sexta-feira, 25 de maio de 2012

O que é Perfeccionismo? - Jornada Bíblica 2012

Deus não confiará o cuidado do Seu precioso rebanho a homens cuja mente e discernimento tenham sido enfraquecidos por erros como o perfeccionismo...
(Primeiros Escritos, 102).

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No dia 23/05/2012 foi apresentada mais uma edição de um programa tradicional na Faculdade Adventista de Teologia no Unasp. Os alunos apresentam esforços de suas pesquisas diante do corpo docente e discente da faculdade e são submetidos a avaliações críticas de seus trabalhos. Nesse ano de 2012 eu apresentei um trabalho sobre o conceito de perfeccionismo no adventismo e tenho o prazer de disponibilizar esse conteúdo aqui para vocês!!! Gravei essa mensagem com um gravador digital pessoal colocado na lapela do meu terno, o que explica a má qualidade de áudio ao ouvir as considerações dos professores e dos alunos, mas ainda assim é possível entender a maior parte do que foi dito! rs
Para ter acesso ao power point e texto da apresentação clique no link "mais informações" logo abaixo, e façam bom proveito!

Graça e Paz!!!



Imagens da apresentação...



Texto da Apresentação

1) Texto da Jornada bíblica – 2012-05-18
Bom dia a todos! Meu nome é Ezequiel Rosa Gomes Junior e meu trabalho tem o título: O que é Perfeccionismo?
2) “Perfeccionismo” é uma palavra comum no vocabulário Adventista, e são feitas alusões a esse termo em inúmeros artigos, revistas, sites, livros, e teses de mestrado ou doutorado.
3) Obviamente, o conceito de “perfeccionismo” está intimamente ligado ao conceito de perfeição em si, que por sua vez está relacionado com outros conceitos teológicos diversos
4) No adventismo o tema da perfeição cristã, e os assuntos relacionados com essa discussão sempre foram, e continuam sendo objeto de aulas, sermões, artigos, livros, e teses. Um grupo representativo de teólogos adventistas cujo pensamento é importante nessa discussão é de:
Woodrow Whidden; Larry Kirkpatrick; M. L. Andreasen; Herbert Douglass; Hans LaRondelle; Wilson Paroschi; Gerhard Pfandl; Alberto Timm; Amin Rodor; e Edward Heppenstall, entre outros.
5) Woodrow Whidden nos diz que no adventismo, “o significado da perfeição tem provado ser especialmente resistente a qualquer espécie satisfatória de consenso.”
Ellen White e a Salvação. Páginas 8-9
6) A exigência da perfeição cristã, todavia, é uma mensagem grandemente enfatizada na Bíblia e no Espírito de profecia, e de antemão proponho que pregar a perfeição não significa pregar o perfeccionismo.
7) Dentro da Igreja Adventista o termo “Perfeccionismo” tem conotação negativa/pejorativa, e em geral é usado para designar um ensinamento que se entende ser equivocado em torno da ideia da perfeição humana.
8) Por exemplo: Alberto Timm, na apostila para a matéria de “doutrina do santuário” no ano de 2007, pág. 80, fala de Herbert Douglass como alguém que tem “tendência perfeccionista”
Entretanto Douglass se defende da acusação de ser perfeccionista, ele mesmo escreveu um documento com o nome:
“O que quero dizer através do termo perfeição moral em contraste com perfeccionismo?”
Agora...
9) Por que adventistas que pregam a perfeição não querem ser identificados com o perfeccionismo?
10) Uma importante parte da resposta à essa pergunta se torna clara diante de algumas citações de EGW, como por exemplo:
“Deus não confiará o cuidado do Seu precioso rebanho a homens cuja mente e discernimento tenham sido enfraquecidos por erros... como o... perfeccionismo e o espiritismo...”
Primeiros escritos, p. 102
E outra citação mais ampla diz:
11) “Não é correto nesta vida pretender carne santa... Não a podeis obter, é uma impossibilidade... Se aqueles que falam tão francamente de perfeição na carne, pudessem ver as coisas sob seu verdadeiro aspecto, recolher-se-iam com horror de suas ideias presunçosas...
12) ...se bem que não possamos pretender a perfeição da carne, podemos possuir a perfeição cristã da alma.
13) Mediante o sacrifício feito em nosso favor, os pecados podem ser perfeitamente perdoados. Nossa confiança não está no que o homem pode fazer; e sim, naquilo que Deus pode fazer pelo homem por meio de Cristo. Quando nos entregamos inteiramente a Deus, e cremos plenamente, o sangue de Cristo purifica de todo pecado.
14) Pela fé em Seu sangue, todos podem ser aperfeiçoados em Cristo Jesus. Graças a Deus por não estarmos lidando com impossibilidades. Podemos pretender santificação. Podemos fruir o favor de Deus. Não devemos estar ansiosos acerca do que Cristo e Deus pensam de nós, mas do que Deus pensa de Cristo, nosso Substituto. Vós sois aceitos no Amado.”
(Mensagens escolhidas, vol. 2 p. 32-33).
15) Portanto, diante de declarações tão firmes, proponho que é importante buscar os elementos que constituem o perfeccionismo à luz da “hamartologia (doutrina do pecado), soteriologia (doutrina da salvação), cristologia (doutrina de Cristo), antropologia (doutrina do homem) e escatologia (a doutrina das últimas coisas)” e meu objetivo é tornar mais claro o significado do termo perfeccionismo e algumas de suas implicações teológicas.
Admito que esse tema é extenso, e por causa do limite de tempo eu me dediquei apenas a algumas dimensões dessa ampla discussão, de forma não exaustiva, em busca de elementos que definam o que seja o perfeccionismo:
16) As principais questões que envolvem a discussão da doutrina do pecado e o perfeccionismo são:
1) O conceito/definição de pecado;
E as perguntas:
2) Podemos não pecar?
3) Pecamos apenas por que “queremos”?
17) Aqueles que possuem tendência perfeccionista, da forma como eu entendo esse termo, utilizam-se da citação de EGW no livro O Grande Conflito, p. 492, onde ela diz que “a única definição bíblica de pecado é a transgressão da lei” baseada em 1 João 3:4, e interpretam-na como significando que a transgressão da lei de Deus é algo simplesmente de caráter comportamental, em termos de desobediência aos mandamentos de Deus.
Entretanto essa é uma inferência interpretativa forçada sobre o texto de Ellen White, e parte do princípio de que Ellen White via a lei de Deus como regulamentando apenas o comportamento humano, o que não é verdade. Ela mesma afirmou...
“A lei de Deus, como apresentada nas Escrituras, é ampla em suas reivindicações... Se a lei se referisse somente à conduta externa, os homens não seriam culpados de seus maus pensamentos, desejos e planos. Mas a lei requer que a própria humanidade seja pura, a fim de que os pensamentos e sentimentos estejam de acordo com a norma de amor e justiça.” Review and Herald 05 de abril de 1898.
18) O conceito/definição de pecado
A Palavra de Deus nos diz, sim, que o “pecado é a transgressão da lei”, mas em contrapartida nos diz que “o cumprimento da lei é o amor” (Romanos 13:10), e exalta o amor verdadeiro em 1 Cor 13:4-8 como uma disposição mental, espiritual, de sentimentos e atitudes onde não existe impaciência, ciúmes, soberba, vaidade, egoísmo, agressividade, ressentimento, alegrias fúteis, etc.
Portanto, é preciso admitir que manifestar qualquer sentimento, qualquer disposição espiritual, mental ou atitude minimamente incoerente com essas características do “amor” para com qualquer pessoa se configura em pecado, transgressão da lei de Deus!
19) É por isso que na Bíblia “quem olhar com intenção impura já adulterou” (Mateus 5:28), e “tudo que não provém da fé é pecado” (Romanos 14:23).
Portanto mesmo sem pecados ou transgressões deliberadas e intencionais um ser humano continua sendo pecador simplesmente por falhar em viver em uma perfeita atmosfera sentimental e mental de amor absoluto, ou pela falta de atitudes concretas de amor PERFEITO para com todas as pessoas, em todos os momentos e em toda e qualquer circunstância.
E lembre-se que todo aquele que sabe “o bem que deve fazer e não faz, nisso peca!” (Tiago 4:17).
E tudo isso deve ser considerado seriamente se queremos falar de Perfeição, e vitória contra o pecado! O padrão para definir o que é pecado é a Revelação e não o padrão de um ser humano com uma visão estreita da verdade revelada por Deus!
20) Podemos não pecar?
A Palavra de Deus afirma que “Quem vive pecando não viu (a Cristo), nem o conheceu; Todo aquele que é nascido de Deus não vive na prática do pecado (1 João 3:6, 9).
E diante dessas afirmações podemos dizer que é possível, e imperativo não pecar, mas isso em certa dimensão!
21) O mesmo autor, inspirado, no mesmo livro, afirma que “Se dissermos eu não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós. Se dissermos que não temos cometido pecado, fazemos (a Deus) mentiroso, e Sua palavra não está em nós.” (1 João 1:8, 10)
Portanto, em uma dimensão mais ampla não é possível ao homem viver sem pecar, e ele precisa admitir isso sob a pena de ser desmascarado como mentiroso e como alguém que torna a Deus mentiroso se não o fizer!
Como harmonizar as duas afirmações?
Em um contexto específico é plenamente possível “não pecar.”
Podemos e devemos não mentir, não matar, não adulterar, não idolatrar, em resumo, não praticar o mal de forma deliberada, mas isso não é sinônimo de sermos absolutamente perfeitos em todas as dimensões e esferas de nossa vida.
De forma sincera não podemos negar que em certo sentido todos nós pecamos, de fato, e necessitamos da misericórdia e graça de Cristo como nosso Salvador. Essa é uma mensagem claramente apresentada nas Escrituras.
22) Pecamos apenas por que queremos?
Uma vertente do ensino perfeccionista carrega a implicação que afirma que as pessoas pecam apenas por que querem pecar! Bastaria que elas desejassem, parar de pecar, e assim seria!
Mas Romanos 7:20 destrói completamente essa noção simplista quando Paulo afirma que ele fazia “o mal que ele não queria fazer.”
Portanto, a heresia pelagiana de que o pecado é uma enfermidade apenas da vontade humana não reflete a verdade da Palavra de Deus, e não devemos permitir que o perfeccionismo reviva essa mentira em nosso meio!

23) Diante de tudo isso, uma primeira resposta parcial à pergunta: “O que é perfeccionismo?” é a seguinte:
Perfeccionismo é uma crença que faz afirmações doutrinárias “que negam de forma direta ou indireta dimensões do conceito bíblico de pecado, aparentemente com o objetivo de exaltar um padrão artificial de perfeição, geralmente estabelecido pelos padrões do ser humano, e não pela Revelação. Portanto o perfeccionismo é uma negação da doutrina do pecado, tal qual ele se apresenta na Palavra de Deus!”
24) No que se refere à relação entre a soteriologia (a doutrina da salvação) e o perfeccionismo, as principais questão são as seguintes:
1) Cristo nos salva do pecado, não no pecado.
2) O papel das obras na obtenção/manutenção da salvação.
25) Cristo nos salva do pecado, não no pecado
Utilizando-se da profecia do anjo Gabriel em Mateus 1:21 a mensagem perfeccionista é de que Cristo salva pecadores, e esta salvação teria por objetivo tornar os pecadores em pessoas sem pecado para que elas continuem salvas, ou para que fossem salvas em última instância.
Entretanto essa é uma visão difícil de ser sustentada quando praticamente todos os autores do Novo Testamento, sendo salvos e instrumentos de salvação, atestaram a pecaminosidade e imperfeição em sua experiência cristã de forma clara e direta.
João se inclui entre aqueles que não podem dizer que não são pecadores, nem que não cometem pecado (1 João 1:8, 10), Paulo diz que não alcançou a perfeição (Filipenses 3:12), e Tiago diz que todos nós cristãos erramos em muitas coisas (Tiago 3:2). Tiago, Paulo e João não eram salvos por ainda serem pecadores após conhecerem o evangelho, mesmo sendo instrumentos de salvação na vida de outros? Como o perfeccionismo responderia a essa pergunta?
26) O papel das obras na obtenção/manutenção da salvação
A teologia perfeccionista frequentemente revive a heresia de que nossas obras contribuam para conquistar ou manter nossa salvação diante de Deus, e muitas vezes eles se utilizam da famosa “justificação pelas obras” em Tiago 2:24.
Ronald Fung em um artigo chamado “A justificação na epístola de Tiago” afirma que a contradição entre Tiago e Paulo é apenas aparente, e não real. E que ambos Tiago e Paulo defendem que “a única fé digna de ser considerada fé é aquela que inclui e produz frutos através de ações coerentes.”
A palavra de Deus é clara em afirmar que o homem é justificado diante de Deus “independentemente das obras da lei” (Rm 3:28), e que a salvação pela graça mediante a fé, não através de obras, gera boas obras (Efésios 2:8-10).
Isso é ponto pacífico, e não há possibilidade de ser fiel à verdade e tentar confundir essas coisas!
27) Portanto, o que é o perfeccionismo?
É uma crença cujas compreensões distorcidas a respeito do pecado, faz com que as verdades bíblicas a respeito da salvação sejam mal compreendidas e mal aplicadas.
28) Cristologia e perfeccionismo
A principal questão na discussão da cristologia e o perfeccionismo é a seguinte:
Cristo foi perfeito como ser humano, nós seres humanos também podemos ser perfeitos como Ele.
29) Tanto a Bíblia, quanto os escritos de Ellen White, apresentam as mesmas linhas de pensamento quando comparam Cristo e a humanidade, ora apresentado sua semelhança, ora apresentando sua dessemelhança.
A palavra de Deus nos diz que “Jesus Cristo é homem” (1 Tim 2:5; Romanos 5:15) e nos pede para “andar como Ele andou” (1 João 2:6); Igualmente Ellen White diz que: Como Cristo viveu a lei (de Deus) na humanidade, assim podemos fazer, se nos apegarmos ao Forte em busca de força. O Desejado de Todas as Nações, 117
Por outro lado, também se enfatiza a dessemelhança: Cristo é o “ente santo” (Lucas 1:35), quem se compara com ele? Ele é o Deus unigênito (João 1:18), e nele não existe pecado (1 João 3:5); e inequivocamente Ellen White diz: “Cristo é nosso modelo, o perfeito e santo exemplo que nos foi dado para que o seguíssemos. Jamais poderemos igualar o Modelo; podemos, porém, imitá-Lo e assemelhar-nos a Ele coforme nossa capacidade.” Review and Herald 05 fev 1895
30) Perfeccionismo, portanto.  É a crença que enfatiza a humanidade de Cristo e sua vitória absoluta sobre o pecado como um exemplo daquilo que os seres humanos pecadores em tese também poderiam também realizar, ignorando as advertências sobre a singularidade inacessível da absoluta perfeição do Salvador em comparação com as limitações de seres pecadores.
31) A principal questão na relação entre Antropologia e Perfeccionismo é
Deus ordenou que fôssemos perfeitos no AT e no NT, e Ele não pediria de nós algo impossível. Eu concordo com essa lógica.
32) Mas não podemos ignorar a verdade Bíblica, que é clara quando fala dos salvos em Cristo.
Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é. 1 João 3:2
Somos filhos de Deus no presente, mas ainda não somos o que havemos de ser, perfeitamente semelhantes a Jesus...
Somos perfeitos em Cristo, mas não seremos absolutamente iguais a Cristo antes da glorificação.
33) Assim também não podemos ignorar a perfeição cristã que já é nossa experiência em Cristo, verdade que é aqui expressa por Alberto Timm.
“Em realidade, aqueles que estão no caminho da perfeição em Cristo, ainda não sendo perfeitos, já são considerados perfeitos em Cristo, que é perfeito.
(ver Fp 3:12-15);”
34) O que é o “perfeccionismo?”
É uma crença que não reflete a verdade bíblica sobre a natureza humana caída e imperfeita, e que aparentemente nega o status presente de aceitação, filiação e perfeição “em Cristo” ao qual o Evangelho nos chama pela graça de Deus!
35) A pergunta mais importante na relação entre Escatologia e perfeccionismo é
O fechamento da porta da graça exige que sejamos perfeitos para viver sem intercessor
Em geral a teologia perfeccionista tem uma interpretação peculiar de afirmações como estas:
Naquele tempo terrível os justos devem viver à vista de um Deus santo, sem intercessor... ...agora, enquanto o precioso Salvador está a fazer expiação por nós, devemos procurar tornar-nos perfeitos em Cristo.
O Grande conflito, 614, 623
36) Seria importante que os perfeccionistas atentassem para a expressão “perfeitos em Cristo” e muitos problemas seriam evitados! A Perfeição que nos é exigida hoje, e que deverá nos acompanhar até o fim é a perfeição em Cristo, pelos méritos dele, adquirida pela fé através de uma relação pessoal, e não uma perfeição igual à perfeição do Senhor, a ser desenvolvida por nós mesmos no contexto dos últimos eventos da história do pecado.
37) O que é o “perfeccionismo?”
É uma crença que lança sobre o Espírito de Profecia uma enorme quantidade de más interpretações sobre o pecado, a salvação, a cristologia, a antropologia em sua interpretação da escatologia.
38) Proposta para a designação do termo Perfeccionismo
O Perfeccionismo no adventismo representa uma ampla gama de conclusões teológicas baseadas em leituras parciais dos textos bíblicos e dos escritos de Ellen White.
39) Portanto, concluo propondo que “O termo “Perfeccionismo” se refere a uma superestrutura de pensamento teológico com interpretações unilaterais, míopes, descontextualizadas, particulares, estreitas, enganadas e enganadoras que não respondem satisfatoriamente as questões da hamartologia, soteriologia, cristologia, antropologia, e escatologias apresentadas e nos escritos de Ellen White e na Palavra de Deus!”

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