quinta-feira, 5 de julho de 2012

Cristianismo e Magia - Breves considerações...

Também muitos dos que haviam praticado artes mágicas, reunindo os seus livros, os queimaram diante de todos. Calculados os seus preços, achou-se que montavam a cinqüenta mil denários. Assim, a palavra do Senhor crescia e prevalecia poderosamente.
Atos 19:19-20

Estudando o livro “Backgrounds of Early Christianity” (Panos de fundo do Cristianismo Primitivo) de Everett Ferguson, me deparei com uma seção interessante chamada: “mágicas e maldições” (p. 227-234), na qual o autor se dedica a explicar como o mundo que viu o nascimento da religião cristã lidava com “forças sobrenaturais” que, em sua compreensão, poderiam ser manipuladas para cumprir os objetivos pessoais de alguém que tivesse habilidade de controlá-las através de alguma espécie de sabedoria secreta. (p. 227).
Ferguson afirma que algumas pessoas concluem que a magia se afina com certo aspecto da ciência moderna através da crença de que as mesmas ações (ou no caso da magia, os mesmos encantamentos ou fórmulas), repetidas sob as mesmas circunstâncias produziriam os mesmos resultados sempre! Mas ele relembra que o elemento religioso também estava presente na magia pagã da antiguidade, e que muitas vezes a noção de pedir algo aos deuses, ou de manipular os deuses para que eles fizessem o que o ser humano desejava, era confundida como sendo uma e a mesma coisa!
Jesus Cristo carregou a acusação de ser “mago” em certo sentido, quando “os escribas, que haviam descido de Jerusalém, diziam: Ele está possesso de Belzebu. E: É pelo maioral dos demônios que expele os demônios.” (Marcos 3:22). E por outro lado os cristãos também afirmavam que Satanás era eficaz e agia com todo poder, e sinais, e prodígios da mentira na vida dos que não acolheram a verdade (2 Tessalonicenses 2:9-10). Ou seja, a religião de um grupo era acusada de ser magia pelo outro grupo!
A Magia, em geral, podia ser simpatética ou contagiosa. Na forma simpatética o autor da magia imitava o que ele queria que acontecesse. Se ele quisesse que alguém sofresse ele poderia escrever maldições em uma tábua e jogar essa tábua num rio gelado onde ela desapareceria e apodreceria. A contagiosa era fazer um ritual com o objetivo de contagiar/contaminar de alguma forma a pessoa intencionada.
A palavra magia é derivada de magos, que foi um sacerdote persa. A esse nome foi dado o sentido de algo que representava a sabedoria do oriente (cf. Mateus 2:1), ou mágicos e charlatães (Atos 13:6, 8). E a crença básica dos magos era de que haviam duas esferas de realidade, a natural e a sobrenatural, e que era possível inteferir no mundo sobrenatural a partir do mundo natural. Ou seja, através do correto emprego de fórmulas e rituais os deuses poderiam ser “obrigados” a realizar algo que o mago ordenasse.
Apuleius escreveu um livro chamado metamorfose e seus leitores manifestavam tanto ou mais interesse nos aspectos da magia do que nas histórias de amor em seu livro (p. 229). A magia reinava suprema na antiguidade tardia, e mais tarde veio a receber apoio e legitimação da filosofia.
Todas as dimensões da religião pagã estavam envolvidas de certa forma com a magia. A astrologia, a noção de hierarquia entre deuses, a crença em poderes e demônios, a busca por maravilhas, ocultismo, mistérios, e a noção de destino (que podia ser quebrado pela interferência da magia).
Nos papiros mágicos de Paris, foi encontrada uma invocação mágica do “Deus dos hebreus”, uma vez que a ajuda de nenhuma divindade era descartada. Eles invocavam todo e qualquer “deus” com a noção de que conhece  invocar o nome correto de certa divindade daria poder ao mago sobre a divindade em questão. Uma história que envolve essa atitude é descrita em Atos 19:11-20 quando alguns judeus exorcistas “tentam” invocar o nome de Jesus sobre endemoniados e são humilhados pelos espíritos imundos. Tal episódio ocorreu em Éfeso, que era um dos centros da magia no mundo daquele tempo, a ponto de as fórmulas mágicas serem conhecidas como ephesia gramata (as palavras de Éfeso).
A maioria dos pedidos mágicos era de caráter mundano: os quatro principais objetivos eram (1) feitiços eróticos; (2) pedir proteção contra males diversos; (3) lançar maldições sobre outros; e (4) prever o futuro. Mas por vezes incluía desejo de cura, de vencer embates jurídicos, por jogos esportivos e assuntos econômicos, dentre outros.
Dessa gama de informações a respeito do mundo da magia no contexto do nascimento do cristianismo, podemos tirar algumas lições importantes em um momento histórico onde a magia invade a sociedade e prevalece como objetivo de interesse e curiosidade, especialmente da classe adolescente/jovem ocidental, motivada por livros, games e filmes imersos na atmosfera do oculto, e também quando igrejas agem como verdadeiros centros de magia “cristã” para atrair dinheiro e prestígio!
O mundo da magia é o mundo do sobrenatural, mas também da superstição e da ignorância, e essas características demonstram seu potencial em fazer o mal através dos agentes sobrenaturais (demoníacos, com certeza), ou da própria ignorância por si mesma!
Satanás e seus anjos agem com eficácia e poder, como vimos anteriormente, e tentam fazer com que a influência da magia pareça sempre inocente e convidativa através de coisas estúpidas como simpatias, e noções de sorte ou azar, ou conhecimento e manipulação do futuro. E não é de se admirar que muitos seres humanos se permitam influenciar por horóscopos, feitiçarias, e coisas desse tipo.
Mas a pior dimensão da magia é quando Satanás a usa para destruir a relação entre Deus e o homem, em sua esfera religiosa cristã. Por exemplo, quando lemos o livro do Ferguson, e a descrição que ele faz da invocação do Deus de Israel, em encantamentos mágicos, sob a crença de que a simples invocação do nome de Deus pudesse dar poder ao homem sobre a divindade invocada, somos capazes de vislumbrar com horror e tristeza a teologia dos “principais” pregadores do Brasil hoje, em termos de poder financeiro, alcançe midiático e de público, pois todos eles enfatizam a “confissão positiva,” a linguagem do “eu determino” (em nome de Jesus) [???], além de milhares de produtos (sabonetes, etc.) ou elementos naturais (água, flores, etc.) que seriam "poderosos e ungidos" para livrarem a sua vida de todo mal! Qualquer semelhança com a macumba mais simples não é coincidência. Magia negra em nome Cristo, uma vez que os objetivos de poder político e social, e financeiros não são outra coisa que não escuros e tenebrosos!
Que Deus tenha misericórdia de um povo que é pagão por natureza, e que se ilude com um falso evangelho, onde mandingas são feitas por sacerdotes do diabo, disfarçados de ministros de Cristo (2 Coríntios 11:15) e declarando todas as bênçãos do céu sobre quem lhe entregar seu dinheiro, e as maldições para quem ousar questionar o príncipe deste mundo! “O fim deles será conforme as suas obras”!!!
Entretanto, o cristianismo verdadeiro não se curva à magia. Essas duas forças interagem em guerra espiritual, desde o início do movimento cristão até hoje, e sabemos que será assim até o fim quando o falso profeta maravilhar o mundo com sua “mágica” (Apocalipse 13:13).
Em nossa caminhada na verdade do Evangelho entendemos que o poder de Deus se manifesta na igreja não por manipulação do nome de Deus ou de Cristo (cf. Apocalipse 19:2), mas por sua Graça e Boa Vontade para conosco, que se manifestam na realidade de nossas vidas mesmo em meio às aflições que vivemos neste mundo (João 16:33). Por isso adoramos e amamos o Senhor que nos amou primeiro (1 João 4:19).
A Deus seja a Glória para sempre!
Vem Senhor Jesus!

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