22:2-10).
Comentando a mensagem à Laodicéia Ellen White diz:
“Deus pede um reavivamento espiritual, e uma reforma espiritual. A menos que isto se realize, os que são mornos continuarão a se tornar mais aborrecíveis ao Senhor, até que Ele Se recuse a reconhecê-los como Seus filhos.” (Mensagens escolhidas, vol. 1, p, 128).
Mas a mensagem também sugere que Laodicéia conterá um remanescente constituído daqueles que atentam ao conselho e se apropriam da provisão que Cristo disponibilizou para eles. Eles vencerão sua auto-suficiência espiritual e abrirão a porta para Ele. Reconhecendo sua pecaminosidade, eles se arrependerão e serão perdoados. Eles cobrirão sua vergonhosa nudez espiritual com o perfeito manto da justiça de Cristo, e um dia farão parte do grupo dos redimidos de todas as eras como convidados nas “bodas do cordeiro” (Apocalipse 19:7).
João, o escritor do Apocalipse, viu uma visão de uma “grande multidão” de redimidos “em pé diante do trono e diante do cordeiro, vestidos de vestiduras brancas” (Apocalipse 7:9). Quando o apóstolo inquiriu sobre a identidade deles, ele aprendeu que eles tinham “lavaram suas vestiduras e as alvejaram no sangue do cordeiro, razão por que se acham diante do trono de Deus e o servem de dia e de noite no seu santuário;” (Apocalipse 7:14, 15). Claramente, a igreja vitoriosa, os redimidos de todas as eras e de todos os povos, são aqueles que – para usar a metáfora bíblica – lavaram suas vestiduras e as alvejaram no sangue do cordeiro.
A expressão “razão por que se acham diante do trono de Deus” indica que o que tornou possível para eles viverem na santa presença de Deus, o que os qualificou para servi-lo em seu templo, é o fato de que eles foram plenamente perdoados, que eles estavam vestidos do manto da perfeita justiça de Cristo. A última benção das Escrituras reforça a importância de servos lavados no sangue do cordeiro. Ela diz: “Bem-aventurados aqueles que lavam as suas vestiduras, para que lhes assista o direito à árvore da vida, e entrem na cidade pelas portas” (Apocalipse 22:14).
Em uma das visões do céu, João ouviu uma grande multidão proclamando em altas vozes:
“Então, ouvi uma como voz de numerosa multidão, como de muitas águas e como de fortes trovões, dizendo: Aleluia! Pois reina o Senhor, nosso Deus, o Todo-Poderoso. Alegremo-nos, exultemos e demos-lhe a glória, porque são chegadas as bodas do Cordeiro, cuja esposa a si mesma já se ataviou, pois lhe foi dado vestir-se de linho finíssimo...” (Apocalipse 19:6-8).
É importante notar que a noiva – que é a verdadeira igreja de Deus – não desenvolveu, nem produziu, ou adquiriu o “linho finíssimo.” Essa vestidura espiritual “lhe foi dada” – uma ilustração reveladora mostrando que a justiça com a qual os redimidos serão vestidos será recebida por eles como um presente de Deus, graças a seu relacionamento de fé com Cristo.
Podemos reconhecer uma grande similaridade entre a experiência e destino da igreja e aqueles de Israel. Assim como Israel era totalmente dependente do ministério sacerdotal típico, assim a igreja é totalmente dependente do ministério mediador de Cristo na presença do Pai no céu (1 Tim. 2:5; Heb. 7:25). Os redimidos eventualmente participarão na ceia das bodas do cordeiro e partilharão da herança eterna, não por terem alcançado perfeição sem pecado, e dessa forma terem transcendido sua necessidade da mediação de Cristo, mas por que a obra mediadora de Cristo foi plenamente consumada em seu favor no momento em que Ele assegurou para eles o veredito da aceitação final e irreversível de Deus no juízo pré-advento.
Tais considerações nos conduzem a pelo menos as seguintes conclusões: 1. As Escrituras não dão suporte à ideia de que a última geração de crentes atingirá um estado de perfeita justiça espiritual e aprenderão a viver sem pecar antes do fechamento da porta da graça. 2. O último movimento religioso destacado nas Escrituras é tão pecaminoso, imperfeito, e indigno quanto qualquer geração anterior de crentes, e conseqüentemente tão dependente da justiça imputada de Cristo como todas as outras. 3. Somente aqueles em Laodicéia que individualmente reconhecerem sua verdadeira condição espiritual, se arrependerem para assegurar o perdão de Deus, e se cobrirem com os brancos mantos da justiça salvadora de Cristo herdarão a vida eterna. Eles são parte do “remanescente eleito pela graça” (Romanos 11:5) que estarão vivendo pela fé quando Cristo retornar.
O ministério mediador de Cristo completado no fim do tempo de graça
O ministério mediador de Cristo em favor daqueles que se aproximam do Pai através dele vai eventualmente terminar. Pelo menos três passagens nos escritos de Ellen White afirmam que durante o “curto período” entre o fechamento da porta da graça e o “aparecimento do Senhor nas nuvens do céu” (Grande conflito, p. 490), Jesus não terá a função de mediador entre Deus e o homem. Elas são:
“Não haverá então sacerdote no santuário para apresentar seus sacrifícios, confissões e orações perante o trono do Pai.” (Primeiros escritos, p. 49) “Os que estiverem vivendo sobre a Terra quando a intercessão de Cristo cessar no santuário celestial, deverão, sem mediador, estar em pé na presença do Deus santo.” (Grande conflito, 425) “Deixando Ele o santuário, as trevas cobrem os habitantes da Terra. Naquele tempo terrível os justos devem viver à vista de um Deus santo, sem intercessor.” (Grande conflito, 614).
Ter que “estar na presença de um Deus Santo sem um mediador” pode ser uma perspectiva aterrorizante, particularmente para aqueles que têm uma concepção de salvação centrada no homem, aqueles que mantêm que o crente deve por si mesmo atingir a justiça de vida e a infalibilidade de conduta de forma a alcançar o padrão de perfeição exigida por Deus. Contudo, quando entendemos o que Deus faz para que nossa salvação seja certa antes que Jesus retire suas vestes Sumo-sacerdotais, nossos temores se transformam em grata alegria pelo plano maravilhoso que Deus elaborou para que nenhuma pessoa que confia em sua graça para a salvação seja desapontada. Todos que pela fé recebem benefício da obra redentora de Cristo em seu favor irão verdadeiramente herdar a vida eterna.
Nós vamos discutir brevemente aqui três razões básicas pelas quais o crente pode descansar seu caso em Deus em plena segurança que Ele preparou um plano para trazer seu povo seguramente ao reino eterno. Em vista disso, eles não precisam temer nem o fechamento da porta da graça, ou o tempo de angústia que lhe sucede.
Primeiro, Jesus só cessará seu ministério mediador somente depois que o destino de todos os habitantes da terra tenha sido permanentemente fixado e a salvação de seu povo não mais um ponto em questão.
“Quando se encerrar a mensagem do terceiro anjo, a misericórdia não mais pleiteará em favor dos culpados habitantes da Terra... Um anjo que volta da Terra anuncia que a sua obra está feita; o mundo foi submetido à prova final, e todos os que se mostraram fiéis aos preceitos divinos receberam "o selo do Deus vivo". Apoc. 7:2. Cessa então Jesus de interceder no santuário celestial. Levanta as mãos e com grande voz diz: "Está feito" (Apoc. 16:17); e toda a hoste angélica depõe suas coroas, ao fazer Ele o solene aviso. "Quem é injusto, faça injustiça ainda; e quem está sujo, suje-se ainda; e quem é justo, faça justiça ainda; e quem é santo, seja santificado ainda." Apoc. 22:11. Todos os casos foram decididos para vida ou para morte. Cristo fez expiação por Seu povo, e apagou os seus pecados. O número de Seus súditos completou-se; "e o reino, e o domínio, e a majestade dos reinos debaixo de todo o céu" (Dan. 7:27), estão prestes a ser entregues aos herdeiros da salvação, e Jesus deve reinar como Rei dos reis e Senhor dos senhores.” (Grande conflito, p. 613,614; itálicos supridos)
“Quando a obra do juízo investigativo terminar, o destino de todos terão sido decididos para a vida ou para a morte. O tempo da graça finaliza pouco antes do aparecimento do Senhor nas nuvens do céu. (ibid., p.490). “Assim, quando a decisão irrevogável do santuário houver sido pronunciada, e para sempre tiver sido fixado o destino do mundo, os habitantes da Terra não o saberão.” (ibid., p.615; itálicos supridos).
“Ele (satanás) vê que santos anjos os estão guardando, e deduz que seus pecados foram perdoados; mas não sabe que seus casos foram decididos no santuário celestial.” (ibid., p.618; itálicos supridos). “Quando Jesus cessar de pleitear pelos homens, os casos de todos estarão decididos para sempre” (testemunhos para igreja, Vol. 2, p.191).
Tais afirmações enfatizam o fato de que na realidade Jesus não cessa sua obra mediadora, ele a completa. Jesus não termina sua função como representante da humanidade para com o Pai sem primeiro ter certeza de que seu ministério alcançou o objetivo intencionado. Ele não interrompe repentinamente sua obra, deixando cada um por si mesmo, onde cada um está. Ao invés disso, Jesus termina sua mediação em favor de seu povo ao assegurar o veredicto final e irreversível da aprovação de Deus quando o juízo investigativo chega ao fim. Como resultado, eles recebem “o selo do Deus Vivo,” que garante sua filiação em Cristo como uma posição permanente, e concede a eles o direito de serem herdeiros de seu reino.
Segundo, o momento no qual Jesus completa sua mediação para a última geração de crentes também marca o final do juízo pré-advento. O “teste final” que determina os destinos eternos “foi trazido sobre o mundo. ...o número deles se completa.” Como resultado, o destino de todos é permanentemente e irrevogavelmente fixado, cada caso não apenas decidido, mas fechados para sempre, nunca mais serão abertos para qualquer revisão. Por causa do fato de que o veredicto que Deus pronuncia como julgamento chega ao fim, aqueles que são salvos estão salvos e aqueles que são perdidos estão perdidos naquele momento.
A razão pela qual Jesus não mais faz mediação por seu povo depois do fechamento da porta da graça é que sua mediação já alcançou o propósito objetivado, plena e completamente. Por uma razão, Deus declarou que os crentes sejam aceitos como justos em Cristo. Ele removeu a culpa deles e perdoou seus pecados. Seus nomes estão permanentemente gravados no livro da vida do cordeiro e eles estão selados para a eternidade. E por outra razão, o julgamento terminou. Os crentes passaram no teste final que decidia o destino eterno deles. O mediador respondeu aos argumentos e acusações de Satanás. O juiz deu seu veredicto, Jesus ganhou o caso, o julgamento terminou – para sempre.
A terceira razão pela qual o crente não deve estar apreensivo nem pelo fechamento da porta da graça e nem pelo tempo de angústia é por que Deus proverá proteção especial a seu povo durante esse período. Perceba como essas afirmações que se seguem colocam essa questão:
“A história de Jacó é também uma segurança de que Deus não rejeitará os que forem enganados, tentados e arrastados ao pecado, mas voltaram a Ele com verdadeiro arrependimento. Enquanto Satanás procura destruir esta classe, Deus enviará Seus anjos para a animar e proteger, no tempo de perigo. Os assaltos de Satanás são cruéis e decididos, seus enganos, terríveis; mas os olhos do Senhor estão sobre o Seu povo, e Seu ouvido escuta-lhes os clamores. Sua aflição é grande, as chamas da fornalha parecem prestes a consumi-los; mas Aquele que os refina e purifica, os apresentará como ouro provado no fogo. O amor de Deus para com os Seus filhos durante o período de sua mais intensa prova, é tão forte e terno como nos dias de sua mais radiante prosperidade” (Grande conflito, p.621).
“Ainda que os inimigos os lancem nas prisões, as paredes do calabouço não podem interceptar a comunicação entre sua alma e Cristo. Aquele que vê todas as suas fraquezas, e sabe de toda provação, está acima de todo o poder terrestre; e anjos virão a eles nas celas solitárias, trazendo luz e paz do Céu.” (ibid., p.627).
“O povo de Deus não estará livre de sofrimento; mas conquanto perseguidos e angustiados, conquanto suportem privações, e sofram pela falta de alimento, não serão abandonados a perecer. O Deus que cuidou de Elias, não desamparará nenhum de Seus abnegados filhos. Aquele que conta os cabelos de sua cabeça, deles cuidará; e no tempo de fome serão alimentados. Enquanto os ímpios estão a morrer de fome e pestilências, os anjos protegerão os justos, suprindo-lhes as necessidades...
As sentinelas celestiais, fiéis ao seu encargo, continuam com sua vigilância. Posto que um decreto geral haja fixado um tempo em que os observadores dos mandamentos poderão ser mortos, seus inimigos nalguns casos se antecipam ao decreto e, antes do tempo especificado, se esforçam por tirar-lhes a vida. Mas ninguém pode passar através dos poderosos guardas estacionados em redor de toda alma fiel. Alguns são assaltados ao fugirem das cidades e vilas; mas as espadas contra eles levantadas se quebram e caem tão impotentes como a palha. Outros são defendidos por anjos sob a forma de guerreiros.” (ibid., pp. 629-631).
Pelo menos três principais fatores se combinarão para dar paz, esperança, e segurança: 1. Jesus será o mediador em seu favor até que o veredicto de aceitação final por parte de Deus torne sua salvação eterna um fato seguro (certo). 2. Eles não terão que enfrentar um julgamento subseqüente para determinar se eles alcançaram ou não alcançaram uma justiça sem erros ou uma conduta impecável, e se a partir de determinado ponto eles foram pessoalmente dignos da vida eterna em si mesmos. 3. Deus os protegerá e tudo proverá durante o curto período de tempo entre o fechamento da porta da graça e a segunda vinda de Cristo, então nada porá em risco a salvação deles.
O fechamento da porta da graça marca o fim da presente ordem das coisas e introduz uma situação totalmente diferente. Tanto quanto diz respeito ao destino eterno, os habitantes do mundo terão sido permanentemente divididos em dois grupos; aqueles que estão irremediavelmente perdidos e aqueles que cujos nomes estão permanentemente gravados no livro da vida do cordeiro. E cada grupo terá uma experiência única durante o breve período que antecede (imediatamente) o retorno de Jesus.
Por que os ímpios rejeitaram a tentativa final de Deus de trazê-los ao arrependimento, eles agora se deparam com as condições mais indesejáveis.
“a misericórdia não mais pleiteará em favor dos culpados habitantes da Terra... Removeu-se a restrição que estivera sobre os ímpios, e Satanás tem domínio completo sobre os que finalmente se encontram impenitentes. Terminou a longanimidade de Deus: O mundo rejeitou a Sua misericórdia, desprezou-Lhe o amor, pisando Sua lei. Os ímpios passaram os limites de seu tempo de graça; o Espírito de Deus, persistentemente resistido, foi, por fim, retirado. Desabrigados da graça divina, não têm proteção contra o maligno. Satanás mergulhará então os habitantes da Terra em uma grande angústia final. Ao cessarem os anjos de Deus de conter os ventos impetuosos das paixões humanas, ficarão às soltas todos os elementos de contenda. O mundo inteiro se envolverá em ruína mais terrível do que a que sobreveio a Jerusalém na antiguidade.” (ibid., pp. 613,614).
Podemos descrever dos ímpios como se segue: 1. O Espírito santo é retirado deles, e não mais os leva ao arrependimento e fé em Cristo – que significa que não há mais possibilidade de serem reconciliados com Deus. 2. Deus os abandona inteiramente sob o irrestrito controle de satanás. 3. Eles passam por um tempo de extrema tribulação, ira e ruína. 4. E eles recebem o juízo de Deus na forma das sete últimas pragas. (ibid., pp. 627-629).
O que acontece com o povo de Deus durante o tempo de angústia é quase exatamente o oposto do que ocorre aos ímpios, e isso cai em duas partes separadas ainda que interligadas. Primeiro, enquanto os ímpios vivem sob o total poder de Satanás, assim os redimidos habitam sob a proteção e direção sobrenatural de Deus. Nós já vimos que através dos anjos e de outras provisões Deus nos escudará do perigo e das tentativas de morte assim como cuidará de suas necessidades. A passagem que se segue indica que Deus também os escudará de qualquer experiência que não contribua para o cumprimento de seu propósito específico para seu povo durante esse tempo.
“Os olhos de Deus, vendo através dos séculos, fixaram-se na crise que Seu povo deve enfrentar quando os poderes terrestres contra ele se dispuserem. Como o exilado cativo, estarão receosos da morte pela fome, ou pela violência. Mas o Santo, que diante de Israel dividiu o Mar Vermelho, manifestará Seu grande poder, libertando-o do cativeiro. "Eles serão Meus, diz o Senhor dos exércitos, naquele dia que farei serão para Mim particular tesouro; poupá-los-ei como um homem poupa a seu filho, que o serve." Mal. 3:17. Se o sangue das fiéis testemunhas de Cristo fosse derramado nessa ocasião, não seria como o sangue dos mártires, qual semente lançada a fim de produzir uma colheita para Deus. Sua fidelidade não seria testemunho para convencer outros da verdade; pois que o coração endurecido rebateu as ondas de misericórdia até não mais voltarem. Se os justos fossem agora abandonados para caírem como presa de seus inimigos, seria um triunfo para o príncipe das trevas. Diz o salmista: "No dia da adversidade me esconderá no Seu pavilhão; no oculto do seu tabernáculo me esconderá." Sal. 27:5. Cristo falou: "Vai, pois, povo Meu, entra nos teus quartos, e fecha as tuas portas sobre ti; esconde-te só por um momento, até que passe a ira. Porque eis que o Senhor sairá do Seu lugar, para castigar os moradores da Terra, por causa da sua iniqüidade." Isa. 26:20 e 21. Glorioso será o livramento dos que pacientemente esperaram pela Sua vinda, e cujos nomes estão escritos no livro da vida.” (ibid., p. 634).      
Desde a perspectiva de que o julgamento se encerrou e a provação humana terminou, seria fora de propósito que o povo de Deus fosse exposto a desnecessárias lutas, tentações e perigos. Mesmo por que, seus casos já foram decididos, seus destinos estabelecidos. Eles são o povo de Deus – suas jóias preciosas – e têm seus nomes escritos permanentemente no livro da vida do cordeiro. Então é lógico que Deus deveria cuidadosamente monitorar a experiência deles durante esse tempo – que ele deveria controlar o alcance de Satanás e oferecer a eles esconderijo “ainda que por um momento, até que passe a ira,” e os polpa como um filho polpa a seu filho que o serve.”
Isso reforça algo que já vimos anteriormente, ou seja, que o destino do povo de Deus está estabelecido para sempre no momento em que se fecha a porta da graça para o mundo e que o juízo pré-advento se acaba. Naquele tempo Deus para sempre retira as “vestes sujas” de seus filhos e filhas.
“Os vestidos sem mancha da justiça de Cristo são colocados sobre os experimentados, tentados, e ainda assim fiéis filhos de Deus. O remanescente desprezado é vestido de gloriosas roupas, para nunca mais ser desfigurado pelas corrupções do mundo, Seus nomes são mantidos no livro da vida do cordeiro, arrolados dentre os fiéis de todas as eras. (testemunhos para a igreja Vol. 5, p. 475. Itálicos supridos).
O segundo aspecto da experiência do povo de Deus durante o tempo de angústia é uma profunda intensidade espiritual, de sincero exame de si mesmo e de uma séria luta com Deus. Satanás fará seu melhor para “aterrorizá-los com o pensamento de que seus casos são sem esperança, que as manchas de suas culpas jamais serão lavadas,” e tenta “destruir a fé deles” em Deus (Grande Conflito, p. 619). Ellen White compara a experiência deles á noite em que Jacó lutou com o anjo antes de se reencontrar com seu irmão Esaú depois de muitos anos de separação:
“A noite de angústia de Jacó, quando lutou em oração para obter livramento da mão de Esaú (Gên. 32:24-30), representa a experiência do povo de Deus no tempo de angústia.” (ibid., p. 616).
Obviamente a experiência de Jacó durante sua “noite de agonia” somente simboliza o que o povo de Deus experimentará durante o tempo de angústia, e portanto ninguém deveria tentar estabelecer uma direta e completa correlação entre essas duas experiências. Nós devemos respeitar tanto as similaridades quanto as diferenças. Dentre as similaridades que se ajustam mais diretamente ao nosso presente estudo estão: (1) a condição espiritual dos envolvidos na situação, (2) o teste ao qual são submetidos, e (3) a vitória que eles recebem. Devemos analisar brevemente cada uma dessas questões.
1. A condição espiritual do povo de Deus durante o tempo de angústia
Jacó era pessoalmente familiarizado com o Deus de seus pais e conhecia o Senhor que o tinha escolhido para ser um direto herdeiro das promessas do Concerto que Ele (Deus) tinha feito com seu avô Abraão. Por toda a história de da vida de Jacó Deus o tinha protegido, guiado, e abençoado de várias formas incomuns. Ainda assim quando Jacó encarou aquela noite de sua agonia, ele era “um pecador, errante mortal” que confessou “sua fraqueza e indignidade” (ibid., p. 617), que experimentou “o peso esmagador da reprovação de si próprio; pois que era o seu pecado que acarretara este perigo,” e que conseqüentemente sabia que “Sua única esperança estava na misericórdia de Deus.” (ibid., p. 616).
Nesse sentido o povo de Deus depois do fechamento da porta da graça não será diferente de Jacó. Vivendo em tal momento tão decisivo na história do mundo, quando eles podem perceber tão claramente a mão do Senhor nos assuntos humanos, os dá uma experiência única com Deus. Mas eles estão longe de ser perfeitos e absolutamente sem pecado. O registro de suas vidas é tal que “Ao reverem o passado, suas esperanças desfalecem; pois que em sua vida inteira pouco bem podem ver. Estão perfeitamente cônscios de sua fraqueza e indignidade.” (ibid., pp. 618-619). Embora rodeados de seus inimigos, suas maiores preocupações não é o perigo físico, mas que eles se arrependeram e receberam o perdão de Deus por seus pecados. Eles têm um senso de “reprovação própria” por não terem feito mais por Cristo no passado para que então eles tivessem “maior poder para resistir e para fazer retroceder a poderosa onde do mal.” (ibid., p. 619).
De acordo com Ellen White, o povo de Deus é “colocado na fornalha de fogo” por causa de “sua natureza terrena (que) deve ser consumida para que a imagem de Cristo possa refletir-se perfeitamente.” (Ibid., p. 621). Desde que isso ocorre depois do fim do juízo pré-advento, vemos claramente que o povo de Deus não alcançou um estado de perfeição absolutamente impecável no momento em que termina o tempo de graça e começa o tempo de angústia. Isso adiante demonstra que Deus sela o destino eterno deles a despeito do fato que a “natureza terrena” ainda resiste em suas vidas e conseqüentemente a imagem de Cristo não é ainda “perfeitamente refletida” neles.
Obviamente, então, os crentes que viverem através do tempo de angústia não são uma geração de super santos que alcançaram plenamente um estado de total santificação de existência. Como Jacó eles são imperfeitos e indignos e, salvos pela graça de Deus como manifestada na mediação redentora de Cristo em seu favor, não possuem justiça em si mesmos sob a qual possam reclamar vida eterna.
Como no caso de todas as gerações prévias de crentes, a igreja remanescente de Deus será feita perfeita somente na segunda vinda de Cristo. Através do evento da ressurreição/glorificação Deus restaurará seu povo à original integridade espiritual em perfeição da qual Adão e Eva participavam antes da queda. Como resultado, todos os redimidos serão então, pela primeira vez, refletir a imagem de seu redentor tão plenamente quanto nossos primeiros pais exibiam a imagem de seu Criador em seu estado primário. Enquanto isso o povo de Deus pode ser feito perfeito, justo e digno somente estando em Cristo.

2. A natureza da prova que o povo de Deus enfrentará durante o tempo de angústia
Temos aqui um caso onde alguém pode saber o que é uma coisa estabelecendo primeiramente o que tal coisa não é. Então vamos começar fazendo uma breve descrição de dois tipos de provas que, conquanto sejam similares em forma, têm diferentes propósitos e diferentes resultados. O primeiro teste determina se uma pessoa está qualificada para um propósito específico. Isso cria uma situação de “aprovação/reprovação.” Se o candidato se sai com esperado ele passa. Mas se a performance fica aquém do padrão estabelecido ele é desqualificado.
O segundo tipo de teste melhora, fortalece e lapida as capacidades de alguém que já foi testado e aceito como adequado. O elemento “aprovação/reprovação” está ausente aqui. Por exemplo, antes que uma equipe olímpica escolha um atleta em particular, ele deve ser submetido a rigorosos testes de seleção. Se ele vai ou não vai fazer parte dessa equipe depende de sua performance nesses testes prévios. Uma vez que esse atleta tenha sido selecionado, ele se empenha em uma variedade de exercícios, práticas, e competições. Cada uma dessas atividades é um teste. Mas seus propósitos são de melhorar o desempenho, não decidir se ele oficialmente faz parte ou não da equipe que estará nos jogos olímpicos. Essa decisão pertence aos testes já realizados anteriormente e a decisão não muda agora.
O teste que Jacó enfrentou durante sua noite de luta e a luta que o povo de Deus enfrentará durante o tempo de angústia pertencem à segunda categoria. O teste que o povo de Deus enfrentará não decidirá se eles vão ou não vão participar do cumprimento do concerto redentivo de Deus. Essa decisão já terá sido tomada. Ao invés disso, Deus designou o teste que eles enfrentarão com o objetivo de alcançar três alvos básicos: (1) destruir qualquer confiança remanescente em suas próprias habilidades de livrarem a eles mesmos. (2) os guiar a um pleno reconhecimento de sua indignidade de serem herdeiros das promessas do Concerto – Eles devem estar completamente dissuadidos de que eles são salvos somente pela graça; e (3) Fortalecer a fé deles e a dependência da misericórdia de Deus para o cumprimento das promessas do Concerto.
Vamos examinar primeiramente a experiência de Jacó. Deus o tinha apontado como herdeiro de seu Concerto com Abraão mesmo antes do nascimento de Jacó (ver Genesis 25:23). Na noite da luta de Jacó ele já tinha tanto a benção da primogenitura concedida por Isaque e a confirmação do Concerto por parte de Deus (Gen. 27:17-29; 28:10-15), a despeito do fato de que ele era um imperfeito e indigno pecador. Então a experiência de Jacó naquela noite não tinha por objetivo determinar se ele era digno das promessas do Concerto. Deus tinha obviamente tomado essa decisão muito tempo antes. Ao invés, o teste examinou a fé do patriarca: fé de que Deus tinha perdoado os pecados dele e que sua misericórdia iria o livrar do perigo iminente e realizar as promessas do Concerto feitas a ele.
“Tendo feito afastar a sua família, para que não lhe testemunhasse a angústia, Jacó ficou só para interceder junto a Deus. Confessa o seu pecado, e com gratidão reconhece a misericórdia de Deus para com ele, ao mesmo tempo em que com profunda humilhação pleiteia o concerto estabelecido com seus pais, e as promessas a ele mesmo feitas na visão noturna de Betel, e na terra de seu exílio... Havia muito tempo que ele suportava a perplexidade, o remorso e a angústia pelo seu pecado; agora deveria ter a segurança de que fora perdoado... Satanás tinha acusado Jacó perante os anjos de Deus, pretendendo o direito de destruí-lo por causa de seu pecado... Satanás esforçou-se por incutir nele uma intuição de culpa, a fim de o desanimar e romper sua ligação com Deus (ibid., PP. 616-618).
Jacó reconheceu sua inabilidade de livrar a si mesmo do perigo iminente. Ele admitiu sua pecaminosidade, imperfeição, e indignidade de ser um herdeiro das promessas do Concerto. Ainda assim ele não desistiu diante das tentativas de Satanás de que ele abandonasse sua fé em Deus. Essa é a razão pela qual ele colocou sua esperança de livramento não em seus próprios méritos – pois ele não tinha nenhum mérito – mas na misericórdia “do Deus que é fiel ao Concerto” (ibid., p.617).
A experiência do povo de Deus enquanto passa pelo tempo de angústia é similar à experiência de Jacó nesse aspecto. Nós vimos previamente que o final e irreversível veredicto de Deus no juízo pré-advento já fixou por toda a eternidade o destino deles. Deus, em Cristo, já os apontou como herdeiros de seu reino. Seus nomes formam registrados para sempre no livro da vida do cordeiro, não por causa de sua justiça ou dignidades próprias, mas por que aceitaram a salvação que Deus providenciou em Cristo. E ainda assim eles passam por um tempo de provação intensa. Note:
“Acusando Satanás o povo de Deus por causa de seus pecados, o Senhor lhe permite que os prove até o último ponto. Sua confiança em Deus, sua fé e firmeza, serão severamente postas à prova. Ao reverem o passado, suas esperanças desfalecem; pois que em sua vida inteira pouco bem podem ver. Estão perfeitamente cônscios de sua fraqueza e indignidade. Satanás se esforça por aterrorizá-los com o pensamento de que seus casos não dão margem a esperança, que a mancha de seu aviltamento jamais será lavada. Espera destruir-lhes a fé, de tal maneira que cedam às suas tentações, desviando-se de sua fidelidade para com Deus... Afligem a alma perante Deus, indicando o anterior arrependimento de seus muitos pecados... Sua fé não desfalece... se o povo de Deus tivesse pecados não confessados que surgissem diante deles enquanto torturados pelo temor e angústia, seriam vencidos; o desespero suprimir-lhes-ia a fé, e não poderiam ter confiança para suplicar de Deus o livramento. Mas, ao mesmo tempo em que têm uma profunda intuição de sua indignidade, não possuem falta oculta para revelar. Seus pecados foram examinados e extinguidos no juízo; não os podem trazer à lembrança... O tempo de agonia e angústia que diante de nós está, exigirá uma fé que possa suportar o cansaço, a demora e a fome - fé que não desfaleça ainda que severamente provada.” (ibid., pp. 618-621).
Claramente, a difícil experiência que o povo de Deus terá depois de que seu destino eterno já estiver estabelecido não é designado para determinar se eles serão salvos ou não. Nem tem por objetivo determinar se eles desenvolveram ou não uma existência de justiça impecável. Ao invés disso, esse tempo revela que eles reconheceram que necessitavam de ajuda e que eram indignos, que confessaram suas culpas e dependeram do perdão de Deus para serem absolvidos, e que eles não desistiram diante das tentativas de Satanás de destruir a fé deles na libertação que vem de Deus.
3. A vitória do povo de Deus durante o tempo de angústia
Outra comparação que Ellen White estabelece entre a noite da luta de Jacó e a experiência do povo de Deus durante o tempo de angústia é a vitória com a qual eles vencem – a forma como eles obtêm libertação do perigo iminente e continuam a gozar de um relacionamento com Deus baseado no Concerto.
“[Jacó] ‘Lutou com o Anjo, e prevaleceu.’ Os. 12:4. Pela humilhação, arrependimento e submissão, aquele mortal pecador, falível, prevaleceu sobre a Majestade do Céu. Firmara as mãos trementes nas promessas de Deus, e o coração do Amor infinito não poderia afastar a defesa do pecador. Como prova de seu triunfo e animação a outros para lhe imitarem o exemplo, seu nome foi mudado de um nome que lhe recordava o pecado para outro que comemorava sua vitória... Tinha-se arrependido sinceramente de seu grande pecado, e apelou para a misericórdia de Deus. Não se demoveria de seu propósito, antes segurou firme o Anjo, insistindo em seu pedido com ardentes e angustiosos brados, até prevalecer.” (ibid., pp. 617-618). 
O triunfo de Jacó obviamente tinha pouco que ver tanto com suas conquistas espirituais, com seu desenvolvimento moral, caráter justo, ou comportamento sem pecado. Sua grande conquista naquela noite foi que ele “prevaleceu sobre a majestade dos céus,” e não que ele transcendeu sua condição caída e alcançou tal estado de perfeição sem falhas. Sua vitória foi em essência, a segurança de que Deus o livraria do perigo iminente e o manteria como herdeiro de seu Concerto cheio de graça, a despeito de sua indignidade diante de tal privilégio. Sua vitória é também o segredo da vitória do povo de Deus durante o tempo de angústia.
“A história de Jacó é também uma segurança de que Deus não rejeitará os que forem enganados, tentados e arrastados ao pecado, mas voltaram a Ele com verdadeiro arrependimento... Jacó prevaleceu porque era perseverante e decidido. Sua vitória é uma prova do poder da oração importuna. Todos os que lançarem mão das promessas de Deus, como ele o fez, e como ele forem fervorosos e perseverantes, serão bem-sucedidos como ele o foi (ibid., p. 621). Esforçando-se por esperar confiantemente que o Senhor opere, são levados a exercitar a fé, esperança e paciência, que muito pouco foram exercitadas durante sua experiência religiosa... O tempo de angústia é uma prova terrível para o povo de Deus; é, porém, a ocasião de todo verdadeiro crente olhar para cima, e pela fé verá o arco da promessa circundando-o” (ibid., pp. 631-633).                            
Podemos atribuir o triunfo de Jacó nessa noite de angústia e a vitória do povo de Deus durante o tempo de angústia a três fatores separados ainda que complementares: (1) aberto reconhecimento de sua indignidade de participar das bênçãos do Concerto; (2) sincero arrependimento de seus pecados e petições pela segurança do perdão de Deus; (3) uma fé que não desiste da certeza de que Deus os livrará do perigo presente e cumprir plenamente as promessas do Concerto, a despeito de suas óbvias falhas, imperfeições e pecaminosidade.
Os crentes da última geração reconhecerão que “é pela graça de nosso Senhor Jesus que (eles) são salvos” da mesma forma como com todos os outros (atos 15:11). Eles vão admitir com alegria e gratidão:
“Não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo, Que abundantemente ele derramou sobre nós por Jesus Cristo nosso Salvador; Para que, sendo justificados pela sua graça, sejamos feitos herdeiros segundo a esperança da vida eterna.” (Tito 3:5-7).
O sentimento que prevalecerá em todos os redimidos será o de gratidão e louvor a Deus precisamente por que são todos igualmente conscientes de Sua graça, tal qual ela se expressa na redenção que Ele proporcionou em Cristo, que fez da vida eterna uma realidade para eles. Esse é o porquê eles vão eternamente ser cônscios do fato de que a presença deles no Reino Eterno de Deus é, não uma evidência de sua justiça pessoal, obras, ou méritos, mas uma evidente demonstração do amor eterno, da graça infinita, e da inabalável fidelidade do Deus que é fiel ao Concerto.
4. Algumas considerações escriturísticas
O texto clássico para uma idéia de fechamento da porta da graça reza:
“Quem é injusto, faça injustiça ainda; e quem está sujo, suje-se ainda; e quem é justo, faça justiça ainda; e quem é santo, seja santificado ainda.” (Ap. 22:11).
As escrituras não provêem quaisquer detalhes tanto do momento histórico específico do veredito ou das condições que prevalecerão entre o tempo do pronunciamento de Deus e a segunda vinda de Jesus. Tudo que podemos dizer com razoável certeza é que (1) é um veredicto divino, final e irreversível que (2) divide a humanidade em dois grupos separados e (3) fixa para sempre o destino de todos. Desde que o julgamento de Deus permanentemente sela os injustos em sua injustiça e os justos em sua justiça, é lógico que nenhuma mudança ocorrerá adiante a partir desse ponto. Uma decisão foi tomada relativamente a quem pertence aonde e ela permanece inalterada.
Os conceitos de fechamento da porta da graça e de fixação de destinos também aparecem em algumas parábolas de Cristo, particularmente na parábola das 10 virgens. Essa parábola contém pelo menos três detalhes relevantes em nossa presente discussão. Primeiro, as virgens se dividem entre aquelas que vão com o noivo para “o banquete das núpcias” (Mat. 25:10) e aquelas não preparadas para tal evento. Segundo, aquelas que não entram com o noivo não podem participar da festa de casamento posteriormente realizada – elas perdem para sempre a oportunidade de fazer parte do casamento. Terceiro, quando depois da fracassada busca por óleo as virgens néscias retornam, o noivo nega entrada no local onde o casamento estava sendo realizado dizendo: “em verdade vos digo que não vos conheço” (verso 12). Claramente, a razão de sua rejeição é sua falta de intimidade com o noivo. Em termos teológicos provavelmente diríamos que elas não têm um relacionamento de fé íntimo e próximo para com Jesus Cristo como salvador pessoal. Elas provavelmente têm boas qualidades, mas por serem estranhas a Cristo elas não têm acesso ao casamento.
De acordo com a parábola, todas as 10 senhoritas tinham lâmpadas, representando a “Palavra de Deus”, mas as néscias não tinham reserva de óleo, “como um símbolo do Espírito Santo” (parábolas de Jesus, pp. 406, 407). Em sentido teológico não deveríamos compreender essa questão como de tal forma como se Deus arbitrariamente retirasse o Espírito Santo delas, ou que de alguma forma elas eram incapazes de reter a presença do Espírito. Previamente nós vimos que nosso relacionamento de fé com Cristo nos dá acesso às bênçãos do Concerto da graça – Ele é “o mediador através do qual as bênçãos do céu” vêm até seu povo (Desejado de todas as nações, p. 357). E desde que o selamento do Espírito é uma dessas bênçãos, se segue que apenas aqueles que vivem uma relação de fé com Jesus podem ter o Espírito nesse sentido particular. Conseqüentemente vemos que enquanto a falta do óleo era uma evidência perceptível de seu despreparo, a real causa do problema delas era a falta de uma conexão pessoal pela fé com o Salvador.
Um relacionamento pessoal com Jesus Cristo como o fator básico no destino eterno de uma pessoa é ilustrado em outros lugares no evangelho igualmente. Em Mateus 7 Jesus predisse que no julgamento muitos viriam a Ele dizendo:
“Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade.” (Mat. 7:22-23).
Profetizar, expelir demônios, e fazer coisas poderosas em nome de Cristo são definitivamente boas obras. Infelizmente tais coisas não reconciliam um pecador com Deus – elas são incapazes de garantir a eles adoção na família espiritual de Deus ou de dar acesso e sua herança eterna. Então o problema das pessoas em Mateus 7:22 é que elas têm um conceito de salvação centrado no comportamento. Em vez de confiarem na obra redentora de Cristo em seu favor, elas esperavam ser bem recepcionadas no reino de Deus na base das coisas que elas tinham feito em nome de Cristo.
A declaração de Jesus a elas revela dois fatos significantes: 1. Somente aqueles que conhecem a Jesus pessoalmente – aqueles que Ele gravou nas palmas de suas mãos por que aceitaram sua obra redentora em seu benefício – entrarão no reino da glória. Todos os outros permanecerão de fora, independentemente do que eles tenham feito ou das qualificações que eles possuam. 2. Boas obras – mesmo essas coisas de destaque como profetizar e expelir demônios, coisas que requerem poderes espirituais – não podem fazer pelo homem o que Deus determinou que somente uma relação de fé pessoal com Cristo poderia realizar. Como resultado, aqueles que vêm apresentando a Deus suas próprias “obras poderosas” ao invés de apresentarem a obra redentora de Cristo imputada a eles pela fé são contados como “malfeitores.”
A fidelidade de Cristo em terminar sua obra na cruz garante que ele terminará sua obra em seu trono. Como Jesus foi pendurado na cruz do calvário, como os transeuntes zombaram e o humilharam, o incitando a salvar a si mesmo de uma morte tão horrível. Os sacerdotes, o povo comum, os soldados romanos, e mesmo um dos criminosos crucificados o desafiaram a provar sua messianidade por descer da cruz (Lucas 23:35-39). Mas nenhuma pessoa ou coisa podia persuadir Jesus de deixar a cruz até que Ele tivesse cumprido o propósito de sua missão na terra. Ele deve dar a vida como sacrifício expiatório para reconciliar a humanidade com Deus. Podemos adiante descansar seguros de que Ele não deixará o Santuário até que Ele termine de aplicar os benefícios de sua obra redentora para assegurar a salvação daqueles que ele comprou com seu sangue.
O fato de que Jesus sofreu a penalidade por nossos pecados sobre si mesmo nos assegura que Ele encarará o julgamento de Deus como nosso representante. O julgamento é real, e tem conseqüências eternas. Mas graças a Jesus Cristo, esse não é um tempo de ira para aqueles que crêem. Para eles a taça do julgamento desfavorável sobre o pecado já foi derramado – está vazio. O Salvador bebeu cada gota dele para que aqueles que aceitarem sua atividade redentora em seu benefício nunca tenham que provar das conseqüências eternas do pecado. “Seus pecados foram examinados e extinguidos no juízo.” (ibid., p. 620). Como resultado eles permanecem inculpáveis em Cristo diante de Deus.
Enquanto seja verdade que Jesus não atuará como mediador durante o tempo de angústia, podemos ter segurança que ele não nos deixará sozinhos. Jesus prometeu nunca nos abandonar, mas ele estará conosco “para sempre, até a consumação dos séculos” (Mat. 28:20; ver Hebreus 13:5). Podemos então descansar seguros na fidelidade de Deus, que é tanto desejoso quanto capaz de manter o que é dele. Mesmo por que, Jesus disse:
“As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem; E dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer... Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai.” (João 10:27-29). 
Ellen White e um engano apontado particularmente contra os adventistas
Os adventistas acreditam que um aspecto central de “nossa” mensagem é exaltar a Jesus diante do mundo como o Salvador vivo que está hoje completando a redenção do homem na presença do Pai. A ironia é que, como a história do adventismo nos mostra, alguns adventistas têm achado difícil manter seus olhos fixos em Jesus e sua segurança de salvação fundamentada no ministério mediador de Cristo no céu. Eles têm estado mais preocupados com suas próprias consecuções – seu desenvolvimento de caráter, e mudança comportamental – do que com sua participação pela fé na morte expiatória, vitória redentora, e Toda-Suficiente justiça de Cristo.
De acordo com Ellen White, um dos grandes enganos com o qual a igreja contendeu no passado fará suas incursões no adventismo novamente no futuro (Veja Mensagens escolhidas, vol. 2, p. 36). É um erro que coloca uma ênfase inadequada no – e tem expectativas irreais no – que o crente supostamente poderia alcançar em sua vida presente coma ajuda do Espírito. Por causa de sua ênfase unilateral, tal “fanatismo” falha em atribuir o correto valor tanto à obra redentora de Cristo terminada no sacrifício expiatório sobre a cruz, quanto à obra de mediação que Ele está realizando presentemente como representante/advogado do homem diante do Pai em seu trono.
Nós podemos dividir os escritos de Ellen White a respeito desse assunto em três partes gerais: (1) O que aconteceu logo após o desapontamento de 1844, (2) O que aconteceu na virada do século, e (3) O que ela acreditava que aconteceria de novo antes do retorno de Jesus Cristo.
1-      O que aconteceu logo após o desapontamento de 1844
Ellen White relata que “no período do desapontamento depois da passagem do tempo em 1844, o fanatismo eclodiu de várias formas” (ibid., p. 34). A pior forma de todas tinha três elementos básicos: Primeiro, alguns adventistas acreditavam na santificação total de existência. “eles declararam que estavam perfeitos, que corpo, alma, e espírito estavam santos” (ibid.). Segundo, eles concluíram que eles podiam viver sem pecar. Eles “pretendiam estar santificados, que não podiam pecar” (ibid., p. 27).
Podemos entender esse segundo ponto de pelo menos duas formas: 1. Uma vez que a santificação do ser estava completa, eles estavam agora capacitados a viver em total harmonia com toda a vontade de Deus para a humanidade – eles poderiam obedecer à lei impecavelmente, e portanto não mais dependeriam da justiça imputada de Cristo para estarem em correta posição diante de Deus. 2. Por serem santos, qualquer coisa que eles fizessem era correta. Havendo transcendido tanto a natureza pecaminosa quanto as exigências da lei, eles estavam além dos princípios morais e padrões éticos que regulamentavam a vida daqueles que não seu suposto nível de desenvolvimento espiritual.
Terceiro, eles ensinavam que atingir tal estado de completa santificação interna e total submissão externa em relação à vontade de Deus era uma exigência para a salvação daqueles que estariam vivos no tempo do Segundo Advento. Aqueles que ouviam suas posições “foram extraordinariamente pressionadas a receber a mensagem do erro; foi-lhes representado que a menos que o fizessem, iriam perder-se” (ibid., pp. 34, 35).
Uma das maiores conseqüências negativas desse engano foi o rompimento do relacionamento de fé dos crentes com Jesus Cristo como único caminho para uma correta relação com Deus, e a única fonte de justiça salvadora. Note:
“Todavia precisamos ter conhecimento de nós mesmos, conhecimento que resultará em contrição, antes de podermos achar perdão e paz... Cristo só pode salvar quem reconhece ser pecador.” (Parábolas de Jesus, p. 158, itálicos supridos). “Nosso amor a Cristo será proporcional à profundidade de nossa convicção do pecado.” (Fé e obras, p. 96). “À parte de Cristo não temos mérito algum, justiça alguma.” (Mensagens escolhidas, p. 333). “Quando os homens vêem sua nulidade, então eles estão preparados para serem vestidos com a justiça de Cristo.” (A fé pela qual eu vivo, Meditações matinais, p. 111). “Justiça sem mancha só pode ser obtida através da justiça imputada de Cristo” (Review and Herald, 3 de setembro de 1901).
Enquanto o crente reconhecer a si mesmo como caído, imperfeito, e indigno pecador, ele focará sua atenção e baseará sua esperança de salvação em sua participação na justiça de Cristo. Ele continuará a olhar a Jesus como “autor e consumador da (sua) fé” (Hebreus 12:2). Contudo, quando ele aceita que ele pode satisfazer o padrão de justiça de Deus em sua própria vida por atingir santidade de existência, e impecaminosidade de conduta, então ele enganadamente faz de suas consecuções pessoais, ao invés de nos méritos Cristo, a base última de sua aceitação para com Deus. Como resultado, ele rejeita a Cristo como único caminho para um ser caído assegurar a salvação e a vida eterna.
2-      O que aconteceu na virada do século
Julgando pelos artigos que Ellen White escreveu, o entendimento do pastor E. R. Jones a respeito da verdadeira conversão incluía pelo menos dois aspectos principais: Primeiro, “completa transformação do homem vil na imagem de Jesus Cristo” (Review and Herald, 9 de julho 1889). Ou seja, ele acreditava que a pessoa verdadeiramente convertida transcenderá, ou neutralizará totalmente sua natureza pecaminosa – ele atinge um estado de santificação completa – e então, ao invés de ser “vil” como antes, ele agora reflete plenamente a imagem de Cristo em sua própria pessoa.
Segundo, “completa purificação do poder que nos compele a transgredir” a lei de Deus (ibid., 12 de março de 1889). A ideia é que uma vez que o poder que costumava movê-lo ao pecado está agora purificado, o crente verdadeiramente convertido não mais tem inclinações pecaminosas ou maus desejos. Como resultado ele pode agora viver sem pecar. Note que Jones usou a palavra completo com referência tanto à transformação interior do ser quanto à mudança de conduta externa.
Depois de citar 2 Coríntios 5:21, Jones afirmou: “Sermos feitos justiça de Deus nEle é ser feito tão justo quanto Cristo é justo; e ‘nEle não há pecado’ (1 João 3:5)” (ibid. 9 de julho de 1889). Note a mudança sutil, mas significativa, que ocorreu aqui. Paulo está dizendo que Deus nos faz justos através de Cristo – somos justos em Cristo. Ou seja, que participamos da justiça de Cristo pela fé, e somos reconhecidos justos em virtude do fato de que seus méritos são imputados a nós. A seguinte passagem expressa o conceito de Paulo claramente:
“A única maneira em que pode alcançar a justiça é pela fé. Pela fé pode ele apresentar a Deus os méritos de Cristo... A justiça de Cristo é aceita em lugar do fracasso do homem, e Deus... trata-a como se fosse justa, e ama-a tal qual ama Seu Filho. Assim é que a fé é imputada como justiça.” (Mensagens escolhidas, vol. 1, p. 367, itálicos supridos).
O pastor Jones, por outro lado, estava sugerindo algo radicalmente diferente. Ele acreditava que nós somos “feitos jutos como Cristo é justo.” Uma vez que “nEle não há pecado,” segue-se que nós também não podemos ter pecado em nós – devemos ser sem impecáveis, assim como Jesus. A implicação é que precisamos nos tornar justos em nós mesmos como Jesus era justo em si mesmo. Devemos desenvolver uma justiça que seja equivalente à perfeita justiça de Cristo em todos os aspectos – uma justiça na base da qual possamos estar sem faltas diante de Deus.
Os artigos de Jones dificilmente contêm quaisquer referências à Cristo como nosso representante na cruz para remover nossa culpa e cancelar nossa sentença de morte. Nem eles dizem muita coisa sobre Sua obra mediadora no céu, onde ele presentemente aplica os benefícios de sua morte expiatória, de sua vitória redentora, e de sua justiça salvadora para aqueles que o aceitam como Salvador pessoal. Jones se concentrava exclusivamente na experiência do próprio crente em sua vida presente.
Sua visão representa um afastamento radical do evangelho bíblico em pelo menos três maneiras significativas:
Primeiro, ele introduz uma mudança no papel de Cristo como Salvador do mundo. Enquanto ele reconhecia a Cristo como Salvador em teoria – particularmente no sentido de que Ele inicia nossa reconciliação com Deus – na prática ele O reduziu a padrão de santidade objetivo ao qual devemos atingir, um modelo cuja perfeição que devemos duplicar em nossas vidas pessoais, seguindo exatamente o mesmo método que tornou a vitória possível para Ele. Como resultado, O papel de Cristo muda daquele no qual Ele salva pecadores através de sua obra redentora em favor seu favor, para aquele no qual ele simplesmente mostra aos pecadores perdidos como salvarem a si mesmos por se tornarem tão justos, santos, e sem pecado quanto Ele é.
Segundo, a visão de Jones minimiza o significado de Cristo como mediador entre Deus e o homem. Na melhor das hipóteses, ela reduz o papel mediador de Cristo para aquele onde se garante o perdão dos pecados passados e supre com poder divino para vencer o pecado e desenvolver justiça perfeita na vida pessoal. Na pior das hipóteses, a teologia de Jones passa por cima ou neutraliza o ministério mediador de Cristo completamente. Ele introduz um método pelo qual o crente pode ser tão justo – e conseqüentemente tão digno – quanto o próprio Cristo.
Por Jesus ser totalmente sem pecado, justo, e santo, Ele não precisava de ninguém para fazer mediação entre Ele e o Pai. Ele viveu em união espiritual direta e ilimitada com as outras duas pessoas da Divindade. Portanto, se o crente fosse de fato capaz de se tornar tão perfeitamente sem pecado como Cristo – como Jones afirmava – então logicamente se segue que no momento em que ele o fizesse, ele transcenderia sua necessidade de Jesus como seu advogado pessoal diante do Pai. Por ser ele agora tão justo quanto Cristo, ele não mais precisa de um mediador para interceder em seu favor e mantê-lo num relacionamento correto com Deus.
Terceiro, a visão de Jones faz com que o crente mude o foco de sua atenção e a base de sua segurança de salvação de Cristo e Sua obra redentora para seu próprio desenvolvimento de caráter e mudança de comportamento. O exemplo de Paulo indica que para estar em adequada relação com Deus o crente deve entregar o que ele é, o que ele tem, e o que ele faz para ganhar a Cristo (veja Filipenses 3:7,8). Somente então ele não possuirá justiça própria, mas a justiça de Cristo que “procede de Deus, baseada na fé” (verso 9). Em contraste, a visão de Jones encoraja o crente a manter o que ele tem, trabalhar até isso seja tão bom quanto o que Cristo tem a oferecer, e então literalmente assegurar o veredito da aprovação final de Deus sob a base da justiça que ele tenha desenvolvido em sua própria vida.
Cerca de um ano depois da publicação dos artigos de Jones, Ellen White escreveu a ele uma carta extensa e bem afiada. Nela ela o advertiu a respeito de sua mente desequilibrada, o reprovou por seu impróprio tanto das Escrituras quanto de seus escritos, e apontou algumas de suas idéias extremadas. Entre outras coisas ele afirmou:
“Não vos é essencial saber e dizer a outros todos os porquês e os para quês quanto ao que constitui o novo coração, ou quanto à atitude que eles podem e precisam atingir de modo a nunca pecar... Não tendes tal obra a fazer. Tomais passagens dos Testemunhos que falam do fim do tempo da graça, da sacudidura do povo de Deus, e falais da saída dentre esse povo de um outro povo mais puro, santo, que surgirá.” (Mensagens escolhidas, vol. 1, pp. 177-179).
Quando combinamos as afirmações do pastor Jones e essa declaração de Ellen White, um cenário claro começa a emergir. Jones estava ensinando que antes do fechamento da porta da graça o povo de Deus pode e deve desenvolver uma justiça pessoal que seja tão radical e completa – e conseqüentemente tão meritória – quanto a de Cristo. Em outras palavras, eles deveriam ser tão puros, impecáveis, e santos quanto Cristo e aprender a viver sem pecar, como Ele viveu.
Ellen White não endossou seus ensinos. Ao contrário, ela os chamou de “idéias extremadas,” e o advertiu a não tomar o curso que criaria uma “dissensão” (ibid., p.179). Note a seguinte advertência que ela deu a Jones:
“Aceitassem muitos os pontos de vista que avançais, e falassem e agissem baseados nisso, e veríamos uma das maiores exibições de fanatismo jamais testemunhadas entre os adventistas do sétimo dia. Isto é o que Satanás quer.” (ibid.).
Dez anos depois que Ellen White escreveu essa advertência – ou havia sido uma predição? – ela se tornou realidade. A então chamada doutrina da carne santa se tornou prevalecente em Indiana. E de acordo com sua própria descrição, ela tinha todos os ingredientes do fanatismo que ela encontrou e condenou anteriormente (ibid., vol. 2, pp. 33, 34), a saber: o desejo (1) de atingir santificação completa de ser, de transcender ou neutralizar completamente a própria natureza pecaminosa e desenvolver justiça perfeita em si mesmos; (2) de ter a habilidade de viver em perfeita harmonia com todas as exigências da lei – de aprender a viver sem pecar; e (3) de atingir o superior nível de desenvolvimento espiritual e comportamento moral requerido daqueles que estarão vivos quando Jesus Cristo retornar.
De acordo com essa visão, aqueles que não atingirem tal estado de impecaminosidade ainda podem ser salvos, mas se morrerem antes (ver R. W. Schwartz, Portadores de luz, p. 477). O conceito ensina que Deus requer um grau mais elevado daqueles que estarão vivos na Segunda Vinda de Cristo do que de todas as gerações anteriores de cristãos. Aqueles que morrerão antes do fechamento da porta da graça podem ser justos pela fé em Cristo a despeito do fato de serem ainda pecaminosos, imperfeitos, e indignos em si mesmos. Eles podem se apropriar do perdão de Deus por causa de seu comportamento faltoso, e a justiça imputada de Cristo para compensar sua imperfeição. Em contraste, aqueles que estarão vivos quando Jesus retornar devem atingir um estado de perfeição sem pecado. A justiça tanto de seu caráter como de seu comportamento deve ser total, completa. De fato, eles devem ser tão inculpáveis, santos, dignos quanto o próprio Jesus.
Aqueles que apóiam essa visão argumentam basicamente o seguinte: Primeiro, enquanto Cristo faz mediação por Seu povo, o crente tem acesso tanto ao perdão de Deus quanto à justiça imputada de Cristo para cobrir seus pecados e substituir suas falhas pessoais. Durante esse tempo Deus decide seu destino com base em se eles se apropriaram ou não de Sua provisão mediada através de Cristo. Deus concede a eles a vida eterna na base de que eles são inculpáveis, santos, e dignos através dos méritos do Salvador imputados a eles pela fé.
Segundo, uma vez que o tempo de graça terminar e a mediação de Cristo terminar, o destino eterno do crente se torna totalmente dependente da perfeição de sua própria justiça e a impecaminosidade de sua conduta. Se eles conseguiram desenvolver uma perfeita justiça em seu ser e aprenderam a viver sem pecar – assim como Jesus – então eles herdarão a vida eterna. Contudo, se a justiça pessoal deles falhar de alguma forma em corresponder ao padrão de perfeição de Deus, ou se eles se entretiverem, nem que seja com um pensamento mal durante esse tempo, eles estarão irremediavelmente perdidos.
A partir disso podemos ver que, de acordo com essa visão, a humanidade só tem duas maneiras de ter certeza de que possuirá a vida eterna: (1) morrendo enquanto Jesus ainda está fazendo mediação diante do Pai, ou (2) atingir integridade espiritual completa e aprender a viver sem pecar em obediência absoluta à vontade de Deus para o homem antes do fechamento da porta da graça para o mundo.
A primeira parte desse argumento está plenamente em harmonia com as Escrituras e é consistente com os escritos de Ellen White, Contudo, quando examinamos a dinâmica criada pela segunda parte dessa visão, nós logo percebemos que ela não apenas se afasta do evangelho bíblico, mas também contradiz o cenário apresentado nos escritos de Ellen White. Portanto não é surpresa que esse “fanatismo,” essa “mensagem do erro,” como Ellen White a chama, teria alguns efeitos definitivamente negativos. Note:
“Estas coisas trazem opróbrio à causa da verdade, e entravam a proclamação da última mensagem de misericórdia ao mundo... Os que entraram nesse fanatismo e o mantiveram, fariam muitíssimo melhor em estar empenhados em obra secular; pois devido a sua atitude incoerente estão desonrando ao Senhor e pondo em perigo o Seu povo... Por essas coisas os incrédulos são levados a pensar que os adventistas do sétimo dia são um bando de fanáticos.” (Mensagens escolhidas, vol. 2, pp. 35, 36).
“foi-lhes representado [para certas pessoas] que a menos que o fizessem [alcançassem um estado total de santificação em seu ser, e impecaminosidade em seu comportamento] iriam perder-se; e em resultado disso, ficaram desequilibradas, e algumas loucas.” (ibid., pp. 34, 35).
Nós tocaremos em cinco pontos retirados de suas afirmações:
1. Tais ensinamentos não constituem a mensagem que Deus tem para o mundo nesse tempo – eles não são algo que os adventistas do sétimo dia deveriam crer ou ensinar.
2. Ao contrário, esses ensinamentos trazem opróbrio sobre o adventismo e atrapalham a proclamação final da misericórdia para o mundo.
3. A última mensagem de Deus para o mundo – aquela que Ele convida os adventistas a aceitar, crer e proclamar – é uma “mensagem de misericórdia,” com tudo o que essa expressão implica.
4. Aqueles que entram no fanatismo e o apoiaram desonraram o Senhor e colocaram Seu povo em perigo. Esses fanáticos não estavam capacitados a ensinar assuntos religiosos e estariam melhor se estivessem se dedicando a assuntos seculares.
5. O fanatismo criou tal pressão psicológica em algumas pessoas que elas perderão a razão e ficaram loucas.
Muitas das reuniões onde essas idéias extremadas eram apresentadas exibiam uma alta dose de emocionalismo. Pessoas gritavam, tocavam música, e até se envolveram em algumas formas de dança. Falando de tais atividades, Ellen White escreveu:
“Isso é uma invenção de Satanás para encobrir seus engenhosos métodos para anular o efeito da pura, sincera, elevadora, enobrecedora e santificante verdade para este tempo.” (ibid., p. 36).
É importante que distingamos em que constitui o engano em si e o que era meramente parte da atmosfera criada para predispor as pessoas a aceitá-lo. O alto nível de emocionalismo, a música, os gritos, e outras práticas que Ellen White chamou de “balbúrdia de ruído” (ibid.) não eram o engano teológico em si. Eles eram “uma invenção de Satanás para encobrir” a real aberração. O engano em si era teológico e tinha que ver com três pontos já discutidos anteriormente nesse capítulo: Ser irrepreensivelmente justo, viver sem pecar, e atingir tal estado brevemente antes de Jesus Cristo voltar.
A reação de Ellen White quanto a tais ensinos não deixa dúvidas de qual era a posição dela. Primeiro, ela os taxou de: erro, falácia, fanatismo, esquemas fantasiosos e ilícitos, testes feitos pelo homem, um engano, uma obsessão, uma invenção de Satanás. Esses são apenas alguns dos termos que ela usou em seus testemunhos contra esses ensinamentos. Segundo, ela expressou seu próprio entendimento do assunto o suficiente para mostrar que ela discordava de todos os três pontos advogados pela doutrina da carne santa (ibid., 32-35).
Muitos adventistas estão cientes de que engano semelhante reapareceu no fim da década de 1950. Por mais de uma década Robert Brinsmead e seus seguidores advogaram ideias que muito se assemelham àquelas que estamos considerando. Schwartz corretamente afirma que “as crenças de Brinsmead são a contraparte intelectual do movimento da carne santa de 60 anos antes.” (Light Bearers to the Remnant, p. 458). E, como fizeram seus predecessores, Brinsmead e seu irmão “se sentiram compelidos de fazê-los [seus pontos de vista extremados] normativos para toda a igreja” (ibid.). Com dedicação e zelo dignos da melhor causa, eles não pouparam esforços em sua campanha agressiva para persuadir a comunidade adventista inteira que a visão deles era a única posição correta e que todas as outras visões eram um afastamento do adventismo tradicional.
Em resumo, o ensino que Ellen White tão decididamente combateu como uma mensagem do erro tem três pontos principais:
O primeiro se refere à pessoa do crente, seu ser, ou seu caráter – quem ele é. A afirmação feita é de que ele deve se tornar sem pecado em seu caráter. De fato, ele atinge um estado de santidade e desenvolve uma justiça tão sem falhas, e meritória, quanto a justiça de Cristo.
O segundo ponto envolve o desempenho do crente, seu comportamento – o que ele faz. De acordo com o conceito da carne santa, ele pode transcender ou neutralizar sua natureza pecaminosa de forma tão efetiva que ele seja capaz de viver como se ele não fosse mais pecaminoso, rendendo obediência perfeita à vontade de Deus. Em outras palavras, ele aprende a viver sem pecar.
O terceiro ponto estabelece o fim da linha – ele marca o fim do tempo no qual o crente deve realizar plenamente esses dois objetivos. Ou seja, ele deve desenvolver uma justiça pessoal perfeita e aprender a viver sem pecar antes que o tempo de graça termine se ele deve estar entre os redimidos que estarão vivos quando Jesus for retornar. Falhasse ele em atingir esses dois objetivos, ele deveria então, ou morrer antes do fechamento da porta da graça, ou ele estaria perdido para todo o sempre.
A evidência demonstra que tanto o pastor Jones quanto os seguidores da doutrina da carne santa usavam certas “passagens presentes nos testemunhos” como base de suas visões extremadas. Eles citavam algumas afirmações contidas nos escritos de Ellen White que aparentemente davam suporte às ideias deles. Portanto é importante notar que quando eles usaram os escritos dela para apoiar a ideia de que antes do fechamento da porta da graça o povo de Deus pode e deve se tornar sem pecado, puro e santo como Jesus, ela se apôs a eles com uma determinação poucas vezes vista em seu longo ministério em favor da igreja.
As reações de Ellen White nos conduzem a pelo menos as seguintes conclusões:
1. Devemos reconhecer uma diferença radical entre (a) ser capar de reproduzir algumas poucas e isoladas passagens dos testemunhos em apoio de uma visão particular e (b) desenvolver uma posição que seja de fato uma representação confiável dos ensinos de Ellen White sobre determinado assunto.
2. Se não forem corretamente entendidos e aplicados apropriadamente algumas afirmações dos testemunhos podem de fato conduzir alguém a desenvolver visões errôneas tais quais as advogadas pelo pastor Jones e seus seguidores. O fato de que eles usavam os escritos de Ellen White para dar autenticidade aos ensinos deles testifica disso.
3. A maioria dos escritos de Ellen White são peças curtas – tais quais cartas, artigos, e manuscritos – escritos para públicos particulares, dentro de contextos históricos definidos, e com objetivos específicos em mente. Portanto não deve ser nenhuma surpresa que, quando os comparamos entre si, nós às vezes encontramos neles tensões ideológicas nem sempre fáceis de serem resolvidas. Isso é particularmente um problema quando ignoramos os contextos históricos, ou conceituais, ou quando não levamos em consideração algum objetivo específico de uma passagem em particular.
Aqui, contudo, estamos tratando com alguns ensinos específicos com os quais Ellen White era familiarizada, e que ela condenou em termos inequívocos. Argumentar que os escritos de Ellen White endossam exatamente as mesmas visões que ela tão fortemente rejeitou como sendo: erro, testes feitos pelo homem, falácia, e assim por diante, seria uma proposição de fato absurda. Podemos, portanto, ter certeza de que quando alguém usar os escritos dela para dar apoio a visões como às sustentadas pelo pastor Jones e seus seguidores, eles estão interpretando falsamente, usando inapropriadamente e aplicando de forma incorreta os testemunhos.
4. Cada indivíduo tem o direito de decidir por si mesmo se deve aceitar ou rejeitar os ensinos apresentados pelo pastor Jones e por seus seguidores. Contudo, em vista do vimos até aqui, ninguém tem o direito de afirmar que tais ensinos representam tanto a visão de Ellen White ou a posição da Igreja Adventista do Sétimo Dia.
3 – O que acontecerá brevemente antes de Jesus Cristo retornar
 Além de condenar os ensinamentos advogados pelo pastor Jones e o repreender por mau uso das Escrituras bem como de seus escritos, Ellen White também predisse que conceitos similares iriam procurar se infiltrar na igreja adventista novamente no futuro, ela disse:
“Foi-me mostrado que enganos como aqueles que fomos chamados a enfrentar nas primeiras experiências da mensagem, repetir-se-iam, e que teremos de enfrentá-los nos últimos dias da obra.” (Mensagens escolhidas, vol. 2, p. 28). “As coisas que descrevestes como ocorrendo em Indiana, o Senhor revelou-me que haviam de ocorrer imediatamente antes da terminação da graça.” (ibid., p. 36).
De acordo com ela, o engano que tentará corromper a mensagem da misericórdia de Deus ao mundo, frustrar a missão do adventismo, e transformar a experiência religiosa de muitos de seus membros não é uma ênfase desmedida na obra redentora de Cristo completada na cruz – o evento que é a base sobre a qual o crente pode agora estar diante de Deus perfeitamente justo pela fé em Cristo. Como já vimos, Ellen White coloca grande ênfase no papel de Cristo tanto como sacrifício expiatório sobre a cruz, onde Ele absolveu o homem da condenação, e como nosso advogado na presença do Pai, onde “Ele não cessa de apresentar Seu povo, momento após momento, perfeito” em si mesmo (Fé e obras, p. 107).
O engano que sem sombra de dúvidas fará com que muitos continuem em sua condição laodiceana é, antes, uma repetição do fanatismo que surgiu logo após o desapontamento de 1844, apareceu novamente na virada do século, e reviveu de forma mais sofisticada no fim da década de 1950. Uma vez que Satanás é um mestre na arte de enganar, podemos antecipar que ele modificará os aspectos mais ofensivos dessa heresia e melhor disfarçará suas características mais gritantes. Mas se Ellen White estiver correta, e cremos que ela está, a ênfase dessa heresia no crente e em suas próprias consecuções – sua justiça pessoal e obediência impecável – em oposição àquilo que o crente é pela fé em Cristo e nos que Cristo faz por ele como seu advogado diante do Pai, será sua característica mais distintiva.
4 – A essência e o significado do “novo” engano
É quase axiomático afirmar que um engano não é uma negação completa ou uma contradição direta, mas uma distorção da verdade. Seus apelos, bem como seu poder de iludir, jazem justamente no fato de que ele contém elementos da verdade. Devemos, portanto examinar, esse “novo” engano especialmente de duas perspectivas: Primeiro vamos comparar e contrastá-lo com a contrafação introduzida pelo sistema humano de sacerdócio que prevalece em uma parte da igreja cristã. Então discutiremos esse engano à luz da queda do homem no jardim do Éden.
A.    Uma tentativa de substituir a Cristo como o único caminho para o Pai
Conquanto o novo engano difira em sua abordagem do velho engano que se espalhou pela cristandade por séculos, ele conduz basicamente aos mesmos resultados. Ambos representam tentativas de substituir a Cristo, o Divino Sumo-Sacerdote, ao proverem caminhos alternativos para assegurar uma posição correta diante de Deus.
Através de seu sistema humano de sacerdócio, o velho engano criou um acesso diferente ao perdão e à graça salvadora de Deus. Como resultado, não Jesus, mas a igreja se tornou o elo salvífico entre o pecador e Deus. Através de sua teologia do desenvolvimento do caráter e modificação do comportamento, o novo engano, por sua vez, introduz um novo caminho – um novo método – pelo qual atingir o requerido padrão de Deus de perfeita justiça conduz à salvação.
Nós temos visto que o único caminho para que um ser caído seja considerado justo às vistas de Deus neste lado da glorificação é por sua participação nos méritos salvíficos do Salvador. Por ser em si mesmo pecaminoso, imperfeito, e indigno, o crente só pode ser justo pela fé em Cristo. Jesus é o fundamento de sua posição diante de Deus. Também temos observado que a salvação do crente se torna permanentemente assegurada e Deus o declara digno da vida eterna no juízo pré-advento somente por que ele aceitou a mediação redentora de Cristo em seu favor. Jesus completará seu papel mediador – Ele atingirá plenamente os objetivos do ministério mediador – ao assegurar aos crentes vivos o veredito final e irreversível de aceitação de Deus na conclusão do juízo pré-advento.
Em contraste, o novo engano ensina que o crente desenvolve em sua própria vida uma justiça que é tão perfeita e conseqüentemente tão meritória quanto a justiça do Salvador.  Por ter supostamente se tornado tão puro, santo, e digno quanto Jesus segue-se que o crente não necessita mais da justiça imputada de Cristo para manter uma correta posição diante de Deus. Como resultado, sua segurança de salvação não mais repousa na obra redentora de Cristo em seu favor, mas na perfeição espiritual e impecaminosidade moral que ele atingiu em sua própria vida.
De acordo com o novo engano, a última geração de crentes vencerá o pecado de forma tão radical e desenvolverá uma justiça tão perfeita em suas próprias vidas que o fato de a mediação de Cristo terminar para eles no fim do tempo da graça, não terá nenhuma conseqüência adversa para eles de forma nenhuma. Uma vez que seu caráter será tão justo quanto o de Cristo e sua obediência tão perfeita quanto a dEle, eles estarão diante de Deus tão sem pecado, justos, e dignos em si mesmos quanto eles estavam antes quando Cristo os estava imputando sua justiça. Os proponentes dessa visão provavelmente negariam essas conclusões, mas o fato é que naquele momento quando o crente atingir suposto estado de total santificação, ele também transcende sua necessidade de Cristo tanto quando Mediador quanto como Salvador. A igualdade deles com Cristo também os torna iguais a Cristo em sua posição pessoal diante de Deus.
O novo engano que agora confronta a Igreja Adventista é uma parte integrante na guerra que Satanás tem mantido contra Cristo. Quando ele falhou em depor a Cristo no céu continuou sua batalha na terra. Através da queda de Adão ele adquiriu senhorio temporário sobre o mundo. Mas isso chegou ao fim, em princípio, quando Cristo – o segundo Adão e novo cabeça da humanidade – morreu a morte expiatória em favor da humanidade. Por sua morte Ele destruiu também o poder da morte e estabeleceu o Reino da graça de Deus no planeta terra. Desde então Satanás é um inimigo derrotado cuja destruição está assegurada. Mas ele não cessou de tentar derrotar a Cristo. Ele perdeu no céu, perdeu na terra, mas ainda pode vencer no coração humano, pois ali ele pode substituir a Cristo. E é precisamente isso que ele está se esforçando por fazer.
Na maioria das vezes, a estratégia de satanás não tem sido a da confrontação direta, mas a do engano e da contrafação. Por exemplo, quando Deus empreendeu o sistema sacrifical para ilustrar Sua obra em Cristo para a redenção do homem, o diabo não atacou a ideia da reconciliação com Deus. Ao invés disso, Satanás introduziu uma ampla variedade de meios e métodos através dos quais a humanidade supostamente poderia atingir tal reconciliação, e ele se concentrou em conduzir os pecadores a tentarem encontrar o favor de Deus em suas contrafações ao invés de colocando sua fé em Cristo.
É desnecessário dizer que satanás tem sido extremamente bem sucedido em colocar a Cristo de lado como único caminho para Deus na vida de alguns homens. Ele tem sido muito bem sucedido entre pessoas religiosas ao convencê-los a continuar tentando eliminar o pecado – a causa de sua alienação de Deus – ao invés de se apropriarem da obra redentora de Cristo. Isso significa na realidade que eles devem lidar com sua condição de pecadores como se não houvesse Salvador. Eles se esforçam para resolver seus próprios problemas com o pecado por si mesmos ao invés de aceitarem a solução que Deus já proveu em Cristo.
O novo engano apela a pessoas religiosas justamente por sua promessa de libertação do pecado – algo pelo que todos os verdadeiros crentes têm grande desejo. O problema é que quando eles procuram atingir uma posição correta diante de Deus através de suas realizações morais ou espirituais, eles se tornam “separados de Cristo,” seu único elo espiritual com Deus, e caem “da graça” (Gálatas 5:4). Como resultado, (1) eles perdem o acesso aos benefícios da obra redentora de Cristo, e a seu direito, conferido pela graça na conversão, de permanecer como membros da família espiritual de Deus.  E (2) eles voltam ao estado de perdição, inimizade, e condenação na qual eles se encontravam antes da reconciliação ocorrer.
Assim é que sob a aparência do atraente e recomendável objetivo de participarmos da natureza divina e atingirmos perfeição sem pecado – como Jesus – o novo engano anula a membresia dos religiosos no concerto da graça de Deus e os coloca justamente debaixo do jugo do concerto das obras. Como resultado eles terminam tentando atingir a salvação através de um método onde não existe acesso ao perdão de Deus, à justiça salvadora de Cristo, ao poder capacitador do Espírito Santo, e de quaisquer outros dons que, de acordo com as Escrituras, Deus tornou disponíveis somente àqueles que mantêm seu status como filhos e filhas de Deus através de seu relacionamento contínuo de fé com Jesus Cristo (ver Lucas 24:45-47; Atos 2:38; Romanos 8:9, etc.).
B.     Um engano que elimina algumas distinções básicas entre Jesus e os pecadores
O engano que agora confronta a Igreja Adventista do Sétimo Dia não é verdadeiramente novo. De fato, ele é apenas um refinamento e adaptação do engano que causou a queda da humanidade no jardim do éden. De acordo com a descrição bíblica, o primeiro engano introduziu uma mudança radical no plano de Deus para a criação do homem. O primeiro pecado humano não foi uma falha em viver de acordo com as elevadas exigências de um código legal. Nem foi um mergulho em direção ao mal e ao perverso – algo que alguém poderia chamar de pecado da carne, tal qual adultério, assassinato, ou roubo. Ao contrário, foi um pecado do espírito, para alcançar mais do que o Criador tinha determinado.
A criação estabeleceu uma distinção clara e permanente entre o divino e o humano. Por ter Deus criado o homem à sua imagem e semelhança, havia uma considerável similaridade e proximidade entre o Criador e a criatura. Mas o fato de que o homem foi criado à imagem, uma representação, de Deus e não uma verdadeira duplicata também indica que, na ordem do Criador, Deus é Deus e o homem é homem, e para sempre haverá uma diferença essencial e uma distância intransponível entre os dois.
Em um livro posterior sobre o conceito bíblico de homem, devo lidar com esse assunto com mais profundidade. Para nosso propósito aqui, é suficiente dizer que por tê-los Deus criado à Sua imagem, Adão e Eva podiam refletir em si mesmos os atributos justos e as nobres virtudes do santo caráter de Deus. Eles eram espiritualmente íntegros por causa de sua união espiritual ilimitada com o Criador, o que os fez participantes diretos de Sua bondade, justiça, e santidade. Mas por serem apenas a imagem de Deus, e não Deus em essência, eles eram dependentes do Criador que unicamente possui tais virtudes positivas em última instância.
Quando o enganador tentou Adão e Eva com o pensamento de se tornarem “iguais a Deus” (Gênesis 3:5), ele despertou neles o desejo de atingir um estado que era diferente daquele que era o propósito de Deus para o homem – de desfrutarem de um nível de existência mais alto do que aquele que Deus intentava para eles. O primeiro engano seduziu a humanidade a procurar eliminar a diferença qualitativa radical que distinguia o divino do humano e separava a criatura do Criador. O primeiro pecado do homem foi uma rejeição de sua condição “criatural” – uma tentativa presunçosa de transcender os limites de seu status limitado e atingir a autodeterminação e auto-suficiência que pertencem somente a Deus.
Como um ramo não pode viver por si mesmo, mas depende da videira para viver, crescer, e produzir fruto, assim o homem original depende de Deus para ser e fazer o que o Criador intenciona que ele seja e faça. O primeiro pecado do homem foi uma tentativa de deixar de ser um ramo para se tornar ao invés disso uma vinha. Ele procurou ser e ter em si mesmo aquilo que, de acordo com o plano do Criador, ele poderia ser e ter apenas enquanto ele continuamente partilhasse daquilo que se origina com Deus e, portanto, é sua propriedade exclusiva.
Obviamente o primeiro pecado da humanidade foi em essência uma rejeição de ser e de viver pela graça de Deus. Ao invés de continuarem a refletir em suas próprias pessoas o que procede do Criador, Adão e Eva tentaram ser o que eles eram – bons, jutos, e santos – em si mesmos e por si mesmos, tal qual Deus é. O homem, a imagem de Deus, queria ser essencialmente Deus ao experimentar uma transformação interior de natureza que o capacitaria a se tornar plenamente participante tanto no status quanto na natureza de Deus.
 Por comparação, o novo engano introduz uma mudança no plano que Deus divisou para a redenção da humanidade. Representando um nível mais alto e diferente do que aquele que Deus estabeleceu nas Escrituras, o engano é tentar atingir igualdade espiritual em relação ao Deus/homem, Jesus Cristo. Aqueles seduzidos por esse engano não estão satisfeitos com o fato de que, pela graça de Deus, crentes imperfeitos – filhos e filhas de Deus em crescimento – se tornam inculpáveis, justos, e santos através da justiça salvadora de Cristo. Ao invés disso eles querem experimentar uma transformação interior que de alguma forma os capacite a transcender sua condição pecaminosa e se tornem perfeitamente impecáveis, justos, e santos em si mesmos, tanto quanto Jesus é.
Se esforçar para ser a melhor pessoa que alguém pode ser em cada estágio do crescimento espiritual, e em crescer nos padrões de sua vida em direção ao que seja verdadeiro, justo, e correto, é recomendável e escriturístico. É o meu combate, contudo, que há uma diferença radical entre tentar viver uma vida digna de filhos e filhas de Deus em Cristo e tentar ser igual, atingir, e duplicar na vida a justiça absoluta de Cristo, o divino-humano filho de Deus. Se esforçar para ser mais semelhante a Jesus em caráter e em conduta é uma coisa, enquanto tentar ser tão justo e santo quanto Ele era durante Sua vida na terra é bem diferente. O primeiro é um objetivo baseado na Palavra de Deus tal qual registrada nas Escrituras. O último é um afastamento arrogante da Palavra, e portanto constitui pecado.
 É importante notar que tanto em sua forma antiga quanto nova o apelo do engano – e também o seu pecado – jaz no fato de que ele apresenta algo que, pelo menos na superfície, aparenta ser recomendável. Uma vez que por definição Deus é o supremo bem do universo, segue-se logicamente que não poderia existir mais alto ideal ou objetivo mais nobre para Adão e Eva do que se esforçarem para serem exatamente como Ele. Porém – e aqui está a ironia – pelo engano representar uma tentação de diminuir a distância entre a criatura e o Criador, de mesclar o humano com o divino, e de apagar a diferença qualitativa entre o Eterno e auto-suficiente Eu Sou e o ser humano dependente, mortal, ele constitui pecado da mais alta ordem.
O mesmo problema é verdade em relação ao relacionamento do crente com Jesus Cristo. Obviamente Jesus é um exemplo perfeito, o mais alto ideal que jamais poderia ser colocado diante do crente. Não devemos esquecer, contudo, que conquanto ele tenha se tornado homem, Jesus nunca cessou de ser Deus. Enquanto seja verdade que Ele tomou a humanidade sobre si, é também verdade que Ele jamais desistiu de Sua divindade.  Como “Santo e Justo” (Atos 3:14), Ele é a personificação da bondade perfeita, justiça absoluta, e santidade total. Jesus velou Sua glória infinita e renunciou ao uso ativo de seu poder ilimitado, mas Ele nunca abandonou as qualidades morais impecáveis e atributos espirituais santos que O capacitariam a revelar a justiça do Pai para o homem caído.
As Escrituras estabelecem o fato de que “em Cristo habita corporalmente toda a plenitude da Divindade” (Colossenses 2:9). Ele que “era Deus” “se fez carne e habitou entre nós. E vimos a sua glória, glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” (João 1:1, 14). Jesus é o “esplendor da glória, e a expressão exata do Seu ser” (Hebreus 1:3). Ellen White afirma:
“O Senhor Jesus tomou sobre Si a forma do homem pecaminoso, revestindo de humanidade a Sua divindade. Mas Ele era santo, assim como Deus é santo. Caso não fosse sem mácula ou mancha de pecado, não poderia ter sido o Salvador da humanidade. Era o Portador de pecados, e não necessitava de expiação. Sendo um com Deus em pureza e santidade de caráter, Ele podia fazer uma propiciação pelos pecados do mundo inteiro.” (Este dia com Deus, p. 355, itálicos supridos).
Então quando alguém se esforça por desenvolver em sua vida pessoal uma justiça que seja tão perfeita – e conseqüentemente tão meritória – quanto à de Cristo, ele faz mais do que apenas tentar igualar as extraordinárias consecuções espirituais do único homem perfeito que viveu na terra desde a queda. Ele está tentando eliminar todas as distinções entre o Salvador e os pecadores que Ele veio salvar. Ele está procurado apagar a diferença e atravessar a distância entre si mesmo e o Filho de Deus, que, sendo tão puro, justo, e santo quanto Deus o Pai, não precisou de nenhum mediador, mas viveu em união direta e ilimitada com as duas outras pessoas da Divindade.
Nós, portanto concluímos que o novo engano é essencialmente o mesmo que causou a queda. Enquanto o primeiro engano seduziu o homem a transcender seu estado dependente e atingir igualdade com o Criador, assim o último engano fascina o crente a superar sua condição pecaminosa e atingir igualdade com o Salvador.
Como resultado do engano satânico, Adão e Eva se tornaram insatisfeitos com terem que depender de Deus para continuarem a ser a imagem de Deus, e tentaram ser justos, santos, e bons em si e por si mesmos, tal qual Deus é. Por sua vez, aqueles que se submetem ao novo engano não estão contentes em depender de Cristo para estar em posição correta diante de Deus, mas tentam ser justos, santos, e bons em si mesmos, tal qual Cristo é.
Infelizmente, as conseqüências de se submeter ao novo engano são tão radicais e trágicas quanto aquelas da primeira tentação. Sob a roupagem de um objetivo aparentemente nobre de garantir igualdade com Deus, o primeiro engano rompeu o relacionamento primordial que nossos primeiros pais tinham com seu Criador. Isso causou a separação dEle que unicamente poderia capacitá-los a continuar refletindo as justas virtudes do caráter santo de Deus em suas vidas pessoais. Como resultado eles perderam sua integridade espiritual original, e adentraram num estado de perdição, alienação e pecado.
Assim também é com o novo engano. Espreitando por detrás do nobre objetivo de garantir igualdade espiritual com Jesus, ele rompe o relacionamento de fé com o Salvador. Os divorcia espiritualmente dEle que unicamente pode apresentá-los ao Pai perfeitamente justos, e garantir a eles o direito de herdar a vida eterna. Como resultado, eles perdem sua participação nos benefícios do concerto da graça e voltam a um estado de perdição, condenação, e morte que é a condição de todos os seres caídos que não estão em Cristo.
Dois grupos de pessoas na igreja:                                                                                        Aqueles justos em Cristo pela fé, e os injustos
Finalmente, vamos considerar algumas afirmações nos escritos de Ellen White que indicam que a igreja contém apenas dois tipos de pessoas: (1) Aqueles que são justos por que estão cobertos pelos méritos do Salvador e (2) Aqueles que são injustos por que eles tentaram atingir o padrão de justiça perfeita de Deus “independentemente da expiação” e “sem a virtude da Divina mediação.”
De acordo com Ellen White, as duas classes têm seus primeiros representantes em Abel e Caim, e coexistirão na igreja até o fim do tempo:
“O fariseu e o publicano representam os dois grandes grupos em que se dividem os adoradores de Deus. Seus primeiros representantes encontram-se nos dois primeiros filhos nascidos neste mundo. Caim julgava-se justo, e foi a Deus com uma simples oferta de gratidão. Não fez confissão de pecado, nem reconheceu que carecia de misericórdia. Abel, porém, foi com o sangue que apontava ao Cordeiro de Deus. Foi como pecador que confessava estar perdido; sua única esperança era o imerecido amor de Deus.” (Parábolas de Jesus, p. 152).
“"Pela fé Abel ofereceu a Deus maior sacrifício do que Caim." Heb. 11:4. Abel apreendeu os grandes princípios da redenção. Viu-se como um pecador... Por meio do sangue derramado olhava para o futuro sacrifício, Cristo a morrer na cruz do Calvário; e, confiando na expiação que ali seria feita, tinha o testemunho de que era justo, e de que sua oferta era aceita... Caim e Abel representam duas classes que existirão no mundo até o final do tempo. Uma dessas classes se prevalece do sacrifício indicado para o pecado; a outra arrisca-se a confiar em seus próprios méritos; o sacrifício desta é destituído da virtude da mediação divina, e assim não é apto para levar o homem ao favor de Deus.
...Aqueles que não sentem necessidade do sangue de Cristo, que acham que sem a graça divina podem pelas suas próprias obras conseguir a aprovação de Deus, estão cometendo o mesmo erro de Caim. Se não aceitam o sangue purificador, acham-se sob condenação. Não há outra providência tomada pela qual se possam libertar da escravidão do pecado. Assim como Caim julgava conseguir o favor divino com uma oferta a que faltava o sangue de um sacrifício, assim esperam estes exaltar a humanidade à norma divina, independentemente da expiação.” (Patriarcas e profetas, pp. 72-73).
Vamos analisar três conceitos específicos:
1. Caim não entendeu nem a situação desfavorável em que se encontrava como um ser caído, nem a dinâmica da salvação que Deus havia providenciado através da substituição. Em sua cegueira espiritual ele pensou ser ele mesmo justo, não percebendo que era um perdido, culpado e indigno pecador. Conseqüentemente ele se aproximou de Deus apenas com uma oferta de gratidão. Ele não fez confissão de seu pecado, ele não trouxe sangue expiatório, ele não reconheceu nenhuma necessidade de misericórdia. Como resultado ele não teve acesso nem ao perdão de Deus ou aos méritos mediados pelo Salvador apenas em favor daqueles que se achegam a Deus clamando Sua obra redentora em favor deles.
2. Abel percebeu sua real condição como ser caído e se agarrou aos grandes princípios da redenção. Ele foi a Deus como pecador, confessando de si mesmo ser um perdido, colocou sua fé, e baseou sua esperança no imerecido amor de Deus como manifesto na expiação que Cristo faria na cruz em seu favor. Pela fé ele trouxe o sacrifício que Deus tinha estipulado – o sangue que apontava para o cordeiro de Deus. Essa é a base – a única base – para o testemunho de que ele era justo, e a razão pela qual sua oferta foi aceita.
3. A igreja – “aqueles que vem adorar a Deus” – contém duas categorias distintas de pessoas. Um grupo – representado por Caim e pelo fariseu da parábola de Cristo – consiste dos moralistas religiosos que são auto-suficientes espiritualmente. Eles não reconhecem a verdadeira profundidade de sua própria pecaminosidade e por isso vem a Deus apenas com uma oferta de gratidão apenas – uma oferta na qual falta o purificador sangue do sacrifício de Cristo e é independente da expiação. A oferta não tem a virtude da mediação, e conseqüentemente não os concede acesso a Deus. Em sua cegueira laodiceiana eles não percebem sua inadequação moral e destituição espiritual. Como resultado, eles não têm desejo de se arrepender, e não sentem a necessidade de abrir a porta para Cristo como única fonte de justiça salvadora.
O outro grupo dentro da igreja – representado por Abel e pelo publicano da parábola de Jesus – é feito daqueles que entendem tanto sua situação desfavorável como seres caídos, bem como os grandes princípios da redenção. Eles sabem que a não ser pela salvação que Deus providenciou em Cristo, eles estão perdidos, culpados, e tão desajudados como qualquer outro pecador. Essa é a razão do por que eles se valem da obra redentora de Cristo em favor deles, e pela fé, cobrem sua nudez espiritual com os trajes de Sua justiça Toda-Suficiente. Como Abel eles recebem o testemunho de serem justos, os verdadeiros filhos de Deus através da fé em Jesus Cristo.
É importante notar que o critério que determina a separação da igreja em dois grupos não é centrado nas consecuções deles, mas é centrado em Cristo. Em outras palavras, a igreja não divide em um segmento os que são justos em si mesmos e aprenderam a viver sem pecar, e em outro seguimento coloca os que falharam em alcançar esse objetivo. Ao contrário, a igreja se separa entre aqueles que se valem da obra redentora de Cristo em seu favor e, portanto são justos pela fé em Cristo, e entre aqueles que fazem de suas consecuções espirituais a última instância de sua posição, e conseqüentemente não tem nada que os recomende a Deus.
Note como Ellen White expressa esses mesmos conceitos em outros lugares:
“O fariseu não sentia convicção de pecado. O Espírito Santo não podia nele atuar. Sua vida apoiava-se numa couraça de justiça própria, a qual as setas de Deus, farpadas e desferidas pelos anjos, não podiam penetrar. Cristo só pode salvar quem reconhece ser pecador.” (Parábolas de Jesus, p. 158).
“Justiça própria é o perigo desta época; ela separa a alma de Cristo. Os que confiam em sua própria justiça não podem compreender como a salvação advém por meio de Cristo.” (Fé e obras, p. 96, itálicos supridos). “Nada é tão ofensivo a Deus nem tão perigoso para o espírito humano como o orgulho e a presunção. De todos os pecados é o que menos esperança incute, e o mais irremediável.” (Parábolas de Jesus, p. 154).
“Que os que se sentem inclinados a fazer alta profissão de santidade se contemplem no espelho da lei de Deus. Ao verem o vasto alcance de seus reclamos, e compreenderem que ela opera como perscrutadora dos pensamentos e intenções do coração, não se presumirão de estar sem pecado.” (Atos dos apóstolos, p. 562).
“Como pode alguém que é trazido perante o padrão santo da lei de Deus – que revela os maus motivos, os desejos não santificados, a infidelidade do coração, a impureza dos lábios, que torna conhecida a vida – fazer qualquer ostentação de santidade? Suas ações desleais em desconsiderar a lei de Deus são expostas perante seus olhos, e seu espírito é afetado e afligido sobre a perscrutadora influência do Espírito de Deus. Ele demonstra aversão em si mesmo, enquanto vislumbra a grandeza, a majestade, o caráter puro e sem mancha de Jesus Cristo. (Review and Herald, 16 de outubro de 1888).
“Não há nada em nós pelo que podemos vestir a alma para que sua nudez não seja manifesta. Devemos receber o manto da justiça de Cristo fabricado nos teares do céu, o próprio manto perfeito da justiça de Cristo.” (ibid. 19 de julho de 1892). “Coisa alguma é aparentemente mais desamparada, e na realidade mais invencível, do que a alma que sente o seu nada, e confia inteiramente nos méritos do Salvador.” (A ciência do bom viver, p. 182).
“Homem algum pode, olhando para dentro de si, encontrar em seu caráter o que quer que seja que o recomende a Deus, ou lhe assegure aceitação. É unicamente por Jesus, a quem o Pai deu para que o mundo vivesse, que o pecador pode encontrar acesso a Deus. Jesus, unicamente, é nosso Redentor, nosso Advogado e Mediador; nEle reside nossa única esperança de perdão, paz e justiça.” (Mensagens escolhidas, pp. 332,333).
Desde que as considerações desse capítulo surgem da história de Caim e Abel, e do fariseu e do publicano na parábola de Cristo, vamos examinar brevemente e discutir os relatos escriturísticos nos dois casos.
  1. Caim e Abel oferecem sacrifícios a Deus
As Escrituras falam pouco sobre as circunstâncias relativas ao incidente quando Caim e Abel trouxeram respectivamente seus sacrifícios a Deus. Contudo, quando examinamos as implicações do ato de Caim em trazer “do fruto da terra, uma oferta ao Senhor” (Gen. 4:3). Nós podemos deduzir várias conclusões com um razoável grau de certeza:
Primeiro, pelo menos em alguma extensão, Caim reconheceu sua condição caída e desejava reconciliação com Deus – de outra forma seria difícil ver por que de qualquer forma ele traria um sacrifício a Deus. Segundo, ele obedeceu a Deus ao construir um altar e trazer uma oferta. Seu problema foi que ele trouxe o sacrifício errado – um sacrifício que, em vez de representar a fé no substituto, simbolizava a dependência de alguém usando de seus próprios esforços para estar diante de Deus.
Terceiro, aparentemente Caim ignorou o fato de que apenas a justiça de Cristo pode realizar a reconciliação do homem com Deus. Ele falhou em entender que quando tratamos de nossa posição diante de Deus, nada menos que os perfeitos méritos do Salvador é suficiente, nada que seja igual em termos meritórios é possível, e nada menos que isso é aceitável a Deus. Desde que “sem derramamento de sangue não há remissão” (Hebreus 9:22), nada que um pecador possa cultivar em seu jardim pode substituir o cordeiro de Deus que Deus proveu como meio para trazer o homem de volta ao favor dEle. Os frutos que Caim trouxe eram provavelmente o melhor que ele podia oferecer, e todos haviam crescido pelo poder de Deus. Mas eles simbolizavam as realizações humanas, e realizações que não tem nenhum valor redentor não pertencem ao altar.
Quarto, o comportamento de Caim indica persuasivamente que enquanto ele tivesse aceitado a ideia de reconciliação com Deus – e em alguma extensão mostrou que ele queria viver em bom relacionamento com Ele – ele rejeitou o meio que Deus providenciou em Cristo para tornar tanto a reconciliação, quanto o bom relacionamento, possíveis. Por que os frutos de Caim representavam uma mudança no plano de Deus na redenção de seus filhos perdidos, sua oferta não apenas falhou em atingir seu propósito, mas também aumentou sua culpa e alienação para com Deus.
Quinto, Deus não rejeitou Caim por ele ser um pecador. Deus sabia da condição caída do homem, e é exatamente por causa disso que ele proveu uma solução para o problema do seu pecado. O Senhor não podia aceitar a Caim e sua oferta por que ele não colocou sua fé no substituto que Deus designou como único meio de salvação.
“Pela fé, Abel ofereceu a Deus mais excelente sacrifício do que Caim; pelo qual obteve testemunho de ser justo, tendo a aprovação de Deus quanto às suas ofertas. Por meio dela, também mesmo depois de morto, ainda fala.” (Hebreus 11:4)

A oferta de Abel foi “melhor” por que (1) era a oferta que Deus estipulou como símbolo de Cristo, e por que (2) ele a trouxe “pela fé.” Ele obteve o “testemunho de ser justo,” não por que ele fosse moralmente inculpável e espiritualmente perfeito, mas por que através de seu sacrifício ele mostrou sua fé no sangue expiatório para o perdão, e sua dependência dos méritos infinitos de Cristo para uma correta posição diante de Deus.

  1. O fariseu o e publicano oram no templo

De acordo com a parábola de Jesus registrada em Lucas 18:9-14, um fariseu e um publicano foram ao tempo para orar. Ambos eram homens religiosos – membros de igreja, provavelmente diríamos em nossa terminologia moderna. O fariseu agradecia a Deus por ser uma pessoa melhor e por ter um registro comportamental melhor do que “os demais homens” que, de acordo com ele, eram “ladrões, malfeitores, adúlteros.” Em contraste, o publicano reconhecia a si mesmo como pecador e orava a Deus por misericórdia.
  
Uma vez que Jesus não contradisse a auto-avaliação do fariseu, podemos concluir que ela havia falado a verdade quando disse não roubar ou adulterar como faziam os demais homens, Ele provavelmente tinha também um longo registro que provava que ele jejuava duas vezes por semana, e devolvia o dízimo fielmente. Portanto seu problema não era ser um pecador crônico que vivia em violação deliberada e aberta contra a lei de Deus. Ao contrário, e era por causa disso que pensava ser justo e não sentia necessidade alguma de um Salvador.
 A situação espiritual desfavorável do fariseu era resultado de duas más compreensões teológicas. Primeiro, ele aparentemente definia o problema do pecado do homem apenas em termos de caráter moral e ética comportamental. Em sua visão, somente pessoas más que manifestavam rebelião aberta contra Deus por quebrar a letra da lei propositalmente eram culpados de pecado. Assim é que ele se sentia muito bem consigo mesmo. Por não ser tão mal ou imoral como ele percebia que os outros homens eram, ele pensou possuir um bom caráter moral que mereceria a aprovação de Deus. Não tendo transgredido qualquer proibição específica da lei – tal qual roubar, e adulterar – ele pretendeu render uma obediência perfeita e, portanto, estava livre de culpa. E por acreditar que ele tinha evidências que provavam que ele cumpria suas obrigações religiosas – tal qual jejuar duas vezes por semana e pagando um dízimo estritamente exato – ele concluiu ser positivamente justo, e verdadeiramente digno da aprovação de Deus.
 Segundo, o fariseu tinha uma concepção de justificação pelas obras em relação à salvação. Ou seja, ele baseada sua posição diante de Deus – e por extensão sua segurança de vida eterna – em sua bondade moral pessoal e sua impecabilidade comportamental. Tal visão prescindia de duas coisas: (1) Da graça de Deus em providenciar o substituto para pagar a pena de sua culpa, cancelar sua sentença de morte, e dar-lhe o direito de se tornar um filho de Deus, e (2) Da resposta de arrependimento e fé pela qual o crente pode participar na obra redentora do Salvador – uma obra que garante o perdão de Deus em seu favor e torna-o digno da vida eterna através da imputação da justiça de Cristo.
De acordo com a parábola, a visita do fariseu ao tempo não lhe trouxe nenhuma benção, e ele retornou para casa sem experimentar mudança. Ele era um homem moralmente justo – um homem com profundo compromisso religioso, um grande respeito pela lei, e um alto padrão ético de comportamento. Mas ele era também um homem que em seu orgulho espiritual e auto-suficiência religiosa não percebeu sua necessidade desesperadora de um salvador. Ou seja, ele não sentia a necessidade do perdão de Deus ou da justiça imputada de Cristo. Embora ele tenha obedecido à lei – em algum sentido – ele ignorou o evangelho. Como resultado, ele não teve acesso à aliança da graça de Deus e nenhuma parte na salvação que apenas Cristo pode conceder. Ele foi então para casa convencido de ser justo de acordo com a lei, mas despercebido de que de acordo com o Evangelho ele estava perdido.
A experiência do publicano foi justamente o oposto da experiência do fariseu. A oração do publicano indica que ele reconhecia ser um pecador e que ele baseou sua esperança para desfrutar de uma correta posição diante Deus em sua misericórdia. Por ter se rendido em arrependimento e por ter aceitado pela fé a provisão da graça de Deus, ele “voltou justificado diante de Deus” (Lucas 18:14). Ele chegou ao templo perdido, culpado, um pecador sem esperança, mas retornou para sua casa completamente reconciliado com Deus, um filho de Deus em Cristo, e herdeiro da vida eterna. Se ele tivesse morrido – ou a porta da graça se fechado – nesse momento e sua eterna salvação estaria assegurada em Cristo. O publicano teria participado das bodas do cordeiro e teria parte no Reino Eterno de Deus, não por não ser mais um pecador, mas por que ele tinha um Salvador, e conseqüentemente estava em pé diante de Deus completamente perdoado, e perfeitamente justo em Cristo pela fé.   
Sumário e conclusões
Esse capítulo tem duas seções gerais. A primeira provê um sumário de alguns dos principais pontos que discutimos nos sete capítulos anteriores. A segunda seção contém conclusões gerais baseadas nos conceitos que descobrimos nos escritos de Ellen White.
  1. Sumário
O primeiro capítulo examinou dois conceitos básicos e algumas de suas principais ramificações. Primeiro, vimos que o crente depende totalmente de Cristo para estar numa posição correta diante do Senhor, isso por que Deus requer justiça perfeita e o homem é incapaz de produzi-la. Segundo, vimos que Jesus faz mediação em favor do crente com o objetivo de apresentá-lo – como indivíduo – perfeitamente justo perante o Pai. Jesus imputa sua morte expiatória, sua vitória redentora, e justiça salvadora em favor do crente para que ele possa estar em pé pela fé diante de Deus, irrepreensível em Cristo.
Para que Cristo possa agir como seu substituto, o crente deve responder ao evangelho em arrependimento e fé. Através do arrependimento o crente indica que ele reconhece tanto sua culpa quanto a inadequação do que ele é, tem, ou faz para assegurar a aprovação de Deus. Através da fé ele reconhece sua incapacidade de conduzir a si mesmo ao favor de Deus, e portanto se apropria da obra redentora de Cristo em seu favor. Dessa forma o crente ganha acesso ao perdão de Deus por seu pecado e à perfeita justiça de Cristo para ser aceito pelo Pai.
Uma vez que a santificação é um processo nunca totalmente concluído na vida presente, o crente nunca se torna justo em si mesmo, mas pode ser justo unicamente em Cristo enquanto ele viver. Tudo que ele é e tudo que ele tem, como filho de Deus, ele é e tem somente por que, e enquanto, ele está em Cristo pela fé. Se ele perdesse seu apego a Cristo – e ao fazê-lo cesse de participar em sua obra redentora – o crente voltaria a seu estado de perdição, condenação, e morte no qual ele se encontrava antes que a reconciliação tivesse ocorrido na conversão.
No segundo capítulo vimos que o crente também depende da mediação de Cristo para tornar sua vida como filho de Deus aceitável ao Pai. Deus requer não apenas obediência, mas perfeita obediência, e isso o crente é incapaz de oferecer. A obediência do crente não tem valor diante de Deus, primeiro, por que ela é parcial e imperfeita sendo portanto, merecedora não da aprovação Divina, mas da condenação. E segundo, por causa do fato de que a natureza pecaminosa do crente contamina tudo que ele faz ela torna sua obediência inaceitável a Deus.
Fizemos também uma distinção entre obediência verdadeira – a obediência da fé – e obediência perfeita. A verdadeira obediência inclui submissão às exigências da lei e harmonia com as demandas do evangelho. Conseqüentemente aquele que é o verdadeiramente obediente, tendo feito o melhor para viver uma vida digna de filhos e filhas de Deus em Cristo, reconhecerão sua pecaminosidade, imperfeição, e indignidade, e se aproximarão do Pai com arrependimento e fé. O sangue expiatório de Cristo os limpa de suas culpas, e Sua justiça salvadora os preserva em uma posição correta diante de Deus.
O fato de sermos pecadores contamina nossa obediência. Nada que seres pecaminosos possam oferecer a Deus é aceitável em seus próprios méritos. Nossa obediência só pode ser satisfatória quando – e pelo fato de – a trazemos ao Pai através dos méritos do Filho. Obediência perfeita é, portanto, possível unicamente através da mediação de Cristo em nosso favor. Quando dependemos da obra redentora de Cristo para estarmos em posição correta diante de Deus, nosso divino Sumo-Sacerdote nos imputa Sua justiça para suprir nossas deficiências e apresentar nossa obediência, serviço, e adoração perfeitamente agradáveis ao Pai.
No terceiro capítulo reconhecemos que nenhum ser caído jamais atingiu o alvo da perfeição espiritual inculpável separado de Cristo. Os patriarcas, profetas, e apóstolos – homens que viveram o mais próximo de Deus – admitiram sua pecaminosidade. Seu relacionamento incomum e próximo com Deus os permitiu adquirir tanto o ponto de referência e a percepção espiritual necessária para que eles vissem a si mesmos como eles realmente eram. Portanto ele todos sabiam que nada que eles eram, tinham, ou faziam poderia assegurá-los o favor de Deus.
Uma vez que todos pecaram e carecem da glória de Deus, todos os seres humanos da mesma forma – desde Abel, o primeiro crente e morrer, até o último pecador a aceitar a graça salvadora de Deus em Cristo logo antes do fechamento da porta da graça – dependem igualmente da obra redentora de Cristo para salvação. Por Deus ter divisado um plano de redenção de acordo com o qual Jesus Cristo – sua morte expiatória, vitória redentora, e justiça salvadora imputada ao crente pela fé – é o único caminho ao Pai, todos os seres humanos devem ou ser salvos pela graça imerecida de Deus, ou se perderão.
O quarto capítulo discutiu a ideia de que a percepção de um indivíduo a respeito de sua condição espiritual – tanto caso ele veja a si mesmo como justo e bom, ou como imperfeito e pecador – resulta de sua proximidade relativa de Jesus e de uma visão adequada da perfeição de Cristo. Aqueles que não têm um relacionamento esclarecido e próximo com Cristo não têm nem o ponto de referência nem a percepção espiritual que os capacitaria a enxergar sua inadequação moral e imperfeição espiritual. Eles subestimam sua pecaminosidade e superestimam suas possibilidades. Como resultado eles não sentem sua total dependência de Cristo.
Aqueles que vivem o mais próximo de Jesus têm pelo menos as seguintes características: 1. Eles chegaram a admirar a beleza do caráter santo de Cristo, e portanto podem ver sua própria pecaminosidade. 2. Eles têm um entendimento claro do vasto alcance da natureza das exigências de Deus, e assim percebem o quão longe eles realmente estão de atingir o padrão que Deus requer para a salvação. 3. Eles sentem de forma adequada a malignidade do pecado e a fragilidade e pecaminosidade da humanidade, e portanto admitem sua completa dependência de Cristo. 4. Eles vivem num estado de “contínuo arrependimento e fé no sangue de Cristo,” plenamente cientes de que sua salvação depende, não de sua própria bondade, mas da infinita graça de Deus.
Vimos também que, de acordo com Ellen White, a igreja remanescente não atinge a perfeição sem pecado tanto em natureza, como em sua conduta no final do tempo de graça. Seus membros não são Super-Santos que atingiram justiça perfeita e assim comparecem diante do tribunal de Deus. Ao contrário, são pecadores que, salvos pela justiça de Cristo, não tem nada para vestir senão “vestes sujas.” Dolorosamente conscientes da “pecaminosidade de suas vidas, ...sua fraqueza e indignidade,” “seu caráter defeituoso,” “sua dessemelhança com Cristo,” eles “se afligem suas almas” em arrependimento diante de Deus “por causa de suas transgressões,” e pleiteiam por uma “pureza de coração” que eles obviamente ainda não possuem.
Devesse Deus decidir o destino eterno da igreja remanescente sob a base de sua verdadeira condição espiritual e comportamento moral, então seu caso seria sem esperança. Felizmente, Jesus, o poderoso mediador, silencia o acusador com argumentos fundamentados, não nos méritos dos crentes – pois eles não têm nenhum – mas em sua dependência de sua atividade redentora em seu favor. Ele remove as vestes sujas e os cobre com o glorioso manto de sua justiça perfeita e assim os apresenta ao Pai, justos em Cristo.
O quinto capítulo tratou de um dos eventos mais significativos em conexão com o fim do tempo de graça e com o tempo de angústia. Alguns dos principais conceitos discutidos foram os seguintes: Primeiro, Jesus continuará seu ministério mediador até que ele atinja completa e plenamente seu objetivo proposto. Ou seja, Ele só deixará de agir como advogado do homem diante do Pai apenas depois que Ele tiver o veredito final da aprovação de Deus em favor de Seu povo no fim do juízo pré-advento. Como resultado eles recebem “o selo do Deus Vivo,” que garante sua filiação em Cristo como um status permanente, e os dá o direito de serem herdeiros de Seu Reino.
Segundo, o momento quando Jesus completa Sua mediação para a última geração de crentes marca também o final do juízo pré-advento. O “teste final” que determina o destino eterno deles “o mundo foi submetido à prova final... O número de seus súditos completou-se.” O futuro de todos é fixado permanente e irrevogavelmente, cada caso está não apenas decidido, mas está fechado para sempre, para nunca mais serem abertos para revisão. Por ser a decisão que Deus pronuncia nesse julgamento uma decisão final, aqueles que estiverem salvos estarão salvos, e aqueles que estiverem perdidos estão perdidos, em um momento.
Terceiro, pelo menos três principais fatores dão aos crentes paz, segurança, e esperança ao eles encararem o fechamento da porta da graça e o tempo de angústia. 1. Jesus vai fazer mediação em seu favor até que a aprovação final de Deus esteja permanentemente garantida. 2. Eles não terão que encarar um pós-julgamento para determinar se eles atingiram ou não justiça sem erros em seu próprio ser e impecaminosidade de conduta e conseqüentemente são pessoalmente dignos da vida eterna. 3. Deus protegerá e lhes proverá todas as necessidades durante o curto espaço de tempo entre o fechamento da porta da graça e a Segunda Vinda de Cristo, de forma que nada frustre sua salvação.
Quarto, o tempo de angústia será um período de profunda intensidade espiritual, sincero auto-exame, e de um sério “lutar com Deus.” A experiência do povo de Deus durante este tempo tem por objetivo três objetivos. (1) demonstrar que eles se arrependeram sinceramente de seus pecados e confiam no perdão de Deus; (2) conduzi-los à plena conscientização de sua indignidade de terem parte no Reino de Glória; e (3) fortalecer a fé deles de que Deus cumprirá as promessas do evangelho a eles a despeito de seus desvios, imperfeições, e pecaminosidade.
 O sexto capítulo explorou um engano peculiar que adentrou no adventismo pouco tempo depois de 1844, apareceu novamente na virada do século, reviveu de forma mais sofisticada no final da década de 1950, e, de acordo com Ellen White, confrontará a igreja novamente antes do fechamento da porta da graça. Julgando por sua influência passada, essa “mensagem do erro” tem potencial para corromper a mensagem da misericórdia de Deus ao mundo, frustrar a missão do adventismo, e desviar a experiência religiosa de muitos de seus membros.
Tal “fanatismo” representa um abandono radical dos ensinos das Escrituras e obviamente contradiz a maioria dos conceitos significativos que descobrimos nos escritos de Ellen White. 1. Ele muda o padrão que a última geração precisa atingir para a salvação e também o método pelo qual os crentes podem atingi-lo. 2. Ele modifica o papel de Cristo como Salvador tanto na maneira pela qual Ele realiza a salvação. 3. Ele altera o ministério celestial de Cristo no céu e reduz o significado da atual mediação que Ele realiza diante do Pai. 4. Ele apaga a distinção essencial que as Escrituras estabelecem entre o Santo e Justo Filho de Deus e a culpado pecador a quem Ele veio salvar.
No sétimo capítulo encontramos que a igreja conterá dois grupos de pessoas radicalmente diferentes até o fim. Um grupo consiste daqueles que não percebem sua verdadeira condição espiritual e não entendem os grandes princípios da redenção. Eles procuram estar numa posição correta diante de Deus através da eliminação do pecado de suas vidas – para dessa forma cessarem de ser pecadores – ao invés de aceitarem a solução que Deus proveu para o problema do pecado deles em Cristo. Por não virem ao Pai, confiando apenas nos méritos do filho, eles não têm acesso aos benefícios da obra redentora de Cristo. Como resultado eles permanecem em um estado de perdição, culpa, e eventual morte eterna que é o destino comum de todos os seres caídos separados de Cristo.
O outro grupo inclui somente aqueles que entendem tanto sua real condição como seres caídos e a dinâmica do plano da redenção. Eles sabem que, ao Deus revisar o caso deles para determinar seu destino eterno, nada menos que a justiça imputada de Cristo é suficiente, nada adequadamente semelhante é possível, e nada mais é aceitável. Assim é que eles dependem totalmente da morte expiatória do Salvador, da vitória redentora, e dos méritos salvíficos para que eles estejam em uma posição correta diante de Deus. Como resultado eles mantêm seu status, como filhos e filhas adotivas de Deus em Cristo, e isso os dá o direito de serem herdeiros da vida eterna.
  1. Conclusões
Uma das características mais atraentes dos conceitos que estudamos previamente nos escritos de Ellen White é que eles retratam um cenário no qual tudo que exerce alguma função no relacionamento do pecador com Deus ocupa o lugar e a função que é tão claramente definida pelas Escrituras. Vamos descrever brevemente esse cenário ao sublinhar alguns dos aspectos mais significativos do papel desempenhado pelo Espírito Santo, pela lei de Deus, pelo crente, e por Jesus Cristo.
  1. O Espírito Santo
Três das funções do Espírito Santo são particularmente relevantes aqui: A primeira tem a ver com o comportamento do crente – sua vida como filho adotivo de Deus. O Espírito o auxilia a adquirir um entendimento crescente da vontade de Deus para o homem, por um lado, e da enganosa e multifacetada natureza do pecado por outro. Gradualmente o Espírito aumenta a capacidade espiritual do crente para que ele diferencie entre o que é verdadeiro, bom, e amável e o que não é. Ele move o crente a aceitar a vontade de Deus como normativa e a se esforçar para que sua vida esteja em harmonia com esse padrão. E Ele capacita o crente a fazer o que Deus sabe ser viável e razoável de se esperar dele a cada estágio de seu crescimento e maturidade.
A segunda principal função do Espírito se relaciona com o crente em si – sua natureza e caráter. O Espírito mantém a natureza pecaminosa do crente sob controle sobrenatural para que ele não insista em seus maus desejos de forma que ele se separe de Cristo e se rebele contra Deus. O Espírito o faz desejar a continuar sua batalha para vencer seus traços pecaminosos de caráter, más tendências, e atitudes. E Ele capacita o crente a desenvolver um caráter pessoal que crescentemente reflete os traços santos e as justas virtudes do caráter perfeito de Cristo.
A última principal função do Espírito tem a ver com o relacionamento de fé que o crente tem com Jesus Cristo como seu Salvador pessoal e única fonte de justiça salvadora. O Espírito protege o crente de cair da graça ao ajudá-lo a desenvolver visão espiritual e reconhecer suas falhas e imperfeições, e sua conseqüente necessidade de Cristo. O Espírito fortalece a união espiritual do crente com o Salvador e o motiva a viver em um estado de arrependimento e fé de forma que através de Cristo ele tenha acesso contínuo à graça de Deus e mantenha seu direito de ser um filho de Deus e herdeiro da vida eterna.
É importante notar que o papel do Espírito não é o da competição contra Cristo através da criação de um caminho alternativo para o pecador atingir uma posição correta diante de Deus independentemente da mediação de Cristo. Em nenhum lugar as Escrituras afirmam – ou mesmo remotamente sugerem – que uma das funções do Espírito seja ajudar o crente a transcender sua condição pecaminosa, superar seu desamparo espiritual e imperfeição moral, e desenvolver uma justiça pessoal que seja tão perfeita e meritória quanto a de Cristo. Ao contrário, o Espírito mantém o crente dependendo da obra redentora de Cristo.
  1. A Lei de Deus
O cenário retratado nos escritos de Ellen White reforça o conceito bíblico de que Deus nunca intencionou que a lei constituísse em um outro caminho de salvação – um meio pelo qual o crente poderia desenvolver justiça impecável e adquirir mérito diante de Deus. Ao contrário, a lei serve para quatro propósitos básicos: 1. Ela provê princípios específicos que ajudam seres pecaminosos a entender a distinção de Deus entre o que é certo e o que é errado, bom ou mal, comportamento de amor ou de não amor. 2. Ela prescreve a conduta do crente particularmente para com Deus e com o próximo. 3. Ela serve como padrão moral de acordo com o qual Deus julga nossas vidas. 4. E por revelar nossas falhas e deficiências em viver em perfeita harmonia com a vontade de Deus ela nos torna cientes de nossas culpas e nos conduz a Cristo em busca de perdão e justiça salvadora.
  1. O crente
O cenário que descrevemos nesse livro vê o crente como um pecador reconciliado com Deus através da fé em Cristo e adotado na família espiritual de Deus, que inclui todos os crentes. Seu relacionamento de fé com Jesus lhe dá o direito da filiação, e sua filiação lhe dá o direito de ser um herdeiro do Reino. Por toda sua vida o crente participa de duas realidades radicalmente diferentes ao mesmo momento. Separado de Cristo – em si mesmo, por natureza – ele é pecaminoso, culpado, e indigno. Contudo, em Cristo – por participar de sua obra redentora pela fé – ele é justo, sem faltas, e digno da vida eterna. Em outras palavras ele ainda é culpado, mas não mais condenado, ainda é pecaminoso, mas não é mais um perdido.
 Por toda sua vida como filho de Deus, o crente experimenta o desenvolvimento do caráter, a modificação do comportamento, e crescimento espiritual e amadurecimento reais e significativos. Mas por que o processo redentivo não foi designado para atingir sua completa realização durante a vida presente, o crente nunca supera completamente sua pecaminosidade pessoal e nunca transcende sua necessidade de Cristo neste lado da glorificação. Somente quando o eternal substituir o temporal, quando o Reino da Glória de Deus se tornar uma realidade histórica, e quando Deus finalmente fizer Seus filhos iguais a Jesus “quando ele aparecer” (1 João 3:2; cf. Hebreus 11:39, 40; Filipenses 1:6) – somente então o crente recuperará a perfeição original com a qual Deus criou o ser humano no princípio. Então ela será, pela primeira vez, sem impecável em si mesmo, exatamente como nossos primeiros pais eram antes da queda. No meio tempo o crente só pode ser justo, santo, e digno unicamente em Cristo.
  1. Jesus Cristo
O Salvador está no topo, incapaz de ser desafiado, inigualável, no próprio centro do plano da redenção. As Escrituras o definem como o “autor e consumador da fé” (Hebreus 12:2). Ele é o único caminho de volta ao Pai, e o único fundamento para que estejamos em uma posição correta diante de Deus. Ontem Jesus morreu sobre a cruz como substituto para expiar nossos pecados, nos libertar de nossa culpa, e cancelar nossa sentença de morte. Hoje ele faz mediação por nós em Seu trono celestial para nos assegurar a vida eterna por nos imputar Sua morte expiatória, vitória redentora, justiça salvadora, e dessa forma nos apresenta perfeitamente aceitáveis ao Pai. Amanhã Ele voltará para completar nossa redenção ao remover nossa pecaminosidade e nos restaurar à perfeita integridade espiritual que o ser humano tinha na criação. Como resultado dessa transformação, nós refletiremos a imagem de Deus em nosso ser tão completamente como Adão e Eva a refletiam antes da queda. Restaurados à união espiritual completa com Deus, viveremos vidas perfeitas na presença pessoa de nosso Justo, Santo e Gracioso Redentor.
Então o plano inicial do Criador de um mundo justo, habitado por pessoas saudáveis, felizes, e santas finalmente se concretizará, graças à redenção que Deus proveu em Cristo. As marcas nas mãos de Jesus e as vestes brancas que remidos usarão por toda a eternidade os lembra que foi Seu sacrifício expiatório na cruz em favor deles que os salvou da morte eterna, e Sua perfeita justiça imputada a eles pela fé os concedeu acesso à vida eterna. Essa á a razão por que a gratidão vai dominar o céu – gratidão alegre, expressada em infinito louvor a Deus, pelo fato de que Ele provou ser infinitamente maior do que o pecado humano. Percebendo isso, todos os remidos de todas as eras estarão prontamente preparados para atirar suas coroas de ouro aos pés do Salvador, e avidamente se unem ao coro universal cantando:
Àquele que está sentado no trono e ao Cordeiro,
seja o louvor, e a honra, e a glória, e o domínio
pelos séculos dos séculos.
(Apocalipse 5:13)

Apêndice.
            Afirmações de Ellen White que parecem dar suporte ao perfeccionismo
Nós fizemos pelo menos três afirmações nesse livro que requerem mais elaboração: 1. Na introdução afirmamos que apesar de Ellen White ter escrito muito sobre o tópico da mediação de Cristo, ela nem sempre o fez tão sistematicamente ou claramente como alguns poderiam desejar. Conseqüentemente algumas afirmações são susceptíveis de serem mal compreendidas. Por essa razão não dever ser uma surpresa se indivíduos as usem para dar suporte a visões que, ao invés de serem centralizadas em Cristo e em seu ministério redentivo no céu, focam primariamente o homem e suas magérrimas realizações aqui nesta terra.
2. No sexto capítulo desse livro nós indicamos que Ellen White reprovou o pastor E. R. Jones por usar seus escritos para embasar a idéia de que antes do fechamento da porta da graça o povo de Deus pode e deve alcançar a condição na qual eles sejam perfeitamente justos e aprendam a viver sem pecar. Algumas vezes depois ela fez a mesma coisa com outras pessoas, tais como S. S. Davis e R. S. Donnell, que advogavam idéias semelhantes. 3. E dissemos que algumas afirmações, se não entendidas corretamente e propriamente aplicadas, poderiam de fato conduzir às visões errôneas apresentadas por Jones e outros.
É importante notar logo no começo que usualmente três fatores se combinam para conduzir a uma má interpretação de uma passagem dada. O primeiro se relaciona com o que a passagem realmente diz. Por qualquer que seja a razão, as palavras não são suficientemente precisas, e por isso o leitor pode interpretá-la de mais de uma forma. O segundo fator tem que ver com o que o pesquisador traz ao texto – suas pressuposições e seu primeiro entendimento do assunto tratado. Seu ponto de vista irá invariavelmente influenciar sua “audição,” a despeito de sua sinceridade e de suas honestas tentativas de ser objetivo e de ter mente aberta. O terceiro elemento se refere à metodologia do pesquisador e à aplicação dos conceitos apresentados pela passagem investigada por ele.
O propósito desse apêndice é ternário: Primeiro, descobrir se os escritos de Ellen White realmente contêm passagens que advogam as idéias extremas tais quais as idéias apresentadas pelo pastor Jones e seus seguidores. Segundo, explorar algumas razões por que as visões deles não refletem verdadeiramente as passagens nas quais eles alegam ter sustentação, e examinar algumas das inadequações metodológicas que os guiaram em suas conclusões equivocadas. E terceiro, estabelecer tanto quanto possível o verdadeiro significado e a real intenção que algumas afirmações envolvem. Em outras palavras, desejamos mostrar como tais passagens na verdade concordam com os conceitos que estabelecemos neste livro a partir dos escritos de Ellen White.
Nós dividimos nossa discussão em duas seções gerais. Na primeira nós consideramos algumas afirmações de Ellen White que parecem endossar a idéia, advogada por Jones e seus colaboradores, que tanto o corpo do homem quanto seu caráter devem ser completamente restaurados à impecaminosidade e santidade antes do fechamento da porta da graça. Infelizmente, o espaço não nos permite tratar desse assunto tão inteiramente como desejaríamos. Na segunda seção examinaremos em profundidade os escritos de Ellen White que parecem prover o mais forte suporte à teoria de que os crentes que estarão vivos na segunda vinda de Cristo devem ser perfeitamente sem pecado assim como Jesus.
1. O “suporte” de Ellen White para a idéia de que os crentes devem alcançar um estado de total santificação antes do fechamento da porta da graça.
Os conceitos sugeridos pelo pastor E. R. Jones, as pessoas do movimento da “carne santa,” e seus seguidores (de agora em diante referidos simplesmente como a doutrina da carne santa) podem ser resumidos da seguinte maneira: 1. Os crentes que estarão vivos quando Jesus voltar devem alcançar um estado de existência justa, sem mancha. Os aspectos físicos, morais e espirituais de seus seres – o corpo como o caráter – devem ser perfeitos, sem pecado, da mesma forma como Jesus o é. 2. Eles devem aprender a viver sem pecar e a render obediência impecável à vontade de Deus. 3. Finalmente eles devem atingir esse duplo objetivo antes que o fechamento da porta da graça aconteça para o mundo. De outra forma eles estarão desqualificados para a salvação.
A-1 O corpo do crente deve ser totalmente santificado antes que o tempo de graça dado ao mundo chegue a seu fim.
Nessa seção nós usaremos a questão da reprodução da imagem de Deus no crente para ilustrar como uma metodologia falha pode conduzir à conclusão de que Ellen White dá suporte à idéia de que mesmo o corpo do crente deve recuperar a santidade original durante sua vida presente, na terra. Nesse processo nós veremos como uma metodologia falha resulta em visões extremas e indesejáveis mesmo quando a maioria dos passos que conduzem à conclusão são válidos e lógicos. Para começar, vamos afirmar quatro pontos básicos que podemos adequadamente estabelecer a partir dos escritos dela:
1. Deus criou o homem em sua própria imagem, uma imagem que inclui a pessoa completa – as dimensões, espiritual, moral, e física de seu ser (educação, PP. 15, 20; Patriarcas e profetas, p. 45; cf. Grande conflito, p. 645). 2. A imagem de Deus no homem foi mareada e quase totalmente obliterada pelo pecado (Patriarcas e profetas, p.595; educação, p. 76; testemunhos para a igreja vol. 4, p. 294). 3. Cristo veio a fim de restaurar a imagem de Deus no homem (Desejado de todas as nações, pp. 37, 38, 478, 671; fundamentos da educação cristã, p. 436; grande conflito, p. 645). 4. A restauração da imagem de Deus é tornada possível através de tais meios como a obra do Espírito Santo, o conhecimento de Deus, e a obediência aos dez mandamentos (desejado de todas as nações, p. 391; testemunhos para a igreja Vol. 8, p. 289; nos lugares celestiais, p. 146).
Alguém poderia construir um caso aparentemente forte em direção à idéia de que o homem inteiro – seu espírito, alma, e corpo – tem de ser restaurado antes do fechamento da porta da graça por citar um grupo cuidadosamente selecionado dentre os escritos de Ellen White, tais como:
“A santificação exposta nas Sagradas Escrituras tem que ver com o ser todo - as partes espiritual, física e moral” (santificação, p. 7, itálicos supridos). “O cristão verdadeiro obtém uma experiência que promove a santidade. Não tem ele na consciência uma mancha de culpa, nem uma mácula de corrupção na alma... Seu corpo é um adequado templo do Espírito Santo (Nos lugares celestiais, p. 200, itálicos supridos).
“Todo cristão pode desfrutar a bênção da santificação” (santificação, p. 85). “Mediante a obediência vem a santificação do corpo, alma e espírito” (minha consagração hoje, p. 250). “Todo aquele que, pela fé, obedece aos mandamentos, alcançará o estado de impecaminosidade no qual Adão viveu antes de sua transgressão (nos lugares celestiais, p. 146, itálicos supridos).
“Quando o Senhor vier, os que são santos serão santos ainda. Os que houverem conservado o corpo e o espírito em santidade, em santificação e honra, receberão então o toque da imortalidade... Quando abraçamos a verdade de Deus, sua influência nos afeta, nos eleva, e remove de nós toda imperfeição e pecado, de qualquer natureza for. Então nós estamos preparados para ver o Rei em sua beleza e finalmente para no unir com os anjos puros e celestiais no reino da glória. É aqui que esse trabalho deve ser realizado por nós, aqui é que nossos corpos e espíritos devem ser preparados para a imortalidade... E que é a obra que devemos empreender aqui antes de receber a imortalidade? É preservar nosso corpo santo, nossos espíritos puros, para que permaneçamos incontaminados entre as corrupções tão comuns ao nosso redor nestes últimos dias. (Testemunhos para a igreja, Vol. 2, pp. 355, 356, itálicos supridos).
Ao se colocar ênfase sobre certos aspectos dessas passagens e forçando suas palavras ao limite, é possível chegar a uma conclusão similar a essa: Cristo veio para que a imagem de Deus se reproduza no homem. Através da obediência vem a santificação do corpo, alma, espírito, e todos que obedecerem alcançarão a condição de impecaminosidade na qual Adão um dia viveu. Uma vez que é aqui – neste mundo – que nossos corpos e espíritos devem ser preparados para a imortalidade, se segue que devemos alcançar tal estado de total santificação durante nossa vida no presente antes do fechamento da porta da graça.
É importante notar que tal conceito tem um considerável grau de consistência interna. De acordo com as passagens citadas, a completa imagem de Deus deve ser refletida no crente, não apenas em algumas de suas partes. Por isso, se a imagem de Deus deve ser plenamente restaurada na vida presente, então o processo deve incluir tanto o caráter do homem como seu corpo. Deixar o corpo de fora desse processo de restauração divide a imagem de Deus, e então destrói todo o argumento.
De acordo com essa visão, a obra do Espírito e a experiência do crente na vida presente são suficientes em si mesmas para completar o processo de restauração. Esse é o porquê de seus proponentes dizerem que a última geração de crentes será capaz de alcançar a condição na qual eles serão dignos de merecer o veredito final de Deus no juízo pré-advento sob a base se suas realizações pessoais. Deus não os irá condenar, por que adiante eles não têm mais nada errado em si mesmos. Ele os aceitará por que a integridade espiritual que eles alcançaram em suas vidas pessoais os faz dignos de sua aceitação. A imagem de Deus – envolvendo tanto o caráter pessoal quanto a natureza básica do ser humano – já foi completamente restaurada. Como resultado, eles são perfeitamente justos, como Jesus, portanto são dignos da vida eterna.
A-2 Um exame da idéia que o corpo do homem deve ser restaurado a um estado de total santificação antes do fechamento da porta da graça.
Parece bastante óbvio que alguém possa construir um “bom” caso e descobrir o quanto Ellen White dá suporte à idéia de que o corpo do homem deve ser restaurado à impecaminosidade tanto quanto por qualquer outro aspecto da doutrina da carne santa. Por isso, se o conceito realmente representa fielmente o que Ellen White ensinou então a igreja não deveria ter dificuldade de aceitá-la como uma posição verdadeiramente adventista.
Esse definitivamente não tem sido o caso. Ao invés disso, nós temos a seguinte posição: 1. A igreja adventista nunca endossou a idéia de que a imagem de Deus – incluindo as dimensões, moral, espiritual e física – será completamente restaurada no crente antes do fechamento da porta da graça. 2. Conquanto uma interpretação literal de muitas passagens de seus escritos aparenta expressar a idéia semelhante à posição do pastor E. R. Jones, do movimento da carne santa, e que seus seguidores advogaram, Ellen White rejeitou as visões deles, os reprovou por mal utilizarem seus escritos para dar apoio às suas crenças, e os alertou sobre os perigos que seus ensinos poderiam causar à igreja em grande escala.
Esses dois fatores deveriam nos guardar de manter tais idéias extremadas novamente. Infelizmente a história de nossa igreja indica que enquanto o movimento da carne santa tenha sido de vida curta, a peculiar mentalidade que seus proponentes exibiram, as visões extremadas que eles propuseram, e a inadequada metodologia que eles usaram na interpretação tanto das Escrituras quanto dos escritos de Ellen White, permanecem conosco. Parece que sempre existe um segmento da igreja adventista que não falha em fazer ressurgir o movimento anterior, que tem uma forte atração à idéia de uma perfeição moral absoluta (completa) e uma existência de total santidade, e que tem uma exagerada fascinação com a possibilidade de alcançar um estado de impecaminosidade – de ser como Jesus – antes do fechamento da porta da graça.
Desde que a igreja adventista tem tão categoricamente rejeitado a idéia de que a imagem de Deus – compreendendo o espírito, a alma, e o corpo do homem – será completamente restaurada deste lado da glorificação (ou seja, antes da glorificação, Nota do tradutor), nós limitaremos nossa discussão a considerar brevemente algumas afirmações que deveriam nos ajudar a alcançar um entendimento mais equilibrado desse assunto.
“Muito se pode fazer para restaurar a imagem moral de Deus no homem, para melhorar as faculdades físicas, mentais e morais... E se bem que não possamos pretender a perfeição da carne, podemos possuir perfeição cristã da alma. Mediante o sacrifício feito em nosso favor, os pecados podem ser perfeitamente perdoados. Nossa confiança não está no que o homem pode fazer; sem, naquilo que Deus pode fazer pelo homem por meio de Cristo. Quando nos entregamos inteiramente a Deus, e cremos plenamente, o sangue de Cristo purifica de todo pecado (Mensagens escolhidas, vol. 2, p. 32).
Note vários pontos aqui: 1. “muito pode ser feito” para restaurar a imagem de Deus no homem, para melhorar as capacidades, moral, mental, e físicas. Claramente isso se refere a um começo, um melhoramento, mas não uma plena restauração à perfeição moral, e integridade espiritual que Deus primeiramente criou.
2. “não podemos reivindicar perfeição da carne” Desde que a expressão a carne se refere à nossa natureza básica como seres humanos pecadores, e não a nosso sangue, tecidos ou ossos, essa passagem na realidade estabelece o fato de que não podemos reivindicar perfeição relativamente àquilo que somos como seres humanos, e não meramente que não podemos elevar nosso corpo físico à perfeição.
3. Devemos ter perfeição de alma. “através do sacrifício feito em nosso favor, os pecados podem ser perfeitamente perdoados” Note que Ellen White não liga a perfeição da alma à algo que acontece no crente – tal como a transformação moral, o desenvolvimento do caráter, e a maturidade espiritual. Nem ela a atribui ao crente – tal como uma obediência sem mancha, ou vida sem pecado. Ao invés disso ela associa a perfeição de alma com o que Deus faz para o crente através de Cristo, ou seja, o perfeito perdão e total purificação que somente a expiação do sangue pode produzir.
A seguinte passagem é ainda mais clara em sua rejeição da idéia de que nós podemos alcançar perfeição na carne.
“Se aqueles que falam tão francamente de perfeição na carne, pudessem ver as coisas sob seu verdadeiro aspecto, recolher-se-iam com horror de suas idéias presunçosas... Seja esse aspecto de doutrina levado um pouco mais longe, e conduzirá à pretensão de que seus defensores não podem pecar; de que uma vez que tenham carne santa, suas ações são todas santas (ibid.).
Três conceitos aqui estão particularmente relacionados com nosso tópico:
1. Aqueles que crêem que é possível para nós sermos perfeitos na carne – ou seja, em nossa presente condição pecaminosa como seres caídos – não vêem as coisas em sua luz verdadeira. 2. Se eles pudessem ver as coisas como elas realmente são, eles iriam retroceder com horror de suas idéias presunçosas. 3. A crença na perfeição na carne conduz a outro erro, a saber, à errônea idéia de que por que eles se tronaram santos, então agora eles podem viver sem pecar.
O terceiro ponto radicalmente contradiz o conceito que discutimos anteriormente, a saber, a idéia de que por causa de nossa natura é caída, pecaminosa, e vil, nós somos incapazes de render perfeita obediência. Note: 
“Era possível a Adão, antes da queda, formar um caráter justo pela obediência à lei de Deus. Mas deixou de o fazer e, devido ao seu pecado, nossa natureza se acha decaída, e não podemos tornar-nos justos. Visto como somos pecaminosos, profanos, não podemos obedecer perfeitamente a uma lei santa. Não possuímos justiça em nós mesmos com a qual pudéssemos satisfazer às exigências da lei de Deus (Caminho a Cristo, p. 62). “A lei requer justiça, e esta o pecador deve à lei; mas é ele incapaz de a apresentar (Mensagens escolhidas, p. 367). “[a Lei] não podia justificar o homem, porque em sua natureza pecaminosa este não a poderia guardar (Patriarcas e Profetas, p. 373).
A perfeição teológica que estamos discutindo aqui tem pelo menos três principais efeitos colaterais negativos: primeiro, depois de se empenhar por algum tempo para se tornar perfeitos no caráter e no comportamento, muitos se tornam desencorajados e muitas vezes desistem completamente do cristianismo. Isso é particularmente verdadeiro a respeito de jovens que como via de regra são muito honestos para enganarem a si mesmos e acreditar que estão de fato se tornando perfeitamente sem pecado como o foi Jesus. Segundo, a crença na perfeição sem pecado parece ter pouco – se é que há qualquer – efeito positivo naqueles que a abraçam. Alguém observou que não há evidências perceptíveis de que eles agora são melhores pais, vizinhos, trabalhadores, ou que os frutos do Espírito – tais como amor, bondade, tolerância, e fé – tenham alcançado um nível de maior maturidade neles do que no resto dos outros discípulos, que são imperfeitos mas estão em crescimento.
Duas razões básicas concorrem para isso: 1. Aqueles que foram persuadidos por tais idéias desenvolvem uma obsessão com uma santidade que é estritamente teológica ou intelectual. Eles parecem pensar que o que realmente conta não são as evidências tangíveis de que eles estão de fato mudando, crescendo, e amadurecendo em Cristo, mas uma prova de que eles abraçaram a idéia de que a perfeição absoluta e sem pecado como uma possibilidade nesta vida. Eles assumem que se eles simplesmente se apegarem à sua crença, eles vão de alguma forma fazer parte do remanescente. Conseqüentemente, eles geralmente são mais preocupados com convencer a outros de suas teorias do que com o esforço em desenvolver o fruto do Espírito em suas vidas pessoais.
2. A natureza escatológica que a doutrina perfeição oferece àqueles que aderem a ela traz esperança para o amanhã sem impor qualquer obrigação para hoje. Ao projetar o alcançar a perfeição ao futuro, eles são distraídos das oportunidades e das responsabilidades do presente. Por isso, ao invés de motivá-los a se esforçar sobremaneira ruma à vitória progressiva sobre algum problema específico na vida agora, eles são iludidos com uma esperança irreal de total vitória exatamente antes do fechamento da porta da graça.
O terceiro efeito colateral negativo da crença de que podemos ser perfeitamente sem pecado nessa vida é sua tremenda capacidade de enganar aqueles que a abraçam, tornando-os pessoas extremamente difíceis de dissuadir de suas idéias erradas, ou de conduzi-los a uma mais equilibrada compreensão do Evangelho de Cristo. Ellen White conhecia esse problema a partir de sua experiência pessoal:
“Sentimo-nos tristes quando vemos professos cristãos desviarem-se pela falsa e fascinante teoria de que são perfeitos, porque é muito difícil desenganá-los e levá-los ao caminho reto” (santificação, p.12). “Justiça própria é o perigo desta época; ela separa a alma de Cristo. Os que confiam em sua própria justiça não podem compreender como a salvação advém por meio de Cristo” (Fé e obras, p. 96).
Note os seguintes pontos: 1. Aqueles que acreditam ser perfeitos – que confiam nos próprios méritos para estarem justos diante de Deus – tem sido desviados por uma idéia errônea e sedutora. 2. Por essa razão é difícil quebrar seu apego a essa idéia e os ajudar a entender como a salvação vem através de Cristo. 3. Ellen White expressou tristeza e dor ao encontrá-los tão entrincheirados em sua teoria enganosa de tal forma que eles não mais estavam aptos a entender, desejar ou aceitar ao evangelho.
É importante lembrar que uma pessoa não necessita dizer, “eu sou perfeita,” para ser culpada da atitude arrogante que Ellen White achou tão ofensiva. Se tal fosse o caso, então as afirmações dela se aplicariam a poucas pessoas, uma vez que ninguém em sua sã consciência jamais ousou fazer tal afirmação. Ao invés disso ela contradisse uma certa espécie de teologia, um ponto de vista específico, a saber, a falsa e enfeitiçante teoria de que a perfeição absoluta sem pecado deve se tornar uma realidade durante nossa vida presente.
A-3. Uma visão mais equilibrada sobre o assunto da reprodução da imagem de Deus no crente
Para concluir nossa discussão nessa seção, vamos afirmar o que consideramos uma compreensão mais equilibrada desse conceito – uma compreensão que plenamente se harmonize com o cenário teológico baseado nos escritos de Ellen White tal como descrevemos nesse livro: A imagem de Deus a ser restaurada no crente no momento no qual ele é espiritualmente unido a Cristo na conversão, e continua e ser mais plenamente reproduzida nele por toda a sua vida como cristão, e chega a sua completa, final e permanente restauração na segunda vinda de Cristo. Naquele tempo – quando o reino da glória substituir o reino da graça – Deus reconduzirá todos os redimidos à condição de absoluta perfeição espiritual na qual Ele criou o homem no princípio. Como resultado de seu ato re-criativo, todos os redimidos irão então – pela primeira vez jamais – refletir a imagem de Deus em suas vidas pessoais tão completamente como Adão e Eva antes da queda.
De acordo com essa visão, a obra do Espírito Santo a e experiência do crente na vida presente – mudança, crescimento, e amadurecimento – começam a obra da transformação, mas somente o ato re-criativo de Deus no momento da glorificação completará a imagem de Cristo no redimido. Desde que a completa restauração é possível somente na segunda vinda, a última geração de crentes será dependente da mediação de Cristo na presença do Pai da mesma forma como aconteceu com as gerações anteriores. A despeito de seu progresso espiritual e de seu desenvolvimento moral, a última geração não encontrará aceitação de Deus com base de quem eles foram ou no que eles fizeram, mas no fato de que eles vieram ao Pai através do filho, e por isso são justos em Cristo.
B-1. O caráter do crente deve chegar a um estado de perfeição absoluta sem pecado antes do fechamento da porta da graça
Desde que a idéia de que o crente tem a imagem de Deus por inteiro – espírito, alma, e corpo – reconstituída nele antes do fechamento da porta da graça é indefensável, alguns têm argumentado que é apenas o caráter do crente que deve atingir um estado de perfeição absoluta sem pecado por aquele tempo. As seguintes passagens são alguma das passagens que são oferecidas como suporte a essa idéia:
quaisquer que sejam nossas tendências herdadas ou cultivadas para o mal, nós podemos vencer através do poder que Ele está pronto a conceder” (o ministério da cura, p. 176 itálicos supridos). “não há dificuldade dentro ou fora que não pode ser vencida pela força dEle... não há natureza tão rebelde que Cristo não possa subjugar, nenhum temperamento tão tempestuoso que Ele não possa acalmar, se o coração está rendido para ser guardado” (The watchman, 28/04/1908).
“Por meio do plano da redenção, Deus providenciou meios para subjugar todo traço pecaminoso, e resistir a toda tentação, por forte que seja” (mensagens escolhidas, vol. 1, p. 82; itálicos supridos). “Podemos vencer. Sim; completamente, inteiramente. Jesus morreu para prover um meio de escape para nós, para que vencêssemos todo temperamento, todo pecado, toda tentação, e nos sentar com Ele no fim” (Testemunhos para a igreja, Vol. 1, p. 144; itálicos supridos). “os que, mediante uma inteligente compreensão das Escrituras, têm uma visão adequada da cruz, os que na verdade crêem em Jesus, têm alicerce seguro para sua fé. Possuem aquela fé que opera por amor e purifica a alma de todas as suas imperfeições, herdadas e cultivadas” (Testemunhos para a igreja, Vol. 6, p. 238; itálicos supridos).
“Deus espera que nós construamos um caráter de acordo com o padrão diante de nós. Nós devemos colocar tijolo sobre tijolo, adicionando graça sobre graça, descobrindo nossos pontos fracos e corrigindo-os com as orientações que nos foram dadas” (Orientação da criança, p. 165). “Por meio da aflição revela-nos Deus os lugares infeccionados em nosso caráter, para que, por Sua graça, possamos vencer nossas faltas” (o desejado de todas as nações, p. 301). “As provas são parte da educação recebida na escola de Cristo, para purificar os filhos de Deus da escória do que é terreno... Não raro permite que o fogo da aflição os abrase, a fim de serem purificados” (Atos dos apóstolos, p. 524).
Com base numa leitura literalista de tais afirmações, alguns argumentam que completa santificação e perfeição sem falhas é algo mais ou menos assim: 1. Podemos vencer todas as nossas tendências cultivadas e herdadas para o mal através dos meios que Deus nos proveu. 2. Lutas e aflições são os instrumentos de Deus para revelar a nós nosso caráter defeituoso para que o possamos corrigir. 3. Um correto entendimento das Escrituras e uma fé verdadeira em Jesus purificam a alma de suas imperfeições. 4. Deus providenciou os meios para resistirmos a todas as tentações, mesmo as fortes, para que então pudéssemos vender completa e inteiramente. 5. Por isso nada poderia impedir a última geração de crentes de alcançar um estado de total justiça de existência e de uma conduta completamente livre de pecado.
B-2 Um exame da idéia de que o caráter dos crentes deve chegar a um estado de perfeição sem pecado antes do fechamento da porta da graça.
Antes de chegar a quaisquer conclusões tanto sobre o significado preciso das passagens simplesmente citadas ou da verdadeira posição de Ellen White sobre esse assunto, devemos considerar alguns fatores e conceitos essenciais para um entendimento correto de toda a questão: 1. Não há nada intrinsecamente errado com essas afirmações – ela dificilmente poderia ter usado palavras de outra maneira. Ellen White não poderia dizer, por exemplo, que nós podemos vencer algumas tendências para o mal, que Jesus pode subjugar apenas algumas naturezas rebeldes, e aquietar apenas alguns temperamentos tempestuosos. Além de não ser a verdade por inteiro, tal fraseado poderia conduzir tanto à racionalização ou ao desencorajamento por parte dos leitores lutando com tais realidades em suas vidas.
2. O problema é criado quando forçamos as passagens além de seus limites próprios, quando respeitamos o fraseado, mas não a intenção, ou quando fazemos com que o significado literal neutralize o mais profundo, e mais significativo conceito que ele contém. Há uma radical diferença entre dizer, por exemplo, que Deus não raramente usa provas e aflições para nos revelar alguns defeitos específicos em nosso caráter e em afirmar que lutas e aflições são os meios através dos quais nós venceremos “cada uma” de nossas imperfeições para que então alcancemos perfeição absoluta. Não temos maior direito de afirmar de que podemos ser perfeitos e sem pecado por que Ellen White disse que podemos vencer todo pecado, do que podemos afirmar que temos infalibilidade teológica uma vez que Jesus prometeu que o Espírito Santo “nos guiará em toda verdade” (João 16:13), ou que podemos prever o futuro uma vez que Paulo disse que podemos “todas as coisas através de Jesus Cristo” (Filipenses 4:13 King James version).
Para ilustrar como um leitor conduzido por uma falsa metodologia pode ser levado a erros teológicos, vamos supor que o irmão A e o irmão B leram as passagens citadas na seção B-1. O irmão A está experimentando algumas dificuldades espirituais. Ele luta com algumas tendências ao mal profundamente enraizadas, se esforça para melhorar seu temperamento tempestuoso, e encara algumas tentações persistentes em sua vida pessoal. O irmão B, por outro lado, procura em Ellen White algum suporte para a idéia de que a última geração de crentes deve vencer todas as formas de pecado em suas vidas e desenvolver perfeição absoluta de existência antes do fechamento da porta da graça acontecer para o mundo.
Obviamente, cada homem interpretará e aplicará os conceitos expressos nas passagens de forma radicalmente diferente um do outro. O que cada um “vê” nessas passagens, o que elas significam para cada um pessoalmente, pode ser bastante distinto. O irmão A provavelmente percebe a partir dos textos que nenhum ser humano tem um problema tão singular, severo, ou complicado para com o pecado que Deus não possa o ajudar a resolver. Ele verá que seu caso não é sem esperança apesar de tudo – como ele se sentiu tentado em acreditar. E ele se encorajará pelo fato de que, por mais sério como seu problema possa ser, Deus providenciou os meios pelos quais ele eventualmente achará uma solução.
Em contraste, o irmão B muito provavelmente usa tais citações como evidências de que os escritos de Ellen White dão suporte às suas idéias extremadas. Pois se não há nada que não pode ser vencido através dos meios que Deus proveu, o que poderia possivelmente impedir a última geração de crentes de se tornarem absolutamente perfeitos e sem pecado, e moralmente justos na mesma medida do próprio Jesus Cristo?
É a esse ponto específico que uma metodologia defeituosa nos coloca em dificuldades. Com o objetivo de ser fiel ao texto o irmão B deve permitir com que Ellen White fale por si mesma. Ele deve começar seu estudo estabelecendo tão precisamente quanto por possível o que exatamente ela intencionava quando primeiramente ela escreveu essas passagens.  Dessa forma, ele tem que determinar se ela está tentando provar – como ele está tentando – que o crente pode e deve alcançar um estado de perfeição absoluta sem pecado antes do fechamento da porta da graça. Se isso não for o que ela estava tentando provar, então o irmão B não tem direito de usar as afirmações dela como um suporte para suas idéias. Fazer tal coisa seria distorcer os ensinamentos dela, e, portanto, fazê-lo seria eticamente incorreto e teologicamente enganoso.
A menos que o irmão B interprete essas passagens dentro da temática contextual à qual elas pertençam, ele estabelecerá uma construção diferente sobre o que elas realmente dizem e conseqüentemente fará com que elas signifiquem algo radicalmente diferente do que Ellen White tinha em mente. Como resultado, os conceitos que ela intencionava expressar e as idéias que o irmão B advoga não estão relacionados, a despeito de que a linguagem usada seja a mesma. Uma passagem que é válida e própria quando interpretada e aplicada como o autor desejava pode conduzir a sérios problemas teológicos quando nós desconsideramos tanto seus limites, quanto seus intentos e seu significado mais profundo.
3. Conquanto a expiação de Cristo tenha acontecido num momento específico da história, sua obra redentora – com todas as maravilhosas possibilidades que ela proporciona ao crente – abrange toda a humanidade desde o princípio até o fim do tempo. Por isso as promessas redentoras de Deus se aplicam com igual força desde ao primeiro pecador que volveu a Deus com arrependimento e fé e até o último pecador que o faça exatamente antes do fechamento da porta da graça.
Por isso, a segurança da vitória que nos é revelada nas passagens tais quais estamos considerando aqui não é algo novo e diferente e que não era real anteriormente, mas que se tornou uma possibilidade apenas no tempo em que Ellen White escreveu a seu respeito. Muito menos é uma promessa especial que se aplica apenas à última geração de crentes enquanto eles se preparam para o juízo pré-advento, o fechamento da porta da graça e para o tempo de angústia. Pelo contrário, suas afirmações se estendem para todas as gerações de crentes, e, portanto, não deveríamos tratá-las como se elas fossem tanto uma obrigação particular, ou um privilégio exclusivo da última geração.
Isso nos guia a questões cruciais: Se obter vitória sobre tudo que deve ser vencido para se atingir perfeição absoluta sem pecado fosse tão simples quanto as passagens citadas na seção B-1 parecem indicar, por que é que ninguém jamais transcendeu sua pecaminosidade, imperfeição e indignidade pessoal? Por que ninguém jamais se elevou sobre sua condição caída e teve sucesso em oferecer uma obediência perfeita? Por que nem mesmo os profetas e os apóstolos, aqueles gigantes espirituais que mais perto estiveram de Deus – homens que morreram por sua fé – jamais alcançaram estado de total santificação e completa justiça própria? Note:
“Nenhum dos apóstolos e profetas declarou jamais estar sem pecado. Homens que viveram o mais próximo de Deus, que sacrificariam a vida de preferência a cometer conscientemente um ato mau, homens a quem Deus honrou com divina luz e poder, confessaram a pecaminosidade de sua natureza. Eles não puseram a sua confiança na carne, nem alegaram possuir justiça própria, mas confiaram inteiramente na justiça de Cristo” (Atos dos apóstolos, p. 561).
“Quando o Espírito de Cristo comove o coração com seu maravilhoso poder despertador, há um senso de deficiência na alma que conduz à contrição da mente, e humilhação se si, ao invés de jactância orgulhosa do que se atingiu” (Review and Herald, 16/10/1888). Homem algum pode, olhando para dentro de si, encontrar em seu caráter o que quer que seja que o recomende a Deus, ou lhe assegure aceitação. É unicamente por Jesus, a quem o Pai deu para que o mundo vivesse que o pecador pode encontrar acesso a Deus. Jesus, unicamente, é nosso Redentor, nosso Advogado e Mediador; nEle reside nossa única esperança de perdão, paz e justiça” (Mensagens escolhidas, Vol.1, pp. 332-333).
Uma vez que já discutimos esse assunto previamente, proveremos apenas cinco razões básicas que deveriam ajudar a responder nossas questões adequada e suficientemente no propósito que temos aqui:
Um: a formação de um caráter justo é uma atividade progressiva que dura o tempo de uma vida.
“A construção do caráter é obra, não de um dia, nem de um ano, mas de uma vida inteira. A luta para vencer a si mesmo, pela santidade e pelo céu, é a luta de uma vida. Sem contínuo esforço e constante atividade, não pode haver avança na vida divina, nenhum alcance da coroa da vitória” (Ministério da cura, p. 452; itálicos supridos).
A formação de um caráter nobre é a obra de uma vida toda e deve ser o resultado de diligente e perseverante esforço. Deus dá as oportunidades; o sucesso depende da maneira como as usamos (Patriarcas e profetas, p.223). A preciosa graça do Espírito Santo não é desenvolvida em um momento. Coragem, força, bondade, fé, confiança inabalável no poder de Deus para salvar, são adquiridas pela experiência dos anos (Testemunhos para a igreja, Vol. 8, p. 314; itálicos supridos).
Baseados nessas passagens, concluímos: 1. Somente aqueles que começam formando um caráter nobre no nascimento e com sucesso continuam a fazê-lo durante todo o período de sua vida tem a chance de desenvolver um caráter sem mancha. 2. Uma vez que leva uma vida inteira para formar um caráter justo, se segue que uma pessoa não o completa antes do fim de seus dias. 3. Por que o fechamento da porta da graça não completa nada, mas interrompe tudo, ele também estanca o processo do desenvolvimento do caráter, frustrando dessa forma a possibilidade de sua completude.
Dois: Um caráter justo só pode ser formado somente através de obediência perfeita.
“verdadeira santificação... consiste na realização alegre de nossos deveres cotidianos em obediência perfeita à vontade de Deus (Parábolas de Jesus, p. 360; itálicos supridos). “Era possível a Adão, antes da queda, formar um caráter justo pela obediência à lei de Deus. Mas deixou de fazê-lo e, devido ao seu pecado, nossa natureza se acha decaída, e não podemos tornar-nos justos. Visto como somos pecaminosos, profanos, não podemos obedecer perfeitamente a uma lei santa. Não possuímos justiça em nós mesmos com a qual pudéssemos satisfazer às exigências da lei de Deus” (Caminho a Cristo, p. 62).
Por causa do fato de que um caráter justo só pode ser desenvolvido através de perfeita obediência, e nossa obediência é na melhor das hipóteses parcial e imperfeita, se segue logicamente que não podemos formar um caráter de tal qualidade que Deus possa aceitar por causa de seus próprios méritos. Quando combinamos o ponto um com o ponto dois descobrimos que somente aqueles que renderam obediência perfeita toda a sua vida – do nascimento à morte – poderiam possivelmente alcançar um caráter justo. Isso deixa Jesus numa categoria somente dele, e justamente, uma vez que Ele foi o único que jamais viveu em plena harmonia com a vontade de Deus em todos os aspectos e por toda a sua vida. Mas aqueles que fazem parte de um dos seguintes grupos não têm a qualificação necessária que os habilitaria a desenvolver um caráter justo:
1. Aqueles que experimentam períodos de estagnação ou regressão em algum tempo durante toda a sua vida. Sua falha temporária de crescer e amadurecer retarda o progresso e, portanto, frustra suas chances de desenvolver caráter perfeito antes do fechamento da porta da graça. 2. Aqueles cujas vidas são cortadas cedo por algum tipo de morte prematura – por acidente, doença, guerra, etc. – e, portanto, têm um período reduzido para transcender suas imperfeições e então atingir um estado de justiça. 3. Aqueles que aceitam o evangelho tarde na vida, e conseqüentemente não têm um pleno tempo de vida durante o qual eles vençam as atitudes pecaminosas, tendências, e hábitos, e os substituir por coisas justas. Isso será particularmente verdade para aqueles que experimentarem a conversão pela primeira vez exatamente antes do fechamento da porta da graça. Desde que “a preciosa graça do Espírito Santo” “é adquirida na experiência dos anos” e eles têm apenas um período curto durante o qual devem atingir tais virtudes, devemos assumir que esses estariam automaticamente desqualificados.
Evidentemente temos um problema duplo aqui. De um lado é difícil entender como alguém poderia defender a idéia de que milhões de crentes vivendo na terra durante o tempo do fim completarão a formação de um caráter cristão maduro exatamente antes do fechamento da porta da graça. Como qualquer outra geração, essa consiste de indivíduos de diferentes origens, tanto em características pessoais quanto em experiência espiritual. Haverá crianças, adolescentes inexperientes, idosos fracos e doentes. Alguns crentes serão cristãos há muito tempo, enquanto outros serão bebês recém-nascidos em Cristo. Uma vez que cada um deles terá uma experiência única com Deus e se encontrarão num estado de mudança, crescimento, amadurecimento que será diferente uns dos outros, é totalmente irreal esperar que todos eles alcancem caráter perfeito todos ao mesmo tempo (e da mesma forma).
Por outro lado, é difícil entender como alguém pode confundir tais teorias com o Evangelho das Escrituras. Vimos anteriormente que, de acordo com as Escrituras, todos que aceitam a obra redentora de cristo em seu favor terão a vida eterna. Jesus é “capaz de salvar perfeitamente aqueles que vão a Deus através dele” (Heb 7:25) independentemente de raça, cor, localização geográfica, o tempo particular em que viveram, ou o ponto específico durante seu tempo de vida quando eles responderam ao Evangelho com arrependimento e fé. Adiante, vimos que todos os filhos e filhas de Deus em Cristo são herdeiros de seu reino, não apenas aqueles adotados suficientemente cedo na vida para ter tempo suficiente para presumivelmente completar o processo de vencer seus defeitos, desenvolver caráter justo, e aprender a viver sem pecar.
Por que ele foi a Cristo na undécima hora, o ladrão da cruz dificilmente experimentou qualquer desenvolvimento de caráter ou modificação de comportamento antes de ser selado para seu destino eterno em sua morte. Ainda assim Jesus prometeu que ele estará no paraíso. Obviamente que tal “tição tirado do fogo” (Zacarias 3:2) não é um caso isolado. Só Deus sabe quantos milhões de pessoas por toda a história humana tornaram a Deus pela primeira vez no leito de morte. Da mesma forma, somente Ele sabe quantos milhões mais pela primeira vez aceitarão o evangelho em resposta ao derramamento da chuva serôdia do Espírito Santo brevemente antes do fim do tempo.
Agora, se somente aqueles que transcenderam todas as suas imperfeições, desenvolveram uma existência de justiça sem mancha, e aprenderam a viver sem pecar estariam seguros da salvação, então nenhum dos milhões que crerão nos últimos minutos teriam qualquer esperança de vida eterna. Nesse caso, todos que aceitaram a Deus breve tempo antes de morrer, e todos que se tornarão crentes em resposta ao apelo final de Deus exatamente antes do fechamento da porta da graça, estarão eternamente perdidos por que não tiveram tempo de desenvolver essa perfeição de caráter. Tal resultado significaria que as promessas escriturísticas de perdão e reconciliação para aqueles que vêem ao Pai através do Filho não se aplicariam a eles. Que eles se renderam ao mover o Espírito, aceitaram a última mensagem de Deus de misericórdia e colocaram sua confiança completa em Cristo e em sua obra redentora em seu favor, em vão. Uma teoria que cria complicações tais como essas está claramente em desarmonia com o Evangelho das escrituras.
Três: Em passagens como as que foram citadas na seção B-1, nas quais Ellen White encoraja o crente a continuar sua luta cristã e os conclama urgentemente a se elevar a objetivos mais altos e de se esforçar em direção à perfeição, ela é positiva sobre suas possibilidades de serem bem sucedidos. Contudo, em passagens nas quais ela descreve a experiência daqueles que encararão o juízo pré-advento durante suas vidas, ela apresenta um quadro radicalmente diferente. Como vimos previamente (nos capítulos 3 e 4) ela claramente indica que nenhum daqueles que ainda estavam vivendo pela fé quando morreram nem aqueles que estarão vivos que estarão vivendo pela fé quando se der o fechamento da porta da graça alcançou ou alcançará o alvo da perfeição absoluta sem pecado. Em ambos os casos elas menciona especificamente seus “defeitos de caráter” ou “caráter defeituoso” e sua “dessemelhança com Cristo,” e aponta para o fato de que eles são declarados justos perante Deus estritamente na base dos méritos do Salvador imputados a eles pela fé.
Quatro: Os escritos de Ellen White pintam perfeição de caráter como algo relativo e progressivo, não total e completo.
“A germinação da semente representa o começo da vida espiritual, e o desenvolvimento da planta é uma figura do desenvolvimento do caráter. Não pode haver vida sem crescimento... Nossa vida pode ser perfeita em cada estágio de seu desenvolvimento; contudo, se o propósito de Deus para conosco se cumpre, haverá constante progresso” (Educação, pp.105, 106; itálicos supridos). “Não somos ainda perfeitos; mas é nosso privilégio desvencilharmo-nos dos obstáculos do eu e do pecado e prosseguir para a perfeição” (Atos dos apóstolos, p. 565; itálicos supridos).
“O homem deve crescer em direção a Cristo, sua cabeça viva. Não é a obra de um momento, mas de uma vida. Ao crescer diariamente na vida divina, ele não atingirá a plena estatura de um homem perfeito em Cristo até que seu tempo de graça termine. Esse crescimento é obra contínua” (Testemunhos para a igreja, Vol. 4, p.367; itálicos supridos). “Enquanto reinar Satanás, teremos de subjugar o próprio eu e vencer os pecados que nos assaltam; enquanto durar a vida não haverá ocasião de repouso, nenhum ponto a que possamos atingir e dizer: "Alcancei tudo completamente." (Atos dos apóstolos, pp. 560, 561; itálicos supridos). “Em nós mesmos somos pecadores; mas em Cristo somos justos” (Mensagens escolhidas, Vol. 1, p.394; itálicos supridos).
“Aqueles que estão realmente buscando o perfeito caráter cristão, jamais condescenderão com o pensamento de que estão sem pecado... quanto mais consagram a mente para se demorar no caráter de Cristo e mais se aproximam de Sua divina imagem, tanto mais claramente discernirão Sua imaculada perfeição e mais profundamente sentirão seus próprios defeitos” (santificação, p. 7; itálicos supridos). “Não pode haver exaltação própria, jactanciosa pretensão à libertação do pecado, por parte dos que andam à sombra da cruz do Calvário... Os que mais perto vivem de Jesus, mais claramente discernem a fragilidade e pecaminosidade do ser humano, e sua única esperança está nos méritos de um Salvador crucificado e ressurgido (Grande conflito, p. 471); itálicos supridos).
Se devemos entender a complexa visão de Ellen White sobre esse assunto, devemos dar atenção adequada a vários ponto aqui: 1. Conquanto ela diga que nossas vidas são “perfeitas” ao mesmo tempo ela nos diz que “ainda não somos perfeitos.” Temos defeitos, somos pecaminosos, erramos o alvo, e somos indignos. 2. Enquanto nossas vidas podem ser perfeitas a cada estágio de desenvolvimento – como uma semente recentemente germinada, como uma planta em crescimento, como um ramalhete de flor – nós continuamos a avançar para a perfeição. 3. Nossa batalha contra o eu e contra o pecado, de um lado, e nosso esforço por justiça e por santidade em outro lado, nunca serão completos nessa vida. Nunca alcançaremos uma posição onde estaremos livres do pecado ou atingiremos a perfeição de caráter antes que nosso tempo de graça termine.
Em vista desses fatores, concluímos que conquanto Ellen White fale da perfeição de caráter do crente, ela entende algo radicalmente diferente das idéias advogadas pelo pastor Jones, o grupo da carne santa, e outros. Jones e seu grupo falaram de um produto finalizado – um estado ou momento de absoluta impecaminosidade e total justiça que o crente efetivamente alcança. Eles escreveram sobre caráter sem mancha, falhas, ou deficiências – um caráter que tem a mesma qualidade moral e perfeição espiritual iguais as do Salvador. Supostamente se as pessoas que possuíssem tais qualificações contemplassem o caráter de Cristo bem de perto, e eles não se aperceberiam de seus próprios defeitos, como Ellen White diz ser o caso de todos os verdadeiros crentes. Ao invés disso eles concluiriam que eles de fato têm igualado o padrão absoluto que o caráter de Cristo estabelece, e, portanto, que são dignos da vida eterna.
Ellen White, por outro lado, fala de um processo de mudança, crescimento, e amadurecimento que é progressivo e nunca chega à sua culminação nessa vida. Ela descreve uma experiência possível apenas através de nossa relação de fé com Jesus Cristo, e acontece dentro do contexto do Concerto da Graça. Isso nos traz um uma unidade espiritual gradual com Cristo, e nos faz mais e mais conscientes de nossa total dependência de sua justiça salvadora, para estarmos corretos para com Deus. De acordo com a visão dela, nosso relacionamento pessoal com Cristo é a realidade dinâmica que gera tanto nossa aceitação para com Deus e nosso crescimento como discípulos.
Quinto: Os escritos de Ellen White centralizam a perfeição de caráter do crente em Cristo e em sua obra redentora em favor do homem.
“Cristo veio, a fim de restaurar no homem a imagem de seu Criador. Ninguém, senão Cristo pode remodelar o caráter arruinado pelo pecado... Veio para nos erguer do pó, reformar o caráter manchado, segundo o modelo de Seu divino caráter, embelezando-o com Sua própria glória” (O desejado de todas as nações, pp. 37, 38; itálicos supridos).
“Através dos méritos de Cristo, através de sua justiça, que é pela fé imputada a nós, devemos atingir a perfeição do caráter cristão (Testemunhos para a igreja, Vol. 5, p. 744; itálicos supridos). “Apesar de a imagem moral de Deus ter sido quase obliterada pelo pecado de Adão, através dos méritos e poder de Jesus ela pode ser restaurada. O homem deve se levantar com a imagem moral de Deus em seu caráter, pois Jesus a dará a ele (Review and Herald, 10/06/1890; itálicos supridos).
“Os que rejeitam o dom da justiça de Cristo estão rejeitando os atributos de caráter que os constituiriam filhos e filhas de Deus. Rejeitam aquilo que, unicamente, lhes poderia conceder aptidão para um lugar na ceia de bodas” (Parábolas de Jesus, pp. 316, 317; itálicos supridos).
Devemos pegar vários pontos que ela estabelece: 1. Ellen White identifica a obra de restauração da imagem de Deus e da transformação do nosso caráter como algo que é feito por Cristo, e não por nós. E. Ele tornará nosso caráter belo “com sua própria glória” – isso é claramente algo que Ele provê e não algo que nós desenvolvemos. 3. Nós devemos atingir a perfeição do caráter cristão através dos méritos e da justiça de Cristo imputadas a nós pela fé. Isso significa que o método, ou o caminho para atingirmos perfeição de caráter não é centralizado em nosso crescimento pessoal, mas na mediação de Cristo em nosso favor.
4. O crente terá novamente a imagem de Deus em seu caráter por que “Jesus o dará a ele.” 5. A justiça de Cristo, que somente pode ser nossa como um presente (dom), consiste “atributo do caráter” que unicamente pode nos tornar aptos para o Reino. 6. O caráter que Cristo formou como Deus/homem, ele imputará a nós, e é nossa possessão do caráter de Cristo que determina nossa aceitação por parte de Deus.
“À medida que tivermos mais clara visão da infinita e imaculada pureza de Cristo, sentir-nos-emos como Daniel, quando contemplou a glória do Senhor e disse: "Transmudou-se em mim a minha formosura, em desmaio." Dan. 10:8. Não podemos dizer "estou sem pecado", antes que este vil corpo seja transformado segundo a semelhança de Seu corpo glorioso. Se, porém, buscarmos constantemente seguir a Jesus, será nossa a bendita esperança de nos apresentar ante o trono de Deus sem mácula, ou ruga ou coisa semelhante; perfeitos em Cristo, revestidos de Sua justiça e perfeição” (Para conhecê-lo, p. 361).
A passagem precedente reforça dois pontos que mencionamos antes: 1. Não podemos clamar estar sem pecado até o segundo advento, no qual Deus nos restaurará ao estado original de perfeição absoluta e sem pecado. Como apontamos antes, a razão pela qual não podemos clamar estar sem pecado não é que haja algo errado com o atual significado dessas palavras, mas por que simplesmente isso não é verdade. 2. Se constantemente procurarmos seguir a Jesus, nós estaremos de pé diante do trono de Deus completos em cristo, vestidos com sua justiça e perfeição. Claramente o que nos capacita para comparecer imaculados perante Deus não é a perfeição de caráter que tivermos desenvolvido, mas a justiça de Deus que é imputada a nós pela fé.
A seguinte passagem provê o equilíbrio adequado para entendermos esse conceito corretamente. Falando sobre a experiência de Daniel na presença do Filho de Deus (Dan. 10:5-8), Ellen White atesta:
Todos os que estão verdadeiramente santificados, hão de ter experiência semelhante. Quanto mais claras suas visões da grandeza, glória e perfeição de Cristo, tanto mais vividamente verão sua própria fraqueza e imperfeição. Não terão nenhuma disposição para dizer que têm caráter impecável; aquilo que neles tem parecido correto e conveniente, aparecerá, em contraste com a pureza e glória, ser indigno e corruptível. É quando os homens... têm distorcidas visões de Cristo, que dizem: "Eu estou sem pecado; estou santificado" (Santificação, pp. 50, 51; itálicos supridos).
Note: 1. Essa passagem não descreve a condição tanto de novos crentes, ou daqueles que tem uma vida espiritual precária. Ao contrário, ela descreve aqueles que, como Daniel, “são verdadeiramente santificados.” 2. Tais crentes não consideram e eles mesmos como fracos imperfeitos, e indignos por causa de sua falta de discernimento espiritual, mas por que tem uma confiável visão da perfeição de Cristo. É em contraste à sua pureza que eles vêem a eles mesmos como eles realmente são – como Deus os veria se a perfeita justiça de Cristo não os cobrisse.
3. Finalmente, esses crentes não evitam afirmar que eles têm caráter sem pecado tanto por extrema modéstia ou porque fazer tal afirmação seja inerentemente errado – mesmo por que, não há nada errado em dizer algo que seja um fato de verdade, algo que alguém possa substanciar com evidências sólidas. A razão pela qual “eles não têm disposição de afirmar possuir um caráter perfeito” é que a distinta visão que eles têm de Cristo os tornou dolorosamente cônscios de que o caráter que eles têm está longe de ser perfeito, e por causa disso seria errado para eles fazer tal afirmação.
“Cristo nos apresenta a mais alta perfeição de caráter cristão que devemos ter em mira por todo o nosso tempo de vida. ... Quanto a essa perfeição, Paulo escreve: "Não que já a tenha alcançado ou que seja perfeito; mas prossigo para alcançar aquilo para o que fui também preso por Cristo Jesus. ... Prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus”  (Para conhecê-lo, p. 130; itálicos supridos).
“O ideal do caráter cristão é a semelhança com Cristo. Há diante de nós um caminho aberto de constante avanço. Temos um objetivo a ganhar, um padrão para alcançar, isso inclui tudo que é bom, e puro, e nobre, e elevado. Deveria haver constante esforço e constante progresso adiante e para cima em direção à perfeição de caráter” (Testemunhos para a igreja, Vol. 8, p. 64; itálicos supridos). “Quando o coração está disposto a obedecer a Deus; quando se fazem esforços neste sentido, Jesus aceita esta disposição e este esforço como sendo o melhor serviço do homem, e preenche a deficiência, dando-lhe Seu mérito divino” (Minha consagração hoje, p. 250; itálicos supridos).
Essas passagens trazem juntas os três elementos mais significantes concernentes ao tópico do desenvolvimento do caráter: 1. O padrão foi estabelecido – o ideal em direção ao qual devemos nos esforçar – é a semelhança com Cristo. Isso inclui tudo que é bom, puro, nobre e elevado. 2. A obrigação do crente é se esforçar, perseverar, prosseguir ao alvo de atingir o objetivo da perfeição de caráter, de experimentar constante progresso para avante e para cima por todo seu tempo de vida. 3. Quando esse é o objetivo deliberado do crente – quando ele faz o que Deus sabe ser razoável de se esperar dele – então Jesus aceita sua disposição e seus esforços e preenche suas deficiências. Como resultado, o crente é aceito como sendo justo em Cristo, pela fé, a despeito do fato de que ele é ainda imperfeito e indigno em si mesmo, por sua natureza.
B-3 Um entendimento mais equilibrado do assunto da perfeição de caráter
Em termos gerais podemos dizer que Deus quer cumprir um propósito duplo através do plano da redenção: (1) restaurar o homem à condição de integridade e perfeição espiritual no qual ele foi inicialmente criado, e (2) restaurar o relacionamento entre Ele mesmo e o homem que o pecado destruiu. Tal restauração dupla capacitará os redimidos a serem trazidos de volta à presença imediata de Deus para renovar a unidade espiritual e comunhão pessoal com Deus da qual Adão e Eva desfrutaram antes da queda.
Na maioria dos casos, o plano de Deus para trazer o homem ao estado original se realiza totalmente em três estágios básicos. 1. Na conversão o pecador tornado crente experimenta um despertar espiritual fundamental. Sua atitude básica para com Deus, para consigo mesmo, para com o pecado, e para com as pessoas muda radicalmente. Em suas afeições ele encontra um novo centro, sua vontade se torna alinhada com a vontade de Deus e sua vida toma uma direção inteiramente nova.
2. Por toda a sua vida como um filho adotivo de Deus em cristo ele experimenta uma mudança progressiva, crescimento, e amadurecimento que o capacita a refletir mais e mais as virtudes do caráter santo de Cristo em sua vida pessoal. Essa é uma obra progressiva que varia de pessoa para pessoa e nunca é absolutamente completa nessa vida. Durante esse tempo, “Cristo trabalha dentro de nós e sua justiça está sobre nós” (mensagens escolhidas, Vol. 1, p. 360 (395, nota do tradutor)). Desde que o que Jesus faz em nós envolve o que nós somos como seres pecadores, é sempre parcial e incompleto, e por causa disso dependemos de seus méritos imputados a nós para sermos aceitos por Deus. Em contraste, o que Ele faz por nós envolve o que Cristo é – sua justiça pessoal, e seu caráter perfeito – e por causa disso é sempre total, completo e totalmente aceitável a Deus em nosso favor.
3. Na segunda vinda de Cristo, quando o eternal substituir o temporal, e a incorrupção à corrupção, todos os filhos de Deus serão total e permanentemente restaurados à perfeição absoluta na qual não há pecado. Então, e não antes disso, o pleno de Deus para nossa redenção alcança seu cumprimento. Tanto o relacionamento que o pecado destruiu e os seres que ele perverteu serão novamente exatamente o que eles eram antes da queda.
2. Uma significativa e controvertida passagem examinada
Nessa seção vamos ilustrar como uma investigação cuidadosa de uma passagem em particular pode às vezes levar o pesquisador a uma interpretação radicalmente diferente da conclusão que ele teria alcançado com base numa leitura superficial do texto. Escolhemos essa passagem em particular por três razões básicas. Primeiro, ela aparentemente apóia a teoria de que aqueles crentes que estiverem vivos no segundo advento devem ser perfeitos, da mesma forma que Jesus. Segundo, é uma parte de um livro publicado na década de 1880, e por causa disso pode ter sido que essa foi uma das passagens que Jones e seus seguidores usaram para apoiar suas idéias extremadas. E terceiro, esse texto não é um testemunho direcionado para um indivíduo em particular, mas é parte de um livro intencionado para ter larga circulação pública – um fato que aumenta seu significado teológico.
Agora, enquanto nosso grande Sumo Sacerdote está a fazer expiação por nós, devemos procurar tornar-nos perfeitos em Cristo. Nem mesmo por um pensamento poderia nosso Salvador ser levado a ceder ao poder da tentação. Satanás encontra nos corações humanos algum ponto em que pode obter apoio; algum desejo pecaminoso é acariciado, por meio do qual suas tentações asseguram a sua força. Mas Cristo declarou de Si mesmo: "Aproxima-se o príncipe deste mundo, e nada tem em Mim." João 14:30. Satanás nada pôde achar no Filho de Deus que o habilitasse a alcançar a vitória. Tinha guardado os mandamentos de Seu Pai, e não havia nEle pecado que Satanás pudesse usar para a sua vantagem. Esta é a condição em que devem encontrar-se os que subsistirão no tempo de angústia” (O grande conflito, p. 623; itálicos supridos).
Uma leitura causal poderia facilmente conduzir à impressão de que Ellen White concordava com a idéia de que antes do fechamento da porta da graça, o povo de Deus deve desenvolver justiça pessoal que se equipare à de Cristo e aprenda a viver sem pecar – mesmo em pensamentos – tal como Jesus viveu. Mesmo por que, a passagem afirma que: o povo de Deus tem que ser perfeito, que Jesus não sucumbiu à tentação nem por um pensamento, que Satanás não pôde encontrar nele nenhum pecado que ele poderia usar para ter vantagem, e que essa é a condição daqueles que devem enfrentar o tempo de angústia.
Contudo, com base numa investigação mais próxima, concluímos que tal interpretação é inaceitável. Primeiro, por que cria alguns problemas sérios. Vamos considerar apenas três desses problemas. 1. Se Ellen White realmente acreditava que o povo de Deus pode e deve alcançar um estado de perfeição, sem pecado – assim como Jesus – antes do fechamento da porta da graça, então é extremamente difícil de entender por que ela se opôs tão decisivamente a Jones quando ele promoveu tal ideia. É também difícil de ver como ela poderia ter advogado exatamente o mesmo ensinamento que ela chamou de engano, provas feitas por homens, uma mensagem de erro que impede que a verdadeira mensagem de Deus seja aceita, etc. Tal curso de ação teria sido completamente inconsistente – uma óbvia e inaceitável contradição que teria manchado severamente sua credibilidade para com aqueles que desejariam levar ela a sério.
2. Fazer essa passagem endossar as idéias de Jones a coloca em tensão com seu contexto conceitual. Como vimos anteriormente, esse capítulo é parte que estabelece que o povo de Deus vivendo no tempo de angústia não são mais impecáveis, justos, ou dignos de salvação do que qualquer geração antecedente de crentes. Ela afirma que eles podem ver pouco bem em suas vidas inteiras e estão plenamente conscientes de suas imperfeições, fraquezas e indignidade, e conseqüentemente, dependem de Cristo para estarem em pé diante de Deus. Eles têm a segurança da vida eterna, não por que tenham transcendido suas condições caídas e atingido integridade espiritual igual à de Jesus, mas por que eles se arrependeram de seus pecados e aceitaram plenamente a obra redentora de Cristo em seu benefício.
3. Se a citação realmente afirma que aqueles que enfrentarão o tempo de angústia devem sem tão sem pecado e tão justos quanto Jesus Cristo, então ela contradiz um considerável número de conceitos significativos claramente estabelecidos em outros textos nos escritos de Ellen White. Nesse caso, seus escritos não seriam capazes de ajudar a esclarecer a dinâmica do plano de Deus para a salvação dos homens pecadores. Ao contrário, ao advogar duas visões opostas simultaneamente, eles confundiriam e desviariam o leitor que acabasse por consultar primeiro um particular grupo de escritos e que determinariam suas conclusões. Uma interpretação que conduz a problemas tão significativos tem que ser abandonada como sendo inadequada.
A segunda razão pela qual a interpretação acima é inaceitável é que ela não reflete o real significado de verdadeiro intento da passagem em questão. Quando a examinamos mais de perto, encontramos quatro conceitos maiores e que devemos considerar para a entendermos corretamente. 1. “devemos procurar tornar-nos perfeitos em Cristo.” Há uma diferença sutil, ainda que extremamente significativa, entre desejar se tornar “perfeito em Cristo” e tentar ser “perfeito” como Cristo. Ser perfeito como Cristo é ser tão justo, santo, e digno em nós mesmos quanto Jesus era em si mesmo. Isso significa alcançar em nossas vidas uma integridade espiritual igual à perfeição do salvador em cada aspecto singular. Mas essa não é a meta que essa passagem estabelece aos crentes. Ao contrário, ela desafia o crente a se tornar perfeito em Cristo, que, como vimos anteriormente – especialmente no primeiro capítulo – significa ser justos através dos méritos de Cristo imputados a nós pela fé.
2. “Agora, enquanto nosso grande Sumo Sacerdote está a fazer expiação por nós, devemos procurar nos tornar perfeitos em Cristo.” Duas razões nos compelem a nos tornarmos como Jesus agora, enquanto Jesus ainda está fazendo expiação por nós – por que “Os que se retardam no preparo para o dia de Deus, não o poderão obter no tempo de angústia, ou em qualquer ocasião subseqüente. O caso de todos estes é sem esperanças” (ibid., p.620). Primeiro, por que o perdão de Deus aos nossos pecados e a justiça salvadora de Cristo pela qual somos aceitos por Deus são unicamente mediados por Cristo enquanto Ele ministra ativamente em nosso favor na presença do Pai. Se segue que por causa disso que se queremos que nossos pecados vão a julgamento de antemão, e sejam apagados, se queremos estar cobertos com a justiça imputada de Cristo e desta forma permanecer imaculado diante do tribunal de Deus, então nós devemos nos assegurar do perdão de Deus e nos apropriarmos dos méritos do Salvador antes que Jesus cesse de fazer mediação em nosso benefício.
Segundo, por que o nosso destino eterno será selado no ponto em que Jesus completar sua obra ministerial mediadora por assegurar o veredito final e irrevogável da aceitação de Deus. Uma vez que o julgamento cessa e nossos casos são permanentemente lacrados, será muito tarde para fazer qualquer coisa para mudar a decisão de Deus. Agora enquanto estamos em nosso tempo de graça – hoje é o dia da salvação. Por isso, qualquer coisa que desejemos fazer para afetar nosso destino eterno de uma forma ou de outra deve ser feito agora. O caso daqueles que falharem em se tornar perfeitos em Cristo enquanto agora ele faz mediação em nosso favor “é sem esperança” precisamente por que uma vez que Jesus complete seu ministério mediador no céu, os benefícios de sua obra redentora não estão mais disponíveis para eles. Como resultado, eles perderam os únicos meios pelos quais eles poderiam ser reconciliados com Deus e ser adotados em sua família de crentes.
3. “Nem mesmo por um pensamento poderia nosso Salvador ser levado a ceder ao poder da tentação.” Desde que o pensamento é um processo consciente, se segue que a passagem descreve a resposta de Cristo a situações que ele reconhecia como incitação de pecado. Ceder mesmo por pensamento a uma tentação perceptível seria pecar conscientemente, deliberadamente, e por vontade própria. Então quando Ellen White mais tarde afirma que “Esta é a condição em que devem encontrar-se os que subsistirão no tempo de angústia,” ela não afirma que eles têm que se desenvolver em suas vidas pessoais uma justiça equivalente à perfeição absoluta de Cristo em todos os aspectos. Ao invés disso, a passagem diz que eles devem chegar à posição onde eles não mais cedam a uma tentação perceptível – onde eles se recusam a pecar por vontade própria.
4. “Satanás encontra nos corações humanos algum ponto em que pode obter apoio; algum desejo pecaminoso é acariciado...” Claramente a passagem não lida com o pecado em seu aspecto mais abrangente, mas somente com o pecado acariciado. Ellen White aqui estabelece um significativo contraste entre Jesus e o resto de nós. No coração humano Satanás acha um ponto “pelo qual suas tentações asseguram seu poder.” Desejos pecaminosos acariciados são como portas abertas que dão a Satanás acesso ao coração. Eles aumentam o poder de suas tentações e facilitam suas vitórias contra nós. Em contraste
Satanás nada pôde achar no Filho de Deus que o habilitasse a alcançar a vitória. Tinha guardado os mandamentos de Seu Pai, e não havia nEle pecado que Satanás pudesse usar para a sua vantagem.”
Desta forma podemos ver que o que a citação está realmente dizendo é que aqueles que vão passar pelo tempo de angústia deve ser alcançar a “condição” de não ter desejos e pecados acariciados pelos quais Satanás possa usar para tirar vantagem em sua obra de causar nossa ruína eterna. A seguinte passagem nos ajuda a entender a experiência deles.
“Quando estamos revestidos da justiça de Cristo, devemos não ter nenhum contentamento em relação ao pecado; pois cristo estará trabalhando conosco. Nós podemos errar, mas vamos odiar o pecado que causou os sofrimentos do Filho de Deus” (review and Herald, 18/03/1890).
Baseados em tais considerações concluímos que essa passagem dos escritos de Ellen White indica que aqueles que devem passar pelo tempo de angústia devem preencher três características: Primeira, eles são perfeitos em Cristo. Eles estão completamente perdoados – remidos no sangue expiatório de Cristo – e cobertos com os méritos imputados do Salvador em virtude dos quais eles ficam de pé diante do Pai justos em Cristo, pela fé. Segunda, eles não pecam por conscientemente, deliberadamente, ou por vontade própria. E terceira, eles não acariciam quaisquer desejos pecaminosos ou pecados pelos quais satanás poderia ganhar vitória contra eles.
É importante notar que a justiça descrita aqui não representa nem um padrão mais elevado do que o que Deus designou no passado, nem um novo método para assegurar a aprovação de Deus e de ser encontrado digno de vida eterna. Pelo menos quatro conceitos básicos discutidos anteriormente dão suporte a essa interpretação: 1. Deus sempre requereu uma existência de perfeita justiça e conduta totalmente imaculada por parte de seus filhos. Então ao invés de estar introduzindo um novo padrão único à última geração de crentes, Ellen White reafirma o já existente requerimento por parte de Deus ao estabelecer o fato de que Ele não abaixará essas expectativas para aqueles que viverem “no tempo de angústia.”
2. O único caminho para qualquer ser caído alcançar uma existência de perfeita justiça e de conduta totalmente imaculada sempre foi o que se segue através da imputada justiça de Cristo. A última geração encontrará aceitação por parte de Deus exatamente da mesma forma. Nossa passagem é uma afirmação de “que” e não uma afirmação de “como.” Ela menciona o objetivo que Deus estabeleceu sem descrever os meios que Ele providenciou para sua realização no plano da redenção. Mas o contexto deixa claro que enquanto o problema está em nós – nosso pecado, nossa ignorância e fraqueza, e nossa indignidade – a solução é encontrada em Cristo, seu sangue expiatório, sua sabedoria, seu poder, seus méritos (O grande conflito, pp. 623, 617ss.). Dessa forma ela mostra que o problema do nosso pecado só pode ser resolvido através da obra redentora de Cristo imputada por nós pela fé.
3. Vimos previamente que no passado alguns viveram tão perto de Deus que escolheria morrer ao invés de conscientemente cometer um ato errado. Eles alcançaram a condição descrita na passagem que estamos considerando. Ainda assim eles perceberam a despeito de seu comprometimento radical e fidelidade excelente para com Deus, sua dependência dos méritos de Cristo tanto quanto quaisquer outros seres caídos. Essa é a razão pela qual eles confessaram sua pecaminosidade, sua indignidade, e confiaram completamente na obra redentora, imputada a eles pela fé, para estarem em pé diante de Deus.
4. A experiência da igreja remanescente – os crentes que ainda estarão vivos durante o tempo de angústia – será similar à de todos os filhos de Deus fiéis no passado. Eles honestamente se esforçaram para viver em harmonia com a vontade de Deus, sinceramente se arrependeram de seus pecados, e deliberadamente se afastaram de conscientemente acariciar qualquer desejo pecaminoso. E ainda assim eles confessarão sua pecaminosidade, reconhecerão sua indignidade, e se entristecerão grandemente por suas falhas. Essa é o porquê de que eles dependerem da obra redentora de Cristo em seu benefício tão completamente quanto o fizeram todos os crentes antes deles.
Esse entendimento dessa passagem que estamos considerando tem muitas vantagens significativas sobre a interpretação que foi mencionada anteriormente. Primeiro, ela permite que a passagem fale por si mesma sem ler nela algo que não está escrito quanto não forçar os limites dela além de suas limitações próprias. Segundo, ela preserva a consistência natural entre a passagem e o contexto conceitual – discutido previamente no capítulo cinco – Terceiro, ela se harmoniza com os muitos comentários que Ellen White faz sobre este assunto em muitos outros lugares de seus escritos – alguns dos quais discutimos nesse livro. Quarto, ela evita os sérios problemas criados por uma interpretação que tenta harmonizá-la com as visões perfeccionistas de E. R. Jones e outros. E quinto, podemos adequadamente substanciá-la a partir das Escrituras.
Muitas diferenças, e ainda nenhuma diferença
Muitas diferenças existirão entre os redimidos enquanto eles entram na cidade de ouro. Em suas vidas sobre a terra alguns deles foram bem educados e estavam bem familiarizados com o que Deus revelou sobre seu plano de redenção. Outros não tinham nenhuma educação formal – eles nunca nem mesmo ouviram falar que existia tal coisa como uma Bíblia. Alguns foram honestos, pessoas moralmente irrepreensíveis mesmo antes de se tornarem filhos e filhas adotivos de Deus em Cristo. Outros foram criminosos endurecidos que tiveram que lutar com suas más tendências e hábitos viciosos durante toda a sua vida. Alguns responderam ao Evangelho em arrependimento e fé muito tempo antes de seus casos serem considerados no juízo pré-advento, e conseqüentemente fizeram consideráveis progressos em seu caráter e modificaram seus comportamentos. Mas outros aceitaram a reconciliadora graça de Deus na “hora undécima” e por isso dificilmente experimentaram quaisquer mudanças.
Essas são diferenças reais e significativas. Ainda assim são todas circunstanciais, e por causa disso não têm influência no destino eterno dos envolvidos. Tanto quanto a base de sua salvação for considerada, os redimidos serão todos iguais. Se Deus os tivesse julgado e recompensado com base em quem eles realmente foram e no que eles realmente fizeram, então todos eles sem exceção teriam sido achados culpados diante dEle. Nenhum deles teria sido considerado digno de vida eterna. Mas por que Ele os tratou na base em suas respostas à salvação providenciada em Jesus Cristo, eles todos foram feitos participantes com Ele da herança do Pai.
Por causa de seu arrependimento eles indicaram que eles reconheciam sua pessoal inadequação, e por sua fé eles indicaram que aceitaram a obra redentora de Cristo em seu favor, todos os redimidos de todos os tempos são considerados plenamente como filhos através de Jesus Cristo e são bem vindos como convidados do banquete de casamento do cordeiro.
Cada um deles têm uma coroa de ouro, o sinal de vitória total através do sangue expiatório de Cristo. E cada um deles está vestido de roupas brancas, o símbolo da perfeita justiça de Cristo, que os deu acesso á vida eterna. Eles todos sabem:
“A justiça de Deus é mediante a fé em Jesus Cristo, para todos os que crêem; porque não há distinção, pois todos pecaram e carecem da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus... (Deus) o fez para demosntrar sua justiça no tempo presente, para ele mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus.” (Romanos 3:22-26).
Essa é a razão pela qual Jesus Cristo será o primeiro e o maior para todos os redimidos na terra renovada.

Tradução: Ezequiel Rosa Gomes Junior



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