...nEle estais Perfeitos
Colossenses 2:10
Hoje tenho o prazer de trazer a vocês o fruto de MUITO trabalho! Durante meses traduzi o livro de Helmut Ott (Disponível em inglês aqui!!!) "Perfeitos em Cristo" que trata da visão do Espírito de Profecia a respeito da perfeição cristã. Estou tentando negociar a publicação desse livro por meios não eletrônicos, mas ainda sem sucesso, entretanto obtive autorização do autor para compartilhar a tradução do livo na íntegra em português para todos que se interessarem em saber mais sobre esse assunto fascinante e extremamente importante!!!
Para ter acesso ao livro, apenas clique no link "Mais informações logo abaixo"
Graça e Paz!!!
Introdução
Um dos ensinamentos
mais significativos da Igreja Adventista do Sétimo dia se refere ao Santuário
celestial. A doutrina é geralmente dividida em duas partes distintas ainda que
interligadas, o chamado Juízo pré-advento e o ministério mediador de Cristo. A
primeira lida com o que Cristo, em seu papel como juiz, faz para estabelecer o
destino eterno dos que estão mortos – como ele formaliza a posição justa
daqueles que durante seu período de vida estiveram dispostos a cooperar com a
atividade redentora de Deus em seu favor. A segunda se preocupa com o que
Cristo, como representante e advogado do homem, faz para estabelecer o destino
eterno dos vivos – como ela torna certa a salvação daqueles que vivem
dependendo da morte expiatória do Salvador, de sua vitória redentora, e de sua
justiça Toda-Suficiente para estar em uma correta posição diante de Deus.
Desde o princípio os
adventistas perceberam que essa doutrina era tanto importante como adequada
para seu tempo. Ao apontar a Cristo como o único mediador, justo e efetivo,
entre Deus e o homem, um falso sistema de mediação que havia rastejado para
dentro da igreja cristã foi exposto. O sistema humano de sacerdócio que por
séculos havia prevalecido na cristandade tinha usurpado para si mesmo o papel e
a função que, de acordo com as Escrituras, pertence unicamente para Cristo, o
sumo sacerdote celestial. Esse sistema estabelecia a igreja como outra
mediadora entre Deus e o homem, outra forma de encontrar o favor de Deus.
A introdução desse
sistema sacerdotal tanto refletiu como perpetuou uma mudança na
auto-compreensão da igreja. A igreja apostólica via a si mesma como a comunhão
dos crentes – aqueles que por responder ao evangelho com arrependimento e fé,
aceitaram a Jesus como seu Salvador pessoal. Os primeiros crentes tinham uma
forte auto-compreensão centrada em Cristo. Eles viam a Jesus como sua “justiça,
e santificação, e redenção” sua “vida,” sua “esperança,” seu “tudo” (1 Cor.
1:30; Col. 3:4; 1 Tim.1:1; Col. 3:11). Para eles Cristo era a “realidade” (Col.
2:17) da qual o crente participa pela fé.
A igreja apostólica
sabia que eles já eram “filhos de Deus através da fé em Jesus Cristo” (Gál.
3:26). Porque eles eram filhos, eles eram também “herdeiros segundo a promessa”
(verso 29). Mas eles também reconheceram que muitas das promessas do evangelho
não se tornaram uma realidade concreta durante a existência presente deles.
Essas promessas serão plenamente concretizadas somente no futuro, na vida
eterna. Enquanto isso elas eram reais apenas em Cristo. Portanto, o único
caminho pelo qual o crente pode ter acesso às promessas do evangelho é através
de Jesus Cristo.
E a vós
outros também que, outrora, éreis estranhos e inimigos no entendimento pelas
vossas obras malignas, agora, porém, vos reconciliou no corpo da sua carne, mediante a sua
morte, para apresentar-vos perante ele
santos, inculpáveis e irrepreensíveis, se é que permaneceis na fé, alicerçados e firmes, não vos deixando afastar
da esperança do evangelho (Col.
1:21-23). Irmãos, venho lembrar-vos o evangelho que vos anunciei, o qual
recebestes e no qual ainda perseverais; por ele também sois salvos, se retiverdes a palavra tal como
vo-la preguei, a menos que tenhais crido em vão. (1 Cor. 15:1-2).
E o
testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está no seu Filho. Aquele que
tem o Filho tem a vida; aquele que não tem o Filho de Deus não tem a vida. (1 João 5:11-12). Porque nos temos tornado participantes de Cristo, se, de fato, guardarmos firme, até ao fim, a confiança que, desde o
princípio, tivemos. (Hebreus
3:14). Filhinhos, agora, pois, permanecei
nele, para que, quando ele se manifestar, tenhamos confiança e dele não nos
afastemos envergonhados na sua vinda. (1 João 2:28). Ora, como recebestes
Cristo Jesus, o Senhor, assim andai nele, nele
radicados, e edificados, e confirmados na fé, tal como fostes instruídos,
crescendo em ações de graças. (Col. 2:6-7).
Os primeiros
cristãos entenderam que tudo o que elas eram, e tudo que eles tinham como
filhos e filhas de Deus, eles eram e tinham somente porque – e enquanto – eles
permeneciam em Cristo pela fé. Eles sabiam que se eles jamais perdessem sua
permanência nele – e consequentemente cessassem de participar na obra redentora
feita em seu favor – eles voltariam a seu estado prévio de perdição e estariam
submetidos à velha ordem de pecado, condenação e morte. Era, portanto, imperativo que eles
continuassem a viver pela fé em Cristo por toda sua vida. Esse era o único
caminho no qual isso, que agora eles tinham pela fé, como uma promessa, se
tornaria uma realidade histórica para eles na segunda vinda de Cristo.
Com o tempo
essa auto-compreensão centrada em Cristo mudou, e a igreja se tornou uma
instituição hierárquica que via a si mesma, não como um dependente objeto da
graça de Deus, mas como a única possuidora e destribuidora dessa graça. Dessa
forma, a igreja cada vez mais funcionada como a agência autorizada que
presumivelmente poderia atualizar, ou frustrar, a reconciliação de um pecador
com Deus. Para todos os propósitos práticos Jesus foi, pela igreja, tirado de
seu lugar como “autor de consumador da fé,” a única “fonte de eterna salvação”
(Heb.12:2; 5:9). Os adventistas acreditavam que uma correta compreensão da
doutrina do santuário protagonizaria um papel importante em retomar as percepções
e experiências apostólicas. Primeiro essa doutrina exporia o falso sistema de
mediação que foi estabelecido, e revelaria a falácia de se depender de qualquer
instituição, método, mérito ou conquista humana para ter uma correta relação
com Deus.
A doutrina
do santuário também chamou a atenção para o correto caminho que Deus
providenciou em Cristo, para a reconciliação da humanidade com o Pai. A
cristandade tinha quase que completamente perdido de vista o papel de Cristo
como mediador/substitutivo no céu. A doutrina do santuário traria essa dimensão
á linha de frente. Ela apresentaria a Jesus como o Salvador vivo que, como
substituto e penhor, “em pé no Santo dos Santos, para comparecer agora na
presença de Deus por nós. Ali, Ele não cessa de apresentar Seu povo, momento
após momento, perfeito nEle.” (Fé e obras,
p.107).
O fato de
que o mediador apresenta su povo perfeito
em si mesmo, ou seja, imputando a eles Seus próprios méritos pessoais –
claramente indica que em Cristo todos os pecadores têm igual acesso ao Pai.
Graças ao papel substitutivo de Cristo -
Primeiramente na cruz como sacrifício expiatório, e agora no Trono como
advogado que faz mediação – todos os verdadeiros crentes permanecem diante de
Deus totalmente perdoados e perfeitamente justos em Cristo.
Terceiro, ao
chamar a atenção dos crentes para longe de si mesmos e e para suas consecuções
magérrimas – sua obediência imperfeita, seu crescimento inconstante, e
maturidade incompleta – e por focar sua atenção em Jesus e em seu ministério
redentor em seu benefício, a doutrina do santuário removeria o medo e a
insegurança e as substituiria com paz, e segurança, e alegria. As seguintes
passagens dos escritos de Ellen G. White revelam isso claramente:
“A
intercessão de Cristo em nosso favor consiste em apresentar Seus méritos
divinos, oferecendo-Se a Si mesmo ao Pai como nosso Substituto e Penhor; pois
Ele ascendeu ao alto para fazer expiação por nossas transgressões. "Se...
alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o Justo. E ele é
a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos, mas também pelos
de todo o mundo." I João 2:1 e 2. "Nisto consiste o amor: não em que
nós tenhamos amado a Deus, mas em que Ele nos amou e enviou o seu Filho como
propiciação pelos nossos pecados." I João 4:10. "Portanto, pode
também salvar perfeitamente os que por Ele se chegam a Deus, vivendo sempre
para interceder por eles." Heb. 7:25. Diante dessas passagens, é evidente
que não é a vontade de Deus que sejais receosos e aflijais vossa alma com medo
de que Deus não vos aceite porque sois pecaminosos e indignos. "Chegai-vos
a Deus, e ele se chegará a vós." Tia. 4:8. Apresentai vosso caso diante
dEle, implorando os méritos do sangue derramado por vós na cruz do Calvário.” (ibid, 105,106).
Não devemos
absolutamente confiar em nós mesmos nem em nossas boas obras; mas quando, como
seres erradios e pecadores, nos chegamos a Cristo, encontramos descanso em Seu
amor. Deus aceitará a cada um dos que se chegam a Ele, confiando inteiramente
nos méritos de um Salvador crucificado. (ibid,
39). Temos de polarizar nossas esperanças quanto ao Céu tão-somente em
Cristo, porque Ele é nosso Substituto e Penhor. Transgredimos a lei de Deus, e
pelas obras da lei nenhuma carne será justificada. Os melhores esforços que o
homem, em suas próprias forças, pode fazer, não têm valor para satisfazer a
santa e justa lei que ele transgrediu; mas pela fé em Cristo pode ele alegar a
justiça do Filho de Deus como toda suficiente. (ibid, 93).
Finalmente,
um conhecimento pessoal do sacerdócio sumo sacerdotal de Cristo no céu
capacitaria o povo de Deus a estabelecer e manter uma relação de fé salvífica
com Ele, e cumprir o papel que Deus intencionou para eles. Note como a próxima
declaração expressa essa ideia:
Todos
necessitam para si mesmos de conhecimento sobre a posição e obra de seu grande
Sumo Sacerdote. Aliás, ser-lhes-á impossível exercerem a fé que é essencial
neste tempo, ou ocupar a posição que Deus lhes deseja confiar... A intercessão
de Cristo no santuário celestial, em prol do homem, é tão essencial ao plano da
redenção, como o foi Sua morte sobre a cruz. (O Grande conflito, pp. 488-489).
A passagem
apresenta dois conceitos principais. Primeiro, ela sublinha o tremendo
significado da intercessão de Cristo a favor do homem para o plano da redenção:
que é “tão essencial... como foi sua morte sobre a cruz.” E segundo, ela indica
que não podemos tem fé essencial nem ocupar o lugar ordenado por Deus para nós
a menos que tenhamos um confiável entendimento pessoal de Jesus como nosso
Grande Sumo Sacerdote.
A importância
do ministério mediador de Cristo e suas implicações para nossa experiência
cristã pessoal deve nos mover, como igreja, a colocá-la em destaque em nossa
agenda. Infelizmente, esse não tem sido o caso. Historicamente a comunidade
adventista tem prestado consideravelmente mais atenção ao papel de Cristo como
juiz dos mortos do que a seu papel de mediador a favor dos vivos.
A razão para
isso não é que o primeiro seja mais importante – por que isso definitivamente não
é o caso – mas por que é mais controverso. Com o objetivo de estabelecer alguns
aspectos sobre essa fase do julgamento, alguém tem que construir pontes,
estabelecer relações textuais, delinear soluções, e derivar implicações que não
são tão evidentes escrituristicamente como muitos gostariam que fosse. Como
resultado, nós temos estado tão intensamente ocupados com alcançar um consenso
sobre alguns detalhes do julgamento de Deus sobre os mortos que temos quase que
completamente negligenciado a nós mesmos em relação com a ativa obra de Cristo
para a redenção dos vivos.
Presumivelmente,
tal ênfase unilateral, teve alguns efeitos colaterais. De um lado, ela nos
distraiu de proclamar a Cristo como o único justo e efetivo mediador entre Deus
e a humanidade. Dizer ao mundo que não podemos basear nossa segurança de
salvação nem na igreja terrena (seu papel, suas instituições, e ministério) ou
no crente em si (sua bondade pessoal, consecuções, e méritos) mas em Jesus, e
no que ele está fazendo por nós no céu, certamente não tem sido uma de nossas
principas ocupações. Conseqüentemente, na extensão em que falhamos em tornar
essa verdade central para nossa mensagem e missão, nós já falhamos em ocupar a
posição que Deus deseja que ocupemos.
Por outro
lado, nossa ênfase unilateral nos impediu de adquirir um entendimento mais
claro do que exatamente Jesus está presentemente fazendo em nosso favor, e como
seu ministério deve determinar a natureza e a qualidade de nosso relacionamento
de fé pessoal com Ele. Como resultado, algumas ideias se introduziam no
adventismo que, ao invés de apontar a Jesus como a única fonte de justiça
salvífica para o homem caído, atualmente faz do desenvolvimento do próprio
caráter e da transformação do comportamento a critério último para determinar
sua posição diante de Deus. Assim o centro de atenção, como a esperança da
salvação são deslocadas de Jesus, e no que Ele faz em favor do crente no céu,
para o que o crente experimenta em sua vida pessoal aqui na terra – uma mudança
sutil ainda que tremendamente siginificativa que contradiz a essência bem como
o propósito da doutrina do santuário.
Isso nos
traz aos três maiores objetivos de nosso presente estudo: Primeiro, restaurar o
ministério sumo sacerdotal de Cristo ao centro de nossas atenções e refinar
nosso entendimento sobre o que Jesus, como nosso representante e advogado
diante do Pai, está fazendo presentemente. Segundo, melhorar nosso
relacionamento com Cristo como nosso mediador e nos lembrar que sua morte
expiatória, vitória redentora, e justiça salvífica são a única base de nossa
aceitação diante de Deus. E terceiro, prover uma estrutura justamente
sistematizada, e racionalmente compreensível, em relação aos muitos ensinos que
encontramos sobre esse assunto nos escritos de Ellen White.
No processo
tentaremos encontrar as respostas que seus escritos provêem para, pelo menos,
duas perguntas básicas: 1. Por que a mediação de Cristo é considerada tão
importante para o plano da salvação? Ou seja, o que Jesus está fazendo como
nosso “substituto e segurança” – dois de seus termos favoritos – que é tão
vital para nossa final salvação? 2. Que resposta o papel mediador de Cristo
deveria produzir em nós que cremos? E o que precisamos fazer para permitir que
o Salvador leve adiante sua obra redentora em nosso favor para sua final e
total realização na Segunda Vinda de Cristo?
Baseei esse
estudo quase que exclusivamente nos escritos de Ellen White. Como resultado,
apresentei apenas evidência bíblica suficiente para mostrar que os conceitos de
seus escritos se harmonizam com as Escrituras, e que podemos portanto tê-los
como confiáveis. Eu tenho duas razões para esse procedimento. Primeiro, Ellen
White é de longe o maior exponente do entendimento adventista do ministério
mediador de Cristo e seu significado. Segundo, apesar de ela ter escrito muito
sobre esse tema – referências a ele aparecem quase em todos os lugares em seus
escritos – na maior parte ela não foi nem sistemática ou definitiva o
suficiente para evitar maus-entendidos. Portanto não deveria ser surpresa que
alguns usem porções dos seus escritos para apoiar visões que, ao invés de
estarem centralizadas em Cristo e seu ministério expiatório no céu, focam
primariamente no homem e em suas magérrimas consuções aqui nesta terra.
Devessem
essas ideias centradas no homem prevalecer dentro do adventismo, e elas
tornariam “impossível” para nós “exercer a fé que é essencial para esse tempo.”
Tenho escrito esse livro na esperança que, por ajudar nosso entendimento do
ministério mediador de Cristo, ele nos permitirá reconhecer e lidar com visões
enganosas, e por nos mover a estabelecer e manter um forte relacionamento
pessoal de fé com Jesus até que Ele venha.
O estudo se
divide em oito seções gerais: 1. A mediação de Cristo em favor do crente como
indivíduo. 2. A mediação de Cristo pela performance do crente. 3. A mediação de
Cristo como a única fonte de justiça salvífica para todos. 4. A mediação de
Cristo como a única fonte de justiça até que Ele venha. 5. A mediação de Cristo
completada no fechamento da porta da graça. 6. Ellen White e um engano apontado
particularmente para adventistas. 7. Dois grupos de pessoas dentro da igreja:
os justos em Cristo e os injustos. 8. Sumário e conclusões.
O apêndice
sublinha alguns princípios básicos referentes ao uso dos escritos de Ellen
White e provê alguns exemplos de formas de lidar com passagens que à primeira
vista pareçam estar em tensão com os conceitos estabelecidos nesse livro.
Helmut Ott.
1.
Cristo faz mediação pelo crente para apresentá-lo – como indivíduo – perfeitamente
justo ao Pai
Nesse capítulo
examinaremos a primeira razão básica por que Ellen White considera o ministério
mediador de Cristo tão essencial ao plano da salvação. Começamos por
estabelecer por que o crente precisa depender de Cristo como seu mediador e
representante diante do Pai. Então veremos exatamente o que, de acordo com
nossa fonte, Jesus está fazendo para apresentar o crente perfeitamente
aceitável a Deus. Na terceira seção discutiremos o relacionamento entre o
processo de santificação do crente que dura a vida toda e sua dependência de
mediação para estar numa posição correta para com Deus. Finalmente nós
examinaremos algumas relevantes passagens contidas nas Escrituras.
1.
Por que o crente depende da mediação de Cristo para estar numa condição correta
relativamente a Deus
A condição da vida
eterna é agora exatamente o que sempre foi – exatamente o que era no paraíso
antes da queda – perfeita obediência à lei de Deus, perfeita justiça (Caminho a
Cristo, p. 62). Separados de Cristo não temos nenhum mérito, nenhuma justiça.
Nossa pecaminosidade, fraqueza e imperfeição humana tornam impossível que
compareçamos a presença de Deus a menos que estejamos revestidos da justiça
imaculada de Cristo (Mensagens escolhidas, Vol. 1, p.333).
“Justiça sem culpa
só pode ser obtida através da justiça de Cristo imputada.” (Review and Herald,
03/09/1901). “Os convidados às bodas foram inspecionados pelo rei. Só foram
aceitos os que obedeceram aos seus requisitos e usaram o vestido nupcial. Assim
ocorre com os convidados para a ceia do evangelho. Todos são examinados pelo
grande Rei, e só serão recebidos os que trajarem as vestes da justiça de Cristo.”
(Parábolas de Jesus, p. 312). “A única maneira em que pode alcançar a justiça é
pela fé. Pela fé pode ele apresentar a Deus os méritos de Cristo, e o Senhor
lança a obediência de Seu Filho a crédito do pecador. A justiça de Cristo é
aceita em lugar do fracasso do homem, e Deus recebe, perdoa, justifica a alma
arrependida e crente, trata-a como se fosse justa, e ama-a tal qual ama Seu
Filho. Assim é que a fé é imputada como justiça.” (mensagens escolhidas, Vol.
1, p. 367).
Alguém
dificilmente poderia ler tais afirmações sem ser impressionado pela definitiva,
quase radical natureza de ambos os conceitos e a linguagem que ela usou para
expressá-los. Note os importantes pontos:
1. Deus requer justiça perfeita daqueles que herdarão a
vida eterna – nada menos que isso satisfará.
2. Separados de Cristo
não temos nenhuma justiça, nenhum mérito,
sobre o qual podemos prover a Deus uma base na qual poderíamos ser aceitos.
3. Nossa
pecaminosidade, nossa imperfeição humana, o torna impossível comparecer perante Deus a menos que formos revestidos da justiça de Cristo.
4. Podemos obter
justiça sem mancha – a única justiça que Deus aprova – somente através da justiça de cristo a nós imputada.
5. O rei checa todos os
convidados para o banquete do evangelho – aqueles que respondem ao convite e
vêm – para ter certeza de que eles alcançaram o que foi requerido. Somente aqueles que se revestiram da
justiça de Cristo podem participar. Todos os outros – independentemente de
quaisquer qualificações ou virtudes morais que eles possam ter – serão lançados
fora.
6. Deus considera a
perfeita justiça de Cristo substituindo o fracasso do homem. “é dessa forma que a fé é considerada
justiça.”
Tais considerações
conduzem nossa conclusão de que o cristão depende da medição de Cristo por que
Deus requer justiça perfeita – algo que o crente não consegue produzir. Ele é
um pecador, e nada que um pecador é, tem, ou faz, é aceitável a Deus em seus
próprios méritos. O pecador se torna digno somente quando Cristo o torna digno
imputando a ele sua própria justiça.
O crente tem respondido
ao convite do evangelho, tem vindo à festa de casamento. Agora ele deve passar
pela inspeção do rei – um símbolo do juízo pré-advento – usando a única roupa
no universo capaz de cobrir a pecaminosidade de seres caídos. Isso é, deve usar
uma vestimenta espiritual da justiça salvadora de Cristo. Somente quando ele
satisfaz esse requerimento o crente terá o direito de participar do banquete do
evangelho.
2.
O que Jesus está fazendo para assegurar a aceitação do crente para com o Pai
“Jesus está em pé
no Santo dos Santos, para comparecer agora na presença de Deus por nós. Ali,
Ele não cessa de apresentar Seu povo, momento após momento, perfeito nEle...
Somos perfeitos nEle, aceitos no Amado, unicamente se permanecemos nEle pela fé.”
(Fé e obras, p. 107). “A providência tomada é completa, e a eterna justiça de
Cristo é colocada ao crédito de toda alma crente. As vestes, preciosas e sem
mácula, tecidas nos teares do Céu, foram providas para o pecador arrependido e
crente... Em nós mesmos somos pecadores; mas em Cristo somos justos. Tendo-nos
feito justos, mediante a imputada justiça de Cristo, Deus nos pronuncia justos
e nos trata como justos. Considera-nos Seus filhos amados.” (Mensagens
escolhidas, Vol. 1, p. 394).
“Somente as vestes
que Cristo proveu, podem habilitar-nos a aparecer na presença de Deus. Estas
vestes de Sua própria justiça, Cristo dará a todos os que se arrependerem e
crerem.” (Parábolas de Jesus, p. 311). “Cristo foi tratado como nós merecíamos,
para que pudéssemos receber o tratamento a que Ele tinha direito. Foi condenado
pelos nossos pecados, nos quais não tinha participação, para que fôssemos
justificados por Sua justiça, na qual não tínhamos parte. Sofreu a morte que
nos cabia, para que recebêssemos a vida que a Ele pertencia.” (O desejado de
todas as nações, p. 25).
“Por Sua vida
imaculada, obediência e morte na cruz do Calvário, Cristo intercedeu pela raça
perdida. E agora o Príncipe de nossa salvação não intercede por nós como mero
peticionário, mas como um Conquistador que reclama a vitória. Seu sacrifício
está consumado e como nosso Intercessor cumpre a obra que a Si mesmo Se impôs,
apresentando a Deus o incensário que contém os Seus méritos imaculados e as
orações, confissões e ações de graças de Seu povo. Perfumados com a fragrância
de Sua justiça, sobem como cheiro suave a Deus. A oferenda é inteiramente aceitável,
e o perdão cobre todas as transgressões.” (Parábolas de Jesus, p. 156).
“...serei vosso
representante no Céu. O pai não vê vosso caráter defeituoso, mas vos olha
revestidos de Minha perfeição.” (O desejado de todas as nações, p. 357). “Cristo
vestirá Seus fiéis com Sua própria justiça, para que os possa apresentar a Seu
Pai como "igreja gloriosa, sem mancha, nem ruga, nem coisa
semelhante". Efésios. 5:27.” (O grande conflito, p. 484).
Essas
afirmações indicam bem precisamente que a mediação de Cristo em favor do crente
é tão essencial quanto o foi sua morte sobre a cruz, por que através de sua
mediação ele aplica os benefícios de sua atividade redentora a todos aqueles
que respondem ao evangelho em arrependimento e fé. Não como um mero pedinte,
mas como um conquistador clamando sua vitória, o capitão de nossa salvação
credita sua morte expiatória, sua vitória redentora, sua justiça perfeita a nós
e por causa disso nos apresenta totalmente aceitáveis ao Pai.
Note
os seguintes conceitos contidos nas citações antecedentes:
1. Como nosso
representante e substituto, Cristo apresenta seu povo momento a momento completo
nele mesmo. Então nós participamos de duas diferentes realidades ao mesmo
tempo: em nós mesmos por nossa natureza
somos pecaminosos; ainda assim, em Cristo, pela fé, somos justos. Se Deus
fosse nos julgar e retribuir na base do que nós somos, do que nós temos, do que
nós somos, do que nós fazemos, Ele teria que nos deixar perecer por nossa
condição caída. Contudo, por que Deus nos avalia sob a base de nossa
participação pela fé nos méritos de Cristo. Ele nos pronuncia justos e nos
trata como seus queridos filhos, a despeito do fato de que em nós mesmos ainda
somos pecaminosos, imperfeitos e indignos.
2. Somente a cobertura
que o próprio Cristo proveu pode nos qualificar a comparecer perante a presença
de Deus. Essa vestimenta, um veste tecida nos teares do céu, Cristo coloca
individualmente sobre cada crente arrependido. A posição do crente perante Deus
– sua participação no banquete do evangelho – se baseia não em seu faltoso
caráter, mas no fato de que ele está vestido com a perfeição de Cristo.
3. Uma transação
acontece entre o crente e Cristo. O salvador assume o pecado do homem, sofre
sua condenação, e morre a sua morte. Em troca o crente recebe acesso à justiça
de Cristo, e participada vida que justamente pertence somente a Cristo.
4. A última passagem
citada anteriormente não diz que Jesus provê o poder do qual a igreja necessita
com o objetivo de se fazer a si mesma apresentável. Ao invés disso, ela diz que
Ele irá revesti-la para que Ele a apresente como glorioso e incontaminado
corpo. A roupa nunca é uma parte integral daquele que a usa. É algo que é
colocado sobre com intenção de fazer uma pessoa se apresentar apropriadamente.
Então a passagem não descreve a realidade atual da condição espiritual da
igreja – não fala de uma real conquista por parte da igreja. Ao contrário, a passagem descreve o que Jesus faz pela
igreja apara apresentá-la ao Pai. Jesus veste seu povo com a vestimenta que
ele mesmo providenciou. – a vestimenta espiritual de sua própria justiça – e
por causa disso os traz ao Pai como igreja gloriosa e sem manha.
Note que Ellen White
estabelece um relacionamento direto e necessário entre o que Cristo fez por nós
ontem como nosso substituto e hoje como nosso representante no trono. Portanto,
enquanto Ele completa sua obra redentora em nosso favor, quando deu sua vida
como sacrifício expiatório na cruz, a aplicação individual aos crentes
individuais é algo presente, acontecendo na realidade e que continuará até o
tempo de graça terminar.
Por seu sacrifício
expiatório na cruz o Salvador recebeu o direito de compartilhar sua vitória
pessoal, sua justiça pessoal, e sua herança pessoal com aqueles que se tornarem
os filhos e filhas adotivas de Deus pela fé nele. Como nosso mediador, ele
agora exercita esse direito ao efetivamente aplicar aos crentes,
individualmente, o que ele conquistou, em princípio, por toda a humanidade
através de sua morte vicária.
3.
A santificação do crente e sua dependência da mediação de Cristo para uma
correta relação para com Deus.
Os escritos de Ellen
White expressão a idéia de que a santificação é um processo que dura a vida
toda e que, por causa de sua própria natureza, nunca é totalmente completa na
vida presente. O crente nunca supera sua pecaminosidade pessoal nem transcende
sua condição perdida. Ele também nunca alcança o padrão de perfeição absoluta
que Deus requer em um universo sem pecado. Como resultado, ele continua em um
estado de constante dependência da mediação de Cristo para estar numa correta
posição diante de Deus enquanto ele viver.
“A santificação não
é obra de um momento, de uma hora, de um dia, mas dá vida toda. Não se alcança
com um feliz vôo dos sentimentos, mas é o resultado de morrer constantemente
para o pecado, e viver constantemente para Cristo... Enquanto reinar Satanás,
teremos de subjugar o próprio eu e vencer os pecados que nos assaltam; enquanto
durar a vida não haverá ocasião de repouso, nenhum ponto a que possamos atingir
e dizer: "Alcancei tudo completamente."” (Atos dos apóstolos, pp.
560, 561). “Há tendências hereditárias e cultivadas para o mal que precisam ser
vencidas. O apetite e a paixão devem ser postos sob o controle do Espírito
Santo. Não há fim ao conflito do lado de cá da eternidade.” (Conselhos aos
pais, professores e estudantes, p. 20).
“O ser humano pode
crescer à estatura de Cristo, sua cabeça viva. Não é obra de um momento, mas de
uma vida toda. Por crescer diariamente na vida espiritual, ele não alcançara a
plena estatura de homem perfeito em Cristo senão quando terminar seu tempo de
graça. O crescimento é uma obra contínua.” (testemunhos para a igreja. Vol. 4,
367).
“Há os que já
experimentaram o amor perdoador de Cristo, e que desejam realmente ser filhos
de Deus, contudo reconhecem que seu caráter é imperfeito, sua vida faltosa, e
chegam a ponto de duvidar se seu coração foi renovado pelo Espírito Santo. A
esses eu desejaria dizer: Não recueis, em desespero. Muitas vezes, teremos de
prostrar-nos e chorar aos pés de Jesus, por causa de nossas faltas e erros; mas
não nos devemos desanimar. Mesmo quando somos vencidos pelo inimigo, não somos
repelidos, nem abandonados ou rejeitados por Deus. Não; Cristo está à destra de
Deus, fazendo intercessão por nós... E se tão-somente vos renderdes a Ele,
Aquele que em vós começou a boa obra há de continuá-la até o dia de Jesus
Cristo. Orai com mais fervor; crede mais plenamente.” (Caminho a Cristo, p.
64).
Tais
afirmações conduzem a três questões significantes:
1.
Santificação como um processo de mudança,
crescimento, e amadurecimento, é uma genuína realidade na experiência do
crente. Enquanto ele avança em sua caminhada cristã, o discípulo de Cristo
de fato vence tendências pecaminosas, atitudes e disposições. Ele modifica características
de seu caráter e de seus hábitos de vida que não são coerentes com seu alto
chamado como filho de Deus em Cristo. Crescentemente ele reflete as virtudes
justas do santo caráter de Cristo em sua vida pessoal. E ele progressivamente
padroniza sua vida sob tudo aquilo que é verdadeiro e justo e amável.
2.
Conquanto o crente realmente cresça, se desenvolva, e amadureça como cristão, ele nunca alcança a estatura de um homem
perfeito, ou atente totalmente a um estado de santificação completa durante
sua vida presente. Sua batalha tanto contra o pecado e contra o eu continua
enquanto ele viver. “Não há fim ao
conflito do lado de cá da eternidade.”
3.
Somente no “Dia de Jesus Cristo” – no ponto do tempo em que o eterno substitua
o histórico, quando o Reino da Glória supere o Reino da Graça, e o crente
experimente a transformação da natureza que se concretiza no evento da
ressurreição/glorificação – irá a obra que começou na conversão atingir sua
completude total e permanente (Filipenses 1:6).
A
Escritura promete que aqueles “que são filhos de Deus” agora, durante sua
existência presente, serão como Jesus “quando Ele aparecer,” não antes (1 João
3:2), “seremos transformados. Quando o que é corruptível se revestir de
incorruptibilidade e o mortal de imortalidade” (1 Cor 15:52, 53). Quando Deus
totalmente e permanentemente remover todos os efeitos do pecado dos redimidos e
restaurá-los ao estado original de integridade espiritual do qual Adão e Eva
desfrutaram antes da queda, então o processo de santificação será completado.
Isso é quando todos eles “juntos” serão “feitos perfeitos” (hebreus 11:40).
Como resultado de seu ato re-criador e restaurador, os redimidos serão pela
primeira vez por natureza aquilo que hoje eles podem ser somente em Cristo,
pela fé.
A
batalha com o pecado é apenas um aspecto da santificação não ainda completa
nessa vida. Um crescimento que não teve seu fim, desenvolvimento, e
amadurecimento devem também prosseguir tanto quanto a vida durar.
“Toda pessoa crente deve submeter
sua vontade inteiramente à vontade de Deus e manter-se num estado de
arrependimento e contrição, exercendo fé nos méritos expiadores do Redentor e
avançando de força em força, e de glória em glória.” (fé e obras, p. 103). “A
santificação é obra de toda uma vida. Multiplicando-se as oportunidades,
ampliar-se-á nossa experiência e crescerá nosso conhecimento. Tornar-nos-emos
fortes para assumir as responsabilidades, e nossa maturidade será proporcional
aos nossos privilégios.” (Parábolas de Jesus, pp. 65, 66).
“Necessitamos constantemente de
uma revelação nova de Cristo, de uma experiência diária que ser harmonize com
os Seus ensinos. Estão ao nosso alcance resultados altos e santos. Deus deseja
que façamos contínuos progressos na ciência e na virtude. Sua lei é um eco de
Sua própria voz, fazendo a todos o convite: "Subi mais alto. Sede santos,
mais santos ainda." Cada dia podemos avançar no aperfeiçoamento do caráter
cristão.” Ciência do bom viver, 503).
“Deve haver contínuo esforço e constante progresso para frente e para cima,
rumo à perfeição do caráter.” (Conselhos
aos pais, professores e estudantes, 365).
“A cada avanço na experiência
cristã nosso arrependimento aprofundar-se-á. Justamente àqueles a quem Deus
perdoou e reconhece como Seu povo, diz Ele: "Então, vos lembrareis dos
vossos maus caminhos e dos vossos feitos, que não foram bons; e tereis nojo em
vós mesmos das vossas maldades e das vossas abominações." Ezeq. 36:31... Então
nossos lábios não se abrirão para nos gloriarmos. Saberemos que só em Cristo
temos suficiência. Faremos nossa a confissão do apóstolo: "Eu sei que em
mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum." Rom. 7:18.” (Parábolas de Jesus, 160, 161).
Essas
passagens claramente indicam que, além de nunca desistir de transcender o
estado de pecaminosidade pessoal no qual ele se encontra, o crente nunca
termina de adquirir as positivas virtudes de um caráter cristão maduro nesta
vida. Seu crescimento é tanto real quanto significativo, mas nunca é completo.
Ele sempre carece da glória de Deus e, portanto, deve viver num estado de
arrependimento constante e fé, plenamente ciente que sua suficiência
encontra-se em Cristo somente.
“Aqueles que estão realmente
buscando o perfeito caráter cristão, jamais condescenderão com o pensamento de
que estão sem pecado. Sua vida pode ser irrepreensível; podem estar vivendo
como representantes da verdade que aceitaram; porém, quanto mais consagram a
mente para se demorar no caráter de Cristo e mais se aproximam de Sua divina
imagem, tanto mais claramente discernirão Sua imaculada perfeição e mais profundamente sentirão seus próprios defeitos.” (Santificação, p.7, itálicos supridos). “Nunca
podemos alcançar a perfeição por nossas próprias boas obras. A pessoa que vê a
Jesus pela fé, rejeita sua própria justiça. Encara a si mesma como incompleta,
seu arrependimento como insuficiente, sua mais forte fé como sendo apenas
debilidade, seu mais custoso sacrifício como escasso, e se prostra com
humildade ao pé da cruz. Mas uma voz lhe fala dos oráculos da Palavra de Deus. Com
estupefação ela ouve a mensagem: "NEle estais aperfeiçoados." Agora
tudo está em paz nessa pessoa. Não precisa mais esforçar-se para encontrar
algum merecimento em si mesma, alguma ação meritória pela qual alcance o favor
de Deus.” (Fé e obras, pp. 107-108).
O
indivíduo que vê a Jesus pela fé não rebaixa a si mesmo por ser ainda um
pecador em aberta rebelião. Seu problema não é que ele seja inteiramente sem
qualidades positivas como sem boas obras, mas por que elas são todas
imperfeitas. Ele admitidamente tem certo grau de justiça, arrependimento, fé,
sacrifício. Mas por que ele tem uma visão
da perfeição de Cristo, ele tem tanto o ponto de referência e a percepção
espiritual necessária para admitir que ele fica aquém do padrão Divino de
perfeita justiça, e portanto merece, não a aprovação de Deus, mas sua
condenação. Sua percepção de Cristo o capacita a discernir a imperfeição no
que ele é, a inadequação do que ele tem, e a insuficiência do que ele faz. Isso
o conduz a perceber sua dependência total de Cristo, e o move a se curvar em
humilhação aos pés da cruz.
Mas
então, quando ele percebe sua real condição como pecador perdido, se dá conta
de sua total dependência de Cristo para estar diante de Deus, e em humilhação
se ajoelha aos pés da cruz, ele ouve a boa notícia do evangelho – toda a boa
notícia que o evangelho pode lhe conceder hoje, durante sua vida presente,
histórica. Que tudo está bem: ele está completo em Cristo, aceito no amado, e
portanto não precisa “se esforçar para encontrar algum merecimento em si mesmo,
alguma obra meritória pela qual há de ganhar o favor de Deus.”
Na
segunda vinda de Jesus, quando Deus restaurar o crente à perfeição original com
a qual Deus criou o ser humano no princípio, ele será justo por natureza, assim
como nossos primeiros pais eram antes da queda. Entrementes ele só pode ser justo, santo, digno, um
filho de Deus, somente em Cristo. Ele depende totalmente da mediação de Cristo
para ser aceito pelo Pai, e conseqüentemente deve viver pela fé nEle até o fim
de sua vida.
É,
portanto lógico – bem como imperativo – concluir que a primeira razão pela qual
os escritos de Ellen White consideram o ministério mediador de Cristo essencial
para o plano da redenção é que esse ministério constitui o único caminho para
um pecador assegurar uma correta posição para com Deus. Jesus faz mediação pelo
crente para apresentá-lo – como indivíduo – perfeitamente justo diante do Pai. O Salvador imputa sua morte expiatória, sua
vitória redentora, e sua justiça salvífica ao crente para que ele possa, pela
fé, estar diante de Deus impecável em Cristo a despeito de que por natureza ele
continua pecaminoso, imperfeito, e indigno em si mesmo.
4. Algumas considerações
escriturísticas
Como
indiquei na introdução, esse livro não é uma declaração doutrinária baseada em
uma investigação exaustiva da Escritura, mas uma tentativa de se sistematizar e
a articular os escritos de Ellen White sobre a mediação de Cristo. Portanto eu
trago a evidência escriturística apenas para mostrar que seus conceitos são
consistentes com a Bíblia sendo confiáveis. Ou seja, eles têm valor doutrinário
por serem consistentes com a Escritura.
A
primeira passagem que vamos examinar é Hebreus 7:25:
“Por isso, também pode salvar totalmente os que
por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles.” Esse verso
contém pelo menos três conceitos significativos:
1. Jesus “pode salvar” por que vive “para
interceder por” nós. Assim o texto estabelece
uma relação direta de causa e efeito entre a mediação de Cristo e nossa
salvação. Como mediador vivo, Jesus realiza agora algo que é essencia para a
salvação – hoje ele torna a salvação uma realidade para nós. Isso justifica a
passagem de Ellen White que afirma que a mediação de Cristo é “tão vital para o
plano da salvação como foi sua morte sobre a cruz” (O grande conflito, 489).
2. Por fazer mediação em favor deles, Jesus
salva “aqueles que vão a Deus por meio dele.” Claramente ele não salva a todos,
mas somente a um grupo específico. Sua mediação não inclui aqueles que querem
encontrar um caminho diferente até o Pai, que tentam alcançar uma posição
apropriada diante dEle com base em suas próprias consecuções – sua justiça
pessoal e “perfeita” obediência.
“Acesso... a
essa graça” (Romanos 5:2) é possível apenas pela fé em Cristo e garantida
apenas àqueles que procuram estar em posição correta para com Deus sob a base
de Sua obra redentora. Mas quando alguém quer alcançar o mesmo objetivo através
de suas façanhas espirituais pessoais, ele cria uma forma de salvação diferente
e conseqüentemente perde o que está disponível para aqueles que se aproximam
através de Cristo. É isso que Paulo ensina quando atesta, “de Cristo vos
desligastes, vós que procurais justificar-vos na lei; da graça decaístes”
(Gálatas 5:4).
Em outras palavras, as fontes
disponíveis para aqueles que participam na aliança da graça de Deus não estão
acessíveis para aqueles que se empenham por encontrar outro caminho para chegar
a Deus. Se eles não centralizam sua segurança de Salvação na obra redentora de
Cristo, então eles se responsabilizam completamente por si mesmos. (Rejeitaram
a provisão feita por Deus, dessa forma Ele não pode cancelar a condenação
deles, ou concedê-los os méritos de Cristo para substituir sua destruição
espiritual). Ellen White expressa esse mesmo princípio quando ela diz que “em
nós mesmos somos pecadores; mas em Cristo somos justos” (Mensagens escolhidas, Vol. 1, p. 394). Que “estamos perfeitos nEle,
aceitos no amado, somente enquanto permanecemos nEle pela fé” (Fé e obras, p. 107).
3. Jesus “pode salvar totalmente”
– “até o máximo” (King James Version), “totalmente e completamente (J. B.
Phillips: The new Testament in modern
english Revised edition), “Absolutamente” (New English Bible), “Para todo o
tempo” (Revised Standard Version) – “aqueles que se achegam a Deus por meio
dele.” “como autor e consumador da fé” (Hebreus 12:2), Ele salva não
parcialmente, mas completamente.
A passagem seguinte fala daqueles
que querem ganhar a salvação por boas obras como parte da base de sua salvação:
“Jesus, pensam eles, efetuará uma
parte da salvação, e eles precisam fazer o resto. Necessitam ver pela fé a
justiça de Cristo como sua única esperança para o tempo e para a eternidade.” (Fé e obras, p.26).
Paulo diz que Jesus nos
apresentará “santos, inculpáveis e
irrepreensíveis, se é que permaneceis na fé, alicerçados e firmes, não vos deixando
afastar da esperança do evangelho.” (Col. 1:22-23). Note que o texto não afirma
que Jesus capacitará os crentes a desenvolver justiça perfeita, ou atingir
completude espiritual, mas que ele os
apresentará como sendo santos,
inculpáveis e irrepreensíveis perante Deus. Como em Hebreus 7:25, Judas 24,
Efésios 5:27, etc., isso é uma referência, não a algo que os crentes atingem em
suas vidas pessoais/históricas, mas a algo que Cristo faz por eles.
A segunda passagem das Escrituras
que queremos estudar brevemente é Mateus 22:1-14. Ela retrata a parábola das
bodas, ou do homem sem os trajes nupciais, que provê muito do simbolismo usado
nos escritos de Ellen White. E desde que estamos examinando várias passagens
das Escrituras para encontrar as fontes dos conceitos dela, vamos discutir essa
parábola junto da seguinte afirmação:
“Quando o rei entrou para ver os
convidados, foi revelado o verdadeiro caráter de todos. A cada um foi provido
um vestido de bodas. Essa veste era uma dádiva do rei. Usando-a, os convidados
demonstravam respeito ao doador da festa. Um homem, porém, estava com seus
trajes comuns. Recusara fazer a preparação exigida pelo rei. A veste provida
para ele com grande custo, desdenhou usar. Deste modo insultou seu senhor.” (Parábolas de Jesus, p. 309).
Pelo menos seis pontos chamam
nossa atenção aqui:
1. O Rei solicitou aos servos que
estavam a cargo de trazer os convidados ao banquete das bodas a ir “para as encruzilhadas dos caminhos e convidai para as bodas a quantos
encontrardes. E, saindo aqueles servos pelas estradas, reuniram todos os que
encontraram, maus e bons; e a sala do banquete ficou repleta de convidados.”
(Mt 22:9-10). Qualquer um, fosse bom ou mal, que aceitasse o convite poderiam
entrar na sala do banquete.
2. A
inspeção dos convidados por parte do Rei – um ato de julgamento – determinou
quem seria e quem não seria recebido como convidado e a quem seria permitido
permanecer para efetivamente participar da festa de casamento. O critério usado
não se centralizou no caráter moral dos que vieram – fossem eles bons ou maus.
Ao contrário, o critério envolveu sua relação com os trajes nupciais que o rei
pessoalmente tinha providenciado para eles – tenham eles usado esses trajes ou
não. Portanto o resultado dessa inspeção revelou não a bondade ou dignidade dos
convidados, mas a generosidade do Rei. Qualquer um que vestisse o traje
concedido pelo Rei poderia ser um convidado e participar do banquete do casamento.
Por outro lado, qualquer um que, por esse próprio ato, falhasse em se vestir
com as vestes providas pelo Rei seria desqualificado como convidado.
3. Através desse único
requerimento, o Rei colocou a todos no mesmo nível. Ninguém poderia atribuir
sua aceitação fosse por sua bondade moral superior, ou para as qualidades mais
elevadas da roupa que ele pessoalmente escolheu antes de comparecer ao
banquete. Um convidado particular ser um pouco melhor que seus vizinhos, ou
estar vestido de roupas mais custosas do que os outros poderiam comprar, não
faz diferença aqui. Os convidados eram igualmente dependentes de algo que o Rei
providenciou como um presente – uma veste única que eles não poderiam assegurar
em qualquer outro lugar, nem produzir por si mesmos por quaisquer meios. Por
que as vestes nupciais eram um presente gratuito concedido pelo Rei, todos
tinham a mesma oportunidade de possuí-la, e ninguém teria uma desculpa válida
para não usá-la.
4. Como foi descoberto, apenas um
homem recusou a preparação requerida pelo Rei. O Rei não o atirou fora por que
ele era o pior entre as “más” pessoas que compareceram. Tanto quanto concerne a
parábola, ele poderia ser o melhor entre os “bons.” Nem Ele o rejeitou por que
suas próprias vestes fossem feias, ou defeituosas, ou sujas. Aquele que seria
convidado teve que ir para as trevas por que usou a roupa errada. Ao invés de
estar vestido com as vestes providenciadas pelo Rei, ele vestiu algo que ele
produziu por ele mesmo, ou adquiriu por seus próprios meios em outro lugar.
5. Ao vestir suas próprias vestes
ao invés das vestes nupciais do Rei, ele insultou seu Senhor. Como resultado
ele não apenas foi excluído do casamento – como aqueles que haviam sido
convidados, mas se recusaram a comparecer – mas também foi punido por se
recusar a estar de acordo com as condições específicas estabelecidas pelo Rei.
Ele, ou ignorou, ou tentou violar as ordens do Rei, uma ordem de acordo com a
qual “só serão recebidos os que trajarem as vestes da justiça de Cristo.” (ibid. p. 312).
6. O verso 14 afirma que “muitos são chamados, mas poucos, escolhidos.” Na verdade
Deus chama a todos, uma vez que a obra redentora de Jesus Cristo abarca a
humanidade toda – o Evangelho não deixa absolutamente ninguém de fora. Quem,
então, são os poucos escolhidos?
De acordo com a parábola, os escolhidos foram aqueles que fizeram três
coisas básicas: (1) todos eles aceitaram o convite do rei para as bodas, (2)
todos vieram para a recepção do casamento, e (3) todos se vestiram com os
trajes nupciais. Ao vestirem as roupas apropriadas, e deste modo cumprindo os
preparativos requeridos pelo Rei, eles demonstraram, primeiro, que eles eram
verdadeiramente obedientes, e segundo, que eles tinham fé genuína. Eles
baseavam sua segurança de aceitação em relação ao Rei, não por quem eles eram,
tinham, ou no que fizeram por si mesmos, mas nos trajes nupciais, que
simbolizam a justiça salvadora de Cristo livremente imputada a cada um que se
arrepende e crê.
A terceira a última passagem que
queremos discutir é Gálatas 3:26-4:7. Dois conceitos particularmente nos
interessam nesse ponto. Primeiro: “Todos vocês são filhos de Deus através da fé
em Jesus Cristo” (Gál. 3:26). Adoção, como definindo uma garantia de filiação à
alguém que não é um filho natural, é um dos primeiros benefícios que os crentes
recebem através da fé em Jesus Cristo. O Salvador concede “o direito de sermos
feitos filhos de Deus”... “a todos que crêem no seu nome” (João 1:12). Os
crentes são, portanto, “adotados como filhos (de Deus) através de Jesus Cristo”
(Efésios 1:5). Filiação, então, não é algo que os crentes conquistam, mas um
presente da Graça de Deus para aqueles que aceitam a Jesus como seu Salvador
pessoal.
Segundo: “E, se sois de Cristo, também sois... herdeiros segundo a promessa”
(Gálatas 3:29). “De sorte que já não és escravo, porém filho; e, sendo filho,
também herdeiro por Deus.” (Gál. 4:7). Nós observamos uma clara relação de
causa e efeito aqui, uma reação em cadeia, se preferir. 1. O crente se torna um
filho adotivo de Deus na base de seu relacionamento de fé com Cristo – sua fé
em Cristo lhe dá o direito de filiação. 2. E ele se torna um herdeiro por que
ele é um filho adotivo de Deus – sua filiação lhe dá direito à herança. Em
outras palavras, a filiação pertence àqueles que tem fé em Jesus Cristo, e a
herança – a vida eterna e tudo que lhe envolve – pertence àqueles que são
filhos de Deus em Cristo.
Essa direta
relação de causa e efeito entre fé e filiação, em uma mão, e filiação e
herança, na outra, devem permanecer intactas. As Escrituras ensinam ensinam que
os filhos de Deus crescem em todos os aspectos de sua vida. Mas a bíblia nunca
estabelece uma relação de causa e efeito entre um grau de desenvolvimento
espiritual e seu direito à herança eterna. Pais humanos dividem suas posses entre
todos os seus filhos independentemente de suas relativas idades, tamanhos, ou
graus de maturidade. Mesmo nosso imperfeito senso de justiça nos diz que seria
extremamente injusto privar da herança um filho por que ele ainda era jovem, e
consequentemente não atingiu a plena maturidade.
Como
resultado de sua vida longa com Deus, Matusalém experimentou um grau de
maturidade relativmente alto. Mas de nenhuma maneira isso o torna mais
qualificado para receber a herança eterna do que o ladrão da cruz que, por causa
da sua adoção na undécima hora, morreu como um bêbe em Cristo. Tantos os casos
ilustram o fato de que a herança eterna pertence aos filhos e filhas de Deus em
Cristo independentemente do grau de seu desenvolvimento espiritual. Os bêbes em
Cristo que devem encarar o juízo final - seja na morte, ou no fechamento da
porta da graça - brevemente depois de seu nascimento na família espiritual de
Deus tem exatamente o mesmo direito, garantida pela Graça, de ser herdeiros
como são aqueles que são “adultos” mais velhos e experimentados.
Os maduros
filhos de Deus, que experimentaram um real e significativo crescimento
espiritual, nunca se tornaram nada além do que eles inicialmente. Ele sempre
permanece um filho adotivo de Deus cujo direito à herança jaz no fato de que
ele é um filho de Deus em Cristo, e não no grau de desenvolvimento espiritual
que ele experimentou durante a sua vida como cristão. Se ele morrer como um
bêbe recém nascido em Cristo ou viva uma longa vida de crescimento e
desenvolvimento não faz diferença no que se se refere ao direito à herança. Ele
é um herdeiro somente por que ele é um filho, e um filho por causa da adoção.
Isso
explica, de um outro ângulo, o mesmo conceito que vimos anteriormente: a saber,
que conquanto nunca iremos alcançar um estado de santificação total nesta vida,
nós podemos ter plena segurança de salvação. Conquando sejamos pecadores por
natureza, somos justos em Cristo pela fé. Por causa da imputação da justiça de
Cristo a nós, Deus nos declara justos e nos trata como seus filhos a despeito
do fato de que nós ainda somos
pecadores, imperfeitos, e indignos. Então Deus, não nos julga ou recompensa sob
a base de nosso progresso relativo de desenvolvimento de caráter e modificação
do comportamento, mas antes em nossa aceitação da obra redentora do Salvador.
Cristo
faz mediação pelo crente, para que seu desempenho – Obediência, serviço,
adoração – seja aceitável ao Pai
Muitos escritos de
Ellen White falam de outros aspectos, como uma segunda dimensão, do ministério
mediador de Cristo. Eles indicam que além de apresentar os crentes, como
indivíduos, momento a momento, perfeitos em si mesmo, Jesus torna seu
desempenho – suas vidas como filhos adotivos de Deus – perfeitamente aceitáveis
ao Pai.
Tanto quanto eu saiba,
ninguém jamais publicou um estudo sobre esse aspecto do ministério mediador de
Cristo. Aparentemente os estudantes dos escritos de Ellen White têm, ou passado
por cima, ou falhado em perceber sua significância. Iremos, portanto tentar
substanciá-lo aqui. Primeiro, veremos por
que os crentes precisam da mediação de Cristo por seu desempenho. Então
investigaremos como, de acordo com
Ellen White, o ministério mediador de Cristo aperfeiçoa as ações dos crentes
para que elas alcancem o padrão exigido por Deus.
- Por que o crente depende
da mediação de Cristo para render obediência perfeita
A necessidade de os
cristãos dependerem da mediação de Cristo para render um desempenho aceitável
jaz primeiro, na natureza absoluta do padrão de perfeição que Deus estabeleceu,
e segundo, em suas próprias limitações como pecador para cumprir as exigências
da lei.
“Deus requer neste
tempo exatamente o que Ele requereu do santo par no Éden - perfeita obediência
a Seus preceitos. Sua lei continua sendo a mesma em todos os séculos. A grande
norma de justiça apresentada no Antigo Testamento não é rebaixada no Novo.” (Fé e obras, p. 52). “A condição de vida
eterna é hoje justamente a mesma que sempre foi - exatamente a mesma que foi no
paraíso, antes da queda de nossos primeiros pais - perfeita obediência à lei de
Deus, perfeita justiça.” (Caminho a
Cristo, p.62).
“Muitos estão
enganados quanto à sua verdadeira condição perante Deus. Congratulam-se pelos
maus atos que não cometem, e esquecem-se de enumerar as boas e nobres ações que
Deus exige deles, mas negligenciaram cumprir.” (O grande conflito, p.601). “A lei requer obediência perfeita... O
mínimo desvio de suas reivindicações, por negligência ou transgressão
deliberada, é pecado, e todo pecado expõe o pecador à ira de Deus.” (Mensagens escolhidas, Vol.1, p.218). “Mais
elevado do que o sumo pensamento humano pode atingir, é o ideal de Deus para
com Seus filhos. A santidade, ou seja, a semelhança com Deus é o alvo a ser
atingido.” (Educação, p.18).
Chamamos a atenção para
apenas três aspectos de suas declarações: 1. O padrão a ser alcançado não é
apenas o da obediência, mas da perfeita
obediência, total conformidade com a vontade de Deus para a humanidade –
meras aproximações da perfeição não são aceitáveis. 2. O mínimo desvio das reivindicações de Deus é pecado, e todo pecado expõe a pessoa à ira de
Deus. 3. Homens são culpados não apenas por fazer
o mal, mas também por não fazer obras
suficientemente boas.
Perfeita obediência
significa a satisfação tanto da letra quanto do espírito da Palavra revelada de
Deus. Ela demanda absoluta harmonia com todos os princípios que formam a base de toda a sua vontade para a humanidade. Qualquer
coisa abaixo disso significa obediência imperfeita – uma obediência que, ao
invés de conseguir a aprovação de Deus, merece sua condenação. Como resultado,
alguém pode nunca ter violado uma única proibição específica do decálogo – tal
como tomar o nome de Deus em vão, cobiçar, ou sustentar falso testemunho – e
ainda assim ser condenada por ter falhado em fazer de Deus o primeiro, ou amar
ao próximo como a ele mesmo em todo o tempo, e em todas as circunstâncias. Ele
negligenciou “justiça, misericórdia e fé,” que, de acordo com Jesus, são “os
preceitos mais importantes da lei” (Mat. 23:23).
A questão quanto a se o
crente pode ou não atingir o padrão de Deus para perfeita obediência foi
respondida por Ellen White em seus escritos tanto negativamente quanto
positivamente.
Não.
Por ser um pecador, o crente não poder render obediência perfeita a Deus, a
menos...
“Era possível a
Adão, antes da queda, formar um caráter justo pela obediência à lei de Deus.
Mas deixou de o fazer e, devido ao seu pecado, nossa natureza se acha decaída,
e não podemos tornar-nos justos. Visto como somos pecaminosos, profanos, não
podemos obedecer perfeitamente a uma lei santa. Não possuímos justiça em nós
mesmos com a qual pudéssemos satisfazer às exigências da lei de Deus. Mas
Cristo nos proveu um meio de escape.” (Caminho
a Cristo, p. 62).
“Justiça é
obediência à lei. A lei requer justiça, e esta o pecador deve à lei; mas é ele
incapaz de a apresentar.” (Mensagens
escolhidas, Vol.1, p. 367). “ela (A lei) não podia justificar o homem,
porque em sua natureza pecaminosa este não a poderia guardar.” (Patriarcas e profetas, p. 373). “Deus
não abaixará Sua lei para acomodar-se ao imperfeito padrão humano; e o homem
não pode satisfazer os reclamos dessa santa lei sem manifestar arrependimento
para com Deus e fé para com o nosso Senhor Jesus Cristo.” (Fé e obras, p. 29).
Sim.
A despeito de sua pecaminosidade, o crente pode render obediência perfeita a
Deus, provida...
“Por Sua obediência
perfeita tornou possível a todo homem obedecer aos mandamentos de Deus... Cristo,
porém, veio na forma humana, e por Sua perfeita obediência provou que a
humanidade e a divindade combinadas podem obedecer a todos os preceitos de
Deus.” (Parábolas de Jesus, pp.
312-113).
“A cruz de Cristo
testifica da imutabilidade da lei de Deus... Jesus morreu para que pudesse
imputar ao pecador arrependido a Sua própria justiça, e tornar ao homem possível
guardar a lei.” (Mensagens escolhidas, p.
312).
Existe uma óbvia tensão
entre esses dois grupos de afirmações que citamos. Se analisarmos
precipitadamente, elas parecem ser contraditórias entre si. Contudo, quando as
examinamos mais cuidadosamente e as estudamos sobre uma base mais ampla, nós
descobrimos que elas não são contraditórias, mas complementares entre si. Elas
pertencem a um tipo de escrita que não deveríamos considerar compreensivos
isoladamente, sistemáticos, ou conclusivos. Antes, devemos vê-las como
afirmações parciais que ela nunca pretendeu que constituíssem uma resposta
completa em relação à questão com a qual elas se relacionam. Elas meramente
apontam para uma verdade que é tanto mais profunda quanto mais ampla do que
elas expressam especificamente – uma verdade que, uma vez entendida, descortina
sua natureza complementária e harmonia essencial.
O primeiro grupo de
afirmações na realidade afirma que, por ser um pecador, o crente não pode
render obediência perfeita a Deus sem
participar do que Cristo tornou disponível através de seu ministério
mediador. Em contrapartida, o segundo grupo afirma que, a despeito de sua
pecaminosidade pessoal, o crente pode alcançar o padrão de obediência perfeita
de Deus, que fez provisão de que ele
participe daquilo que Cristo tornou acessível para ele.
Note mais uma vez: “O
homem não pode cumprir as exigências daquela lei santa, sem exercer arrependimento para com Deus e fé para com Cristo.”
Através do arrependimento o crente assegura o perdão de Deus e pela fé ele se
torna participante na justiça salvadora de Cristo - ambas as coisas foram
tornadas disponíveis para ele através da mediação de Cristo. Então o problema
não é que a lei esteja exigindo coisas irrazoáveis, mas que o homem caído é
incapaz de obedeça-la perfeitamente. Portanto a solução não é tentar
transcender nossa pecaminosidade – por que isso não é possível nesta vida – mas
se tornar participante na vitória e nos méritos de Cristo.
- Como o Mediador
torna o desempenho do crente perfeitamente aceitável a Deus
Nós vimos que, de
acordo com Ellen White, Deus requer não apenas obediência, mas perfeita
obediência. E sugerimos que ela também indica que tal obediência é possível
somente através do arrependimento do crente para com Deus e fé em Jesus. Agora
devemos nos esforçar para estabelecer exatamente como a mediação de Cristo torna possível para o crente alcançar o
padrão que Deus estabeleceu.
“Cristo, nas
vitórias consumadas em Sua morte na cruz do Calvário, põe claramente a
descoberto o caminho para o homem, tornando-lhe assim possível guardar a lei de
Deus por meio do Caminho, da Verdade e da Vida. Não há outro meio.” (Mensagens escolhidas, Vol.1 p.342). “Jesus
tornou-Se o Mediador entre Deus e o homem, para restaurar a pessoa arrependida
ao favor de Deus, concedendo-lhe graça para guardar a lei do Altíssimo.” (Fé e obras, p. 119). “Mediante a graça
de Cristo viveremos em obediência à lei de Deus, escrita em nosso coração.” (Patriarcas e profetas, p.372). “Nenhum
pecado pode ser tolerado naqueles que caminharão com Cristo vestidos de branco.
As vestes sujas devem ser removidas, e as vestes da justiça de Cristo devem ser
colocadas sobre nós. Através de arrependimento e fé somos capacitados a prestar
obediência a todos os mandamentos de Deus, e ser encontrados sem culpa diante
dEle” (Testemunhos para a igreja,
Vol. 5, p.472). Unicamente por meio da fé em Cristo é possível essa (perfeita) obediência
(às exigências da lei). (Nos lugares
celestiais, p.146).
“Através da fé em
Cristo a obediência a todos os princípios da Lei de Deus é possível.” (Comentário bíblico adventista, comentários
de Ellen G. White, Vol. 6, p.1077). “Para satisfazer os reclamos da lei, nossa
fé tem de apoderar-se da justiça de Cristo, aceitando-a como nossa justiça.
Mediante a união com Cristo, mediante a
aceitação de Sua justiça pela fé, podemos ser habilitados para fazer as
obras de Deus e ser cooperadores de Cristo.” (Mensagens escolhidas, p. 374, itálicos supridos). “Cristo tornou-Se
o sacrifício sem pecado por uma raça culpada, fazendo dos homens prisioneiros
de esperança, para que pelo arrependimento para com Deus por haverem
transgredido Sua santa lei, e pela fé em Cristo como seu Substituto, Penhor e
Justiça, pudessem ser reconduzidos à lealdade a Deus e à obediência a Sua santa
lei.” (Fé e obras, p.118).
Examinaremos três
idéias que aparecem nessas afirmações: 1. Obediência perfeita à vontade de Deus
é possível ao crente. 2. A única maneira de alcançá-la é através de Jesus
Cristo – “através do caminho, verdade e vida. Não há outro caminho.” 3. A graça
de Deus, a justiça de Cristo, e o arrependimento e fé são as verdadeiras chaves
para a obediência perfeita.
Nosso exame dos
escritos de Ellen White nos conduziu a uma descoberta de certa forma
surpreendente. Eles consistentemente ensinam que obediência perfeita para com a vontade de Deus é possível somente quando, através da fé, o crente
participa no que Cristo faz por ele como seu mediador e substituto na presença
do Pai.
A mediação de Cristo
torna a obediência do crente perfeitamente aceitável ao Pai em três maneiras
distintas, ainda que interligadas: (1) Através de substituição, (2) através de
purificação, e (3) através de complementação.
a.
Perfeita obediência através de substituição:
O
Pai aceita a justiça Toda-Suficiente de Cristo – seu caráter santo, seus
méritos perfeitos, e obediência impecável – em
lugar das imperfeições, falhas e pecaminosidade do crente.
“Visto como somos
pecaminosos, profanos, não podemos obedecer perfeitamente a uma lei santa. Não
possuímos justiça em nós mesmos com a qual pudéssemos satisfazer às exigências
da lei de Deus. Mas Cristo nos proveu um meio de escape. Viveu na Terra em meio
de provas e tentações como as que nos sobrevêm a nós. Viveu uma vida sem
pecado. Morreu por nós, e agora Se oferece para nos tirar os pecados e dar-nos
Sua justiça. Se vos entregardes a Ele e O aceitardes como vosso Salvador,
sereis então, por pecaminosa que tenha sido vossa vida, considerados justos por
Sua causa. O caráter de Cristo substituirá o vosso caráter, e sereis aceitos
diante de Deus exatamente como se não houvésseis pecado.” (Caminho a Cristo, p. 62). “A única maneira em que pode alcançar a
justiça é pela fé. Pela fé pode ele apresentar a Deus os méritos de Cristo, e o
Senhor lança a obediência de Seu Filho a crédito do pecador. A justiça de
Cristo é aceita em lugar do fracasso do homem, e Deus recebe, perdoa, justifica
a alma arrependida e crente, trata-a como se fosse justa, e ama-a tal qual ama
Seu Filho. Assim é que a fé é imputada como justiça; e a alma perdoada avança
de graça em graça, de uma luz para luz maior.” (Mensagens escolhidas, p. 367).
“No momento em que
o pecador crê em Cristo, permanece sem condenação à vista de Deus; pois a
justiça de Cristo é sua: é-lhe imputada a perfeita obediência de Cristo.” (Fundamentos da educação cristã, p. 429).
“A verdade é clara, e quando ela é contrastada com o erro, seu caráter pode ser
discernido. Todos os súditos da graça de Deus podem compreender o que é
requerido deles. Pela fé podemos submeter nossa vida à norma da justiça, porque
podemos apropriar-nos da justiça de Cristo.” (Fé e obras, p. 97).
b.
Perfeita
obediência através da Purificação: Como
um incenso purificador, a justiça salvadora de Cristo de Cristo purifica sua adoração, obediência e
serviço de sua pecaminosidade tornando-as aceitáveis a Deus.
“Perante o crente é
apresentada a maravilhosa possibilidade de ser semelhante a Cristo, obediente a
todos os princípios da lei. Mas por si mesmo é o homem absolutamente incapaz de
alcançar esta condição. A santidade que a Palavra de Deus declara dever ele
possuir antes que possa ser salvo, é o resultado da operação da divina graça,
ao submeter-se à disciplina e restritoras influências do Espírito de verdade. A
obediência do homem só pode ser aperfeiçoada pelo incenso da justiça de Cristo,
o qual enche com a divina fragrância cada ato de obediência.” (Atos dos apóstolos, p. 532). “O incenso
que subia com as orações de Israel, representa os méritos e intercessão de
Cristo. Sua perfeita justiça, que pela fé é atribuída ao Seu povo, o que
unicamente pode tornar aceitável a Deus o culto de seres pecadores.” (Patriarcas e profetas, p. 353). “Nem
tempo, nem eventos, podem diminuir a eficácia do sacrifício expiatório. Como a
perfumada nuvem de incenso acendia de forma aceitável ao céu, e Arão aspergia o
sangue sob o trono da misericórdia e purificava o povo da culpa, assim os
méritos do cordeiro são aceitos por Deus como purificador das contaminações do
pecado.” (Testemunhos para a igreja,
vol. 4, p.124).
“tudo precisa ser
colocado sobre o fogo da justiça de Cristo, a fim de que seja purificado de seu
odor terreno, antes que ascenda numa nuvem de fragrante incenso ao grande Jeová
e seja aceito como aroma suave... Cristo
Se fez pobre por amor de nós, para que pela Sua pobreza nos tornássemos ricos.
E quaisquer obras que o homem pode prestar a Deus serão muito menos do que
nada. Meus pedidos só se tornam aceitáveis por estarem baseados na justiça de
Cristo. A idéia de fazer algo para merecer a graça do perdão é errônea do
começo até o fim. ‘Senhor, não trago na mão valor algum; simplesmente me apego
a Tua cruz.’” (Fé e obras,
p.24).
“Cristo olha ao
espírito com que fazemos as coisas, e quando nos vê levando nossa carga com fé,
Sua santidade perfeita faz expiação por nossas faltas. Quando fazemos o melhor
possível, Ele Se torna nossa justiça.” (Mensagens
escolhidas, Vol. 1, p.368). “...os méritos de Jesus se têm de misturar com
nossas orações e esforços, do contrário eles se tornarão tão sem valor como a
oferta de Caim. Pudéssemos ver toda a atividade dos instrumentos humanos, tais
como ela se apresenta diante de Deus, haveríamos de ver que unicamente a obra
efetuada mediante muita oração, santificada pelos méritos de Cristo, há de
suportar a prova do juízo.” (Serviço
cristão, p.263).
c.
Perfeita obediência através de complementação:
Cristo toma os esforços honestos, ainda que imperfeitos, do crente, para viver
em harmonia com Deus e os completa –
os aperfeiçoa – com seus próprios méritos para que eles atinjam os
requerimentos de Deus.
“A fé e as obras
andam de mãos dadas; elas atuam harmoniosamente na obra de vencer. As obras sem
fé são mortas, e a fé sem obras é inoperante. As obras nunca nos salvarão; é o
mérito de Cristo que será eficaz em nosso favor. Mediante a fé nEle, Cristo tornará
todos os nossos esforços imperfeitos aceitáveis a Deus.” (Fé e obras, p.48). “Embora as boas obras do homem, sem a fé em
Jesus, não sejam de mais valor do que foi a oferta de Caim, contudo, cobertas
com o mérito de Cristo, testificam da dignidade do que as pratica, de herdar a
vida eterna. Aquilo que no mundo é considerado moralidade, não alcança a norma
divina e não tem mais mérito diante do Céu do que teve a oferta de Caim.” (Mensagens escolhidas, vol.1, p.382).
“Mediante os
méritos do Redentor, Deus aceita os
esforços do pecador para observar Sua lei, que é santa, justa e boa.” (Filhos e filhas de Deus, p. 42, itálicos
supridos). “Quando o coração está disposto a obedecer a Deus; quando se fazem
esforços neste sentido, Jesus aceita esta disposição e este esforço como sendo
o melhor serviço do homem, e preenche a
deficiência, dando-lhe Seu mérito divino.” (Minha consagração hoje, p.250, itálicos supridos).
Embora a próxima
passagem se refira especificamente à oração, ela nos ajuda a entender como, de
acordo com Ellen White, a mediação de Cristo aperfeiçoa o deficiente desempenho
do crente.
“Toda sincera
oração é ouvida no Céu. Talvez não seja expressa fluentemente; mas se nela está
o coração, ascenderá ao santuário em que Jesus ministra, e Ele a apresentará ao
Pai sem uma palavra desalinhada, sem uma dificuldade de enunciação, bela e
fragrante com o incenso de Sua própria perfeição.” (Desejado de Todas as nações, p. 667).
Claramente a mediação
de Cristo tem um efeito duplo sobre a “oração sincera”: 1. São removidas as
imperfeições da oração feita por aquele que orou, 2. Cristo torna-a “bela” com
o incenso de sua própria perfeição.
Essas considerações nos
levam a concluir que, de acordo com Ellen White, o ministério mediador de
Cristo é tão essencial como foi sua morte sobre a cruz por que através dele
Cristo conduz o plano da redenção a sua realização efetiva em favor daqueles
que o aceitam como Salvador pessoal, por compartilhar com eles os benefícios da
obra redentora completada na cruz. Esse compartilhamento ocorre de uma forma
dupla: 1. Cristo imputa sua morte expiatória, vitória redentora, e sua justiça
salvadora ao crente e por isso o apresenta – como indivíduo – perfeitamente
justo diante do Pai. 2. Cristo imputa seus méritos pessoais à vida deficiente
do crente como filho de Deus, e assim torna sua obediência, seu serviço, e sua
adoração agradáveis ao Pai.
- Algumas
considerações escriturísticas
Enquanto
alguns detalhes contidos nas afirmações anteriores discutidas não estejam na
bíblia, os conceitos básicos que eles apresentam são plenamente
escriturísticos. As passagens que discutimos nessa seção deveriam demonstram
essa correlação. Paulo afirma:
“Pois assim como, por uma só ofensa, veio o juízo sobre todos os
homens para condenação, assim também, por um só ato de justiça, veio a graça
sobre todos os homens para a justificação que dá vida. Porque, como, pela
desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores, assim também, por
meio da obediência de um só, muitos se tornarão justos.” (Romanos 5:18-19).
Note dois aspectos
básicos aqui: 1. A justificação dos pecadores repousa não sobre o que eles são
ou fazem – como possuir um caráter perfeito ou uma obediência impecável – mas
no “ato de justiça” de Cristo. 2. Os muitos [direta referência aos redimidos]
“serão feitos justos” “através da obediência de um homem,” a saber, Jesus
Cristo.
Nós vimos que, de
acordo com Ellen White, “No momento em que o pecador crê em Cristo, permanece
sem condenação à vista de Deus; pois a justiça de Cristo é sua: é-lhe imputada
a perfeita obediência de Cristo.” O crente pode “apresentar a Deus os méritos
de Cristo, e o Senhor credita a obediência de seu Filho à conta do pecador.”
Embora o texto de Romanos não use essas exatas palavras, é claro que ele
estabelece o mesmo princípio. Paulo revela o fato, de que o ato de justiça de
Cristo resulta em “justificação que dá vida a todos os homens.” Ele então
indica que a obediência de Jesus conta – ou é creditada – em favor do crente
que é então feito justo sob a base da obediência de Cristo imputada a ele pela
fé.
O fato de que a
mediação de Cristo aperfeiçoa e completa as consecuções parciais, e os esforços
imperfeitos do crente, não elimina a necessidade de obediência, contudo. Jesus
não torna a transgressão consciente e desobediência deliberada aceitável a Deus
– apenas perdão, através de arrependimento e confissão pode remediar isso. São
as tentativas verdadeiras do crente, de viver uma vida digna de um filho
adotivo de Deus em Cristo (Efésios 4:1ss.; 5:8ss.) que a justiça salvadora
purifica do pecado e torna perfeitas à vista do Pai.
As Escrituras ensinam
que Jesus “se tornou a fonte de salvação eterna para todos que o obedecem”
(Hebreus 5:9). Isso significa que Jesus é o Salvador, não daqueles que
conscientemente rejeitam, e deliberadamente contradizem a vontade de Deus para
a vida deles, mas apenas daqueles que lhe obedecem. Também é indicado que
aqueles que lhe obedecem precisam de Jesus como Salvador. Não é sua obediência,
mas Cristo, a fonte – a causa, a base – de sua Salvação.
O “obediente” precisa
de um Salvador, não por que eles estejam errados em obedecer, mas por que Deus
nunca intentou que a obediência fosse uma maneira alternativa de atingir uma
justiça salvadora – não é a maneira de seres caídos transcenderem sua condição
perdida, superar sua pecaminosidade pessoal, ou atingir um estágio de inteireza
(perfeição) espiritual. Paulo afirma que “se fosse promulgada uma lei que pudesse dar vida, a justiça, na verdade,
seria procedente de lei.” (Gál 3:21). Essa é a razão do por que nenhuma
quantidade de obediência nos pode conceder acesso à salvação. Por que a vida
Eterna só existe em Cristo, nós só podemos possui-la se tivermos a Cristo.
A segunda
razão pela qual o obediente necessita de um Salvador é que sua obediência,
sendo parcial e imperfeita, ao invés de ganhar o favor de Deus, na realidade é
merecedora de condenação. Essas é a razão do por que Aquele que é o “autor e
consumador de nossa fé, ... suportou a cruz... e se assentou à direita do Trono
de Deus” (Hebreus 12:2), deve originar e conduzir a salvação à consumação
(Filipenses 1:6).
Pedro afirma
que os sacrifícios espirituais do crente – sua adoração, orações, obediência,
serviço – são aceitáveis a Deus através de Jesus Cristo (1 Pedro 2:5).
Evidentemente a base sobre a qual Deus aceita os dons de amor e testemunho, de
louvor e obediência, de adoração e serviço, do crente, não é o valor desses
dons, ou o mérito do doador. Ao invés disso, Deus responde favoravelmente a
eles somente quando – e por causa desse fato – o crente os oferece através de
Jesus Cristo, o mediador, que os purifica do pecado, remove suas imperfeições,
e os aperfeiçoa através da imputação de seus méritos pessoais. Apenas ao se
aproximar de Deus através de Jesus Cristo é que o crente demonstra que
reconheceu sua verdadeira condição.
- A
obediência da fé
Uma vez que não existe nenhum
entendimento uniforme sobre o que constitui a verdadeira obediência, vamos
brevemente discutir esse assunto nesse ponto. Alguns crêem que na obediência, o
que conta é a motivação. Se o motivo for egoísta, então a obediência não tem
valor. Mas se o motivo é o amor, então a obediência é genuína e agradável a
Deus. De acordo com essa visão, a capacidade de amar de uma pessoa é a chave
para a verdadeira obediência.
Outros dizem que a diferença
entre a obediência legalista e a obediência que Deus requer jaz no poder do
qual o indivíduo se utiliza. Se alguém obedece por suas próprias forças, então
sua resposta é legalista e conseqüentemente inaceitável. Contudo, se alguém obedece
no poder do Espírito, então essa obediência é verdadeira e genuína. Portanto a
capacidade da pessoa em usar o poder do Espírito é a chave para a verdadeira
obediência.
Ainda há outros que argumentam
que alcançamos verdadeira obediência quando precisamente guardamos todos os dez
mandamentos da lei moral. Na visão deles, pecado não é mais a transgressão da
letra da lei, estreitamente definida como o decálogo. Assim que se alguém
obedece e se abstém daquilo que a lei proíbe, então ele rende uma verdadeira,
total, e impecável obediência – uma obediência aceitável por seus próprios
méritos uma vez que satisfaz plenamente o padrão estabelecido por Deus.
Obviamente as três visões têm
algum mérito – elas são genuínas e necessariamente fazem parte da resposta. Mas
elas não provêem a explanação completa de em que consiste a verdadeira
obediência. Iremos considerar cada visão:
1. O amor é de fato o único
motivo verdadeiro. Mas o amor não dita o que é bom ou o que é mal. Não pode
determinar a qualidade moral de uma obra, nem tem poder de tornar uma má ação
em boa. Então a menos que alguém esteja propriamente informado e corretamente
guiado pelos princípios de ordem moral pelos quais Deus governa o universo, o
amor pode impulsioná-lo a fazer algo contrário ao que seja verdadeiramente bom,
correto e amável. Motivos corretos e boas intenções nem sempre conduzem a ações
em harmonia com a vontade de Deus.
2. Dizer que é o tipo
de poder que usamos que determina a natureza de nossa obediência é inadequado
por dois motivos básicos. Primeiro, por que a lei nos exorta a fazer, ou deixar
de fazer algo, sem especificar o método, ou o poder através do qual devemos
obedecer. Por exemplo, o mandamento não diz: “não furtarás pelo poder do
Espírito.” Ao invés disso diz: “Não furtarás”, fim. Portanto, se temos de fato
deixado de roubar, então temos obedecido tudo que esse mandamento específico
pede de nós. Como fizemos para obedecer é totalmente irrelevante no que se
refere às exigências da lei.
Segundo, e mais
importante para fazer uma distinção entre obedecer pelo poder do Espírito e o
realizar pelo nosso próprio poder cria uma falsa contraposição. De acordo com
as Escrituras, a natureza pecaminosa do homem caído nem deseja, nem é capaz de
obedecer à vontade de Deus. Note essa passagem de Paulo:
“Por isso, o pendor da carne é
inimizade contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem mesmo pode
estar. Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus. Vós, porém,
não estais na carne, mas no Espírito...” (Romanos 8:7-9).
Portanto,
concluímos que nenhum ser caído se esforça para obedecer a vontade de Deus por
si mesmo. Por ele mesmo ele não teria nem a vontade, nem o poder de fazer o que
é certo. Sua mente pecaminosa não quer se submeter à vontade de Deus, e sua
natureza pecaminosa não tem a força que tal submissão requer. Em vista disso,
nós concluímos que, em qualquer extensão na qual um ser pecador obedeça a Deus,
nessa extensão ele está respondendo aos apelos do Espírito, agindo por seu
poder capacitador.
3. A visão
de que a verdadeira obediência signifique fiel submissão para com os dez
mandamentos da lei é falha por que a vontade de Deus para os homens caídos
transcende os mandamentos específicos e as proibições contidas no decálogo.
Como uma afirmação parcial da vontade de Deus para nós, a lei nos diz apenas o
que precisamos fazer para viver corretamente em termos morais, mas não tem nada
a dizer a relativamente ao que precisamos fazer para sermos salvos. A lei
avalia nosso comportamento e nos diz onde temos pecado, mas não nos explica
como nos livrar de nossa culpa e ter nossa condenação revogada; nem nos revela
tudo que devemos fazer para continuar vivendo um relacionamento adequado com
Deus uma vez que tenhamos sido aceitos nessa comunhão. Em outras palavras, a
lei revela que somos pecadores, mas não nos diz como somos salvos do pecado.
Ela nos lembra de que precisamos de um Salvador, mas não diz como ou onde
podemos encontrá-lo.
As
instruções de Deus – seus decretos, estatutos, e mandamentos – nos dizendo o
que fazer para remediar o problema de nosso pecado não aparecem no decálogo.
Nos as encontramos no Evangelho como expresso em ambos os Testamentos das
Escrituras.
Para ser
breve, o pecador no Antigo Testamento tinha que trazer, por exemplo, um
cordeiro ao tabernáculo como oferta pelo pecado, confessar seu pecado sobre sua
cabeça, e imolá-lo para que o sacerdote pudesse usar o sangue do cordeiro para
fazer expiação e assegurar o perdão Divino em seu favor (Lev. 4-6). Falhar em
cumprir as leis que regulamentavam esa cerimônia tinha muito maiores
conseqüências do que render algo menos do que impecável obediência ao decálogo.
Deus fez provisão em favor daqueles cuja
obediência não fossem suficientes em relação às exigências da lei, mas nenhuma
provisão em favor daqueles que falham em que assegurar seu perdão através dos
meios que Deus providenciou.
Isso é uma
clara indicação de que, em última instância, o que decidia se um israelita em
particular era obediente, ou não, dependia não de sua relação com a lei, mas de
sua relação para com o cordeiro que Deus providenciou como símbolo de Cristo.
Nós portando concluímos que, de acordo com o Antigo Testamento, aqueles que
eram verdadeiramente obedientes eram aqueles que, tendo feito seu melhor para
viver em completa harmonia com as leis de Deus, reconheciam suas transgressões
e erros, e vinham a Deus com o sangue de um sacrifício para assegurar Seu
perdão, e então mantinham seu lugar como membros do povo do concerto de Deus. A
verdadeira obediência obviamente incluia submissão às exigências da lei moral e
também submissão para com as demandas do Evangelho como representadas nos
serviços do tabernáculo.
O mesmo é
verdade no Novo Testamento. Jesus afirmou claramente que ele não tinha vindo
“abolir a lei e os profetas..., mas para os cumprir” (Mat. 5:17). Ele não veio
nos libertar da responsabilidade de viver de forma moralmente correta, ou
abolir os princípios que governam a criação de Deus, para que pudéssemos
satisfazer nossa natureza pecaminosa a vontade. Ao dizer isso não significa, definitivamente,
que toda vez que Jesus impeliu seus ouvintes a guardar, tantos os seus
mandamentos, ou os mandamentos do Pai, ele tenha se referido especificamente
aos dez mandamentos. Nem isso significa que o chamado do Salvador ao
discipulado não impõe obrigações além daquelas requeridas pela lei – que suas
exigências sobre nós começem, ou terminem com o que o decálogo diretamente
expõe.
Quando lemos
a asserção de Cristo: “Se me amais guardareis os meus mandamentos” (João
14:15), muitos de nós automaticamente pensamos que Ele está se referindo aos
dez mandamentos. Devemos lembrar, contudo, de que aqui Jesus está se referindo
primariamente em Seu papel de Salvador. Portanto a expressão “guardareis os
meus mandamentos,” conquanto isso possa incluir os dez mandamentos, certamente
não está limitado somente a eles. A ordem de Cristo está focada especialmente
das exigências e obrigações que o evangelho impõe sobre o crente. Ela lida não
somente com o que devemos fazer para viver uma “vida digna do chamado” que recebemos,
como Paulo coloca (em Efésios 4:1), mas especialmente com o que devemos fazer
de forma a responder a esse chamado por temos sido reconciliados com o Pai e
recebido a adoção de filhos e filhas de Deus.
Os
mandamentos do Evangelho se originam de sua natureza particular, e contribuem
para a realização de seus objetivos únicos. Portanto eles são essencialmente
diferentes dos mandamentos da lei. É desnecessário dizer, que as exigências do
Evangelho são tão obrigatórias e normativas quanto às da lei. A salvação que
Deus provê em Cristo demanda certas respostas específicas da parte do pecador.
Por exemplo, quando durante seu ministério terrestre Jesus proclamou as boas
novas do Reino de Deus, dizendo, “O tempo está cumprido, e o Reino de Deus está
as portas; se arrependam a creiam no Evangelho” (Marcos 1:15), Ele fez mais do
que apenas apelar para a consiência dos seus ouvintes. Ele, de fato, tornou a
fé e o arrependimento mandamentos para qualquer pecador buscando reconciliação
com Deus. No processo, Ele revelou que eles são o teste da obediência do
pecador tão verdadeiramente quanto qualquer mandamento da lei.
Lucas nos
diz que a “Palavra de Deus crescia,” e “muitíssimos sacerdotes obedeciam a fé” (Atos 6:7). Podemos com
certeza dizer que muitos desses sacerdotes eram tão fiéis a lei quanto é
razoável esperar de qualquer ser caído. Como Paulo eles eram “irrepreensíveis”
de acordo com a lei (Filipenses 3:6). Contudo, se eles não tivessem se tornado
obedientes ao Evangelho, e eles não teriam tido acesso à Graça e
conseqüentemente não teria esperança na vida eterna.
Paulo
recebeu “apostolado... para chamar pessoas de entre todos os gentios para a
obediência que vem pela fé” (Romanos 1:5). A “obediência por fé” vem somente
daqueles que aceitaram a Jesus Cristo como seu Salvador pessoal. Sem essa fé – participação na obra redentora
de Cristo – nenhuma quantidade de “obediência à lei” será capaz de nos
reconciliar com Deus, nos garantir o direito de adoção, e nos dar acesso à
herança eterna do Pai.
Jesus revelou
que as exigências do Evangelho tem força de mandamento quando disse que “quem
quer que nele crer não perecerá, mas terá a vida eterna” e “quem não crer já
está condenado por que não acretida no nome do filho de Deus” (João 3:16,18). Claramente
o destino eterno de uma pessoa não depende dele obedecer ou não à lei – se esse
fosse o padrão ninguém jamais seria salvo – mas de qual seja a resposta em
relação às demandas do Evangelho. Paulo
expressou o mesmo ponto quando afirmou que “os que não conhecem a Deus e contra
os que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus” “sofrerão penalidade de
eterna destruição, banidos da face do Senhor.” (2 Tessalonicenses 1:8-9). Como
era o caso nos tempos do Antigo Testamento, Deus fez provisão para nossas
falhas em render perfeita obediência à lei, mas nenhuma provisão para quem não
respondem favoravelmente às demandas do Evangelho.
É portanto,
lógico, concluir que de acordo com o Novo testamento a verdadeira obediência é
determinada em última instância, não pelo sucesso de uma pessoa em obedecer às
exigências da lei, mas pela submissão fiel para com as demandas do Evangelho. Consequëntemente, os verdadeiramente
obedientes são aqueles que, tendo feito seu melhor para viver de forma digna de
filhos e filhas de Deus em Cristo, reconhecem sua pecaminosidade, imperfeição,
e indignidade, e se aproximam do Pai em arrependimento e fé de forma que o
sangue expiador de Cristo possa purificá-los de sua culpa e para que a justiça
salvadora de Cristo possa mantê-los em uma posição correta diante de Deus.
Em vista
disso, também é lógico dizer que quando o escritor bíblico afirma que Jesus é a
“fonte da salvação eterna para todos que o obedecem” (Hebreus 5:9), ele não
está se referindo a um grupo hipotético de super pessoas que através de
obediência impecável à lei, tenham desenvolvido em suas próprias vidas uma
justiça tão completa e meritória como aquela de Cristo. Ao invés disso, o
escritos bíblico fala daqueles que são obedientes ao Salvador quando
confrontados por Ele com o Evangelho – a saber, os crentes de todas as eras que
“obedeceram ao evangelho de nosso Senhor Jesus” (2 Tess. 1:8) no sentido pleno
da expressão.
Embora
diferente na fraseologia, os elementos básicos que derivamos das Escrituras são
essencialmente os mesmas que vimos anteriormente nos escritos de Ellen White:
1. Obediência perfeita é possível somente através de arrependimento para com
Deus relativamente aos nossos pecados e fé para com Cristo para receber justiça
salvadora. 2. Quando respondemos ao Evangelho com arrependimento e fé, e vamos
ao Pai, confiando nos méritos do Filho, nosso Sumo Sacerdote imputa os
benefícios de sua obra redentora em nosso favor para substituir nossas
deficiências e nos apresentar a Deus perfeitamente justos em Cristo.
A
mediação de Cristo é o único caminho rumo à justiça salvadora para todos
Outro conceito
claramente detalhado nos escritos de Ellen White é que todos os seres caídos
dependem da mediação de Cristo para estar em uma posição correta para com Deus.
Nenhum pecador jamais teve sucesso em desenvolver uma justiça perfeita ou uma
vida sem pecado. Portanto todos devem se beneficiar da morte expiatória de
Cristo, de sua vitória redentora, e justiça imputada para salvação.
1.
Justiça
perfeita nunca atingida que por ninguém separado de Cristo
“A pena da
inspiração, fiel à sua tarefa, nos diz dos pecados que venceram a Noé, Ló,
Moisés, Abraão, Davi e Salomão, e que mesmo o forte espírito de Elias submergiu
sob a tentação durante seu temeroso julgamento. ...As falhas e enfermidades dos
profetas e dos apóstolos foram tornadas conhecidas pelo Espírito Santo, que
levanta o véu do coração humano. Ali diante de nós está a vida dos crentes, com
todas as suas falhas e erros, que tem por objetivo servir de lição para as
seguintes gerações. Se eles não tivessem pontos fracos eles teriam sido mais
que humanos, e nossa natureza pecaminosa iria se desesperar de jamais alcançar
tal grau de excelência.” (Testemunhos
para a igreja, Vol. 4, p. 12)
“Aquele
que tem contínuo senso da presença de Cristo não pode condescender com a
confiança em si mesmo nem com a justiça própria. Nenhum dos profetas ou
apóstolos fez arrogantes proclamações de santidade. Quanto mais se aproximavam
da perfeição de caráter, tanto menos se consideravam dignos e justos. Aqueles,
porém, que possuem o menor senso da perfeição de Jesus, aqueles cujos olhos são
menos voltados para Ele, são os que têm as maiores pretensões de perfeição.” (Fé e obras, p.54)
“Devemos
ser sempre surpreendidos e indignados quando ouvirmos um pobre ser mortal exclamando:
“Sou Santo; Sou impecável!” Nenhuma alma a quem Deus tenha concedido a
maravilhosa visão de sua grandeza e majestade jamais proferiu uma palavra nessa
direção. Pelo contrário, eles se sentiram como se estivessem afundando com a
mais profunda humilhação da alma, enquanto viam a pureza de Deus, e a
contrastaram com suas próprias imperfeições na vida e no caráter. ...Quando o
Espírito agita o coração com seu magnífico poder despertador, há um senso de
deficiência na alma que conduz à contrição da mente, e humilhação do eu, e não
à ostentação orgulhosa do que já foi atingido.” (Review and Herald, 16 de outubro de 1888).
“Os que experimentam a santificação bíblica
manifestarão um espírito de humildade. Como Moisés, depois de contemplar a
augusta e majestosa santidade, vêem a sua própria indignidade contrastando com
a pureza e excelsa perfeição do Ser infinito. O profeta
Daniel é um exemplo da verdadeira santificação. Seus longos anos foram cheios
de nobre serviço a seu Mestre. Foi um homem "mui amado" do Céu (Dan.
10:11). Todavia, ao invés de pretender ser puro e santo, este honrado profeta,
quando pleiteava perante Deus em prol de seu povo, identificou-se com os que
positivamente eram pecadores em Israel: "Não lançamos as nossas súplicas
perante Tua face fiados em nossas justiças, mas em Tuas muitas
misericórdias." "Pecamos; obramos impiamente." Declara ele:
"Estando eu ainda falando e orando, e confessando o meu pecado, e o pecado
do meu povo." E quando, em ocasião posterior, o Filho de Deus lhe apareceu
a fim de lhe dar instrução, diz Daniel: "Transmudou-se em mim a minha
formosura em desmaio, e não retive força alguma." Dan. 9:18, 15 e 20;
10:8.” (O Grande conflito, pp.
470,471).
"Se dissermos que não temos pecado", diz
João não se excluindo de seus irmãos, "enganamo-nos a nós mesmos, e não há
verdade em nós." (1 João 1:8) (Atos
dos apóstolos, 562). “Enoque era homem de espírito forte e altamente
cultivado, e de extenso saber; era honrado com revelações especiais de Deus;
todavia, estando em constante comunhão com o Céu, achando-se sempre diante dele
a intuição da grandeza e perfeição divina, foi um dos homens mais humildes.
Quanto mais íntima a ligação com Deus, mais profunda era a intuição de sua
própria fraqueza e imperfeição.” (Patriarcas
e profetas, p. 85).
“Homem algum pode, olhando para dentro de si,
encontrar em seu caráter o que quer que seja que o recomende a Deus, ou lhe
assegure aceitação. É unicamente por Jesus, a quem o Pai deu para que o mundo
vivesse, que o pecador pode encontrar acesso a Deus. Jesus, unicamente, é nosso
Redentor, nosso Advogado e Mediador; nEle reside nossa única esperança de
perdão, paz e justiça.” (Mensagens
escolhidas, pp. 332, 333).
As afirmações precedentes descrevem a
experiência dos patriarcas, profetas, e apóstolos – os gigantes espirituais das
Escrituras – que tiveram a chance, melhor do que quaisquer outras pessoas, de
desenvolverem uma imaculada justiça de existência e de aprenderem a viver sem
pecar. Ainda assim (1) nenhum deles alcançou o alvo da perfeição inculpável por
si mesmo; (2) todos admitiram serem pecaminosos, imperfeitos, e indignos; e (3)
eles todos dependeram da justiça imputada de Cristo para salvação. Sua admissão
de culpa e pecaminosidade não era resultado de um falso senso de modéstia, ou
de inabilidade em reconhecer sua verdadeira condição espiritual. Ao invés
disso, ela estava baseada no fato de que sua relação próxima, e incomum, com
Deus os capacitava a reconhecer tanto o ponto de referência quanto a percepção
espiritual de que eles precisavam para ver a si mesmos como eles realmente eram.
Seria difícil argumentar convincentemente que
os apóstolos e profetas não alcançaram o alvo da impecaminosidade tanto por que
Deus não lhes tenha dado poder Divino suficiente, ou por que eles não tenham se
esforçado na medida ou durante o tempo que seria necessário. Ao contrário,
vemos em Atos dos apóstolos que eles
eram homens “a quem Deus... honrou com luz e poder divinos.” E que “viveram o
mais próximo de Deus, homens que sacrificariam a própria vida antes do que
realizar conscientemente uma ação errada.” Então se alguém teve a oportunidade
de atingir perfeição sem pecado, eles foram essas pessoas.
É importante notar que esses gigantes
espirituais reconheceram sua total dependência de Cristo para a salvação, não
tanto porque sua obediência era deficiente, ou por que eles ocasionalmente se
envolviam em comportamento pecaminoso, mas primariamente por que eles vieram a
perceber a condição caída na qual eles se encontravam como indivíduos. Eles
sabiam que era sua imperfeição espiritual, caráter defeituoso, natureza
pecaminosa, que os tornava injustos, e os fazia indignos.
“Quando ao servo de Deus é permitido contemplar a
glória do Deus do céu, enquanto Ele é desvelado para a humanidade, e percebe
uma pequena porção do grau de pureza daquele que é o Santo de Israel, ele fará
confissões surpreendentes da poluição de
sua alma, ao invés de jactância orgulhosa de sua santidade. ...um raio da
glória de Deus, um brilho da pureza de Cristo, penetrando a alma, torna cada
ponto de contaminação dolorosamente distinto, e testifica da deformidade e dos
defeitos do caráter humano (Review and
Herald, 16 de outubro de 1888, itálicos supridos).
“Nenhum dos apóstolos e profetas declarou jamais
estar sem pecado. Homens que viveram o mais próximo de Deus, que sacrificariam
a vida de preferência a cometer conscientemente um ato mau, homens a quem Deus
honrou com divina luz e poder, confessaram a
pecaminosidade de sua natureza. Eles não puseram a sua confiança na carne,
nem alegaram possuir justiça própria, mas confiaram inteiramente na justiça de
Cristo.” (Atos dos apóstolos, p. 561,
itálicos supridos).
Ellen White dá uma grande ênfase e
significado ao fato de que a alma do crente é poluída, e sua natureza humana é
pecaminosa. Alguém pode até mesmo dizer que ela considerava isso a razão mais
importante pela qual nenhum ser caído é capaz de render obediência perfeita à
lei ou desenvolver uma justiça que Deus possa aceitar. Isso também clarifica
adiante, por que seres caídos são igualmente dependentes da mediação de Cristo
como seu representante e substituto. A seguinte passagem explica isso com
bastante força:
“Os cultos, as orações, o louvor, a penitente confissão do pecado, sobem dos crentes fiéis, qual incenso ao
santuário celestial, mas passando através dos corruptos canais da humanidade, ficam tão maculados que, a menos
que sejam purificados por sangue, jamais podem ser de valor perante Deus. Não
ascendem em imaculada pureza, e a menos que o Intercessor, que está à mão
direita de Deus, apresente e purifique tudo por Sua justiça, não será aceitável
a Deus. Todo o incenso dos tabernáculos terrestres têm de umedecer-se com as
purificadoras gotas do sangue de Cristo. Ele segura perante o Pai o incensário
de Seus próprios méritos, nos quais não há mancha de corrupção terrestre. Nesse
incensário reúne Ele as orações, o louvor e as confissões de Seu povo,
juntando-lhes Sua própria justiça imaculada. Então, perfumado com os méritos da
propiciação de Cristo, o incenso ascende perante Deus completa e inteiramente
aceitável. Voltam então graciosas respostas.
Oxalá vissem todos que quanto a obediência, penitência, louvor e ações de graças, tudo tem que ser colocado sobre o ardente
fogo da justiça de Cristo! A fragrância desta justiça ascende qual nuvem em
torno do propiciatório.” (Mensagens
escolhidas, Vol. 1, p. 344, itálicos supridos).
Quando damos conta das implicações de longo
alcance dos conceitos expressos aqui, começamos a ver que essa passagem é a
chave para um correto entendimento de pelo menos duas idéias essenciais que de
outra forma continuam vagas e ambíguas. São elas, 1. Que seres pecaminosos não
podem oferecer obediência perfeita à vontade de Deus e, portanto são incapazes
de desenvolver um caráter justo por si mesmos. 2. E que obediência perfeita
somente é possível por participarmos pela fé dos méritos redentores de Cristo.
“Era possível a Adão, antes da queda, formar um
caráter justo pela obediência à lei de Deus. Mas deixou de fazê-lo e, devido ao
seu pecado, nossa natureza se acha decaída,
e não podemos tornar-nos justos. Visto como somos pecaminosos, profanos, não
podemos obedecer perfeitamente a uma lei santa. Não possuímos justiça em nós
mesmos com a qual pudéssemos satisfazer às exigências da lei de Deus.” (Caminho a Cristo, p. 62, itálicos
supridos). “A lei requer justiça, e esta o pecador deve à lei; mas é ele
incapaz de a apresentar.” (Mensagens escolhidas, Vol. 1, p. 367) (A lei) “não
podia justificar o homem, porque em sua
natureza pecaminosa este não a poderia guardar.” (Patriarcas e profetas, 373, itálicos supridos).
“Se a lei alcançasse apenas a conduta exterior, os
homens não seriam culpados em seus maus pensamentos, desejos e desígnios. Mas a lei requer que a própria alma seja
pura e a mente santa, para que os pensamentos e a sensibilidade estejam de
acordo com a norma de amor e justiça.” (Mensagens escolhidas, Vol. 1, p. 211). “o homem não pode satisfazer
os reclamos dessa santa lei sem manifestar arrependimento para com Deus e fé
para com o nosso Senhor Jesus Cristo.” (Fé
e obras, p. 29).
Devemos notar vários pontos aqui: 1. O homem não pode obedecer
perfeitamente a lei por que ele é pecaminoso – sua natureza pecaminosa torna
isso impossível. Mais uma vez, o assunto aqui é obediência perfeita, uma
obediência que Deus possa aceitar por seus próprios méritos, sem a mediação de
Cristo. 2. O homem não tem – nem é capaz de desenvolver – uma justiça pessoal
capaz de satisfazer as exigências da Lei Santa. 3. A lei cobre não apenas o que
uma pessoa faz, mas também o que ela é – ela requer “que a própria alma seja
pura.” Ou seja, a lei exige nada menos do que total ausência de pecado na
essência do ser e numa conduta perfeitamente justa.
A passagem citada da página 62 de caminho a Cristo claramente indica uma
diferença radical entre as possibilidades iniciais de Adão e àquelas de seus
descendentes caídos. Note novamente:
Era possível a Adão, antes da queda, formar um
caráter justo pela obediência à lei de Deus. Mas... nossa
natureza se acha decaída, e não podemos tornar-nos justos... não podemos obedecer perfeitamente a uma lei
santa.
Se tomarmos essa passagem literalmente – e
não há razão para não o fazermos – então devemos concluir que, de acordo com
Ellen White, Adão podia fazer pelo menos duas coisas que nós, seus descendentes
caídos não podemos: Primeiro, Ele podia render obediência perfeita à lei de
Deus. E segundo, ele poderia desenvolver um caráter perfeito por obedecer à lei
de Deus.
A relação de causa e efeito que circunda esse
argumento de fato tem três partes, e precisamos considerar essas três partes
para entendê-la adequadamente. 1. Como um ser criado por Deus, Adão começou sua
vida com uma natureza que era justa, santa, e boa, e conseqüentemente ele
desfrutava da aprovação absoluta de Deus sem a necessidade de um mediador. 2.
Desde que sua natureza era pura e livre de pecado, ele vivia em união
espiritual ilimitada com Deus – um ramo perfeitamente conectado à videira – ele
podia viver em completa harmonia com a vontade de Deus em todos os momentos e
em cada aspecto singular. 3. Desde que ele era justo em si mesmo, por natureza,
e conseqüentemente podia oferecer perfeita obediência, ele também podia
desenvolver um caráter justo – um caráter que por causa de sua qualidade sem
mancha poderia receber a aprovação de Deus baseada em seus próprios méritos
intrínsecos.
Nossa situação é bem diferente, contudo. “Por
causa do pecado (de Adão) nossa natureza é caída. Uma vez que somos
pecaminosos, profanos, não podemos obedecer perfeitamente a uma lei santa.” E
uma vez que um caráter justo pode ser formado apenas através de perfeita
obediência, segue-se logicamente que não podemos desenvolver um caráter justo
como Adão podia ter feito – um caráter tão intrinsecamente bom, santo, e
perfeito que ganharia o veredito da aceitação de Deus sem a mediação de Cristo.
Tais considerações nos ajudam a delinear pelo
menos suas conclusões lógicas e significativas: 1. Apenas seres sem pecado –
aqueles que não têm uma natureza pecaminosa para corromper e poluir tudo que
eles são e fazem – podem viver o tipo de vida capaz de formar o caráter que
ganhará veredito favorável inteiramente na base de seus próprios méritos. 2. A
única maneira através da qual seres caídos podem satisfazer o padrão de Deus em
relação à perfeição sem pecado é através de “arrependimento para com Deus e fé
para com o Senhor Jesus Cristo.” Somente assim sua condenação é revogada e seu
pecado removido. E somente assim ele se torna um participante da justiça
Toda-Suficiente de Cristo – a única justiça no universo disponível a seres caídos
que preenche o padrão de Deus de obediência perfeita em todos os aspectos.
Esse entendimento reforça o significado de
outras passagens que indicam que é somente a imputada justiça de Cristo – seu
caráter inculpável aceito em lugar de nossa imperfeição – que nos qualifica
para estarmos puros e inculpáveis na presença de Deus. Note:
“você é impotente para fazer o bem, e não pode
melhorar sua condição. Separados de Cristo não temos nenhum mérito, nenhuma
justiça. Nossa pecaminosidade, nossa fraqueza, nossa imperfeição humana torna
impossível que compareçamos perante Deus a não ser que sejamos vestidos com a
justiça sem mancha de Cristo. Devemos ser achados nEle não tenho justiça
própria, mas a justiça que há em Cristo.” (Mensagens
escolhidas, Vol. 1, p. 333). “Cristo aperfeiçoou um caráter justo aqui
sobre a terra, não para si mesmo, pois seu caráter era puro e sem mancha, mas
para o homem caído. Seu caráter ele oferece ao homem se ele o aceitar.” (Testemunhos para a igreja, Vol. 3, 371).
Jesus diz:
“Assim, serei vosso representante no Céu. O pai não
vê vosso caráter defeituoso, mas vos olha revestidos de Minha perfeição. Sou o
meio pelo qual as bênçãos do Céu descerão a vós. E todo aquele que Me confessa,
partilhando Meu sacrifício pelos perdidos, será confessado como participante na
glória e alegria dos salvos.” (O desejado
de todas as nações, 357). “Os que rejeitam o dom da justiça de Cristo
estão rejeitando os atributos de caráter que os constituiriam filhos e
filhas de Deus. Rejeitam aquilo que, unicamente, lhes poderia conceder aptidão
para um lugar na ceia de bodas.” (Parábolas
de Jesus, pp. 316, 317).
“Ele viveu uma vida impecável. Ele morreu por nós, e
agora ele se oferece para tirar nossos pecados e nos dar sua justiça. Se você
se entregar a Ele, e aceitá-lo como Salvador, então, pecaminosa como sua vida
possa ter sido, por causa dEle você será contado como justo. O caráter de
Cristo toma o lugar do seu caráter, e você é aceito diante de Deus como se você
nunca tivesse pecado.” (Caminho a Cristo,
p.62) “Cristo imputa a nós seu caráter sem pecado, e nos apresenta ao Pai
em sua própria pureza.” (Review and
Herald, 12 de julho de 1892).
Alguns acreditam que um pecador pode viver
uma vida sem pecado por usar apropriadamente o poder do Espírito Santo. Aparentemente
eles falham em ver que a idéia de um ser pecaminoso vivendo uma vida sem pecado
é em si mesmo uma contradição de termos. A Passagem de Mensagens escolhidas, Vol. 1, página 344, citada anteriormente
claramente indica que mesmo que um ser caído fosse capaz de agir de acordo com
o que Deus estipulou – em sua adoração e obediência à lei – os “canais
corruptos” de sua humanidade pecaminosa poluiriam tudo que ele faz e o tornaria
inaceitável sem a mediação de Cristo.
Por que “nossa natureza é caída” e “somos
pecaminosos e profanos,” mesmo as boas obras que fazemos carregam as marcas
incriminatórias de nossa pecaminosidade pessoal. Nossa adoração e louvor, obediência e serviço, nosso desenvolvimento de
caráter e modificação de comportamento são todas obras de seres pecaminosos, e
nada que seres pecaminosos possam oferecer a Deus é aceito em seus próprios
méritos. É somente quando nos apropriamos da mediação de Cristo em nosso
favor, e ele purifica e aperfeiçoa tudo através da imputação de seus méritos
pessoais, que nossa oferta chega ao Pai. A próxima passagem sublinha o fato de
que mesmo as boas obras do homem são
indignas a menos que cobertas com os méritos de Cristo:
“Embora as boas obras do homem, sem a fé em Jesus,
não sejam de mais valor do que foi a oferta de Caim, contudo, cobertas com o
mérito de Cristo, testificam da dignidade do que as pratica, de herdar a vida
eterna.” (Mensagens escolhidas, vol.
1, 382).
Um segundo conceito que a passagem de Mensagens escolhidas, vol. 1, página
344, citada anteriormente nos ajuda a entender mais plenamente é a idéia de que
a perfeita obediência é possível através da união com Cristo – por
participarmos da natureza divina, por combinar a humanidade com a divindade.
Note como Ellen White explica esse conceito em outro lugar:
“Para satisfazer os reclamos da lei, nossa fé tem de
apoderar-se da justiça de Cristo, aceitando-a como nossa justiça. Mediante a
união com Cristo, mediante a aceitação de Sua justiça pela fé, podemos ser
habilitados para fazer as obras de Deus e ser cooperadores de Cristo.” (ibid.,p. 374). “Cristo, porém, não veio para destruir a lei senão para
cumpri-la. Nem um jota ou um til do padrão moral de Deus podia ser mudado para
vir ao encontro do homem em sua condição de caído. Jesus morreu para que pudesse
imputar ao pecador arrependido a Sua própria justiça, e tornar ao homem
possível guardar a lei.” (ibid., p.
312).
“Tudo que o homem pode fazer sem Cristo é poluído
pelo egoísmo e pecado; mas aquilo que é operado pela fé é aceitável a Deus.
Quando procuramos alcançar o Céu pelos méritos de Cristo, a alma faz progresso.
Olhando para Jesus, autor e consumador de nossa fé, podemos prosseguir de força
em força, de vitória em vitória; pois por meio de Cristo a graça de Deus operou
nossa salvação completa.” (Fé e obras, p.94).
“Cristo tomou sobre Si a humanidade, por nós. Cobriu
Sua divindade, e a divindade e a humanidade foram combinadas. Ele mostrou que
era possível observar aquela lei que Satanás declarou não se poder observar.
Cristo assumiu a forma humana para estar aqui em nosso mundo e mostrar que
Satanás havia mentido. Tomou sobre Si a natureza humana para demonstrar que, com a divindade e a humanidade combinadas,
o homem podia guardar a lei de Jeová. Separai a humanidade da divindade, e
podereis procurar desenvolver vossa própria justiça desde agora até que Cristo
venha, e isso não passará de um fracasso.” (ibid.,
p. 71, itálicos supridos).
“Satanás declarara que era impossível ao homem
obedecer aos mandamentos de Deus; e é verdade que por nossa própria força não
lhes podemos obedecer. Cristo, porém, veio na forma humana, e por Sua perfeita
obediência provou que a humanidade e a
divindade combinadas podem obedecer a todos os preceitos de Deus.” (Parábolas de Jesus, p. 314, itálicos
supridos).
“Temos de polarizar nossas esperanças quanto ao Céu
tão-somente em Cristo, porque Ele é nosso Substituto e Penhor. Nós
transgredimos a lei de Deus, e pelas obras da lei nenhuma carne será
justificada. Os melhores esforços que o homem, em suas próprias forças, pode
fazer, não têm valor para satisfazer a santa e justa lei que ele transgrediu;
mas pela fé em Cristo pode ele alegar a justiça do Filho de Deus como
toda-suficiente. Cristo, em Sua natureza humana satisfez as exigências da lei.
Suportou a maldição da lei pelo pecador, por Ele fez expiação, para que
todo aquele que nEle cresse não perecesse mas tivesse vida eterna. A fé genuína apropria-se da justiça de
Cristo, e o pecador é feito vencedor com Cristo; pois ele se faz participante
da natureza divina, e assim se combinam divindade e humanidade.” (Fé e obras, pp. 93, 94, itálicos
supridos).
“Deus afirmou claramente que ele espera que sejamos
perfeitos, e por que Ele espera isso, Ele fez provisões para que nós
participássemos da natureza divina.” (Review
and Herald, 28 de janeiro de 1904). “Unicamente o evangelho de Cristo o
pode livrar da condenação ou contaminação do pecado. Deve ele exercer o arrependimento em relação a Deus, cuja lei
transgrediu, e fé em Cristo, seu sacrifício expiatório. Obtém assim
"remissão dos pecados passados", e se torna participante da natureza
divina.” (O grande conflito, p.
468; itálicos supridos).
Um exame contextual dessas declarações
claramente revela que elas não se referem a algo que pertença à concreta
realidade física. Ao contrário, falam de um fenômeno espiritual que é real
somente nos domínios da fé. Conseqüentemente não podemos tomar expressões tais
quais: “união com Cristo,” “divindade e humanidade combinados,” e
“participantes da natureza divina” como referências tanta a uma mistura
panteísta entre Deus e homem ou a uma combinação mística das identidades Divina
e humana. As frases não sugerem uma integração sobrenatural das naturezas
divina e humana, ou algum tipo de deificação do homem. Ao contrário, elas falam
sobre o crente se tornando participante pela fé, na morte expiatória do
Salvador, sua vitória redentora, e em Sua justiça Toda-Suficiente.
“União com Cristo” acontece quando nossa fé
agarra “a justiça de Cristo, aceitando-a como nossa justiça.” “divindade e
humanidade são combinadas” quando “fé genuína se apropria da justiça de
Cristo.” O crente se torna “co-participante da natureza divina” quando – e pelo
fato de que ele – exerce “fé em Cristo, em seu sacrifício expiatório.”
Claramente a justiça de Cristo não é uma substância espiritual ou um elemento
moral que de alguma forma é implantado dentro do crente. Ao invés disso, é uma
qualidade intrínseca do caráter Santo de Cristo – um mérito, um valor, uma
virtude – que Ele, como representante do homem e seu substituto, pode
compartilhar ou imputar àqueles que pela fé o aceitam como Salvador pessoal.
Nós, portanto concluímos que as afirmações
tais qual “humanidade e a divindade combinadas podem obedecer a todos os
preceitos de Deus” apontam para a mesma dinâmica que já estudamos
anteriormente, a saber, que perfeita obediência é possível somente através da
mediação de Cristo. Quando o crente faz seu melhor para viver em harmonia com o
que sabe ser a vontade de Deus para o homem, e depende da obra redentora de
Cristo em seu favor para sua posição diante de Deus, Cristo imputa sua justiça
pessoal a ele e assim apresenta a ele, bem como seu desempenho, perfeitamente
aceitável ao Pai.
2. Como
Cristo assegura a Eterna Salvação àqueles que morreram dependendo da graça de
Deus para Salvação.
Nós já vimos que, de acordo com Ellen White,
nenhum dos gigantes espirituais dos tempos bíblicos – o que significa
absolutamente nenhum – jamais alcançou um estado de perfeição sem pecado por si
mesmo. Eles todos foram pecaminosos, imperfeitos, indignos, e portanto,
totalmente dependentes da justiça imputada de Cristo. Também vimos que nenhum
deles de si mesmos renderam obediência perfeita. Além de serem pecaminosos e
imperfeitos, seu desempenho na vida foi contaminado e tornado inaceitável pelos
efeitos poluidores de sua natureza pecaminosa inerente. Todos eles foram, todos
eles tiveram, e todos eles carregaram as marcas incriminatórias de seu estado
caído e pecaminosidade pessoal. Adiante encararemos duas perguntas: 1. Uma vez
que eles não atingiram nem natureza justiça, nem conduta livre de pecado, eles
serão salvos? 2. E se sim, em que base?
A seguinte passagem da pena de Ellen White
responde ambas as perguntas de forma direta, clara, e suficientemente
compreensiva. É parte de uma discussão de algo que na terminologia adventista
chamamos de juízo investigativo, um juízo que, para os crentes que não estarão
vivos quando Jesus retornar acontecerá após a morte deles, quando já será tarde
demais para que eles possam fazer qualquer coisa para afetar a decisão de Deus.
Nesse julgamento o veredito final e permanente de Deus sela o destino eterno de
cada pessoa. Entre outras coisas, a passagem mostra por que a mediação de
Cristo é tão essencial para aqueles que morreram confiando em sua obra
redentora.
“Enquanto Jesus faz a defesa dos súditos de Sua
graça, Satanás acusa-os diante de Deus como transgressores... Agora aponta para
o relatório de sua vida, para os defeitos de caráter e dessemelhança com
Cristo, que desonraram a seu Redentor, para todos os pecados que ele os tentou
a cometer; e por causa disto os reclama como súditos seus.
Jesus não lhes justifica os pecados, mas apresenta o
seu arrependimento e fé, e, reclamando o perdão para eles, ergue as mãos
feridas perante o Pai e os santos anjos, dizendo: "Conheço-os pelo nome.
Gravei-os na palma de Minhas mãos. "Os sacrifícios para Deus são o
espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó
Deus!"" Sal. 51:17. E ao acusador de Seu povo, declara: "O
Senhor te repreende, ó Satanás; sim, o Senhor, que escolheu Jerusalém, te
repreende; não é este um tição tirado do fogo?" Zac. 3:2. Cristo vestirá
Seus fiéis com Sua própria justiça, para que os possa apresentar a Seu Pai como
"igreja gloriosa, sem mancha, nem ruga, nem coisa semelhante". Efés.
5:27. Seus nomes permanecem registrados no livro da vida, e está escrito com
relação a eles: "Comigo andarão de branco; porquanto são dignos
disso." Apoc. 3:4.
Assim se realizará o cumprimento total da promessa
do novo concerto: "Porque lhes perdoarei a sua maldade, e nunca mais Me
lembrarei dos seus pecados." "Naqueles dias, e naquele tempo, diz o
Senhor, buscar-se-á a maldade de Israel, e não será achada; e os pecados de
Judá, mas não se acharão." Jer. 31:34; 50:20.” (O grande conflito, pp. 484, 485).
Note vários detalhes significativos:
1. A passagem descreve uma
cena de julgamento que estabelece para sempre o destino eterno dos objetos da
graça de Cristo – aqueles que viveram e morreram dependendo da graça de Deus
para salvação.
2. O registro de suas vidas
mostra que eles não atingiram o alvo da perfeição sem pecado durante seu tempo
de vida – seus “defeitos de caráter” e “dessemelhança de Cristo” tornam isso
suficientemente óbvio.
3. Jesus não questiona a
exatidão das muitas acusações de Satanás, nem Ele argumenta que os acusados
eventualmente desenvolveram caráter justo ou aprenderam a viver sem pecar.
4. Em sua defesa, Jesus aponta
para seu arrependimento e fé – a única resposta considerada aceitável – o que
permite a Cristo interceder ativamente em seu favor.
5. Levantando suas mãos feridas
como uma testemunha de sua morte expiatória, Jesus os cobre com sua própria
justiça e assim os apresenta ao Pai como sem mácula, sem ruga, uma igreja
gloriosa.
6. Seus nomes continuam no livro
da vida, e Deus os declara dignos, não pela que eles eram de fato ou pelo que
eles fizeram durante seu tempo e vida, mas por que os méritos de Cristo os
cobre e assim completa sua deficiência.
7. Então a promessa do Evangelho
chega à realização plena para aqueles a quem Paulo chama de “mortos em Cristo”
(1 Tess. 4:16). Ou seja, seu destino é selado, seu caso é permanentemente
encerrado. Eles herdarão a vida eterna, graças a sua fé na obra redentora de
Jesus em seu favor. Por que eles viveram em um estado de permanente arrependimento
e fé seu mediador assegurou o perdão deles e os cobriu com Sua própria justiça
imputada e assim fez sua salvação certa. Quando Deus finalmente estabelecer seu
Reino Eterno de Glória, ele os fará ressurgir de volta à vida para que eles
tomem lugar entre os redimidos de todas as eras.
Essa passagem do Grande conflito também nos ajuda a ver
que Satanás tem sua própria concepção de justiça, seu próprio padrão pelo qual
um ser caído pode se tornar digno da salvação, sua própria versão do evangelho.
De acordo com essa passagem, Satanás reclama essas pessoas como sendo suas por
três razões básicas: seu caráter defeituoso, sua dessemelhança com Deus, e seu
comportamento pecaminoso. É, portanto, razoável concluir que se o registro de
suas vidas mostrasse que eles tivessem desenvolvido caráter sem mancha, que
eles tivessem atingido semelhança com Cristo, e que tinham aprendido a viver
sem pecar, Satanás iria confirmar, reconhecer, que eles eram dignos de
salvação.
Note três detalhes na teologia
de salvação de Satanás:
1. Seu método é centrado em
obras, desempenho, ou alcance. Ele quer que cada pessoa seja recompensada
segundo aquilo que merece, baseando-se em suas próprias consecuções. O diabo
quer que Deus determine o destino eterno de cada um baseando-se no registro,
atual e objetivo, da vida de cada um.
2. O relacionamento de cada
pessoa com o pecado é o fator decisivo. Se ele de alguma forma esteve envolvido
com o pecado, então Deus deve executar a pena – ele é digno de morte, então a
morte deveria ser o seu destino.
3. O método de Satanás não abre
espaço nem para a graça nem para a fé. Ele
decide o destino do pecador como se não houvesse Salvador. A morte
expiatória, vitória redentora, e justiça salvadora não fazem nenhuma diferença
aqui. O que Jesus realizou ontem como nosso substituto por toda sua vida
terrena, e particularmente na cruz, e o que ele está fazendo por nós hoje como
nosso representante diante o Trono de Deus, não tem nenhum papel no plano de
Satanás. Tudo o que conta é o que acontece em nossas vidas históricas. Ou
mostramos que temos um caráter justo, como o caráter de Jesus, e demonstramos
que podemos viver sem pecar, como Jesus fez, ou de outra forma estaremos
perdidos para sempre.
Não deveria ser nenhuma surpresa
que Satanás tenha incorporado alguns elementos do plano de redenção de Deus no
seu próprio plano. A contrafação sempre se parece com o original em algum grau,
e o engano nunca se distancia totalmente da verdade a qual ele distorce. Em
ambos os planos a lei funciona como o padrão para avaliar a conduta pessoal.
Ambos os planos vêem em Jesus o exemplo último do que significa ser
verdadeiramente justo, bom e santo – o que o Criador intencionava que o homem
fosse. E ambos terminam um julgamento que revê a história pessoal de vida e decide
seu destino eterno.
Quando examinamos as
similaridades e consideramos as diferenças, contudo, nós rapidamente
descobrimos que enquanto Satanás tenha incorporado algumas das exigências de
Deus para nós, ele deixou de lado algumas provisões que Deus realizou, em
Cristo, para satisfazer essas exigências. Satanás gosta da lei, não por que ela
provê o padrão básico pelo qual podemos distinguir o que é verdadeiro e bom e
amável daquilo que é pecaminoso, mas por que ela condena a todos nós como
transgressores.
Satanás não usa o conceito de
Jesus como nosso exemplo por que Ele provê uma revelação de como o caráter de
Deus realmente é, e de como o homem – inicialmente criado à imagem de Deus –
seria se o pecado não tivesse pervertido sua integridade espiritual e perfeição
moral. Antes, ele enfatiza o exemplo de Jesus como modelo por que ele sabe que
nada mais fará com que nossa pecaminosidade, imperfeição, e indignidade
apareçam de forma mais óbvia e torne nosso caso mais desesperançado do que uma
comparação (que não inclua a mediação de Cristo em nosso favor) entre nós
mesmos e o Senhor Jesus Cristo.
O inimigo também dá as boas
vindas ao julgamento, não por que ali a graça de Deus encontra sua glória em
Jesus como aquele que absolve nossa condenação e nos declara justos em si mesmo
(ver Romanos 3:21-26). Ao contrário, ele quer que encaremos o julgamento por
que ele sabe que somos culpados. Se ele pudesse fazer com que nós fôssemos
recompensados pelo que nós somos, temos e fazemos, nossa condenação estaria
assegurada.
A passagem do Grande conflito mostra que o plano de
redenção de Deus é diferente da teologia de Satanás em todas as três principais
áreas listadas abaixo:
1. O programa de Deus de
salvação não é centrado no desempenho do pecador, mas é centrado em Cristo. De
acordo com o plano de Deus, o crente tem seu destino eterno determinado em
última instância não por quão bom ele é, por quanta justiça ele desenvolveu, ou
por quantas tentações ele derrotou com sucesso, mas por sua participação pela
fé na obra redentora de Cristo.
2. No sistema de Deus, o que é
decisivo não é o envolvimento pessoal do pecador com o pecado, mas seu
relacionamento com o Salvador. Com Deus a real questão não é “O que fez faz
relativamente ao pecado?”, mas “O que você fez com Jesus Cristo e com a
salvação que ele proveu para pecadores como você?” De acordo com o plano de
Deus, o assunto crucial é se o pecador respondeu favoravelmente ou não ao
evangelho em arrependimento e fé, e em fazendo isso obteve acesso tanto ao
perdão de Deus, como à justiça imputada de Cristo para cobrir sua inadequação
espiritual e imperfeição moral.
3. Contrariamente à contrafação
satânica, o plano da redenção de Deus faz da graça e da fé elementos centrais.
Pela graça Deus proveu uma solução para o problema do pecado do homem que
concede perdão e justiça salvadora através da obra redentora de Cristo em favor
da humanidade. E tanto o perdão quanto a justiça estão acessíveis ao pecador
somente através de arrependimento e fé. Deus pode perdoar o pecador arrependido
somente por que a obra redentora de Cristo é tanto expiatória como
substitutiva. E o pecador pode ser participante na atividade redentora de
Cristo – ele pode se beneficiar dela, pode se apropriar dela – somente enquanto
sua fé se apossa de Cristo como seu Salvador pessoal.
Essa comparação/contraste nos
ajuda a ver a diferença radical entre o programa de salvação de Deus e a
contrafação de Satanás. Na contrafação tudo gira em torno do pecador e suas
consecuções pessoais. Seu destino eterno depende em última análise do que ele é
em si mesmo – se ele é espiritualmente perfeito, ou imperfeito. Do que ele tem
– seja mérito pessoal, ou culpa. E do que ele faz – se ele é moralmente justo,
ou pecaminoso. Satanás afirma que: todos que possuem “defeito de caráter,” que
demonstram “dessemelhança com Cristo,” e que tiveram engajamento em
comportamentos pecaminosos “pertencem a ele,” e, portanto merecem não a vida
eterna, mas a destruição eterna.
Em contraste, o evangelho faz
com que tudo gire em torno de Cristo e da resposta do pecador a Ele quando é
chegado o tempo de decidir o destino eterno dos “objetos de sua graça.”
“Jesus não lhes justifica os pecados, mas apresenta
o seu arrependimento e fé, e, reclamando o perdão para eles, ergue as mãos
feridas perante o Pai. ... Cristo vestirá Seus fiéis com Sua própria justiça,
para que os possa apresentar a Seu Pai como "igreja gloriosa, sem mancha,
nem ruga, nem coisa semelhante". Efés. 5:27. ... Assim se realizará o
cumprimento total da promessa do novo concerto.”
3. Algumas considerações escriturísticas
O fato de que todos os crentes
dependem igualmente da mediação de Cristo tanto para receberem perdão e justiça
salvadora é ilustrado graficamente pela experiência de Israel como povo de
Deus. Sua relação especial com Deus começou quando Ele agiu em favor deles os
libertando do cativeiro e o concedendo liberdade. A base sobre a qual Deus os
escolheu como Seu povo não foi a própria bondade, justiça, ou méritos do povo –
pois eles tinham nada disso – mas o amor e fidelidade do Deus que guarda a
aliança. (Deut. 9:5-7; 7:7-9).
Sua participação na ação
redentora de Deus os separou como Seu povo pessoal para desfrutar de um
relacionamento especial com Ele para seres santos para Ele. Pouco depois de seu
livramento Deus selou seu relacionamento com eles em uma aliança ao lhes dar
duas instituições separadas, ainda que interligadas, a saber, a lei e o
santuário. A função mais óbvia da lei consistia em prescrever a conduta
daqueles que Deus tinha remido e santificado. A lei regulamentava seu relacionamento
com Ele, uns com os outros, com outros povos, e com a herança que Deus iria
conceder a eles para que eles desfrutassem e administrassem como seus mordomos.
A obediência à lei de Deus era
uma benção em si mesma. Ela capacitaria os israelitas a viver em paz e de forma
produtiva, e torná-los um povo santo, feliz e saudável. Mas a lei de Deus era
mais do que um caminho efetivo para enriquecer a vida deles: era um teste de
lealdade para com seu Redentor igualmente. Para o povo de Deus, seus mandamentos
e preceitos não eram opcionais, mas obrigatórios. De fato, eles constituíam o
padrão que determinava o direito de um israelita de continuar como um membro do
povo do concerto de Deus. A violação da lei de Deus poderia resultar na
exclusão da comunidade de Israel (Números 15:30, 31), ou mesmo a morte (Êxodo
21:14).
A função menos óbvia da lei, mas
ainda significativa, era de servir como constante lembrança a Israel de que
eles não adquiriram por si mesmos o direito de ser o povo de Deus, nem mereciam
o status especial de relacionamento no qual foram colocados pelo Senhor. Suas
falhas constantes em obedecer perfeitamente a lei mostravam de novo, e de novo,
que tudo que eles eram e tudo a que eles tinham acesso era, e sempre seria, não
um direito adquirido através da infalível obediência da lei, mas um dom da
graça de Deus mediada através do santuário na forma de perdão.
Quando Deus os deu Sua lei, os
israelitas solenemente prometeram em “cuidarem em obedecer toda essa lei
perante o Senhor nosso Deus” (Deut. 6:25; cf. Ex. 19:8; 24:3, 7). E eles tinham
essa intenção. Não temos razão para acreditar que eles não estavam sendo
honestos nessa resolução. Mesmo por que, eles tinham aceitado a redenção de
Deus e estavam desfrutando de um status/relacionamento privilegiado com Ele
como Seu povo. Mas Deus percebeu que Ele não poderia tornar a perpetuação da
aliança dependente das boas intenções deles.
Deus conhecia a “estrutura” do
seu povo e os lembrou que eles eram “pó,” como Davi nos diz (Salmo 103:14). Ele
viu que o “espírito” de seus filhos “está ponto, mas a carne é fraca,” como
Jesus disse (Mateus 26:41). Deus entendeu o seu desejo, mas Ele providenciou
uma aliança adaptada à grande necessidade deles, e seu potencial limitado. E
então ele os concedeu o santuário também. “E me farão um santuário, e eu
habitarei no meio deles,” Ele disse a Moisés (Êxodo 25:40).
O santuário era para os tempos
do Antigo Testamento o que é o Evangelho para os tempos do Novo testamento. Os
serviços que ali aconteciam simbolizavam a Jesus e seu ministério sacrifical e
mediador – o ministério através do qual ele proveu tanto perdão quanto justiça
para aqueles que o aceitam pela fé. O santuário garantia expiação para aqueles
que, a despeito de sua resolução de serem fiéis a Deus e à aliança graciosa que
Deus tinha feito com eles, encontravam a si mesmos culpados de deslealdade;
Àqueles que, apesar de suas sérias tentativas de obediência à lei de Deus
violaram essa lei; E àqueles que, tendo reconhecido sua infidelidade, se
arrependeram de seus pecados e com fé trouxeram a Deus o sacrifício que Ele
tinha estipulado.
Os principais pontos da
administração da justiça através do santuário eram da seguinte forma: Sempre
que alguém violava a lei de Deus, ele se tornava “culpado. Quando o pecado em que ela
caiu lhe era notificado” (Lev. 4:27-28) – através do convencimento do Espírito
(João 16:7-8) – ele tinha que confessar “aquilo em que tinha caído em pecado” e trazer “uma oferta pelo pecado” ao santuário (Lev.
5:5). Depois ele imolava o sacrifício (Lev. 4:29), o sacerdote fazia “expiação
por ele,” e ele era “perdoado” (Lev. 4:31).
O santuário providenciava perdão
para o sacerdote ungido, para o “líder” (“governante,” RSV) do povo e para o
“membro comum da comunidade” de igual forma (Lev. 4:3, 22, 27). E todos dependiam desse perdão para
continuarem a participar da aliança de Deus com Israel. Não podemos
considerar nem mesmo o sumo sacerdote uma exceção, pois, de acordo com as
Escrituras, “todo sumo sacerdote” é rodeado de fraqueza. Por causa disso ele é
obrigado a oferecer sacrifícios por si mesmo bem como por todo o povo (Hebreus
5:1-3; cf. Lev. 16:3-6).
Ser perdoado significava que a
punição que Deus pronunciou sobre os transgressores da lei não cairia sobre o
pecador. Ele não era excluído, mas continuava como membro do povo de Deus em
posição correta e regular – como se ele não tivesse transgredido a lei de forma
nenhuma. A verdade é que ele tinha pecado e era culpado de quebrar sua aliança
com Deus, e ainda assim Deus o tratava como se ele tivesse sido fiel – como se
ele tivesse guardado a lei de forma absolutamente impecável – graças a provisão
do perdão que Deus tornara disponível através do santuário.
Sob esse arranjo
vetero-testamentário o santuário funcionava como corte, ou local de julgamento,
onde Deus decidia se um indivíduo em particular continuava ou não a pertencer à
comunidade de Seu povo. Uma vez que nenhum deles jamais teve sucesso em render
obediência perfeita, a lei corretamente condenava todos os israelitas como
igualmente culpados e imerecedores. Mas se eles se apropriassem da expiação
providenciada, o santuário invalidaria a condenação da lei. Ele substituía o
veredito de culpa, baseado nas obras individuais, com um veredito de
justificação, ou de não culpa, baseado na graça perdoadora de Deus.
Conseqüentemente era o relacionamento do israelita com o santuário que decidia,
em última instância, seu destino, pois era o santuário – e não a lei – que
tinha a palavra final concernente à sua posição diante de Deus.
A provisão do perdão através do
santuário era essencial para a continuidade da existência de Israel como povo
de Deus. Se Ele não tivesse colocado o santuário no meio do acampamento, os
israelitas teriam perdido seu relacionamento especial de aliança com Deus muito
antes de chegarem às fronteiras da terra prometida. E por toda sua história
posterior, em nenhum tempo seu relacionamento/status como povo de Deus não
dependeu em última instância da provisão que Deus tornou disponível para eles
através dos serviços que prefiguravam o papel redentor de Cristo.
O que era verdade para Israel
como povo era também verdade para cada um dos indivíduos de Israel. Em nenhum
lugar as Escrituras falam de alguém na longa e variada história das nações que
jamais tenha ocupado seu lugar entre o povo de Deus baseado em uma perfeita
obediência à lei. Como ocorreu com Paulo, “e o mandamento que me fora para
vida, verifiquei que este mesmo se me tornou para morte.” ocorreu com eles,
(Romanos 7:10), precisamente por que sua obediência era na melhor das hipóteses
parcial e imperfeita. Esse é o porquê todos eles – reis e juízes, profetas e
sacerdotes, ricos e pobres igualmente – retiveram sua condição de membros da
comunidade de Israel somente através da graça de Deus expressa através do
santuário.
A provisão era tão completa que
os israelitas não precisavam jamais ter perdido sua relação especial na aliança
com Deus, e ainda assim foi precisamente o que aconteceu com eles enquanto
nação. Devagar eles começaram a trocar os fundamentos de sua segurança da graça
de Deus, como mediada através do santuário, em favor de algumas de suas
tradições religiosas e personalidades de destaque em sua herança religiosa.
Eles chegaram a crer que uma vez que Deus os escolheu eles permaneceriam seu
povo escolhido para sempre.
Sua dependência de obediência à
lei para obterem uma posição correta diante de Deus eventualmente se tornou tão
inclusiva que quando Jesus surgir pregando arrependimento do pecado e fé em sua
morte substitutiva (veja: Marcos 1:14, 15; Hebreus 9:26-28; 1 Pedro 1:18, 19;
João 6:35), quando ele veio “salvar o seu povo dos seus pecados” (mat. 1:21),
para levar, fazer expiação, remover através da morte vicária, “o pecado do
mundo” (João 1:29) – eles os rejeitaram em troca de suas próprias tradições.
A tragédia é que quando eles
rejeitaram a verdadeira expiação providenciada através do sacrifício de Jesus,
em quem “o Senhor fez cair... a iniqüidade de nós todos,” e que morreu como
“oferta pelo pecado” (Isaías 53:6, 10), Deus não podia fazer mais nada para mantê-los
como o exclusivo povo da aliança. Evidentemente
os israelitas perderam sua relação especial pela aliança com Deus e caíram da
graça, não por causa de sua falha em render obediência perfeita à lei – Deus
fez provisão para isso – mas antes pela sua falha em aceitar o sacrifício
expiatório de Cristo, previamente simbolizado pelos serviços do santuário.
Parece que uma grande parte do
problema espiritual de Israel resultava de – e seu destino como povo foi
eventualmente determinado por – uma má compreensão em duas direções a respeito
da condição real do homem como pecador. Eles pensavam que somente violações
conscientes da letra da lei eram pecaminosas. Essa é a razão pela qual os
líderes espirituais sentiam que apenas ladrões, criminosos, adúlteros, e semelhantes
pecadores necessitavam de arrependimento e de perdão. Aparentemente nunca
ocorreu a eles que a despeito de sua intensa religiosidade e zelo relativo à
lei, eles eram espiritualmente destituídos, moralmente imperfeitos, e
conseqüentemente necessitavam de um salvador tanto quanto o publicano, as
prostitutas e outros pecadores declarados.
Jesus disse aos judeus que “os sãos não
precisam de médico, mas os doentes. Eu não vim chamar justos, mas pecadores.”
(Marcos 2:17). De acordo com as Escrituras, “não há um justo sequer” (Romanos
3:10; cf. Salmo 14:1-3). Portanto não devemos interpretar a afirmação de Cristo
como se ela significasse que somente algumas pessoas estariam “doentes” e
necessitadas de cura espiritual, ou pior, que já existiriam pessoas “sãs” que
não precisariam dEle como Salvador.
Ao invés disso, Jesus está revelando o fato
que apenas aqueles que reconhecem ser pecadores, aqueles que estão conscientes
de sua imperfeição espiritual – os “pobres de espírito” aqueles que “gemem” por
causa de sua pecaminosidade pela “justiça de Deus” (Mateus 5:3, 4; 6:33) –
sentem sua necessidade de um salvador e se apropriam eles mesmos da obra
redentora de Cristo. “Cristo só pode salvar quem reconhece ser pecador...
Precisamos conhecer nossa verdadeira condição, do contrário não sentiremos
nossa carência do auxílio de Cristo.” (Parábolas
de Jesus, p. 158).
Em contraste, aqueles que se
consideram justos permanecem inconscientes de suas deficiências espirituais e
conseqüentemente não dependem da obra redentora de Cristo para estarem diante
de Deus em uma posição correta. Como resultado, a expiação de Cristo não é
eficiente em favor deles.
Em outro lugar Jesus explica de
forma mais detalhada a diferença entre aqueles que reconhecem sua necessidade
espiritual e aqueles que não o fazem.
“Em verdade vos digo que
publicanos e meretrizes vos precedem no Reino de Deus. Por que João veio a vós
outros no caminho da justiça, e não acreditastes nele; ao passo que publicanos
e meretrizes creram. Vós, porém, mesmo vendo isto, não vos arrependestes,
afina, para acreditardes nele.” (Mateus 21:31, 32).
Por que os judeus definiam
pecado somente em termos de ações conscientes que violavam a letra da lei, eles
falharam em perceber sua pecaminosidade pessoal, que clamava por um salvador.
Eles não perceberam que por eles serem imperfeitos e indignos, eles eram tão
dependentes dos méritos do sangue de Cristo quanto o eram os publicanos e
prostitutas que viviam em pecado deliberado. Essa má compreensão dos judeus
eventualmente os conduziu a pessoalmente rejeitar a Jesus como “principal
pedra, angular” (Mat. 21:42) de sua salvação pessoal. Portanto, Jesus disse
para eles “o Reino de Deus será tirado de vós” (Mat. 21:43).
Então, de acordo com Jesus, tais
judeus não perderam sua participação no Reino da graça de Deus por que eles
negligenciaram Sua lei por vontade própria, conscientemente viveram em pecado
aberto, ou deliberadamente se rebelaram contra o senhorio de Deus. Ele o
rejeitaram, antes, por que em sua própria suficiência religiosa, eles não “se
arrependeram e creram” de forma a assegurar o perdão e a justiça salvadora
tornados disponíveis em Cristo. Conseqüentemente, eles não tinham parte no
Reino da Graça de Deus e nenhum direito à vida eterna.
Nem todos os israelitas perderam
sua relação de aliança com Deus, contudo. Alguns dos que a mantiveram foram os
primeiros seguidores de Cristo, bem como a maior parte da igreja primitiva, que
era judia. E quando Deus finalmente conduzir a aliança à plena realização,
quando Ele estabelecer seu Reino eterno de glória na segunda vinda de Cristo,
muitos israelitas receberão tudo para o que sua relação de aliança com Deus
lhes designa. Falando daqueles que baseavam sua esperança na vinda do messias e
“morreram na fé” (Hebreus 11:13), as Escrituras afirmam:
“Todos esses que
obtiveram bom testemunho por sua fé não obtiveram, contudo, a concretização da
promessa. Por haver Deus provido coisa superior a nosso respeito, para que
eles, sem nós, não fossem aperfeiçoados.” (Hebreus 11:39, 40).
Note particularmente dois
detalhes aqui: 1. Todos os gigantes espirituais do Velho Testamento dos quais
essa passagem fala realizaram grandes coisas por Deus – todos eles obtiveram
bom testemunho – mas nenhum deles atingiu a perfeição sem pecado durante seu
tempo de vida. Isso é algo que os espera por eles no futuro. 2. “nenhum deles
recebeu a concretização da promessa,” mas por que eles “morreram na fé” eles
“ganharam aprovação através de sua fé” (NASB) e portanto serão “feitos
perfeitos” junto com todos os redimidos de todas as eras na segunda vinda de
Jesus.
A experiência dos heróis da fé
do Antigo Testamento ilustra de forma bela como Deus realiza Sua obra
redentora. A promessa escriturística é que “qualquer que nele (Jesus Cristo)
crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” (João 3:16). Jesus afirmou ser o
único caminho: “Ninguém vai ao Pai senão por mim,” Ele disse (João 14:6). De
acordo com a promessa profética de João 3:16 todos que vivem pela fé no plano
de Deus para a redenção dos pecadores terão a vida eterna. Exatamente da mesma
forma todos que recusam colocar sua fé na obra redentora de Cristo como único
caminho para o Pai perecerão.
Sob a base de tais
considerações, concluímos que todos os seres humanos igualmente – de Abel, o
primeiro crente e morrer, ao último pecador a aceitar a graça salvadora de Deus
em Cristo logo antes do fechamento da porta da graça – dependem igualmente da
atividade redentora para salvação. Por que todos são pecaminosos, imperfeitos,
e indignos, e Deus divisou um plano de redenção de acordo com o qual Jesus
Cristo é o único caminho para o Pai, todos os seres humanos serão salvos pela
graça ou não serão salvos de forma nenhuma.
De acordo com as Escrituras,
“Não há um justo sequer... todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Romanos
3:10-23). Portanto, ou eles aceitam o imerecido perdão de Deus, baseado na
morte expiatória de Cristo em seu favor, ou eles estarão culpados diante do
tribunal de Deus. E, ou eles aceitam a justiça imputada de Cristo, centrada na
vida substitutiva do Salvador, ou eles permanecerão em um estado de perdição,
desamparo espiritual, e eventual morte. Homens caídos simplesmente não têm
outras opções disponíveis.
A
mediação de Cristo é o único caminho para a justiça salvadora até o fim
Os escritos de Ellen
White também expressam a idéia de que todos os crentes devem possuir a justiça
de Cristo para desfrutarem de uma posição correta diante de Deus até o fim. A
expressão “até o fim” tem uma aplicação dupla: Ela significa, primeiro, que
aqueles que morrerem antes do fechamento da porta da graça continuarão a
confiar na mediação de Cristo para salvação até o fim de suas vidas. E,
segundo, que última geração de crentes – aqueles que estarão vivos quando o
fechamento da porta da graça ocorrer para o mundo, e conseqüentemente deverão
encarar o juízo pré-investigativo durante seu tempo de vida – precisam da
mediação de Cristo, para assegurar o veredito final positivo para sua salvação,
tanto quanto todas as gerações que os precederam.
1. Um relacionamento progressivamente
íntimo com Deus conduzindo a uma consciência mais profunda da pecaminosidade
pessoal, e uma maior confiança em Cristo para salvação.
O senso comum parece
indicar que quanto mais um crente continue em um processo de crescimento
cristão, o mais perto ele deveria se encontrar de atingir o objetivo da
perfeição sem pecado, e conseqüentemente ele iria precisar cada vez menos de
que Cristo fizesse mediação por ele. A consciência de sua pecaminosidade,
imperfeição, e indignidade deveriam decrescer em uma proporção direta àquela de
seu amadurecimento, desenvolvimento de caráter, e mudança de comportamento.
Contudo, estranho como isso pode parecer, Ellen White rejeita essa noção. Note
particularmente que a percepção de um indivíduo de sua própria condição
espiritual – tenha ele a visão de si mesmo como justo e bom, ou como imperfeito
e pecador – é dito ser determinado relativamente à sua proximidade de Jesus, e
por uma adequada visão da perfeição de Cristo.
“Quanto
mais nos aproximarmos de Jesus, e quanto mais claramente distinguirmos a pureza
de Seu caráter, tanto mais claro veremos a excessiva malignidade do pecado, e
tanto menos nutriremos o desejo de nos exaltar a nós mesmos. Haverá um contínuo
anelo da alma em direção a Deus, uma contínua, sincera, contrita confissão de pecado
e humilhação do coração perante Ele.” (Atos
dos apóstolos, p. 561).
“Não
pode haver exaltação própria, jactanciosa pretensão à libertação do pecado, por
parte dos que andam à sombra da cruz do Calvário. Sentem eles que foi seu
pecado o causador da agonia que quebrantou o coração do Filho de Deus, e este
pensamento os levará à humilhação própria. Os que mais perto vivem de Jesus,
mais claramente discernem a fragilidade e pecaminosidade do ser humano, e sua
única esperança está nos méritos de um Salvador crucificado e ressurgido.” (O grande conflito, p. 471).
“Nunca
podemos alcançar a perfeição por nossas próprias boas obras. A pessoa que vê a
Jesus pela fé rejeita sua própria justiça. Encara a si mesma como incompleta,
seu arrependimento como insuficiente, sua mais forte fé como sendo apenas
debilidade, seu mais custoso sacrifício como escasso, e se prostra com
humildade aos pés da cruz.” (Fé e obras, p.
107). “Quando vemos a Jesus... não mais o próprio eu
clama por atenções. Olhando a Jesus, envergonhamo-nos de nossa frieza, nossa
letargia, nosso espírito interesseiro.” (O
desejado de todas as nações, p. 439).
“Quanto
mais perto vos chegardes de Jesus, tanto mais cheio de faltas parecereis aos
vossos olhos; porque vossa visão será mais clara e vossas imperfeições se verão
em amplo e vivo contraste com Sua natureza perfeita. Isto é prova de que os
enganos de Satanás perderam seu poder; que a influência vivificante do Espírito
de Deus está a despertar-vos. Não pode habitar um amor profundo e arraigado no coração
daquele que não reconhece sua pecaminosidade. A alma transformada pela graça de
Cristo admirará o Seu caráter divino; se, porém, não reconhecemos nossa própria
deformidade moral, é isto uma prova inequívoca de que não obtivemos uma visão
da beleza e excelência de Cristo.” (Caminho
a Cristo, pp. 64, 65).
“Nosso
amor a Cristo será proporcional à profundeza de nossa convicção do pecado.” (Fé e obras, p. 96). “Todavia precisamos
ter conhecimento de nós mesmos, conhecimento que resultará em contrição, antes
de podermos achar perdão e paz. ...Cristo só pode salvar quem reconhece ser
pecador.” (Parábolas de Jesus, p.
158). “Quando os homens vêem sua nulidade, então eles estão preparados para
serem vestidos com a justiça de Cristo.” (A
fé pela qual eu vivo, Meditações matinais, p. 111).
“E a
alegação de estarem sem pecado é em si mesma evidência de que aquele que a
alimenta longe está de ser santo. É porque não tem nenhuma concepção verdadeira
da infinita pureza e santidade de Deus, ou do que devem ser os que se hão de
harmonizar com Seu caráter; é porque não aprendeu o verdadeiro conceito da
pureza e perfeição supremas de Jesus, bem como da malignidade e horror do
pecado, que o homem pode considerar-se santo. Quanto maior a distância entre
ele e Cristo, e quanto mais impróprias forem suas concepções do caráter e
requisitos divinos, tanto mais justo parecerá a seus próprios olhos.” (O grande conflito, p. 473).
“Só
de um modo o verdadeiro conhecimento do próprio eu pode ser alcançado.
Precisamos olhar a Cristo. O desconhecimento dEle é que dá aos homens uma tão
alta idéia de sua própria justiça. Ao contemplarmos Sua pureza e excelência,
veremos nossa fraqueza, pobreza e defeitos, como realmente são. Ver-nos-emos
perdidos e sem esperança, vestidos com o manto da justiça própria, como
qualquer pecador. Veremos que se afinal formos salvos, não será por nossa
própria bondade, mas pela graça infinita de Deus.” (Parábolas de Jesus, p. 159).
“O
verdadeiro seguidor de Cristo não fará arrogantes pretensões de santidade. É pela
lei de Deus que o pecador se convence de seu erro. Ele vê sua própria
pecaminosidade em contraste com a perfeita justiça imposta por ela, e isso o
conduz a humildade e arrependimento. É reconciliado com Deus por meio do sangue
de Cristo, e, continuando a andar com Ele, obterá mais clara compreensão da
santidade do caráter de Deus e da natureza abarcante de Seus requisitos. Verá
mais claramente os seus próprios defeitos e sentirá a necessidade de contínuo
arrependimento e fé no sangue de Cristo.” (Fé
e obras, pp. 53, 54).
Essas afirmações de Ellen White descrevem as visões teológicas, as
percepções espirituais, e experiências pessoais de dois grupos de pessoas
religiosas radicalmente diferentes. Aqueles do primeiro grupo não têm um
relacionamento de fé íntimo e iluminado com Cristo e conseqüentemente lhes
falta tanto o ponto de referência como a visão espiritual que os capacitaria
sua verdadeira condição como seres caídos. Eles são moralistas religiosos
obviamente preocupados em atingir uma condição sem pecado. Infelizmente eles
subestimam sua pecaminosidade e superestimam seu potencial. Como resultado eles
não sentem que toda a aceitação de Deus em favor eles vem através de Cristo.
Eles aparentemente vêem a mediação de Cristo como um arranjo temporário com o
objetivo de ajudá-los até que eles atinjam um estado de incontaminação e
aprendam a viver sem pecar.
Ellen White menciona várias características negativas desse grupo:
1. Eles vivem espiritualmente à grande distância de Cristo –
aparentemente sem o perceber.
2. Controlados pelos enganos de Satanás de justiça própria eles não têm
permitido que a influência vivificante do Espírito Santo os levante.
3. Não tendo uma visão clara da pureza e amabilidade de Cristo eles crêem
poder atingir o padrão de justiça dEle em suas vidas pessoais.
4. Sem uma concepção verdadeira das exigências divinas eles pensam poder
satisfazê-las.
5. Uma concepção inadequada do que eles devem se tornar para estar em
harmonia com o caráter de Deus os leva a subestimar o quanto eles realmente
falham diante do padrão Divino.
6. Eles não discernem a fragilidade e pecaminosidade da humanidade – o
que os cega a respeito da verdadeira profundidade de sua ruína espiritual.
7. Eles têm uma definição simplista de pecado, um entendimento inadequado
de sua verdadeira malignidade, o que os cega para o fato de que somente Cristo
pode concedê-los uma posição correta diante de Deus.
O segundo grupo consiste dos
“verdadeiros seguidores de Jesus Cristo,” que vivem em um relacionamento íntimo
e iluminado de fé com Ele e são, portanto, espiritualmente sensíveis. Tendo
tido uma visão da pureza e excelência de Jesus, eles vêem “sua própria
fraqueza, e pobreza, e defeitos como eles
realmente são.” É por isso que
repudiam sua própria justiça, vêem a si mesmos como incompletos, seu
arrependimento insuficiente, sua fé mais forte como fraca, e reconhecem que
“sua única esperança está nos méritos de um salvador crucificado e ressurreto.”
Aqueles que pertencem a esse segundo grupo possuem pelo menos as seguintes
características:
1. Eles chegaram a apreciar a beleza do santo caráter de Jesus.
2. Eles têm um entendimento claro da natureza de longo alcance das
exigências de Deus, daquilo em que eles precisam se tornar para satisfazer o
padrão que Ele estabeleceu.
3. Eles têm uma concepção adequada da malignidade do pecado e da
fragilidade, e pecaminosidade humanas.
4. Eles reconhecem sua pecaminosidade, inadequação e indignidade pessoal.
5. Eles vivem em um estado de
“arrependimento contínuo e fé no sangue de Cristo,” plenamente cientes de que
sua salvação depende não de sua própria bondade, mas da infinita graça de Deus.
Podemos, portanto, dizer que o bloco de passagens de Ellen White citadas
previamente nesse capítulo conduz a pelo menos quatro conclusões: Primeiro, o
crente que mantém um relacionamento de fé com Jesus Cristo saudável e crescente
chega cada vez mais perto do Salvador. Segundo, o mais perto ele chega de
Jesus, o mais claramente ele vê suas imperfeições, pecaminosidade, e
indignidade. Terceiro, essa percepção não surge de um falso senso de modéstia,
nem de um discernimento espiritual pobre. Ao contrário, ele está baseado (1) em
sua crescente capacidade espiritual em ver a si mesmo como ele realmente é –
como Deus o vê separado da justiça imputada de Cristo – e (2) em sua crescente
percepção da absoluta perfeição de Cristo. Quarto, a percepção crescente do
crente em relação à sua verdadeira inadequação espiritual o conduz a depender
mais e mais de Cristo até o fim de sua vida.
2. A
experiência da igreja remanescente
De acordo com Ellen White, todos os verdadeiros crentes continuarão a
viver em um estado de constante arrependimento por causa de seus pecados, e de
fé em Jesus para receberem justiça salvadora, e isso até o fim de suas vidas. A
seguinte passagem descreve a experiência da última geração de crentes enquanto
eles encararão o julgamento final de Deus quando o tempo de graça chegar a seu
fim. Entre outras coisas, ela mostra o papel decisivo de Jesus como mediador.
“o fato de que o reconhecido povo de Deus é representando como estando
perante o Senhor em trajes imundos deveria conduzir a todos que professam o Seu
nome à humilhação e profunda analisa do coração. Aqueles que estão de fato
purificando suas almas pela obediência à verdade terão a opinião mais humilde a
respeito de si mesmos. Quanto mais de perto eles vêem o caráter sem mancha de
Cristo mais fortemente eles desejam se conformar com a Sua imagem, e menos eles
verão pureza ou santidade em si mesmos. Mas enquanto devamos reconhecer nossa
condição pecaminosa, devemos confiar em Cristo como nossa justiça, e
santificação e redenção. Não podemos responder às acusações de satanás contra
nós. Somente Cristo pode pleitear favoravelmente em nosso favor. Ele é capaz de
silenciar o acusador com argumentos não fundamentados em nossos méritos, mas
nos méritos próprios dEle.
A visão de Zacarias sobre Josué e o Anjo se aplica com força especial à
experiência do povo de Deus no final do grande dia (antitípico) da expiação. A
igreja remanescente será colocada em grande prova e aflição. Aqueles que
guardam os mandamentos de Deus e a fé de Jesus sentirão a ira do dragão e de
suas hostes.
Como Josué estava pleiteando
diante do Anjo, assim a igreja remanescente, com coração quebrantado e fé
intensa, pleiteará pelo perdão e livramento através de Jesus, seu advogado.
Eles estão plenamente conscientes da pecaminosidade de suas vidas, eles vêem
sua fraqueza e indignidade, e quando eles olham para si mesmos eles ficam a
ponto de se desesperar. O tentador está a postos para acusá-los, como resistiu
a Josué. Ele aponta suas vestes sujas e
seu caráter defeituoso. Ele apresenta sua fraqueza e leviandade, seus pecados
de ingratidão, sua dessemelhança com Cristo, que desonraram seu redentor...
O povo de Deus está gemendo e chorando pelas abominações que são feitas
na terra. ...com completa tristeza eles humilham a si mesmos diante do Senhor
por causa de suas próprias transgressões. ...é por que eles estão se achegando
mais perto de Cristo, e seus olhos estão fixos na pureza perfeita, que eles
discernem tão claramente a excessiva malignidade do pecado. Sua contrição e
auto-abatimento são infinitamente mais aceitáveis às vistas de Deus do que o
espírito auto-suficiente e arrogante daqueles que não vêem razão para lamentar,
que desprezam a humilhação de Cristo, e que reclamam perfeição enquanto
transgredindo a santa lei de Deus. Mansidão e humildade de coração são as
condições para o poder e a vitória. A coroa da glória aguarda aqueles que se
ajoelham aos pés da cruz. Bem aventurados os tristes, pois eles serão
consolados...
Enquanto o povo de Deus aflige sua alma perante Ele, pleiteando por
pureza de coração, a ordem é dada, “tirem as vestes sujas” deles, e as palavras
encorajadoras são proferidas, “Eis que tenho feito que passe de ti a tua iniqüidade e te vestirei
de finos trajes.” A veste da justiça de Cristo, sem mancha, é colocada sobre o
experimentado, tentado, e ainda fiel filho de Deus. Os remanescentes
desprezados são vestidos de traje glorioso, nunca mais para serem contaminados
pelas corrupções do mundo. Seus nomes estão mantidos no livro da vida do
cordeiro, arrolados juntos aos fiéis de todas as eras.” (Testemunhos para a igreja, vol. 5, pp. 471-475).
A passagem dificilmente necessita de
qualquer explicação. Mas para enfatizar seus significados em relação ao tema
geral de nosso estudo, vamos chamar a atenção para quatro pontos:
Primeiro, a
passagem discute a experiência do “reconhecido povo de Deus,” da “igreja
remanescente,” no tempo do “fim do grande dia da expiação.” Podemos dizer que
ela resume o que acontecerá com a última geração de crentes enquanto Deus
decide permanentemente e irreversivelmente seu destino eterno no juízo
pré-advento.
Segundo, a
passagem claramente afirma que a igreja remanescente não alcança a perfeição
sem pecado em si mesma, ou em sua conduta, no tempo do fechamento da porta da
graça. Eles não são super-santos que atingiram plenamente a justiça sem falhas
diante do tribunal de Deus e a mantém adelante. Ao contrário, eles são
pecadores que, a não ser pela justiça de Cristo, não possuem nada a não ser
“vestes sujas” para vestir. Dolorosamente cientes da “pecaminosidade de suas
vidas. ...de sua fraqueza e indignidade,” “caráter defeituoso,” “dessemelhança
com Cristo,” eles “afligem suas almas” em arrependimento diante de Deus “por
causa de suas transgressões” e pleiteam por uma “pureza de coração” que
obviamente eles ainda não possuem.
Terceiro,
se aqueles crentes, vivos quando o juízo pré-advento for concluído,
transcenderam sua condição caída, desenvolveram justiça sem mancha em si,
aprenderam a viver sem pecar, então eles deveria ser capazes de responder às
acusações de Satanás contra eles. Mas definitivamente esse não é o caso. Os
acusados não podem responder as acuações formalizadas contra eles por que elas
são verdadeiras. Eles são de fato culpados, imperfeitos e pecaminosos. Essa é
precisamente a razão por que “quando
eles olham para si mesmos eles ficam a ponto de se desesperar.” Eles não têm
fundamento para uma autodefesa.
Devesse
Deus determinar o destino eterno deles sob a base de sua verdadeira condição
espiritual e real performance comportamental, então seu caso seria sem
esperança. Mas então Jesus, o poderoso mediador, faz uma petição efetiva em
favor deles. Ele silencia o acusador com argumentos fundamentados, não nos
méritos dos crentes – pois eles não possuem nenhum – mas sobre os seus próprios
méritos. Ele credita, aplica, seus méritos a eles na base de sua fé nEle como
seu advogado diante do Pai.
Quarto, o
julgamento final da igreja remanescente chega a uma resolução permanente quando
Jesus, o mediador, faz duas coisas essenciais em favor seu favor. 1. Ele ordena
que suas vestes sujas sejam tiradas deles – Ele faz com que as iniqüidades
deles passem deles e perdoa seus pecados. 2. Ele os cobre com o glorioso manto
de sua justiça sem mancha – ele imputa sua justiça pessoal a eles e então eles
são completos em Cristo pela fé. Como resultado, seus nomes permanecem no livro
da vida do Cordeiro, arrolados entre os fiéis de todas as eras, para nunca
serem removidos. O julgamento deles agora está acabado, seus casos fechados
para sempre, seu destino eterno está permanentemente selado.
Claramente,
então, a mediação de Cristo é tão vital como foi sua morte sobre a cruz para a
última geração por que sem sua justiça imputada a igreja remanescente não teria
nada com que opor as acusações de Satanás contra eles, nenhuma justiça com a
qual poderia satisfazer a padrão requerido por Deus para a salvação. É isso que
torna a seguinte citação tão pertinente:
“Não é
a vontade de Deus que sejais desconfiados, e torturem suas almas com o medo de
que Deus não vos aceitará por que sois pecaminosos e indignos... Apresente seu
caso diante dEle, implorando os méritos do sangue que foi derramado na cruz do
calvário. Satanás o acusará de ser um grande pecador, e você deve admitir isso,
mas você pode dizer “Eu sei que eu sou um pecador, e essa é a razão pela qual
eu preciso de um Salvador... eu não tenho mérito, ou bondade pelos quais eu
mereça salvação, mas eu apresento diante de Deus o sangue expiatório do
inculpável Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Esse é meu único
pedido. O nome de Jesus me dá acesso ao Pai.” (Signs of the times, 4 de julho de 1892).
“Se você passará pelo tempo de angústia, então
deves conhecer a Cristo e se apropriar do dom de sua justiça, que Ele imputa
sobre o pecador arrependido” (Review and
Herald, 22 de novembro de 1892)
As
exigências para a salvação, e a forma de satisfazê-las são as mesmas do começo
ao fim do tempo. Isso significa duas coisas: Primeiro, a última geração deve atingir o mesmo padrão de perfeição como todos os
outros que viveram antes. Uma vez que Deus requereu existência totalmente
justa e obediência impecável à sua vontade de todas as gerações anteriores,
isso é precisamente o que Ele espera da igreja remanescente – o padrão não foi
aumentado, nem diminuído para eles.
Segundo, a última geração atingirá o padrão e
alcançará o objetivo da mesma maneira que as gerações anteriores. Todos os
que vivem anteriormente – incluindo os gigantes da fé e mártires de todas as
eras – eram culpados, imperfeitos, e indignos pecadores, totalmente dependentes
de Cristo para salvação. Isso também é verdade em relação aos crentes desses
últimos dias. Deus os salvará, não sob a base de suas consecuções espirituais
sem precedentes, mas por que o mediador remove suas vestes sujas – a justiça
parcial e imperfeita que eles desenvolveram em suas próprias vidas – e os cobre
com o manto de sua justiça Toda-suficiente. Assim Cristo os apresenta ao Pai
como perfeitamente justos pela fé.
Obviamente
podemos encontrar algumas similaridades significativas entre aqueles que
viveram pela fé em Cristo até morrer e aquele que estarão vivos quando o tempo
da graça se acabar. 1. Ambos os grupos, Ellen White diz, são indignos,
imperfeitos, e pecaminosos - ela menciona sua “dessemelhança de Cristo,” seu
“caráter defeituoso.” 2. Ambos os grupos estão culpados e desajudados diante de
Deus – eles não podem se opor às acusações de Satanás contra eles por que elas
refletem acuradamente quem eles realmente são e o que eles têm feito de fato.
3. O julgamento faz a salvação eterna de ambos os grupos permanentemente
segura, não por que eles tenham atingido perfeita integridade espiritual e
aprenderam a viver sem pecar – pois tal não é o caso – mas por que o Salvador
aplica os benefícios de Sua vitória redentora a eles e os apresenta ao Pai como
justos, santos, e dignos em Cristo pela fé.
3.
Algumas considerações escriturísticas
Os
escritores do Novo Testamento acreditavam que eles estavam vivendo perto do fim
da história humana. Tanto quanto era concernente a eles, eles eram a última
geração de crentes. Um senso de urgência permeava os escritos deles
precisamente por que eles sentiam que o Dia do Senhor estava às portas. Portanto,
podemos considerar muito do que eles escreveram tendo seus contemporâneos em
mente, com algumas adaptações, como diretamente aplicável àqueles vivendo no
fim do tempo.
Quando
examinamos os escritos apostólicos à procura de algo que possa se aplicar àqueles
que estarão vivos na volta de Jesus, encontramos três principais preocupações:
1. Eles previnam os crentes de desistirem de sua fé, pois ao fazerem isso eles
estariam perdendo sua participação nas promessas do evangelho. “por esse
evangelho também sois salvos, se retiverdes a palavra tal como vo-la preguei,”
disse Paulo, “a menos que tenhais crido em vão.” (1 Cor. 15:2). 2. Eles encorajavam
os crentes a viverem em “santo procedimento e piedade” enquanto aguardam pelo
advento (2 Pedro 3:11,12). 3. Eles instam para que eles continuem na fé “até o
fim” (Heb. 3:14) para que o “não vos deixem afastar da esperança do evangelho” (Col.
1:23) se tornasse uma realidade para eles.
Falando de
sua própria experiência cristã, Paulo disse:
“Combati
o bom combate, completei a carreira, guardei a fé. Já agora a coroa da justiça
me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não
somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda.” (2 Tim. 4:7,8).
Primeiro,
notamos que Paulo baseou sua segurança de receber “a coroa da justiça” no fato
de que ele “combateu o bom combate,” “completou a carreira,” e “guardou a fé.”
Obviamente
ele morreu como viveu, dependendo não de seus próprios méritos e consecuções,
mas da “justiça que procede de Deus, baseada na fé” (Filipenses 3:9). Segundo,
o apóstolo não fez distinções entre aqueles que estarão vivos na segunda vinda
de Jesus e os que morrerem antes disso. Deus recompensará com a coroa da
justiça “todos os que amam a sua
vinda.” Claramente seu conselho “assim andai nele (em Cristo), nele radicados,
e edificados, e confirmados na fé, tal como fostes instruídos...” (Col. 2:6,7),
revela o segredo de uma posição correta diante de Deus para todos os crentes de
igual forma até o fim do tempo.
Os
ensinamentos de Jesus refletem uma preocupação similar. Ele aconselhou os
discípulos a serem cuidadosos e estarem de prontidão para que o segundo advento
não os pegasse de surpresa. Nosso Salvador os avisou contra os falsos
ensinamentos e milagres que “enganariam, se possível, os próprios eleitos”
(Mateus 24:24). E Ele os lembrou que apenas “o que perseverar até o fim será
salvo” (Mateus 10:22; cf. Marcos 13:35, 36; Lucas 21:34-36). Usando a vinha e
os ramos como ilustração, Jesus explicou a necessidade de estar nEle, de permanecer
em seu amor (João 15:1-10). Ele parecia verdadeiramente preocupado se caso “O
Filho do homem... achará fé na terra” quando Ele vier (Lucas
18:8).
Nós,
portanto, concluímos: 1. De acordo com o Novo Testamento, todos os crentes
devem possuir os méritos de Cristo para ocuparem uma correta posição diante de
Deus. As Escrituras focam no relacionamento de fé do crente com o Salvador e
enfatiza a absoluta necessidade de permanecer em Cristo pela fé até que Ele
retorne. 2. Jesus e os escritores apostólicos não dão nenhuma indicação de que
a última geração deveria ser especial – que ela deveria ter sucesso onde todas
as gerações anteriores passadas falharam. Jesus e os apóstolos não revelaram
nenhuma preocupação de que o crente pudesse falhar em subir o suficiente na
escada de seu desenvolvimento e modificação comportamental. Ao invés disso,
eles se concentram no perigo de que alguns possam renunciar sua fé e quebrar a
união espiritual com Cristo e ao fazerem isso perderiam o acesso à esperança
que vem do evangelho.
Talvez a
passagem escriturística mais específica para descrever a experiência da última
geração de crentes é a mensagem para a igreja de Laodicéia, registrada em
Apocalipse 3:14-21. Os adventistas sempre acreditaram que essa passagem
descreve o último movimento religioso especificamente destacado nas Escrituras,
e que ela se aplica, portanto, com força particular, para nós como igreja. É,
portanto, adequado que examinemos a mensagem para estabelecer se ela descreve
(1) uma igreja superior capaz de se apoiar em sua moralidade impecável e
integridade espiritual, ou (2) uma igreja totalmente dependente do papel
redentor de Cristo para estar em posição correta diante de Deus, como vimos
anteriormente.
De acordo
com o testemunho da “testemunha fiel e verdadeira” (verso 14), os laodicenses
encontram-se em uma terrível enrascada, estando totalmente enganados sobre sua
verdadeira condição espiritual. 1. Eles pensam que são ricos e que de nada
necessitam, quando na realidade eles estão espiritualmente falidos. 2. Eles são
culpados dos pecados da justiça própria e da arrogância – pecados contrários à
lei e ao evangelho. 3. Eles vivem em um estado de vergonhosa nudez espiritual,
de lamentável cegueira, de desgraça e pobreza. 4. Eles não têm fé verdadeira
nem amor real (“ouro refinado no fogo” (Verso 18; cf. 1 Pedro 1:7; Hebreus
3:14, 11:7).
É importante notar que a situação crítica dos
laodicenses não é uma questão de conduta ou de natureza pecaminosa. O fato de
que a testemunha não menciona nenhuma prática pecaminosa específica, tais quais
adoração de ídolos, roubo ou adultério, sugere que provavelmente eles não
participavam em muitos comportamentos pecaminosos praticados por aqueles que
não se importavam com os padrões morais estabelecidos por Deus. Os laodicenses
não estão rejeitando abertamente a lei de Deus. Nem são eles como o filho
pródigo, desperdiçando suas vidas em comportamentos pecaminosos. Ao contrário,
sua situação é crítica por que eles não têm respondido ao evangelho em
arrependimento e fé, e conseqüentemente eles não têm acesso à obra redentora de
Cristo.
De acordo
com a testemunha verdadeira, a solução para a condição espiritual quase
desesperada dos laodicenses não envolve mais e melhores obras, nem está numa
versão melhorada de sua própria marca de roupa – que significa dizer, de sua
justiça pessoal, bondade e méritos. Ao contrário, eles podem encontrar a
solução para sua condição somente em Cristo e no que Ele tornou disponível para
eles. A testemunha os insta a assegurar três coisas específicas com Jesus
(verso 18): (1) O “ouro” da fé para que eles se tornem ricos por participar da
abundância de Cristo; (2) As “vestes brancas” de Sua justiça salvadora para
cobrir sua vergonhosa nudez espiritual; e (3) O “colírio” que os capacitará a
ver sua verdadeira condição espiritual, e irá movê-los ao arrependimento de sua
auto-suficiência para que Deus possa perdoar os seus pecados e remover sua
culpa.
Cristo
também os admoesta ao arrependimento de sua arrogância espiritual (verso 19), e
os convida a abrir a porta para que Ele possa ter comunhão com eles (verso 20).
Aqueles que atentarem para a mensagem e seguirem os conselhos da testemunha
fiel serão os vencedores – eles são os verdadeiros crentes que sentarão no
trono de Jesus assim como Jesus sentou com o Pai em seu trono (verso 21) depois
de ter obtido a vitória redentora.
Existe algo
muito peculiar – e realmente perturbador – sobre o formato da mensagem à igreja
de Laodicéia. Enquanto a mensagem é endereçada à igreja corporativamente, o
convite e a promessa final vão, não para a igreja no geral, mas a pessoas
individuais dentro dela. A última exortação à igreja como igreja é um apelo ao
arrependimento (verso 19). A mensagem estão se modifica do corporativo para o
individual. Jesus diz:
Eis que
estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em
sua casa e cearei com ele, e ele, comigo. Ao vencedor, dar-lhe-ei sentar-se
comigo no meu trono, assim como também eu venci e me sentei com meu Pai no seu
trono. (Apocalipse 3:20,21).
A mensagem
aos laodicenses sugere que essa igreja profética encara o perigo real de
repetir o erro fatal cometido por tantos em Israel no tempo de Cristo. Como
corporação, os laodicenses aparentemente nunca abrirão a porta para Cristo como
sua fonte exclusiva de justiça salvadora. Eles provavelmente continuação em seu
orgulho religioso, totalmente esquecidos de sua inadequação moral e destituição
espiritual. Aparentemente eles não responderão ao chamado do evangelho com
arrependimento e fé. Mas se eles não o fizerem, a verdadeira testemunha os
vomitará de sua boca (verso 16). Ou seja, Deus terá de rejeitá-los como povo, e
eles perderão sua participação na aliança da graça de Deus. Eles não estarão
entre os convidados do Rei que “comerão” com Jesus (Compare Apocalipse 3:20 com
Mateus 22:2-10).
Comentando
a mensagem à Laodicéia Ellen White diz:
“Deus
pede um reavivamento espiritual, e uma reforma espiritual. A menos que isto se
realize, os que são mornos continuarão a se tornar mais aborrecíveis ao Senhor,
até que Ele Se recuse a reconhecê-los como Seus filhos.” (Mensagens escolhidas, vol. 1, p, 128).
Mas a
mensagem também sugere que Laodicéia conterá um remanescente constituído
daqueles que atentam ao conselho e se apropriam da provisão que Cristo
disponibilizou para eles. Eles vencerão sua auto-suficiência espiritual e
abrirão a porta para Ele. Reconhecendo sua pecaminosidade, eles se arrependerão
e serão perdoados. Eles cobrirão sua vergonhosa nudez espiritual com o perfeito
manto da justiça de Cristo, e um dia farão parte do grupo dos redimidos de
todas as eras como convidados nas “bodas do cordeiro” (Apocalipse 19:7).
João, o escritor do Apocalipse, viu uma visão de uma “grande multidão” de
redimidos “em pé diante do trono e diante do cordeiro, vestidos de vestiduras
brancas” (Apocalipse 7:9). Quando o apóstolo inquiriu sobre a identidade deles,
ele aprendeu que eles tinham “lavaram suas vestiduras e as alvejaram no sangue
do cordeiro, razão por que se acham diante do trono de Deus e o servem de dia e
de noite no seu santuário;” (Apocalipse 7:14, 15). Claramente, a igreja
vitoriosa, os redimidos de todas as eras e de todos os povos, são aqueles que –
para usar a metáfora bíblica – lavaram suas vestiduras e as alvejaram no sangue
do cordeiro.
A expressão “razão por que se acham diante do trono de Deus” indica que o
que tornou possível para eles viverem na santa presença de Deus, o que os
qualificou para servi-lo em seu templo, é o fato de que eles foram plenamente
perdoados, que eles estavam vestidos do manto da perfeita justiça de Cristo. A
última benção das Escrituras reforça a importância de servos lavados no sangue
do cordeiro. Ela diz: “Bem-aventurados aqueles que
lavam as suas vestiduras, para que lhes assista o direito à árvore da vida, e
entrem na cidade pelas portas”
(Apocalipse 22:14).
Em uma das visões do céu, João ouviu uma grande multidão proclamando em
altas vozes:
“Então,
ouvi uma como voz de numerosa multidão, como de muitas águas e como de fortes
trovões, dizendo: Aleluia! Pois reina o Senhor, nosso Deus, o Todo-Poderoso.
Alegremo-nos, exultemos e demos-lhe a glória, porque são chegadas as bodas do
Cordeiro, cuja esposa a si mesma já se ataviou, pois lhe foi dado vestir-se de
linho finíssimo...” (Apocalipse 19:6-8).
É
importante notar que a noiva – que é a verdadeira igreja de Deus – não
desenvolveu, nem produziu, ou adquiriu o “linho finíssimo.” Essa vestidura
espiritual “lhe foi dada” – uma ilustração reveladora mostrando que a justiça
com a qual os redimidos serão vestidos será recebida por eles como um presente
de Deus, graças a seu relacionamento de fé com Cristo.
Podemos
reconhecer uma grande similaridade entre a experiência e destino da igreja e
aqueles de Israel. Assim como Israel era totalmente dependente do ministério
sacerdotal típico, assim a igreja é totalmente dependente do ministério
mediador de Cristo na presença do Pai no céu (1 Tim. 2:5; Heb. 7:25). Os
redimidos eventualmente participarão na ceia das bodas do cordeiro e
partilharão da herança eterna, não por terem alcançado perfeição sem pecado, e
dessa forma terem transcendido sua necessidade da mediação de Cristo, mas por
que a obra mediadora de Cristo foi plenamente consumada em seu favor no momento
em que Ele assegurou para eles o veredito da aceitação final e irreversível de
Deus no juízo pré-advento.
Tais
considerações nos conduzem a pelo menos as seguintes conclusões: 1. As
Escrituras não dão suporte à ideia de que a última geração de crentes atingirá
um estado de perfeita justiça espiritual e aprenderão a viver sem pecar antes
do fechamento da porta da graça. 2. O último movimento religioso destacado nas
Escrituras é tão pecaminoso, imperfeito, e indigno quanto qualquer geração
anterior de crentes, e conseqüentemente tão dependente da justiça imputada de
Cristo como todas as outras. 3. Somente aqueles em Laodicéia que
individualmente reconhecerem sua verdadeira condição espiritual, se
arrependerem para assegurar o perdão de Deus, e se cobrirem com os brancos
mantos da justiça salvadora de Cristo herdarão a vida eterna. Eles são parte do
“remanescente eleito pela graça” (Romanos 11:5) que estarão vivendo pela fé
quando Cristo retornar.
O
ministério mediador de Cristo completado no fim do tempo de graça
O ministério mediador
de Cristo em favor daqueles que se aproximam do Pai através dele vai
eventualmente terminar. Pelo menos três passagens nos escritos de Ellen White
afirmam que durante o “curto período” entre o fechamento da porta da graça e o
“aparecimento do Senhor nas nuvens do céu” (Grande conflito, p. 490), Jesus não
terá a função de mediador entre Deus e o homem. Elas são:
“Não haverá então sacerdote no
santuário para apresentar seus sacrifícios, confissões e orações perante o
trono do Pai.” (Primeiros escritos, p. 49) “Os que estiverem vivendo sobre a
Terra quando a intercessão de Cristo cessar no santuário celestial, deverão,
sem mediador, estar em pé na presença do Deus santo.” (Grande conflito, 425)
“Deixando Ele o santuário, as trevas cobrem os habitantes da Terra. Naquele
tempo terrível os justos devem viver à vista de um Deus santo, sem
intercessor.” (Grande conflito, 614).
Ter que “estar na
presença de um Deus Santo sem um mediador” pode ser uma perspectiva
aterrorizante, particularmente para aqueles que têm uma concepção de salvação
centrada no homem, aqueles que mantêm que o crente deve por si mesmo atingir a
justiça de vida e a infalibilidade
de conduta de forma a alcançar o padrão de perfeição exigida por Deus. Contudo,
quando entendemos o que Deus faz para que nossa salvação seja certa antes que
Jesus retire suas vestes Sumo-sacerdotais, nossos temores se transformam em
grata alegria pelo plano maravilhoso que Deus elaborou para que nenhuma pessoa
que confia em sua graça para a salvação seja desapontada. Todos que pela fé
recebem benefício da obra redentora de Cristo em seu favor irão verdadeiramente
herdar a vida eterna.
Nós vamos discutir
brevemente aqui três razões básicas pelas quais o crente pode descansar seu
caso em Deus em plena segurança que Ele preparou um plano para trazer seu povo
seguramente ao reino eterno. Em vista disso, eles não precisam temer nem o
fechamento da porta da graça, ou o tempo de angústia que lhe sucede.
Primeiro, Jesus só cessará
seu ministério mediador somente depois que o destino de todos os habitantes da
terra tenha sido permanentemente fixado e a salvação de seu povo não mais um
ponto em questão.
“Quando se encerrar a mensagem do
terceiro anjo, a misericórdia não mais pleiteará em favor dos culpados
habitantes da Terra... Um anjo que volta da Terra anuncia que a sua obra está
feita; o mundo foi submetido à prova final, e todos os que se mostraram fiéis
aos preceitos divinos receberam "o selo do Deus vivo". Apoc. 7:2. Cessa então Jesus de interceder no santuário
celestial. Levanta as mãos e com grande voz diz: "Está feito"
(Apoc. 16:17); e toda a hoste angélica depõe suas coroas, ao fazer Ele o solene
aviso. "Quem é injusto, faça injustiça ainda; e quem está sujo, suje-se
ainda; e quem é justo, faça justiça ainda; e quem é santo, seja santificado
ainda." Apoc. 22:11. Todos os casos
foram decididos para vida ou para morte. Cristo fez expiação por Seu povo, e
apagou os seus pecados. O número de Seus súditos completou-se; "e o
reino, e o domínio, e a majestade dos reinos debaixo de todo o céu" (Dan.
7:27), estão prestes a ser entregues aos herdeiros da salvação, e Jesus deve
reinar como Rei dos reis e Senhor dos senhores.” (Grande conflito, p. 613,614;
itálicos supridos)
“Quando a obra do
juízo investigativo terminar, o destino de todos terão sido decididos para a
vida ou para a morte. O tempo da graça finaliza pouco antes do aparecimento do
Senhor nas nuvens do céu. (ibid., p.490). “Assim, quando a decisão irrevogável do santuário houver sido pronunciada, e
para sempre tiver sido fixado o destino do mundo, os habitantes da Terra
não o saberão.” (ibid., p.615; itálicos supridos).
“Ele (satanás) vê
que santos anjos os estão guardando, e deduz que seus pecados foram perdoados;
mas não sabe que seus casos foram
decididos no santuário celestial.” (ibid., p.618; itálicos supridos).
“Quando Jesus cessar de pleitear pelos homens, os casos de todos estarão
decididos para sempre” (testemunhos para igreja, Vol. 2, p.191).
Tais afirmações
enfatizam o fato de que na realidade Jesus não cessa sua obra mediadora, ele a
completa. Jesus não termina sua função como representante da humanidade para
com o Pai sem primeiro ter certeza de que seu ministério alcançou o objetivo
intencionado. Ele não interrompe repentinamente sua obra, deixando cada um por
si mesmo, onde cada um está. Ao invés disso, Jesus termina sua mediação em favor de seu povo ao assegurar o
veredicto final e irreversível da aprovação de Deus quando o juízo
investigativo chega ao fim. Como resultado, eles recebem “o selo do Deus
Vivo,” que garante sua filiação em Cristo como uma posição permanente, e concede
a eles o direito de serem herdeiros de seu reino.
Segundo, o momento no
qual Jesus completa sua mediação para a última geração de crentes também marca
o final do juízo pré-advento. O “teste final” que determina os destinos eternos
“foi trazido sobre o mundo. ...o número deles se completa.” Como resultado, o
destino de todos é permanentemente e irrevogavelmente fixado, cada caso não
apenas decidido, mas fechados para sempre, nunca mais serão abertos para
qualquer revisão. Por causa do fato de que o veredicto que Deus pronuncia como
julgamento chega ao fim, aqueles que são salvos estão salvos e aqueles que são
perdidos estão perdidos naquele momento.
A razão pela qual Jesus
não mais faz mediação por seu povo depois do fechamento da porta da graça é que
sua mediação já alcançou o propósito objetivado, plena e completamente. Por uma
razão, Deus declarou que os crentes sejam aceitos como justos em Cristo. Ele
removeu a culpa deles e perdoou seus pecados. Seus nomes estão permanentemente
gravados no livro da vida do cordeiro e eles estão selados para a eternidade. E
por outra razão, o julgamento terminou. Os crentes passaram no teste final que
decidia o destino eterno deles. O mediador respondeu aos argumentos e acusações
de Satanás. O juiz deu seu veredicto, Jesus ganhou o caso, o julgamento
terminou – para sempre.
A terceira razão pela
qual o crente não deve estar apreensivo nem pelo fechamento da porta da graça e
nem pelo tempo de angústia é por que Deus proverá proteção especial a seu povo
durante esse período. Perceba como essas afirmações que se seguem colocam essa
questão:
“A história de Jacó
é também uma segurança de que Deus não rejeitará os que forem enganados,
tentados e arrastados ao pecado, mas voltaram a Ele com verdadeiro
arrependimento. Enquanto Satanás procura destruir esta classe, Deus enviará
Seus anjos para a animar e proteger, no tempo de perigo. Os assaltos de Satanás
são cruéis e decididos, seus enganos, terríveis; mas os olhos do Senhor estão
sobre o Seu povo, e Seu ouvido escuta-lhes os clamores. Sua aflição é grande,
as chamas da fornalha parecem prestes a consumi-los; mas Aquele que os refina e
purifica, os apresentará como ouro provado no fogo. O amor de Deus para com os
Seus filhos durante o período de sua mais intensa prova, é tão forte e terno
como nos dias de sua mais radiante prosperidade” (Grande conflito, p.621).
“Ainda que os
inimigos os lancem nas prisões, as paredes do calabouço não podem interceptar a
comunicação entre sua alma e Cristo. Aquele que vê todas as suas fraquezas, e
sabe de toda provação, está acima de todo o poder terrestre; e anjos virão a
eles nas celas solitárias, trazendo luz e paz do Céu.” (ibid., p.627).
“O povo de Deus não
estará livre de sofrimento; mas conquanto perseguidos e angustiados, conquanto
suportem privações, e sofram pela falta de alimento, não serão abandonados a
perecer. O Deus que cuidou de Elias, não desamparará nenhum de Seus abnegados
filhos. Aquele que conta os cabelos de sua cabeça, deles cuidará; e no tempo de
fome serão alimentados. Enquanto os ímpios estão a morrer de fome e
pestilências, os anjos protegerão os justos, suprindo-lhes as necessidades...
As sentinelas
celestiais, fiéis ao seu encargo, continuam com sua vigilância. Posto que um
decreto geral haja fixado um tempo em que os observadores dos mandamentos
poderão ser mortos, seus inimigos nalguns casos se antecipam ao decreto e,
antes do tempo especificado, se esforçam por tirar-lhes a vida. Mas ninguém
pode passar através dos poderosos guardas estacionados em redor de toda alma fiel.
Alguns são assaltados ao fugirem das cidades e vilas; mas as espadas contra
eles levantadas se quebram e caem tão impotentes como a palha. Outros são
defendidos por anjos sob a forma de guerreiros.” (ibid., pp. 629-631).
Pelo menos três
principais fatores se combinarão para dar paz, esperança, e segurança: 1. Jesus
será o mediador em seu favor até que o veredicto de aceitação final por parte
de Deus torne sua salvação eterna um fato seguro (certo). 2. Eles não terão que
enfrentar um julgamento subseqüente para determinar se eles alcançaram ou não
alcançaram uma justiça sem erros ou uma conduta impecável, e se a partir de
determinado ponto eles foram pessoalmente dignos da vida eterna em si mesmos.
3. Deus os protegerá e tudo proverá durante o curto período de tempo entre o
fechamento da porta da graça e a segunda vinda de Cristo, então nada porá em
risco a salvação deles.
O fechamento da porta
da graça marca o fim da presente ordem das coisas e introduz uma situação
totalmente diferente. Tanto quanto diz respeito ao destino eterno, os
habitantes do mundo terão sido permanentemente divididos em dois grupos;
aqueles que estão irremediavelmente perdidos e aqueles que cujos nomes estão
permanentemente gravados no livro da vida do cordeiro. E cada grupo terá uma
experiência única durante o breve período que antecede (imediatamente) o
retorno de Jesus.
Por que os ímpios
rejeitaram a tentativa final de Deus de trazê-los ao arrependimento, eles agora
se deparam com as condições mais indesejáveis.
“a misericórdia não
mais pleiteará em favor dos culpados habitantes da Terra... Removeu-se a
restrição que estivera sobre os ímpios, e Satanás tem domínio completo sobre os
que finalmente se encontram impenitentes. Terminou a longanimidade de Deus: O
mundo rejeitou a Sua misericórdia, desprezou-Lhe o amor, pisando Sua lei. Os
ímpios passaram os limites de seu tempo de graça; o Espírito de Deus,
persistentemente resistido, foi, por fim, retirado. Desabrigados da graça
divina, não têm proteção contra o maligno. Satanás mergulhará então os
habitantes da Terra em uma grande angústia final. Ao cessarem os anjos de Deus
de conter os ventos impetuosos das paixões humanas, ficarão às soltas todos os
elementos de contenda. O mundo inteiro se envolverá em ruína mais terrível do
que a que sobreveio a Jerusalém na antiguidade.” (ibid., pp. 613,614).
Podemos descrever dos
ímpios como se segue: 1. O Espírito santo é retirado deles, e não mais os leva
ao arrependimento e fé em Cristo – que significa que não há mais possibilidade
de serem reconciliados com Deus. 2. Deus os abandona inteiramente sob o
irrestrito controle de satanás. 3. Eles passam por um tempo de extrema
tribulação, ira e ruína. 4. E eles recebem o juízo de Deus na forma das sete
últimas pragas. (ibid., pp. 627-629).
O que acontece com o
povo de Deus durante o tempo de angústia é quase exatamente o oposto do que
ocorre aos ímpios, e isso cai em duas partes separadas ainda que interligadas.
Primeiro, enquanto os ímpios vivem sob o total poder de Satanás, assim os
redimidos habitam sob a proteção e direção sobrenatural de Deus. Nós já vimos
que através dos anjos e de outras provisões Deus nos escudará do perigo e das
tentativas de morte assim como cuidará de suas necessidades. A passagem que se
segue indica que Deus também os escudará de qualquer experiência que não
contribua para o cumprimento de seu propósito específico para seu povo durante
esse tempo.
“Os olhos de Deus,
vendo através dos séculos, fixaram-se na crise que Seu povo deve enfrentar
quando os poderes terrestres contra ele se dispuserem. Como o exilado cativo,
estarão receosos da morte pela fome, ou pela violência. Mas o Santo, que diante
de Israel dividiu o Mar Vermelho, manifestará Seu grande poder, libertando-o do
cativeiro. "Eles serão Meus, diz o Senhor dos exércitos, naquele dia que
farei serão para Mim particular tesouro; poupá-los-ei como um homem poupa a seu
filho, que o serve." Mal. 3:17. Se o sangue das fiéis testemunhas de
Cristo fosse derramado nessa ocasião, não seria como o sangue dos mártires, qual
semente lançada a fim de produzir uma colheita para Deus. Sua fidelidade não
seria testemunho para convencer outros da verdade; pois que o coração
endurecido rebateu as ondas de misericórdia até não mais voltarem. Se os justos
fossem agora abandonados para caírem como presa de seus inimigos, seria um
triunfo para o príncipe das trevas. Diz o salmista: "No dia da adversidade
me esconderá no Seu pavilhão; no oculto do seu tabernáculo me esconderá."
Sal. 27:5. Cristo falou: "Vai, pois, povo Meu, entra nos teus quartos, e
fecha as tuas portas sobre ti; esconde-te só por um momento, até que passe a
ira. Porque eis que o Senhor sairá do Seu lugar, para castigar os moradores da
Terra, por causa da sua iniqüidade." Isa. 26:20 e 21. Glorioso será o
livramento dos que pacientemente esperaram pela Sua vinda, e cujos nomes estão
escritos no livro da vida.” (ibid., p. 634).
Desde a perspectiva de
que o julgamento se encerrou e a provação humana terminou, seria fora de
propósito que o povo de Deus fosse exposto a desnecessárias lutas, tentações e
perigos. Mesmo por que, seus casos já foram decididos, seus destinos
estabelecidos. Eles são o povo de Deus – suas jóias preciosas – e têm seus
nomes escritos permanentemente no livro da vida do cordeiro. Então é lógico que
Deus deveria cuidadosamente monitorar a experiência deles durante esse tempo –
que ele deveria controlar o alcance de Satanás e oferecer a eles esconderijo
“ainda que por um momento, até que passe a ira,” e os polpa como um filho polpa
a seu filho que o serve.”
Isso reforça algo que
já vimos anteriormente, ou seja, que o destino do povo de Deus está
estabelecido para sempre no momento em que se fecha a porta da graça para o
mundo e que o juízo pré-advento se acaba. Naquele tempo Deus para sempre retira
as “vestes sujas” de seus filhos e filhas.
“Os vestidos sem
mancha da justiça de Cristo são colocados sobre os experimentados, tentados, e
ainda assim fiéis filhos de Deus. O remanescente desprezado é vestido de
gloriosas roupas, para nunca mais ser
desfigurado pelas corrupções do mundo, Seus nomes são mantidos no livro da
vida do cordeiro, arrolados dentre os fiéis de todas as eras. (testemunhos para
a igreja Vol. 5, p. 475. Itálicos supridos).
O segundo aspecto da
experiência do povo de Deus durante o tempo de angústia é uma profunda
intensidade espiritual, de sincero exame de si mesmo e de uma séria luta com
Deus. Satanás fará seu melhor para “aterrorizá-los com o pensamento de que seus
casos são sem esperança, que as manchas de suas culpas jamais serão lavadas,” e
tenta “destruir a fé deles” em Deus (Grande Conflito, p. 619). Ellen White
compara a experiência deles á noite em que Jacó lutou com o anjo antes de se
reencontrar com seu irmão Esaú depois de muitos anos de separação:
“A noite de
angústia de Jacó, quando lutou em oração para obter livramento da mão de Esaú
(Gên. 32:24-30), representa a experiência do povo de Deus no tempo de
angústia.” (ibid., p. 616).
Obviamente a
experiência de Jacó durante sua “noite de agonia” somente simboliza o que o
povo de Deus experimentará durante o tempo de angústia, e portanto ninguém
deveria tentar estabelecer uma direta e completa correlação entre essas duas
experiências. Nós devemos respeitar tanto as similaridades quanto as
diferenças. Dentre as similaridades que se ajustam mais diretamente ao nosso
presente estudo estão: (1) a condição espiritual dos envolvidos na situação,
(2) o teste ao qual são submetidos, e (3) a vitória que eles recebem. Devemos
analisar brevemente cada uma dessas questões.
1. A condição espiritual do povo de
Deus durante o tempo de angústia
Jacó era pessoalmente
familiarizado com o Deus de seus pais e conhecia o Senhor que o tinha escolhido
para ser um direto herdeiro das promessas do Concerto que Ele (Deus) tinha
feito com seu avô Abraão. Por toda a história de da vida de Jacó Deus o tinha
protegido, guiado, e abençoado de várias formas incomuns. Ainda assim quando
Jacó encarou aquela noite de sua agonia, ele era “um pecador, errante mortal”
que confessou “sua fraqueza e indignidade” (ibid., p. 617), que experimentou “o
peso esmagador da reprovação de si próprio; pois que era o seu pecado que
acarretara este perigo,” e que conseqüentemente sabia que “Sua única esperança
estava na misericórdia de Deus.” (ibid., p. 616).
Nesse sentido o povo de
Deus depois do fechamento da porta da graça não será diferente de Jacó. Vivendo
em tal momento tão decisivo na história do mundo, quando eles podem perceber
tão claramente a mão do Senhor nos assuntos humanos, os dá uma experiência
única com Deus. Mas eles estão longe de ser perfeitos e absolutamente sem
pecado. O registro de suas vidas é tal que “Ao reverem o passado, suas
esperanças desfalecem; pois que em sua vida inteira pouco bem podem ver. Estão
perfeitamente cônscios de sua fraqueza e indignidade.” (ibid., pp. 618-619).
Embora rodeados de seus inimigos, suas maiores preocupações não é o perigo
físico, mas que eles se arrependeram e receberam o perdão de Deus por seus
pecados. Eles têm um senso de “reprovação própria” por não terem feito mais por
Cristo no passado para que então eles tivessem “maior poder para resistir e
para fazer retroceder a poderosa onde do mal.” (ibid., p. 619).
De acordo com Ellen
White, o povo de Deus é “colocado na fornalha de fogo” por causa de “sua
natureza terrena (que) deve ser consumida para que a imagem de Cristo possa
refletir-se perfeitamente.” (Ibid., p. 621). Desde que isso ocorre depois do
fim do juízo pré-advento, vemos claramente que o povo de Deus não alcançou um
estado de perfeição absolutamente impecável no momento em que termina o tempo
de graça e começa o tempo de angústia. Isso adiante demonstra que Deus sela o
destino eterno deles a despeito do fato que a “natureza terrena” ainda resiste
em suas vidas e conseqüentemente a imagem de Cristo não é ainda “perfeitamente
refletida” neles.
Obviamente, então, os
crentes que viverem através do tempo de angústia não são uma geração de super
santos que alcançaram plenamente um estado de total santificação de existência.
Como Jacó eles são imperfeitos e indignos e, salvos pela graça de Deus como manifestada
na mediação redentora de Cristo em seu favor, não possuem justiça em si mesmos
sob a qual possam reclamar vida eterna.
Como no caso de todas
as gerações prévias de crentes, a igreja remanescente de Deus será feita
perfeita somente na segunda vinda de Cristo. Através do evento da
ressurreição/glorificação Deus restaurará seu povo à original integridade
espiritual em perfeição da qual Adão e Eva participavam antes da queda. Como
resultado, todos os redimidos serão então, pela primeira vez, refletir a imagem
de seu redentor tão plenamente quanto nossos primeiros pais exibiam a imagem de
seu Criador em seu estado primário. Enquanto isso o povo de Deus pode ser feito
perfeito, justo e digno somente estando em Cristo.
2. A natureza da prova que o povo
de Deus enfrentará durante o tempo de angústia
Temos aqui um caso onde
alguém pode saber o que é uma coisa estabelecendo primeiramente o que tal coisa
não é. Então vamos começar fazendo uma breve descrição de dois tipos de provas
que, conquanto sejam similares em forma, têm diferentes propósitos e diferentes
resultados. O primeiro teste determina se uma pessoa está qualificada para um
propósito específico. Isso cria uma situação de “aprovação/reprovação.” Se o
candidato se sai com esperado ele passa. Mas se a performance fica aquém do
padrão estabelecido ele é desqualificado.
O segundo tipo de teste
melhora, fortalece e lapida as capacidades de alguém que já foi testado e
aceito como adequado. O elemento “aprovação/reprovação” está ausente aqui. Por
exemplo, antes que uma equipe olímpica escolha um atleta em particular, ele
deve ser submetido a rigorosos testes de seleção. Se ele vai ou não vai fazer
parte dessa equipe depende de sua performance nesses testes prévios. Uma vez
que esse atleta tenha sido selecionado, ele se empenha em uma variedade de
exercícios, práticas, e competições. Cada uma dessas atividades é um teste. Mas
seus propósitos são de melhorar o desempenho, não decidir se ele oficialmente
faz parte ou não da equipe que estará nos jogos olímpicos. Essa decisão
pertence aos testes já realizados anteriormente e a decisão não muda agora.
O teste que Jacó
enfrentou durante sua noite de luta e a luta que o povo de Deus enfrentará
durante o tempo de angústia pertencem à segunda categoria. O teste que o povo
de Deus enfrentará não decidirá se eles vão ou não vão participar do
cumprimento do concerto redentivo de Deus. Essa decisão já terá sido tomada. Ao
invés disso, Deus designou o teste que eles enfrentarão com o objetivo de alcançar
três alvos básicos: (1) destruir qualquer confiança remanescente em suas
próprias habilidades de livrarem a eles mesmos. (2) os guiar a um pleno
reconhecimento de sua indignidade de serem herdeiros das promessas do Concerto
– Eles devem estar completamente dissuadidos de que eles são salvos somente
pela graça; e (3) Fortalecer a fé deles e a dependência da misericórdia de Deus
para o cumprimento das promessas do Concerto.
Vamos examinar
primeiramente a experiência de Jacó. Deus o tinha apontado como herdeiro de seu
Concerto com Abraão mesmo antes do nascimento de Jacó (ver Genesis 25:23). Na
noite da luta de Jacó ele já tinha tanto a benção da primogenitura concedida
por Isaque e a confirmação do Concerto por parte de Deus (Gen. 27:17-29;
28:10-15), a despeito do fato de que ele era um imperfeito e indigno pecador.
Então a experiência de Jacó naquela noite não tinha por objetivo determinar se
ele era digno das promessas do Concerto. Deus tinha obviamente tomado essa
decisão muito tempo antes. Ao invés, o teste examinou a fé do patriarca: fé de
que Deus tinha perdoado os pecados dele e que sua misericórdia iria o livrar do
perigo iminente e realizar as promessas do Concerto feitas a ele.
“Tendo feito
afastar a sua família, para que não lhe testemunhasse a angústia, Jacó ficou só
para interceder junto a Deus. Confessa o seu pecado, e com gratidão reconhece a
misericórdia de Deus para com ele, ao mesmo tempo em que com profunda
humilhação pleiteia o concerto estabelecido com seus pais, e as promessas a ele
mesmo feitas na visão noturna de Betel, e na terra de seu exílio... Havia muito
tempo que ele suportava a perplexidade, o remorso e a angústia pelo seu pecado;
agora deveria ter a segurança de que fora perdoado... Satanás tinha acusado
Jacó perante os anjos de Deus, pretendendo o direito de destruí-lo por causa de
seu pecado... Satanás esforçou-se por incutir nele uma intuição de culpa, a fim
de o desanimar e romper sua ligação com Deus (ibid., PP. 616-618).
Jacó reconheceu sua
inabilidade de livrar a si mesmo do perigo iminente. Ele admitiu sua
pecaminosidade, imperfeição, e indignidade de ser um herdeiro das promessas do
Concerto. Ainda assim ele não desistiu diante das tentativas de Satanás de que
ele abandonasse sua fé em Deus. Essa é a razão pela qual ele colocou sua
esperança de livramento não em seus próprios méritos – pois ele não tinha
nenhum mérito – mas na misericórdia “do Deus que é fiel ao Concerto” (ibid.,
p.617).
A experiência do povo
de Deus enquanto passa pelo tempo de angústia é similar à experiência de Jacó
nesse aspecto. Nós vimos previamente que o final e irreversível veredicto de
Deus no juízo pré-advento já fixou por toda a eternidade o destino deles. Deus,
em Cristo, já os apontou como herdeiros de seu reino. Seus nomes formam
registrados para sempre no livro da vida do cordeiro, não por causa de sua
justiça ou dignidades próprias, mas por que aceitaram a salvação que Deus
providenciou em Cristo. E ainda assim eles passam por um tempo de provação
intensa. Note:
“Acusando Satanás o
povo de Deus por causa de seus pecados, o Senhor lhe permite que os prove até o
último ponto. Sua confiança em Deus, sua fé e firmeza, serão severamente postas
à prova. Ao reverem o passado, suas esperanças desfalecem; pois que em sua vida
inteira pouco bem podem ver. Estão perfeitamente cônscios de sua fraqueza e
indignidade. Satanás se esforça por aterrorizá-los com o pensamento de que seus
casos não dão margem a esperança, que a mancha de seu aviltamento jamais será
lavada. Espera destruir-lhes a fé, de tal maneira que cedam às suas tentações,
desviando-se de sua fidelidade para com Deus... Afligem a alma perante Deus,
indicando o anterior arrependimento de seus muitos pecados... Sua fé não
desfalece... se o povo de Deus tivesse pecados não confessados que surgissem
diante deles enquanto torturados pelo temor e angústia, seriam vencidos; o
desespero suprimir-lhes-ia a fé, e não poderiam ter confiança para suplicar de
Deus o livramento. Mas, ao mesmo tempo em que têm uma profunda intuição de sua
indignidade, não possuem falta oculta para revelar. Seus pecados foram
examinados e extinguidos no juízo; não os podem trazer à lembrança... O tempo
de agonia e angústia que diante de nós está, exigirá uma fé que possa suportar
o cansaço, a demora e a fome - fé que não desfaleça ainda que severamente
provada.” (ibid., pp. 618-621).
Claramente, a difícil
experiência que o povo de Deus terá depois de que seu destino eterno já estiver
estabelecido não é designado para determinar se eles serão salvos ou não. Nem
tem por objetivo determinar se eles desenvolveram ou não uma existência de
justiça impecável. Ao invés disso, esse tempo revela que eles reconheceram que
necessitavam de ajuda e que eram indignos, que confessaram suas culpas e
dependeram do perdão de Deus para serem absolvidos, e que eles não desistiram
diante das tentativas de Satanás de destruir a fé deles na libertação que vem
de Deus.
3. A vitória do povo de Deus
durante o tempo de angústia
Outra comparação que
Ellen White estabelece entre a noite da luta de Jacó e a experiência do povo de
Deus durante o tempo de angústia é a vitória com a qual eles vencem – a forma
como eles obtêm libertação do perigo iminente e continuam a gozar de um
relacionamento com Deus baseado no Concerto.
“[Jacó] ‘Lutou com o Anjo, e
prevaleceu.’ Os. 12:4. Pela humilhação, arrependimento e submissão, aquele
mortal pecador, falível, prevaleceu sobre a Majestade do Céu. Firmara as mãos
trementes nas promessas de Deus, e o coração do Amor infinito não poderia
afastar a defesa do pecador. Como prova de seu triunfo e animação a outros para
lhe imitarem o exemplo, seu nome foi mudado de um nome que lhe recordava o
pecado para outro que comemorava sua vitória... Tinha-se arrependido sinceramente de seu grande
pecado, e apelou para a misericórdia de Deus. Não se demoveria de seu
propósito, antes segurou firme o Anjo, insistindo em seu pedido com ardentes e
angustiosos brados, até prevalecer.” (ibid., pp. 617-618).
O triunfo de Jacó
obviamente tinha pouco que ver tanto com suas conquistas espirituais, com seu
desenvolvimento moral, caráter justo, ou comportamento sem pecado. Sua grande
conquista naquela noite foi que ele “prevaleceu sobre a majestade dos céus,” e
não que ele transcendeu sua condição caída e alcançou tal estado de perfeição
sem falhas. Sua vitória foi em essência, a segurança de que Deus o livraria do
perigo iminente e o manteria como herdeiro de seu Concerto cheio de graça, a
despeito de sua indignidade diante de tal privilégio. Sua vitória é também o
segredo da vitória do povo de Deus durante o tempo de angústia.
“A história de Jacó é também uma
segurança de que Deus não rejeitará os que forem enganados, tentados e
arrastados ao pecado, mas voltaram a Ele com verdadeiro arrependimento... Jacó
prevaleceu porque era perseverante e decidido. Sua vitória é uma prova do poder
da oração importuna. Todos os que lançarem mão das promessas de Deus, como ele
o fez, e como ele forem fervorosos e perseverantes, serão bem-sucedidos como
ele o foi (ibid., p. 621). Esforçando-se por esperar confiantemente que o
Senhor opere, são levados a exercitar a fé, esperança e paciência, que muito
pouco foram exercitadas durante sua experiência religiosa... O tempo de
angústia é uma prova terrível para o povo de Deus; é, porém, a ocasião de todo
verdadeiro crente olhar para cima, e pela fé verá o arco da promessa
circundando-o” (ibid., pp. 631-633).
Podemos atribuir o
triunfo de Jacó nessa noite de angústia e a vitória do povo de Deus durante o
tempo de angústia a três fatores separados ainda que complementares: (1) aberto
reconhecimento de sua indignidade de participar das bênçãos do Concerto; (2)
sincero arrependimento de seus pecados e petições pela segurança do perdão de
Deus; (3) uma fé que não desiste da certeza de que Deus os livrará do perigo
presente e cumprir plenamente as promessas do Concerto, a despeito de suas
óbvias falhas, imperfeições e pecaminosidade.
Os crentes da última
geração reconhecerão que “é pela graça de nosso Senhor Jesus que (eles) são
salvos” da mesma forma como com todos os outros (atos 15:11). Eles vão admitir
com alegria e gratidão:
“Não pelas obras de justiça que
houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da
regeneração e da renovação do Espírito Santo, Que abundantemente ele derramou
sobre nós por Jesus Cristo nosso Salvador; Para que, sendo justificados pela
sua graça, sejamos feitos herdeiros segundo a esperança da vida eterna.” (Tito
3:5-7).
O sentimento que
prevalecerá em todos os redimidos será o de gratidão e louvor a Deus precisamente
por que são todos igualmente conscientes de Sua graça, tal qual ela se expressa
na redenção que Ele proporcionou em Cristo, que fez da vida eterna uma
realidade para eles. Esse é o porquê eles vão eternamente ser cônscios do fato
de que a presença deles no Reino Eterno de Deus é, não uma evidência de sua
justiça pessoal, obras, ou méritos, mas uma evidente demonstração do amor
eterno, da graça infinita, e da inabalável fidelidade do Deus que é fiel ao
Concerto.
4. Algumas considerações escriturísticas
O texto clássico para
uma idéia de fechamento da porta da graça reza:
“Quem é injusto, faça injustiça
ainda; e quem está sujo, suje-se ainda; e quem é justo, faça justiça ainda; e
quem é santo, seja santificado ainda.” (Ap. 22:11).
As escrituras não
provêem quaisquer detalhes tanto do momento histórico específico do veredito ou
das condições que prevalecerão entre o tempo do pronunciamento de Deus e a
segunda vinda de Jesus. Tudo que podemos dizer com razoável certeza é que (1) é
um veredicto divino, final e irreversível que (2) divide a humanidade em dois
grupos separados e (3) fixa para sempre o destino de todos. Desde que o
julgamento de Deus permanentemente sela os injustos em sua injustiça e os
justos em sua justiça, é lógico que nenhuma mudança ocorrerá adiante a partir
desse ponto. Uma decisão foi tomada relativamente a quem pertence aonde e ela
permanece inalterada.
Os conceitos de
fechamento da porta da graça e de fixação de destinos também aparecem em
algumas parábolas de Cristo, particularmente na parábola das 10 virgens. Essa
parábola contém pelo menos três detalhes relevantes em nossa presente
discussão. Primeiro, as virgens se dividem entre aquelas que vão com o noivo
para “o banquete das núpcias” (Mat. 25:10) e aquelas não preparadas para tal
evento. Segundo, aquelas que não entram com o noivo não podem participar da
festa de casamento posteriormente realizada – elas perdem para sempre a
oportunidade de fazer parte do casamento. Terceiro, quando depois da fracassada
busca por óleo as virgens néscias retornam, o noivo nega entrada no local onde
o casamento estava sendo realizado dizendo: “em verdade vos digo que não vos
conheço” (verso 12). Claramente, a razão de sua rejeição é sua falta de
intimidade com o noivo. Em termos teológicos provavelmente diríamos que elas
não têm um relacionamento de fé íntimo e próximo para com Jesus Cristo como
salvador pessoal. Elas provavelmente têm boas qualidades, mas por serem
estranhas a Cristo elas não têm acesso ao casamento.
De acordo com a
parábola, todas as 10 senhoritas tinham lâmpadas, representando a “Palavra de
Deus”, mas as néscias não tinham reserva de óleo, “como um símbolo do Espírito
Santo” (parábolas de Jesus, pp. 406, 407). Em sentido teológico não deveríamos
compreender essa questão como de tal forma como se Deus arbitrariamente
retirasse o Espírito Santo delas, ou que de alguma forma elas eram incapazes de
reter a presença do Espírito. Previamente nós vimos que nosso relacionamento de
fé com Cristo nos dá acesso às bênçãos do Concerto da graça – Ele é “o mediador
através do qual as bênçãos do céu” vêm até seu povo (Desejado de todas as
nações, p. 357). E desde que o selamento do Espírito é uma dessas bênçãos, se
segue que apenas aqueles que vivem uma relação de fé com Jesus podem ter o Espírito
nesse sentido particular. Conseqüentemente vemos que enquanto a falta do óleo
era uma evidência perceptível de seu
despreparo, a real causa do problema
delas era a falta de uma conexão pessoal pela fé com o Salvador.
Um relacionamento
pessoal com Jesus Cristo como o fator básico no destino eterno de uma pessoa é
ilustrado em outros lugares no evangelho igualmente. Em Mateus 7 Jesus predisse
que no julgamento muitos viriam a Ele dizendo:
“Muitos me dirão
naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome
não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então
lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que
praticais a iniqüidade.” (Mat. 7:22-23).
Profetizar, expelir
demônios, e fazer coisas poderosas em nome de Cristo são definitivamente boas
obras. Infelizmente tais coisas não reconciliam um pecador com Deus – elas são
incapazes de garantir a eles adoção na família espiritual de Deus ou de dar
acesso e sua herança eterna. Então o problema das pessoas em Mateus 7:22 é que
elas têm um conceito de salvação centrado no comportamento. Em vez de confiarem
na obra redentora de Cristo em seu favor, elas esperavam ser bem recepcionadas
no reino de Deus na base das coisas que elas tinham feito em nome de Cristo.
A declaração de Jesus a
elas revela dois fatos significantes: 1. Somente aqueles que conhecem a Jesus
pessoalmente – aqueles que Ele gravou nas palmas de suas mãos por que aceitaram
sua obra redentora em seu benefício – entrarão no reino da glória. Todos os
outros permanecerão de fora, independentemente do que eles tenham feito ou das
qualificações que eles possuam. 2. Boas obras – mesmo essas coisas de destaque
como profetizar e expelir demônios, coisas que requerem poderes espirituais –
não podem fazer pelo homem o que Deus determinou que somente uma relação de fé
pessoal com Cristo poderia realizar. Como resultado, aqueles que vêm
apresentando a Deus suas próprias “obras poderosas” ao invés de apresentarem a
obra redentora de Cristo imputada a eles pela fé são contados como
“malfeitores.”
A fidelidade de Cristo
em terminar sua obra na cruz garante que ele terminará sua obra em seu trono.
Como Jesus foi pendurado na cruz do calvário, como os transeuntes zombaram e o
humilharam, o incitando a salvar a si mesmo de uma morte tão horrível. Os
sacerdotes, o povo comum, os soldados romanos, e mesmo um dos criminosos
crucificados o desafiaram a provar sua messianidade por descer da cruz (Lucas
23:35-39). Mas nenhuma pessoa ou coisa podia persuadir Jesus de deixar a cruz
até que Ele tivesse cumprido o propósito de sua missão na terra. Ele deve dar a
vida como sacrifício expiatório para reconciliar a humanidade com Deus. Podemos
adiante descansar seguros de que Ele não deixará o Santuário até que Ele
termine de aplicar os benefícios de sua obra redentora para assegurar a
salvação daqueles que ele comprou com seu sangue.
O fato de que Jesus
sofreu a penalidade por nossos pecados sobre si mesmo nos assegura que Ele
encarará o julgamento de Deus como nosso representante. O julgamento é real, e
tem conseqüências eternas. Mas graças a Jesus Cristo, esse não é um tempo de
ira para aqueles que crêem. Para eles a taça do julgamento desfavorável sobre o
pecado já foi derramado – está vazio. O Salvador bebeu cada gota dele para que
aqueles que aceitarem sua atividade redentora em seu benefício nunca tenham que
provar das conseqüências eternas do pecado. “Seus pecados foram examinados e
extinguidos no juízo.” (ibid., p. 620). Como resultado eles permanecem inculpáveis
em Cristo diante de Deus.
Enquanto seja verdade
que Jesus não atuará como mediador durante o tempo de angústia, podemos ter
segurança que ele não nos deixará sozinhos. Jesus prometeu nunca nos abandonar,
mas ele estará conosco “para sempre, até a consumação dos séculos” (Mat. 28:20;
ver Hebreus 13:5). Podemos então descansar seguros na fidelidade de Deus, que é
tanto desejoso quanto capaz de manter o que é dele. Mesmo por que, Jesus disse:
“As minhas ovelhas
ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem; E dou-lhes a vida eterna,
e nunca hão de perecer... Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém
pode arrebatá-las da mão de meu Pai.” (João 10:27-29).
Ellen
White e um engano apontado particularmente contra os adventistas
Os adventistas
acreditam que um aspecto central de “nossa” mensagem é exaltar a Jesus diante
do mundo como o Salvador vivo que está hoje completando a redenção do homem na
presença do Pai. A ironia é que, como a história do adventismo nos mostra,
alguns adventistas têm achado difícil manter seus olhos fixos em Jesus e sua
segurança de salvação fundamentada no ministério mediador de Cristo no céu.
Eles têm estado mais preocupados com suas próprias consecuções – seu
desenvolvimento de caráter, e mudança comportamental – do que com sua
participação pela fé na morte expiatória, vitória redentora, e Toda-Suficiente
justiça de Cristo.
De acordo com Ellen
White, um dos grandes enganos com o qual a igreja contendeu no passado fará
suas incursões no adventismo novamente no futuro (Veja Mensagens escolhidas, vol. 2, p. 36). É um erro que coloca uma
ênfase inadequada no – e tem expectativas irreais no – que o crente
supostamente poderia alcançar em sua vida presente coma ajuda do Espírito. Por
causa de sua ênfase unilateral, tal “fanatismo” falha em atribuir o correto
valor tanto à obra redentora de Cristo terminada no sacrifício expiatório sobre
a cruz, quanto à obra de mediação que Ele está realizando presentemente como
representante/advogado do homem diante do Pai em seu trono.
Nós podemos dividir os
escritos de Ellen White a respeito desse assunto em três partes gerais: (1) O
que aconteceu logo após o desapontamento de 1844, (2) O que aconteceu na virada
do século, e (3) O que ela acreditava que aconteceria de novo antes do retorno
de Jesus Cristo.
1- O que aconteceu logo após o
desapontamento de 1844
Ellen White relata que
“no período do desapontamento depois da passagem do tempo em 1844, o fanatismo
eclodiu de várias formas” (ibid., p.
34). A pior forma de todas tinha três elementos básicos: Primeiro, alguns
adventistas acreditavam na santificação total de existência. “eles declararam
que estavam perfeitos, que corpo, alma, e espírito estavam santos” (ibid.). Segundo, eles concluíram que
eles podiam viver sem pecar. Eles “pretendiam estar santificados, que
não podiam pecar” (ibid., p.
27).
Podemos entender esse
segundo ponto de pelo menos duas formas: 1. Uma vez que a santificação do ser
estava completa, eles estavam agora capacitados a viver em total harmonia com
toda a vontade de Deus para a humanidade – eles poderiam obedecer à lei
impecavelmente, e portanto não mais dependeriam da justiça imputada de Cristo
para estarem em correta posição diante de Deus. 2. Por serem santos, qualquer
coisa que eles fizessem era correta. Havendo transcendido tanto a natureza
pecaminosa quanto as exigências da lei, eles estavam além dos princípios morais
e padrões éticos que regulamentavam a vida daqueles que não seu suposto nível
de desenvolvimento espiritual.
Terceiro, eles
ensinavam que atingir tal estado de completa santificação interna e total
submissão externa em relação à vontade de Deus era uma exigência para a
salvação daqueles que estariam vivos no tempo do Segundo Advento. Aqueles que
ouviam suas posições “foram extraordinariamente pressionadas a receber
a mensagem do erro; foi-lhes representado que a menos que o fizessem,
iriam perder-se” (ibid., pp. 34, 35).
Uma das maiores
conseqüências negativas desse engano foi o rompimento do relacionamento de fé
dos crentes com Jesus Cristo como único caminho para uma correta relação com
Deus, e a única fonte de justiça salvadora. Note:
“Todavia
precisamos ter conhecimento de nós mesmos, conhecimento que resultará em
contrição, antes de podermos achar perdão e paz...
Cristo só pode salvar quem
reconhece ser pecador.” (Parábolas de Jesus, p. 158, itálicos
supridos). “Nosso amor a Cristo será proporcional à profundidade de nossa
convicção do pecado.” (Fé e obras, p.
96). “À parte de Cristo não temos mérito algum, justiça alguma.” (Mensagens escolhidas, p. 333). “Quando
os homens vêem sua nulidade, então eles estão preparados para serem vestidos
com a justiça de Cristo.” (A fé pela qual
eu vivo, Meditações matinais, p. 111). “Justiça sem mancha só pode ser
obtida através da justiça imputada de Cristo” (Review and Herald, 3 de setembro de 1901).
Enquanto
o crente reconhecer a si mesmo como caído, imperfeito, e indigno pecador, ele
focará sua atenção e baseará sua esperança de salvação em sua participação na
justiça de Cristo. Ele continuará a olhar a Jesus como “autor e consumador da
(sua) fé” (Hebreus 12:2). Contudo, quando ele aceita que ele pode satisfazer o
padrão de justiça de Deus em sua própria vida por atingir santidade de
existência, e impecaminosidade de conduta, então ele enganadamente faz de suas consecuções
pessoais, ao invés de nos méritos Cristo, a base última de sua aceitação para
com Deus. Como resultado, ele rejeita a Cristo como único caminho para um ser
caído assegurar a salvação e a vida eterna.
2- O
que aconteceu na virada do século
Julgando pelos artigos que Ellen White escreveu, o entendimento do pastor
E. R. Jones a respeito da verdadeira conversão incluía pelo menos dois aspectos
principais: Primeiro, “completa transformação do homem vil na imagem de Jesus
Cristo” (Review and Herald, 9 de
julho 1889). Ou seja, ele acreditava que a pessoa verdadeiramente convertida
transcenderá, ou neutralizará totalmente sua natureza pecaminosa – ele atinge
um estado de santificação completa – e então, ao invés de ser “vil” como antes,
ele agora reflete plenamente a imagem de Cristo em sua própria pessoa.
Segundo, “completa purificação do poder que nos compele a transgredir” a
lei de Deus (ibid., 12 de março de
1889). A ideia é que uma vez que o poder que costumava movê-lo ao pecado está
agora purificado, o crente verdadeiramente convertido não mais tem inclinações
pecaminosas ou maus desejos. Como resultado ele pode agora viver sem pecar.
Note que Jones usou a palavra completo
com referência tanto à transformação interior do ser quanto à mudança de
conduta externa.
Depois de citar 2 Coríntios 5:21, Jones afirmou: “Sermos feitos justiça
de Deus nEle é ser feito tão justo quanto Cristo é justo; e ‘nEle não há
pecado’ (1 João 3:5)” (ibid. 9 de
julho de 1889). Note a mudança sutil, mas significativa, que ocorreu aqui.
Paulo está dizendo que Deus nos faz justos através de Cristo – somos justos em Cristo. Ou seja, que participamos da
justiça de Cristo pela fé, e somos reconhecidos justos em virtude do fato de
que seus méritos são imputados a nós. A seguinte passagem expressa o conceito
de Paulo claramente:
“A
única maneira em que pode alcançar a justiça é pela fé. Pela fé pode ele
apresentar a Deus os méritos de Cristo... A justiça de Cristo é aceita em lugar
do fracasso do homem, e Deus... trata-a como se fosse justa, e ama-a tal qual
ama Seu Filho. Assim é que a fé é
imputada como justiça.” (Mensagens
escolhidas, vol. 1, p. 367, itálicos supridos).
O pastor
Jones, por outro lado, estava sugerindo algo radicalmente diferente. Ele
acreditava que nós somos “feitos jutos como
Cristo é justo.” Uma vez que “nEle não há pecado,” segue-se que nós também
não podemos ter pecado em nós – devemos ser sem impecáveis, assim como Jesus. A
implicação é que precisamos nos tornar justos em nós mesmos como Jesus era
justo em si mesmo. Devemos desenvolver uma justiça que seja equivalente à
perfeita justiça de Cristo em todos os aspectos – uma justiça na base da qual
possamos estar sem faltas diante de Deus.
Os
artigos de Jones dificilmente contêm quaisquer referências à Cristo como nosso
representante na cruz para remover nossa culpa e cancelar nossa sentença de
morte. Nem eles dizem muita coisa sobre Sua obra mediadora no céu, onde ele
presentemente aplica os benefícios de sua morte expiatória, de sua vitória
redentora, e de sua justiça salvadora para aqueles que o aceitam como Salvador
pessoal. Jones se concentrava exclusivamente na experiência do próprio crente
em sua vida presente.
Sua visão
representa um afastamento radical do evangelho bíblico em pelo menos três
maneiras significativas:
Primeiro,
ele introduz uma mudança no papel de Cristo como Salvador do mundo. Enquanto
ele reconhecia a Cristo como Salvador em teoria – particularmente no sentido de
que Ele inicia nossa reconciliação com Deus – na prática ele O reduziu a padrão
de santidade objetivo ao qual devemos atingir, um modelo cuja perfeição que
devemos duplicar em nossas vidas pessoais, seguindo exatamente o mesmo método
que tornou a vitória possível para Ele. Como resultado, O papel de Cristo muda daquele no qual Ele salva pecadores através de
sua obra redentora em favor seu favor, para aquele no qual ele simplesmente
mostra aos pecadores perdidos como salvarem a si mesmos por se tornarem tão
justos, santos, e sem pecado quanto Ele é.
Segundo,
a visão de Jones minimiza o significado de Cristo como mediador entre Deus e o
homem. Na melhor das hipóteses, ela reduz o papel mediador de Cristo para
aquele onde se garante o perdão dos pecados passados e supre com poder divino
para vencer o pecado e desenvolver justiça perfeita na vida pessoal. Na pior
das hipóteses, a teologia de Jones passa por cima ou neutraliza o ministério
mediador de Cristo completamente. Ele introduz um método pelo qual o crente
pode ser tão justo – e conseqüentemente tão digno – quanto o próprio Cristo.
Por Jesus
ser totalmente sem pecado, justo, e santo, Ele não precisava de ninguém para
fazer mediação entre Ele e o Pai. Ele viveu em união espiritual direta e
ilimitada com as outras duas pessoas da Divindade. Portanto, se o crente fosse
de fato capaz de se tornar tão perfeitamente sem pecado como Cristo – como
Jones afirmava – então logicamente se segue que no momento em que ele o
fizesse, ele transcenderia sua necessidade de Jesus como seu advogado pessoal
diante do Pai. Por ser ele agora tão justo quanto Cristo, ele não mais precisa
de um mediador para interceder em seu favor e mantê-lo num relacionamento
correto com Deus.
Terceiro,
a visão de Jones faz com que o crente mude o foco de sua atenção e a base de
sua segurança de salvação de Cristo e Sua obra redentora para seu próprio
desenvolvimento de caráter e mudança de comportamento. O exemplo de Paulo
indica que para estar em adequada relação com Deus o crente deve entregar o que
ele é, o que ele tem, e o que ele faz para ganhar a Cristo (veja Filipenses 3:7,8).
Somente então ele não possuirá justiça própria, mas a justiça de Cristo que
“procede de Deus, baseada na fé” (verso 9). Em contraste, a visão de Jones
encoraja o crente a manter o que ele tem, trabalhar até isso seja tão bom
quanto o que Cristo tem a oferecer, e então literalmente assegurar o veredito
da aprovação final de Deus sob a base da justiça que ele tenha desenvolvido em
sua própria vida.
Cerca de
um ano depois da publicação dos artigos de Jones, Ellen White escreveu a ele
uma carta extensa e bem afiada. Nela ela o advertiu a respeito de sua mente
desequilibrada, o reprovou por seu impróprio tanto das Escrituras quanto de
seus escritos, e apontou algumas de suas idéias extremadas. Entre outras coisas
ele afirmou:
“Não
vos é essencial saber e dizer a outros todos os porquês e os para quês quanto
ao que constitui o novo coração, ou quanto à atitude que eles podem e precisam
atingir de modo a nunca pecar... Não tendes tal obra a fazer. Tomais passagens dos Testemunhos que falam do
fim do tempo da graça, da sacudidura do povo de Deus, e falais da saída dentre
esse povo de um outro povo mais puro, santo, que surgirá.” (Mensagens escolhidas, vol. 1, pp.
177-179).
Quando
combinamos as afirmações do pastor Jones e essa declaração de Ellen White, um
cenário claro começa a emergir. Jones
estava ensinando que antes do fechamento da porta da graça o povo de Deus pode
e deve desenvolver uma justiça pessoal que seja tão radical e completa – e
conseqüentemente tão meritória – quanto a de Cristo. Em outras palavras,
eles deveriam ser tão puros, impecáveis, e santos quanto Cristo e aprender a
viver sem pecar, como Ele viveu.
Ellen
White não endossou seus ensinos. Ao contrário, ela os chamou de “idéias
extremadas,” e o advertiu a não tomar o curso que criaria uma “dissensão” (ibid., p.179). Note a seguinte
advertência que ela deu a Jones:
“Aceitassem
muitos os pontos de vista que avançais, e falassem e agissem baseados nisso, e
veríamos uma das maiores exibições de fanatismo jamais testemunhadas entre os
adventistas do sétimo dia. Isto é o que Satanás quer.” (ibid.).
Dez anos
depois que Ellen White escreveu essa advertência – ou havia sido uma predição?
– ela se tornou realidade. A então chamada doutrina da carne santa se tornou
prevalecente em Indiana. E de acordo com sua própria descrição, ela tinha todos
os ingredientes do fanatismo que ela encontrou e condenou anteriormente (ibid., vol. 2, pp. 33, 34), a saber: o
desejo (1) de atingir santificação
completa de ser, de transcender ou neutralizar completamente a própria
natureza pecaminosa e desenvolver justiça perfeita em si mesmos; (2) de ter a habilidade de viver em perfeita
harmonia com todas as exigências da lei – de aprender a viver sem pecar; e
(3) de atingir o superior nível de
desenvolvimento espiritual e comportamento moral requerido daqueles que estarão
vivos quando Jesus Cristo retornar.
De acordo
com essa visão, aqueles que não atingirem tal estado de impecaminosidade ainda
podem ser salvos, mas se morrerem antes (ver R. W. Schwartz, Portadores de luz, p. 477). O conceito
ensina que Deus requer um grau mais elevado daqueles que estarão vivos na
Segunda Vinda de Cristo do que de todas as gerações anteriores de cristãos.
Aqueles que morrerão antes do fechamento da porta da graça podem ser justos
pela fé em Cristo a despeito do fato de serem ainda pecaminosos, imperfeitos, e
indignos em si mesmos. Eles podem se apropriar do perdão de Deus por causa de
seu comportamento faltoso, e a justiça imputada de Cristo para compensar sua
imperfeição. Em contraste, aqueles que estarão vivos quando Jesus retornar
devem atingir um estado de perfeição sem pecado. A justiça tanto de seu caráter
como de seu comportamento deve ser total, completa. De fato, eles devem ser tão
inculpáveis, santos, dignos quanto o próprio Jesus.
Aqueles
que apóiam essa visão argumentam basicamente o seguinte: Primeiro, enquanto
Cristo faz mediação por Seu povo, o crente tem acesso tanto ao perdão de Deus
quanto à justiça imputada de Cristo para cobrir seus pecados e substituir suas
falhas pessoais. Durante esse tempo Deus decide seu destino com base em se eles
se apropriaram ou não de Sua provisão mediada através de Cristo. Deus concede a
eles a vida eterna na base de que eles são inculpáveis, santos, e dignos
através dos méritos do Salvador imputados a eles pela fé.
Segundo,
uma vez que o tempo de graça terminar e a mediação de Cristo terminar, o
destino eterno do crente se torna totalmente dependente da perfeição de sua
própria justiça e a impecaminosidade de sua conduta. Se eles conseguiram
desenvolver uma perfeita justiça em seu ser e aprenderam a viver sem pecar –
assim como Jesus – então eles herdarão a vida eterna. Contudo, se a justiça
pessoal deles falhar de alguma forma em corresponder ao padrão de perfeição de
Deus, ou se eles se entretiverem, nem que seja com um pensamento mal durante
esse tempo, eles estarão irremediavelmente perdidos.
A partir
disso podemos ver que, de acordo com essa visão, a humanidade só tem duas
maneiras de ter certeza de que possuirá a vida eterna: (1) morrendo enquanto
Jesus ainda está fazendo mediação diante do Pai, ou (2) atingir integridade
espiritual completa e aprender a viver sem pecar em obediência absoluta à
vontade de Deus para o homem antes do fechamento da porta da graça para o
mundo.
A
primeira parte desse argumento está plenamente em harmonia com as Escrituras e
é consistente com os escritos de Ellen White, Contudo, quando examinamos a
dinâmica criada pela segunda parte dessa visão, nós logo percebemos que ela não
apenas se afasta do evangelho bíblico, mas também contradiz o cenário
apresentado nos escritos de Ellen White. Portanto não é surpresa que esse
“fanatismo,” essa “mensagem do erro,” como Ellen White a chama, teria alguns
efeitos definitivamente negativos. Note:
“Estas
coisas trazem opróbrio à causa da verdade, e entravam a proclamação da última
mensagem de misericórdia ao mundo... Os que entraram nesse fanatismo e o
mantiveram, fariam muitíssimo melhor em estar empenhados em obra secular; pois
devido a sua atitude incoerente estão desonrando ao Senhor e pondo em perigo o
Seu povo... Por essas coisas os incrédulos são levados a pensar que os
adventistas do sétimo dia são um bando de fanáticos.” (Mensagens escolhidas, vol. 2, pp. 35, 36).
“foi-lhes
representado [para certas pessoas] que a menos que o fizessem [alcançassem um estado total de santificação em seu
ser, e impecaminosidade em seu comportamento] iriam perder-se; e em resultado
disso, ficaram desequilibradas, e algumas loucas.” (ibid., pp. 34, 35).
Nós
tocaremos em cinco pontos retirados de suas afirmações:
1. Tais ensinamentos não
constituem a mensagem que Deus tem para o mundo nesse tempo – eles não são algo
que os adventistas do sétimo dia deveriam crer ou ensinar.
2. Ao contrário, esses ensinamentos trazem
opróbrio sobre o adventismo e atrapalham a proclamação final da misericórdia
para o mundo.
3. A última mensagem de Deus para o mundo –
aquela que Ele convida os adventistas a aceitar, crer e proclamar – é uma
“mensagem de misericórdia,” com tudo o que essa expressão implica.
4. Aqueles que entram no fanatismo e o
apoiaram desonraram o Senhor e colocaram Seu povo em perigo. Esses fanáticos
não estavam capacitados a ensinar assuntos religiosos e estariam melhor se
estivessem se dedicando a assuntos seculares.
5. O fanatismo criou tal pressão psicológica
em algumas pessoas que elas perderão a razão e ficaram loucas.
Muitas das reuniões onde essas idéias
extremadas eram apresentadas exibiam uma alta dose de emocionalismo. Pessoas
gritavam, tocavam música, e até se envolveram em algumas formas de dança.
Falando de tais atividades, Ellen White escreveu:
“Isso
é uma invenção de Satanás para encobrir seus engenhosos métodos para anular o
efeito da pura, sincera, elevadora, enobrecedora e santificante verdade para
este tempo.” (ibid., p. 36).
É importante que distingamos em que constitui o engano em si e o que era
meramente parte da atmosfera criada para predispor as pessoas a aceitá-lo. O
alto nível de emocionalismo, a música, os gritos, e outras práticas que Ellen
White chamou de “balbúrdia de ruído” (ibid.) não
eram o engano teológico em si. Eles eram “uma invenção de Satanás para
encobrir” a real aberração. O engano em si era teológico e tinha que ver com
três pontos já discutidos anteriormente nesse capítulo: Ser irrepreensivelmente
justo, viver sem pecar, e atingir tal estado brevemente antes de Jesus Cristo
voltar.
A reação
de Ellen White quanto a tais ensinos não deixa dúvidas de qual era a posição
dela. Primeiro, ela os taxou de: erro, falácia, fanatismo, esquemas fantasiosos
e ilícitos, testes feitos pelo homem, um engano, uma obsessão, uma invenção de
Satanás. Esses são apenas alguns dos termos que ela usou em seus testemunhos
contra esses ensinamentos. Segundo, ela expressou seu próprio entendimento do
assunto o suficiente para mostrar que ela discordava de todos os três pontos
advogados pela doutrina da carne santa (ibid.,
32-35).
Muitos
adventistas estão cientes de que engano semelhante reapareceu no fim da década
de 1950. Por mais de uma década Robert Brinsmead e seus seguidores advogaram ideias
que muito se assemelham àquelas que estamos considerando. Schwartz corretamente
afirma que “as crenças de Brinsmead são a contraparte intelectual do movimento
da carne santa de 60 anos antes.” (Light Bearers to the Remnant, p.
458). E,
como fizeram seus predecessores, Brinsmead e seu irmão “se sentiram compelidos
de fazê-los [seus pontos de vista extremados] normativos para toda a igreja” (ibid.). Com dedicação e zelo dignos da
melhor causa, eles não pouparam esforços em sua campanha agressiva para persuadir
a comunidade adventista inteira que a visão deles era a única posição correta e
que todas as outras visões eram um afastamento do adventismo tradicional.
Em
resumo, o ensino que Ellen White tão decididamente combateu como uma mensagem
do erro tem três pontos principais:
O
primeiro se refere à pessoa do crente, seu ser, ou seu caráter – quem ele é. A afirmação feita é de que ele deve se tornar sem pecado em seu
caráter. De fato, ele atinge um estado de santidade e desenvolve uma justiça
tão sem falhas, e meritória, quanto a justiça de Cristo.
O segundo
ponto envolve o desempenho do crente, seu comportamento – o que ele faz. De acordo com o conceito da carne santa, ele pode
transcender ou neutralizar sua natureza pecaminosa de forma tão efetiva que ele
seja capaz de viver como se ele não fosse mais pecaminoso, rendendo obediência
perfeita à vontade de Deus. Em outras palavras, ele aprende a viver sem pecar.
O
terceiro ponto estabelece o fim da linha –
ele marca o fim do tempo no qual o crente deve realizar plenamente esses dois
objetivos. Ou seja, ele deve desenvolver uma justiça pessoal perfeita e
aprender a viver sem pecar antes que o tempo de graça termine se ele deve estar
entre os redimidos que estarão vivos quando Jesus for retornar. Falhasse ele em
atingir esses dois objetivos, ele deveria então, ou morrer antes do fechamento
da porta da graça, ou ele estaria perdido para todo o sempre.
A
evidência demonstra que tanto o pastor Jones quanto os seguidores da doutrina
da carne santa usavam certas “passagens presentes nos testemunhos” como base de
suas visões extremadas. Eles citavam algumas afirmações contidas nos escritos
de Ellen White que aparentemente davam suporte às ideias deles. Portanto é
importante notar que quando eles usaram
os escritos dela para apoiar a ideia de que antes do fechamento da porta da
graça o povo de Deus pode e deve se tornar sem pecado, puro e santo como Jesus,
ela se apôs a eles com uma determinação poucas vezes vista em seu longo
ministério em favor da igreja.
As
reações de Ellen White nos conduzem a pelo menos as seguintes conclusões:
1.
Devemos reconhecer uma diferença radical entre (a) ser capar de reproduzir
algumas poucas e isoladas passagens dos testemunhos em apoio de uma visão
particular e (b) desenvolver uma posição que seja de fato uma representação
confiável dos ensinos de Ellen White sobre determinado assunto.
2. Se não
forem corretamente entendidos e aplicados apropriadamente algumas afirmações
dos testemunhos podem de fato conduzir alguém a desenvolver visões errôneas
tais quais as advogadas pelo pastor Jones e seus seguidores. O fato de que eles
usavam os escritos de Ellen White para dar autenticidade aos ensinos deles
testifica disso.
3. A
maioria dos escritos de Ellen White são peças curtas – tais quais cartas,
artigos, e manuscritos – escritos para públicos particulares, dentro de
contextos históricos definidos, e com objetivos específicos em mente. Portanto
não deve ser nenhuma surpresa que, quando os comparamos entre si, nós às vezes
encontramos neles tensões ideológicas nem sempre fáceis de serem resolvidas.
Isso é particularmente um problema quando ignoramos os contextos históricos, ou
conceituais, ou quando não levamos em consideração algum objetivo específico de
uma passagem em particular.
Aqui,
contudo, estamos tratando com alguns ensinos específicos com os quais Ellen
White era familiarizada, e que ela condenou em termos inequívocos. Argumentar
que os escritos de Ellen White endossam exatamente as mesmas visões que ela tão
fortemente rejeitou como sendo: erro, testes feitos pelo homem, falácia, e
assim por diante, seria uma proposição de fato absurda. Podemos, portanto, ter
certeza de que quando alguém usar os escritos dela para dar apoio a visões como
às sustentadas pelo pastor Jones e seus seguidores, eles estão interpretando
falsamente, usando inapropriadamente e aplicando de forma incorreta os
testemunhos.
4. Cada
indivíduo tem o direito de decidir por si mesmo se deve aceitar ou rejeitar os
ensinos apresentados pelo pastor Jones e por seus seguidores. Contudo, em vista
do vimos até aqui, ninguém tem o direito de afirmar que tais ensinos
representam tanto a visão de Ellen White ou a posição da Igreja Adventista do
Sétimo Dia.
3 – O que acontecerá brevemente antes de Jesus Cristo retornar
Além de condenar os ensinamentos advogados
pelo pastor Jones e o repreender por mau uso das Escrituras bem como de seus
escritos, Ellen White também predisse que conceitos similares iriam procurar se
infiltrar na igreja adventista novamente no futuro, ela disse:
“Foi-me
mostrado que enganos como aqueles que fomos chamados a enfrentar nas primeiras
experiências da mensagem, repetir-se-iam, e que teremos de enfrentá-los nos
últimos dias da obra.” (Mensagens
escolhidas, vol. 2, p. 28). “As coisas que descrevestes como ocorrendo em
Indiana, o Senhor revelou-me que haviam de ocorrer imediatamente antes da
terminação da graça.” (ibid., p. 36).
De acordo
com ela, o engano que tentará corromper a mensagem da misericórdia de Deus ao
mundo, frustrar a missão do adventismo, e transformar a experiência religiosa
de muitos de seus membros não é uma ênfase desmedida na obra redentora de
Cristo completada na cruz – o evento que é a base sobre a qual o crente pode
agora estar diante de Deus perfeitamente justo pela fé em Cristo. Como já
vimos, Ellen White coloca grande ênfase no papel de Cristo tanto como
sacrifício expiatório sobre a cruz, onde Ele absolveu o homem da condenação, e
como nosso advogado na presença do Pai, onde “Ele não cessa de apresentar Seu
povo, momento após momento, perfeito” em si mesmo (Fé e obras, p. 107).
O engano
que sem sombra de dúvidas fará com que muitos continuem em sua condição
laodiceana é, antes, uma repetição do fanatismo que surgiu logo após o
desapontamento de 1844, apareceu novamente na virada do século, e reviveu de
forma mais sofisticada no fim da década de 1950. Uma vez que Satanás é um
mestre na arte de enganar, podemos antecipar que ele modificará os aspectos
mais ofensivos dessa heresia e melhor disfarçará suas características mais
gritantes. Mas se Ellen White estiver correta, e cremos que ela está, a ênfase
dessa heresia no crente e em suas próprias consecuções – sua justiça pessoal e
obediência impecável – em oposição àquilo que o crente é pela fé em Cristo e
nos que Cristo faz por ele como seu advogado diante do Pai, será sua
característica mais distintiva.
4 – A essência e o significado do “novo” engano
É quase
axiomático afirmar que um engano não é uma negação completa ou uma contradição
direta, mas uma distorção da verdade. Seus apelos, bem como seu poder de
iludir, jazem justamente no fato de que ele contém elementos da verdade.
Devemos, portanto examinar, esse “novo” engano especialmente de duas
perspectivas: Primeiro vamos comparar e contrastá-lo com a contrafação
introduzida pelo sistema humano de sacerdócio que prevalece em uma parte da
igreja cristã. Então discutiremos esse engano à luz da queda do homem no jardim
do Éden.
A.
Uma tentativa de substituir a
Cristo como o único caminho para o Pai
Conquanto o novo engano difira em sua abordagem do velho engano que se
espalhou pela cristandade por séculos, ele conduz basicamente aos mesmos
resultados. Ambos representam tentativas de substituir a Cristo, o Divino
Sumo-Sacerdote, ao proverem caminhos alternativos para assegurar uma posição
correta diante de Deus.
Através de seu sistema humano de sacerdócio, o velho engano criou um
acesso diferente ao perdão e à graça salvadora de Deus. Como resultado, não
Jesus, mas a igreja se tornou o elo salvífico entre o pecador e Deus. Através
de sua teologia do desenvolvimento do caráter e modificação do comportamento, o
novo engano, por sua vez, introduz um novo caminho – um novo método – pelo qual
atingir o requerido padrão de Deus de perfeita justiça conduz à salvação.
Nós temos visto que o único caminho para que um ser caído seja
considerado justo às vistas de Deus neste lado da glorificação é por sua
participação nos méritos salvíficos do Salvador. Por ser em si mesmo
pecaminoso, imperfeito, e indigno, o crente só pode ser justo pela fé em
Cristo. Jesus é o fundamento de sua posição diante de Deus. Também temos
observado que a salvação do crente se torna permanentemente assegurada e Deus o
declara digno da vida eterna no juízo pré-advento somente por que ele aceitou a
mediação redentora de Cristo em seu favor. Jesus completará seu papel mediador
– Ele atingirá plenamente os objetivos do ministério mediador – ao assegurar
aos crentes vivos o veredito final e irreversível de aceitação de Deus na
conclusão do juízo pré-advento.
Em contraste, o novo engano ensina que o crente desenvolve em sua própria
vida uma justiça que é tão perfeita e conseqüentemente tão meritória quanto a
justiça do Salvador. Por ter
supostamente se tornado tão puro, santo, e digno quanto Jesus segue-se que o
crente não necessita mais da justiça imputada de Cristo para manter uma correta
posição diante de Deus. Como resultado, sua segurança de salvação não mais
repousa na obra redentora de Cristo em seu favor, mas na perfeição espiritual e
impecaminosidade moral que ele atingiu em sua própria vida.
De acordo com o novo engano, a última geração de crentes vencerá o pecado
de forma tão radical e desenvolverá uma justiça tão perfeita em suas próprias
vidas que o fato de a mediação de Cristo terminar para eles no fim do tempo da
graça, não terá nenhuma conseqüência adversa para eles de forma nenhuma. Uma
vez que seu caráter será tão justo quanto o de Cristo e sua obediência tão
perfeita quanto a dEle, eles estarão diante de Deus tão sem pecado, justos, e
dignos em si mesmos quanto eles estavam antes quando Cristo os estava imputando
sua justiça. Os proponentes dessa visão provavelmente negariam essas
conclusões, mas o fato é que naquele momento quando o crente atingir suposto
estado de total santificação, ele também transcende sua necessidade de Cristo
tanto quando Mediador quanto como Salvador. A igualdade deles com Cristo também
os torna iguais a Cristo em sua posição pessoal diante de Deus.
O novo engano que agora confronta a Igreja Adventista é uma parte
integrante na guerra que Satanás tem mantido contra Cristo. Quando ele falhou
em depor a Cristo no céu continuou sua batalha na terra. Através da queda de
Adão ele adquiriu senhorio temporário sobre o mundo. Mas isso chegou ao fim, em
princípio, quando Cristo – o segundo Adão e novo cabeça da humanidade – morreu
a morte expiatória em favor da humanidade. Por sua morte Ele destruiu também o
poder da morte e estabeleceu o Reino da graça de Deus no planeta terra. Desde
então Satanás é um inimigo derrotado cuja destruição está assegurada. Mas ele não
cessou de tentar derrotar a Cristo. Ele perdeu no céu, perdeu na terra, mas
ainda pode vencer no coração humano, pois ali ele pode substituir a Cristo. E é
precisamente isso que ele está se esforçando por fazer.
Na maioria das vezes, a estratégia de satanás não tem sido a da
confrontação direta, mas a do engano e da contrafação. Por exemplo, quando Deus
empreendeu o sistema sacrifical para ilustrar Sua obra em Cristo para a
redenção do homem, o diabo não atacou a ideia da reconciliação com Deus. Ao
invés disso, Satanás introduziu uma ampla variedade de meios e métodos através
dos quais a humanidade supostamente poderia atingir tal reconciliação, e ele se
concentrou em conduzir os pecadores a tentarem encontrar o favor de Deus em
suas contrafações ao invés de colocando sua fé em Cristo.
É desnecessário dizer que satanás tem sido extremamente bem sucedido em
colocar a Cristo de lado como único caminho para Deus na vida de alguns homens.
Ele tem sido muito bem sucedido entre pessoas religiosas ao convencê-los a
continuar tentando eliminar o pecado – a causa de sua alienação de Deus – ao
invés de se apropriarem da obra redentora de Cristo. Isso significa na
realidade que eles devem lidar com sua condição de pecadores como se não
houvesse Salvador. Eles se esforçam para resolver seus próprios problemas com o
pecado por si mesmos ao invés de aceitarem a solução que Deus já proveu em
Cristo.
O novo engano apela a pessoas religiosas justamente por sua promessa de
libertação do pecado – algo pelo que todos os verdadeiros crentes têm grande
desejo. O problema é que quando eles procuram atingir uma posição correta
diante de Deus através de suas realizações morais ou espirituais, eles se
tornam “separados de Cristo,” seu único elo espiritual com Deus, e caem “da
graça” (Gálatas 5:4). Como resultado, (1) eles perdem o acesso aos benefícios
da obra redentora de Cristo, e a seu direito, conferido pela graça na
conversão, de permanecer como membros da família espiritual de Deus. E (2) eles voltam ao estado de perdição,
inimizade, e condenação na qual eles se encontravam antes da reconciliação
ocorrer.
Assim é que sob a aparência do atraente e recomendável objetivo de
participarmos da natureza divina e atingirmos perfeição sem pecado – como Jesus
– o novo engano anula a membresia dos religiosos no concerto da graça de Deus e
os coloca justamente debaixo do jugo do concerto das obras. Como resultado eles
terminam tentando atingir a salvação através de um método onde não existe
acesso ao perdão de Deus, à justiça salvadora de Cristo, ao poder capacitador
do Espírito Santo, e de quaisquer outros dons que, de acordo com as Escrituras,
Deus tornou disponíveis somente àqueles que mantêm seu status como filhos e
filhas de Deus através de seu relacionamento contínuo de fé com Jesus Cristo
(ver Lucas 24:45-47; Atos 2:38; Romanos 8:9, etc.).
B. Um
engano que elimina algumas distinções básicas entre Jesus e os pecadores
O engano que agora confronta a Igreja Adventista do Sétimo Dia não é
verdadeiramente novo. De fato, ele é apenas um refinamento e adaptação do
engano que causou a queda da humanidade no jardim do éden. De acordo com a
descrição bíblica, o primeiro engano
introduziu uma mudança radical no plano de Deus para a criação do homem. O
primeiro pecado humano não foi uma falha em viver de acordo com as elevadas
exigências de um código legal. Nem foi um mergulho em direção ao mal e ao
perverso – algo que alguém poderia chamar de pecado da carne, tal qual
adultério, assassinato, ou roubo. Ao contrário, foi um pecado do espírito, para
alcançar mais do que o Criador tinha determinado.
A criação estabeleceu uma distinção clara e permanente entre o divino e o
humano. Por ter Deus criado o homem à sua imagem e semelhança, havia uma
considerável similaridade e proximidade entre o Criador e a criatura. Mas o
fato de que o homem foi criado à imagem, uma representação, de Deus e não uma
verdadeira duplicata também indica que, na ordem do Criador, Deus é Deus e o
homem é homem, e para sempre haverá uma diferença essencial e uma distância
intransponível entre os dois.
Em um livro posterior sobre o conceito bíblico de homem, devo lidar com
esse assunto com mais profundidade. Para nosso propósito aqui, é suficiente
dizer que por tê-los Deus criado à Sua imagem, Adão e Eva podiam refletir em si
mesmos os atributos justos e as nobres virtudes do santo caráter de Deus. Eles
eram espiritualmente íntegros por causa de sua união espiritual ilimitada com o
Criador, o que os fez participantes diretos de Sua bondade, justiça, e
santidade. Mas por serem apenas a imagem de Deus, e não Deus em essência, eles
eram dependentes do Criador que unicamente possui tais virtudes positivas em
última instância.
Quando o enganador tentou Adão e Eva com o pensamento de se tornarem
“iguais a Deus” (Gênesis 3:5), ele despertou neles o desejo de atingir um
estado que era diferente daquele que era o propósito de Deus para o homem – de
desfrutarem de um nível de existência mais alto do que aquele que Deus
intentava para eles. O primeiro engano seduziu a humanidade a procurar eliminar
a diferença qualitativa radical que distinguia o divino do humano e separava a
criatura do Criador. O primeiro pecado do homem foi uma rejeição de sua
condição “criatural” – uma tentativa presunçosa de transcender os limites de
seu status limitado e atingir a autodeterminação e auto-suficiência que
pertencem somente a Deus.
Como um ramo não pode viver por si mesmo, mas depende da videira para
viver, crescer, e produzir fruto, assim o homem original depende de Deus para
ser e fazer o que o Criador intenciona que ele seja e faça. O primeiro pecado do homem foi uma tentativa
de deixar de ser um ramo para se tornar ao invés disso uma vinha. Ele
procurou ser e ter em si mesmo aquilo que, de acordo com o plano do Criador,
ele poderia ser e ter apenas enquanto ele continuamente partilhasse daquilo que
se origina com Deus e, portanto, é sua propriedade exclusiva.
Obviamente o primeiro pecado da humanidade foi em essência uma rejeição
de ser e de viver pela graça de Deus. Ao invés de continuarem a refletir em
suas próprias pessoas o que procede do Criador, Adão e Eva tentaram ser o que
eles eram – bons, jutos, e santos – em si mesmos e por si mesmos, tal qual Deus
é. O homem, a imagem de Deus, queria ser essencialmente Deus ao experimentar
uma transformação interior de natureza que o capacitaria a se tornar plenamente
participante tanto no status quanto na natureza de Deus.
Por comparação, o novo engano introduz uma mudança no plano
que Deus divisou para a redenção da humanidade. Representando um nível mais
alto e diferente do que aquele que Deus estabeleceu nas Escrituras, o engano é
tentar atingir igualdade espiritual em relação ao Deus/homem, Jesus Cristo.
Aqueles seduzidos por esse engano não estão satisfeitos com o fato de que, pela
graça de Deus, crentes imperfeitos – filhos e filhas de Deus em crescimento –
se tornam inculpáveis, justos, e santos através da justiça salvadora de Cristo.
Ao invés disso eles querem experimentar uma transformação interior que de
alguma forma os capacite a transcender sua condição pecaminosa e se tornem
perfeitamente impecáveis, justos, e santos em
si mesmos, tanto quanto Jesus é.
Se esforçar para ser a melhor pessoa que alguém pode ser em cada estágio
do crescimento espiritual, e em crescer nos padrões de sua vida em direção ao
que seja verdadeiro, justo, e correto, é recomendável e escriturístico. É o meu
combate, contudo, que há uma diferença
radical entre tentar viver uma vida digna de filhos e filhas de Deus em Cristo
e tentar ser igual, atingir, e duplicar na vida a justiça absoluta de Cristo, o
divino-humano filho de Deus. Se esforçar para ser mais semelhante a Jesus
em caráter e em conduta é uma coisa, enquanto tentar ser tão justo e santo
quanto Ele era durante Sua vida na terra é bem diferente. O primeiro é um
objetivo baseado na Palavra de Deus tal qual registrada nas Escrituras. O
último é um afastamento arrogante da Palavra, e portanto constitui pecado.
É importante notar que tanto em
sua forma antiga quanto nova o apelo do engano – e também o seu pecado – jaz no
fato de que ele apresenta algo que, pelo menos na superfície, aparenta ser
recomendável. Uma vez que por definição Deus é o supremo bem do universo,
segue-se logicamente que não poderia existir mais alto ideal ou objetivo mais
nobre para Adão e Eva do que se esforçarem para serem exatamente como Ele.
Porém – e aqui está a ironia – pelo engano representar uma tentação de diminuir
a distância entre a criatura e o Criador, de mesclar o humano com o divino, e
de apagar a diferença qualitativa entre o Eterno e auto-suficiente Eu Sou e o
ser humano dependente, mortal, ele constitui pecado da mais alta ordem.
O mesmo problema é verdade em relação ao relacionamento do crente com
Jesus Cristo. Obviamente Jesus é um exemplo perfeito, o mais alto ideal que
jamais poderia ser colocado diante do crente. Não devemos esquecer, contudo,
que conquanto ele tenha se tornado homem, Jesus nunca cessou de ser Deus.
Enquanto seja verdade que Ele tomou a humanidade sobre si, é também verdade que
Ele jamais desistiu de Sua divindade.
Como “Santo e Justo” (Atos 3:14), Ele é a personificação da bondade
perfeita, justiça absoluta, e santidade total. Jesus velou Sua glória infinita
e renunciou ao uso ativo de seu poder ilimitado, mas Ele nunca abandonou as
qualidades morais impecáveis e atributos espirituais santos que O capacitariam
a revelar a justiça do Pai para o homem caído.
As Escrituras estabelecem o fato de que “em Cristo habita corporalmente
toda a plenitude da Divindade” (Colossenses 2:9). Ele que “era Deus” “se fez
carne e habitou entre nós. E vimos a sua glória, glória do unigênito do Pai,
cheio de graça e de verdade” (João 1:1, 14). Jesus é o “esplendor da glória, e
a expressão exata do Seu ser” (Hebreus 1:3). Ellen White afirma:
“O Senhor Jesus tomou sobre Si a forma do homem pecaminoso, revestindo de
humanidade a Sua divindade. Mas Ele era
santo, assim como Deus é santo. Caso não fosse sem mácula ou mancha de
pecado, não poderia ter sido o Salvador da humanidade. Era o Portador de
pecados, e não necessitava de expiação. Sendo um com Deus em pureza e santidade de caráter, Ele podia fazer uma
propiciação pelos pecados do mundo inteiro.” (Este dia com Deus, p. 355, itálicos supridos).
Então quando alguém se esforça por desenvolver em sua vida pessoal uma
justiça que seja tão perfeita – e conseqüentemente tão meritória – quanto à de
Cristo, ele faz mais do que apenas tentar igualar as extraordinárias
consecuções espirituais do único homem perfeito que viveu na terra desde a
queda. Ele está tentando eliminar todas as distinções entre o Salvador e os
pecadores que Ele veio salvar. Ele está procurado apagar a diferença e
atravessar a distância entre si mesmo e o Filho de Deus, que, sendo tão puro,
justo, e santo quanto Deus o Pai, não precisou de nenhum mediador, mas viveu em
união direta e ilimitada com as duas outras pessoas da Divindade.
Nós, portanto concluímos que o novo engano é essencialmente o mesmo que
causou a queda. Enquanto o primeiro
engano seduziu o homem a transcender seu estado dependente e atingir igualdade
com o Criador, assim o último engano fascina o crente a superar sua condição
pecaminosa e atingir igualdade com o Salvador.
Como resultado do engano satânico, Adão e Eva se tornaram insatisfeitos
com terem que depender de Deus para continuarem a ser a imagem de Deus, e
tentaram ser justos, santos, e bons em si e por si mesmos, tal qual Deus é. Por
sua vez, aqueles que se submetem ao novo engano não estão contentes em depender
de Cristo para estar em posição correta diante de Deus, mas tentam ser justos,
santos, e bons em si mesmos, tal qual Cristo é.
Infelizmente, as conseqüências de se submeter ao novo engano são tão
radicais e trágicas quanto aquelas da primeira tentação. Sob a roupagem de um
objetivo aparentemente nobre de garantir igualdade com Deus, o primeiro engano
rompeu o relacionamento primordial que nossos primeiros pais tinham com seu
Criador. Isso causou a separação dEle que unicamente poderia capacitá-los a
continuar refletindo as justas virtudes do caráter santo de Deus em suas vidas
pessoais. Como resultado eles perderam sua integridade espiritual original, e
adentraram num estado de perdição, alienação e pecado.
Assim também é com o novo engano. Espreitando por detrás do nobre
objetivo de garantir igualdade espiritual com Jesus, ele rompe o relacionamento
de fé com o Salvador. Os divorcia espiritualmente dEle que unicamente pode
apresentá-los ao Pai perfeitamente justos, e garantir a eles o direito de
herdar a vida eterna. Como resultado, eles perdem sua participação nos
benefícios do concerto da graça e voltam a um estado de perdição, condenação, e
morte que é a condição de todos os seres caídos que não estão em Cristo.
Dois
grupos de pessoas na igreja:
Aqueles justos em Cristo pela fé, e os injustos
Finalmente, vamos
considerar algumas afirmações nos escritos de Ellen White que indicam que a
igreja contém apenas dois tipos de pessoas: (1) Aqueles que são justos por que
estão cobertos pelos méritos do Salvador e (2) Aqueles que são injustos por que
eles tentaram atingir o padrão de justiça perfeita de Deus “independentemente
da expiação” e “sem a virtude da Divina mediação.”
De acordo com Ellen
White, as duas classes têm seus primeiros representantes em Abel e Caim, e
coexistirão na igreja até o fim do tempo:
“O fariseu e o
publicano representam os dois grandes grupos em que se dividem os adoradores de
Deus. Seus primeiros representantes encontram-se nos dois primeiros filhos
nascidos neste mundo. Caim julgava-se justo, e foi a Deus com uma simples
oferta de gratidão. Não fez confissão de pecado, nem reconheceu que carecia de
misericórdia. Abel, porém, foi com o sangue que apontava ao Cordeiro de Deus.
Foi como pecador que confessava estar perdido; sua única esperança era o
imerecido amor de Deus.” (Parábolas de
Jesus, p. 152).
“"Pela fé Abel
ofereceu a Deus maior sacrifício do que Caim." Heb. 11:4. Abel apreendeu
os grandes princípios da redenção. Viu-se como um pecador... Por meio do sangue
derramado olhava para o futuro sacrifício, Cristo a morrer na cruz do Calvário;
e, confiando na expiação que ali seria feita, tinha o testemunho de que era
justo, e de que sua oferta era aceita... Caim e Abel representam duas classes
que existirão no mundo até o final do tempo. Uma dessas classes se prevalece do
sacrifício indicado para o pecado; a outra arrisca-se a confiar em seus
próprios méritos; o sacrifício desta é destituído da virtude da mediação
divina, e assim não é apto para levar o homem ao favor de Deus.
...Aqueles que não
sentem necessidade do sangue de Cristo, que acham que sem a graça divina podem
pelas suas próprias obras conseguir a aprovação de Deus, estão cometendo o
mesmo erro de Caim. Se não aceitam o sangue purificador, acham-se sob
condenação. Não há outra providência tomada pela qual se possam libertar da
escravidão do pecado. Assim
como Caim julgava conseguir o favor divino com uma oferta a que faltava o
sangue de um sacrifício, assim esperam estes exaltar a humanidade à norma
divina, independentemente da expiação.” (Patriarcas
e profetas, pp. 72-73).
Vamos analisar três
conceitos específicos:
1. Caim não entendeu
nem a situação desfavorável em que se encontrava como um ser caído, nem a
dinâmica da salvação que Deus havia providenciado através da substituição. Em
sua cegueira espiritual ele pensou ser ele mesmo justo, não percebendo que era
um perdido, culpado e indigno pecador. Conseqüentemente ele se aproximou de
Deus apenas com uma oferta de gratidão. Ele não fez confissão de seu pecado,
ele não trouxe sangue expiatório, ele não reconheceu nenhuma necessidade de
misericórdia. Como resultado ele não teve acesso nem ao perdão de Deus ou aos
méritos mediados pelo Salvador apenas em favor daqueles que se achegam a Deus
clamando Sua obra redentora em favor deles.
2. Abel percebeu sua
real condição como ser caído e se agarrou aos grandes princípios da redenção.
Ele foi a Deus como pecador, confessando de si mesmo ser um perdido, colocou
sua fé, e baseou sua esperança no imerecido amor de Deus como manifesto na
expiação que Cristo faria na cruz em seu favor. Pela fé ele trouxe o sacrifício
que Deus tinha estipulado – o sangue que apontava para o cordeiro de Deus. Essa
é a base – a única base – para o testemunho de que ele era justo, e a razão
pela qual sua oferta foi aceita.
3. A igreja – “aqueles
que vem adorar a Deus” – contém duas categorias distintas de pessoas. Um grupo
– representado por Caim e pelo fariseu da parábola de Cristo – consiste dos
moralistas religiosos que são auto-suficientes espiritualmente. Eles não
reconhecem a verdadeira profundidade de sua própria pecaminosidade e por isso
vem a Deus apenas com uma oferta de gratidão apenas – uma oferta na qual falta
o purificador sangue do sacrifício de Cristo e é independente da expiação. A
oferta não tem a virtude da mediação, e conseqüentemente não os concede acesso
a Deus. Em sua cegueira laodiceiana eles não percebem sua inadequação moral e
destituição espiritual. Como resultado, eles não têm desejo de se arrepender, e
não sentem a necessidade de abrir a porta para Cristo como única fonte de
justiça salvadora.
O outro grupo dentro da
igreja – representado por Abel e pelo publicano da parábola de Jesus – é feito
daqueles que entendem tanto sua situação desfavorável como seres caídos, bem
como os grandes princípios da redenção. Eles sabem que a não ser pela salvação
que Deus providenciou em Cristo, eles estão perdidos, culpados, e tão
desajudados como qualquer outro pecador. Essa é a razão do por que eles se
valem da obra redentora de Cristo em favor deles, e pela fé, cobrem sua nudez
espiritual com os trajes de Sua justiça Toda-Suficiente. Como Abel eles recebem
o testemunho de serem justos, os verdadeiros filhos de Deus através da fé em
Jesus Cristo.
É importante notar que
o critério que determina a separação da igreja em dois grupos não é centrado
nas consecuções deles, mas é centrado em Cristo. Em outras palavras, a igreja
não divide em um segmento os que são justos em si mesmos e aprenderam a viver
sem pecar, e em outro seguimento coloca os que falharam em alcançar esse objetivo.
Ao contrário, a igreja se separa entre aqueles que se valem da obra redentora
de Cristo em seu favor e, portanto são justos pela fé em Cristo, e entre
aqueles que fazem de suas consecuções espirituais a última instância de sua
posição, e conseqüentemente não tem nada que os recomende a Deus.
Note como Ellen White
expressa esses mesmos conceitos em outros lugares:
“O fariseu não
sentia convicção de pecado. O Espírito Santo não podia nele atuar. Sua vida
apoiava-se numa couraça de justiça própria, a qual as setas de Deus, farpadas e
desferidas pelos anjos, não podiam penetrar. Cristo só pode salvar quem
reconhece ser pecador.” (Parábolas de
Jesus, p. 158).
“Justiça própria é
o perigo desta época; ela separa a alma de Cristo. Os que confiam em sua própria justiça não podem compreender como a
salvação advém por meio de Cristo.” (Fé
e obras, p. 96, itálicos supridos). “Nada é tão ofensivo a Deus nem tão
perigoso para o espírito humano como o orgulho e a presunção. De todos os
pecados é o que menos esperança incute, e o mais irremediável.” (Parábolas de Jesus, p. 154).
“Que os que se
sentem inclinados a fazer alta profissão de santidade se contemplem no espelho
da lei de Deus. Ao verem o vasto alcance de seus reclamos, e compreenderem que
ela opera como perscrutadora dos pensamentos e intenções do coração, não se
presumirão de estar sem pecado.” (Atos
dos apóstolos, p. 562).
“Como pode alguém
que é trazido perante o padrão santo da lei de Deus – que revela os maus
motivos, os desejos não santificados, a infidelidade do coração, a impureza dos
lábios, que torna conhecida a vida – fazer qualquer ostentação de santidade?
Suas ações desleais em desconsiderar a lei de Deus são expostas perante seus
olhos, e seu espírito é afetado e afligido sobre a perscrutadora influência do
Espírito de Deus. Ele demonstra aversão em si mesmo, enquanto vislumbra a
grandeza, a majestade, o caráter puro e sem mancha de Jesus Cristo. (Review and Herald, 16 de outubro de
1888).
“Não há nada em nós
pelo que podemos vestir a alma para que sua nudez não seja manifesta. Devemos
receber o manto da justiça de Cristo fabricado nos teares do céu, o próprio
manto perfeito da justiça de Cristo.” (ibid.
19 de julho de 1892). “Coisa alguma é aparentemente mais desamparada, e na
realidade mais invencível, do que a alma que sente o seu nada, e confia
inteiramente nos méritos do Salvador.” (A
ciência do bom viver, p. 182).
“Homem algum pode,
olhando para dentro de si, encontrar em seu caráter o que quer que seja que o
recomende a Deus, ou lhe assegure aceitação. É unicamente por Jesus, a quem o
Pai deu para que o mundo vivesse, que o pecador pode encontrar acesso a Deus.
Jesus, unicamente, é nosso Redentor, nosso Advogado e Mediador; nEle reside
nossa única esperança de perdão, paz e justiça.” (Mensagens escolhidas, pp. 332,333).
Desde que as
considerações desse capítulo surgem da história de Caim e Abel, e do fariseu e
do publicano na parábola de Cristo, vamos examinar brevemente e discutir os
relatos escriturísticos nos dois casos.
- Caim e Abel
oferecem sacrifícios a Deus
As Escrituras falam
pouco sobre as circunstâncias relativas ao incidente quando Caim e Abel
trouxeram respectivamente seus sacrifícios a Deus. Contudo, quando examinamos
as implicações do ato de Caim em trazer “do fruto da terra, uma oferta ao
Senhor” (Gen. 4:3). Nós podemos deduzir várias conclusões com um razoável grau
de certeza:
Primeiro, pelo menos em
alguma extensão, Caim reconheceu sua condição caída e desejava reconciliação
com Deus – de outra forma seria difícil ver por que de qualquer forma ele
traria um sacrifício a Deus. Segundo, ele obedeceu a Deus ao construir um altar
e trazer uma oferta. Seu problema foi que ele trouxe o sacrifício errado – um
sacrifício que, em vez de representar a fé no substituto, simbolizava a
dependência de alguém usando de seus próprios esforços para estar diante de
Deus.
Terceiro, aparentemente
Caim ignorou o fato de que apenas a justiça de Cristo pode realizar a
reconciliação do homem com Deus. Ele falhou em entender que quando tratamos de nossa posição diante de
Deus, nada menos que os perfeitos méritos do Salvador é suficiente, nada que
seja igual em termos meritórios é possível, e nada menos que isso é aceitável a
Deus. Desde que “sem derramamento de sangue não há remissão” (Hebreus
9:22), nada que um pecador possa cultivar em seu jardim pode substituir o
cordeiro de Deus que Deus proveu como meio para trazer o homem de volta ao
favor dEle. Os frutos que Caim trouxe eram provavelmente o melhor que ele podia
oferecer, e todos haviam crescido pelo poder de Deus. Mas eles simbolizavam as
realizações humanas, e realizações que não tem nenhum valor redentor não
pertencem ao altar.
Quarto, o comportamento
de Caim indica persuasivamente que enquanto ele tivesse aceitado a ideia de
reconciliação com Deus – e em alguma extensão mostrou que ele queria viver em
bom relacionamento com Ele – ele rejeitou
o meio que Deus providenciou em Cristo para tornar tanto a reconciliação,
quanto o bom relacionamento, possíveis. Por que os frutos de Caim representavam
uma mudança no plano de Deus na redenção de seus filhos perdidos, sua oferta
não apenas falhou em atingir seu propósito, mas também aumentou sua culpa e
alienação para com Deus.
Quinto, Deus não
rejeitou Caim por ele ser um pecador. Deus sabia da condição caída do homem, e
é exatamente por causa disso que ele proveu uma solução para o problema do seu
pecado. O Senhor não podia aceitar a Caim e sua oferta por que ele não colocou
sua fé no substituto que Deus designou como único meio de salvação.
“Pela fé, Abel ofereceu a Deus
mais excelente sacrifício do que Caim; pelo qual obteve testemunho de ser
justo, tendo a aprovação de Deus quanto às suas ofertas. Por meio dela, também
mesmo depois de morto, ainda fala.” (Hebreus 11:4)
A oferta
de Abel foi “melhor” por que (1) era a oferta que Deus estipulou como símbolo
de Cristo, e por que (2) ele a trouxe “pela fé.” Ele obteve o “testemunho de
ser justo,” não por que ele fosse moralmente inculpável e espiritualmente
perfeito, mas por que através de seu sacrifício ele mostrou sua fé no sangue
expiatório para o perdão, e sua dependência dos méritos infinitos de Cristo
para uma correta posição diante de Deus.
- O
fariseu o e publicano oram no templo
De acordo
com a parábola de Jesus registrada em Lucas 18:9-14, um fariseu e um publicano
foram ao tempo para orar. Ambos eram homens religiosos – membros de igreja,
provavelmente diríamos em nossa terminologia moderna. O fariseu agradecia a
Deus por ser uma pessoa melhor e por ter um registro comportamental melhor do
que “os demais homens” que, de acordo com ele, eram “ladrões, malfeitores,
adúlteros.” Em contraste, o publicano reconhecia a si mesmo como pecador e
orava a Deus por misericórdia.
Uma vez que Jesus não
contradisse a auto-avaliação do fariseu, podemos concluir que ela havia falado
a verdade quando disse não roubar ou adulterar como faziam os demais homens,
Ele provavelmente tinha também um longo registro que provava que ele jejuava
duas vezes por semana, e devolvia o dízimo fielmente. Portanto seu problema não
era ser um pecador crônico que vivia em violação deliberada e aberta contra a
lei de Deus. Ao contrário, e era por causa disso que pensava ser justo e não
sentia necessidade alguma de um Salvador.
A situação espiritual desfavorável do fariseu
era resultado de duas más compreensões teológicas. Primeiro, ele aparentemente
definia o problema do pecado do homem apenas em termos de caráter moral e ética
comportamental. Em sua visão, somente pessoas más que manifestavam rebelião
aberta contra Deus por quebrar a letra da lei propositalmente eram culpados de
pecado. Assim é que ele se sentia muito bem consigo mesmo. Por não ser tão mal
ou imoral como ele percebia que os outros homens eram, ele pensou possuir um
bom caráter moral que mereceria a aprovação de Deus. Não tendo transgredido
qualquer proibição específica da lei – tal qual roubar, e adulterar – ele
pretendeu render uma obediência perfeita e, portanto, estava livre de culpa. E
por acreditar que ele tinha evidências que provavam que ele cumpria suas
obrigações religiosas – tal qual jejuar duas vezes por semana e pagando um
dízimo estritamente exato – ele concluiu ser positivamente justo, e verdadeiramente
digno da aprovação de Deus.
Segundo, o fariseu tinha uma concepção de
justificação pelas obras em relação à salvação. Ou seja, ele baseada sua
posição diante de Deus – e por extensão sua segurança de vida eterna – em sua
bondade moral pessoal e sua impecabilidade comportamental. Tal visão prescindia
de duas coisas: (1) Da graça de Deus em providenciar o substituto para pagar a
pena de sua culpa, cancelar sua sentença de morte, e dar-lhe o direito de se
tornar um filho de Deus, e (2) Da resposta de arrependimento e fé pela qual o
crente pode participar na obra redentora do Salvador – uma obra que garante o
perdão de Deus em seu favor e torna-o digno da vida eterna através da imputação
da justiça de Cristo.
De acordo com a
parábola, a visita do fariseu ao tempo não lhe trouxe nenhuma benção, e ele
retornou para casa sem experimentar mudança. Ele era um homem moralmente justo
– um homem com profundo compromisso religioso, um grande respeito pela lei, e
um alto padrão ético de comportamento. Mas ele era também um homem que em seu
orgulho espiritual e auto-suficiência religiosa não percebeu sua necessidade
desesperadora de um salvador. Ou seja, ele não sentia a necessidade do perdão
de Deus ou da justiça imputada de Cristo. Embora ele tenha obedecido à lei – em
algum sentido – ele ignorou o evangelho. Como resultado, ele não teve acesso à
aliança da graça de Deus e nenhuma parte na salvação que apenas Cristo pode
conceder. Ele foi então para casa convencido de ser justo de acordo com a lei,
mas despercebido de que de acordo com o Evangelho ele estava perdido.
A experiência do
publicano foi justamente o oposto da experiência do fariseu. A oração do
publicano indica que ele reconhecia ser um pecador e que ele baseou sua
esperança para desfrutar de uma correta posição diante Deus em sua
misericórdia. Por ter se rendido em arrependimento e por ter aceitado pela fé a
provisão da graça de Deus, ele “voltou justificado diante de Deus” (Lucas
18:14). Ele chegou ao templo perdido, culpado, um pecador sem esperança, mas
retornou para sua casa completamente reconciliado com Deus, um filho de Deus em
Cristo, e herdeiro da vida eterna. Se ele tivesse morrido – ou a porta da graça
se fechado – nesse momento e sua eterna salvação estaria assegurada em Cristo.
O publicano teria participado das bodas do cordeiro e teria parte no Reino
Eterno de Deus, não por não ser mais um pecador, mas por que ele tinha um
Salvador, e conseqüentemente estava em pé diante de Deus completamente
perdoado, e perfeitamente justo em Cristo pela fé.
Sumário
e conclusões
Esse capítulo tem duas
seções gerais. A primeira provê um sumário de alguns dos principais pontos que
discutimos nos sete capítulos anteriores. A segunda seção contém conclusões
gerais baseadas nos conceitos que descobrimos nos escritos de Ellen White.
- Sumário
O primeiro capítulo
examinou dois conceitos básicos e algumas de suas principais ramificações.
Primeiro, vimos que o crente depende totalmente de Cristo para estar numa
posição correta diante do Senhor, isso por que Deus requer justiça perfeita e o
homem é incapaz de produzi-la. Segundo, vimos que Jesus faz mediação em favor
do crente com o objetivo de apresentá-lo – como indivíduo – perfeitamente justo
perante o Pai. Jesus imputa sua morte expiatória, sua vitória redentora, e
justiça salvadora em favor do crente para que ele possa estar em pé pela fé
diante de Deus, irrepreensível em Cristo.
Para que Cristo possa
agir como seu substituto, o crente deve responder ao evangelho em
arrependimento e fé. Através do arrependimento o crente indica que ele
reconhece tanto sua culpa quanto a inadequação do que ele é, tem, ou faz para
assegurar a aprovação de Deus. Através da fé ele reconhece sua incapacidade de
conduzir a si mesmo ao favor de Deus, e portanto se apropria da obra redentora
de Cristo em seu favor. Dessa forma o crente ganha acesso ao perdão de Deus por
seu pecado e à perfeita justiça de Cristo para ser aceito pelo Pai.
Uma vez que a
santificação é um processo nunca totalmente concluído na vida presente, o
crente nunca se torna justo em si mesmo, mas pode ser justo unicamente em
Cristo enquanto ele viver. Tudo que ele é e tudo que ele tem, como filho de
Deus, ele é e tem somente por que, e enquanto, ele está em Cristo pela fé. Se
ele perdesse seu apego a Cristo – e ao fazê-lo cesse de participar em sua obra
redentora – o crente voltaria a seu estado de perdição, condenação, e morte no
qual ele se encontrava antes que a reconciliação tivesse ocorrido na conversão.
No segundo capítulo
vimos que o crente também depende da mediação de Cristo para tornar sua vida
como filho de Deus aceitável ao Pai. Deus requer não apenas obediência, mas
perfeita obediência, e isso o crente é incapaz de oferecer. A obediência do
crente não tem valor diante de Deus, primeiro, por que ela é parcial e
imperfeita sendo portanto, merecedora não da aprovação Divina, mas da
condenação. E segundo, por causa do fato de que a natureza pecaminosa do crente
contamina tudo que ele faz ela torna sua obediência inaceitável a Deus.
Fizemos também uma
distinção entre obediência verdadeira – a obediência da fé – e obediência
perfeita. A verdadeira obediência inclui submissão às exigências da lei e
harmonia com as demandas do evangelho. Conseqüentemente aquele que é o
verdadeiramente obediente, tendo feito o melhor para viver uma vida digna de
filhos e filhas de Deus em Cristo, reconhecerão sua pecaminosidade,
imperfeição, e indignidade, e se aproximarão do Pai com arrependimento e fé. O
sangue expiatório de Cristo os limpa de suas culpas, e Sua justiça salvadora os
preserva em uma posição correta diante de Deus.
O fato de sermos
pecadores contamina nossa obediência. Nada que seres pecaminosos possam
oferecer a Deus é aceitável em seus próprios méritos. Nossa obediência só pode
ser satisfatória quando – e pelo fato de – a trazemos ao Pai através dos
méritos do Filho. Obediência perfeita é, portanto, possível unicamente através
da mediação de Cristo em nosso favor. Quando dependemos da obra redentora de
Cristo para estarmos em posição correta diante de Deus, nosso divino
Sumo-Sacerdote nos imputa Sua justiça para suprir nossas deficiências e
apresentar nossa obediência, serviço, e adoração perfeitamente agradáveis ao
Pai.
No terceiro capítulo
reconhecemos que nenhum ser caído jamais atingiu o alvo da perfeição espiritual
inculpável separado de Cristo. Os patriarcas, profetas, e apóstolos – homens
que viveram o mais próximo de Deus – admitiram sua pecaminosidade. Seu
relacionamento incomum e próximo com Deus os permitiu adquirir tanto o ponto de
referência e a percepção espiritual necessária para que eles vissem a si mesmos
como eles realmente eram. Portanto ele todos sabiam que nada que eles eram,
tinham, ou faziam poderia assegurá-los o favor de Deus.
Uma vez que todos
pecaram e carecem da glória de Deus, todos os seres humanos da mesma forma –
desde Abel, o primeiro crente e morrer, até o último pecador a aceitar a graça
salvadora de Deus em Cristo logo antes do fechamento da porta da graça –
dependem igualmente da obra redentora de Cristo para salvação. Por Deus ter
divisado um plano de redenção de acordo com o qual Jesus Cristo – sua morte
expiatória, vitória redentora, e justiça salvadora imputada ao crente pela fé –
é o único caminho ao Pai, todos os seres humanos devem ou ser salvos pela graça
imerecida de Deus, ou se perderão.
O quarto capítulo
discutiu a ideia de que a percepção de um indivíduo a respeito de sua condição
espiritual – tanto caso ele veja a si mesmo como justo e bom, ou como
imperfeito e pecador – resulta de sua proximidade relativa de Jesus e de uma
visão adequada da perfeição de Cristo. Aqueles que não têm um relacionamento
esclarecido e próximo com Cristo não têm nem o ponto de referência nem a
percepção espiritual que os capacitaria a enxergar sua inadequação moral e
imperfeição espiritual. Eles subestimam sua pecaminosidade e superestimam suas
possibilidades. Como resultado eles não sentem sua total dependência de Cristo.
Aqueles que vivem o
mais próximo de Jesus têm pelo menos as seguintes características: 1. Eles
chegaram a admirar a beleza do caráter santo de Cristo, e portanto podem ver
sua própria pecaminosidade. 2. Eles têm um entendimento claro do vasto alcance
da natureza das exigências de Deus, e assim percebem o quão longe eles
realmente estão de atingir o padrão que Deus requer para a salvação. 3. Eles
sentem de forma adequada a malignidade do pecado e a fragilidade e
pecaminosidade da humanidade, e portanto admitem sua completa dependência de
Cristo. 4. Eles vivem num estado de “contínuo arrependimento e fé no sangue de
Cristo,” plenamente cientes de que sua salvação depende, não de sua própria
bondade, mas da infinita graça de Deus.
Vimos também que, de
acordo com Ellen White, a igreja remanescente não atinge a perfeição sem pecado
tanto em natureza, como em sua conduta no final do tempo de graça. Seus membros
não são Super-Santos que atingiram justiça perfeita e assim comparecem diante
do tribunal de Deus. Ao contrário, são pecadores que, salvos pela justiça de
Cristo, não tem nada para vestir senão “vestes sujas.” Dolorosamente
conscientes da “pecaminosidade de suas vidas, ...sua fraqueza e indignidade,”
“seu caráter defeituoso,” “sua dessemelhança com Cristo,” eles “se afligem suas
almas” em arrependimento diante de Deus “por causa de suas transgressões,” e
pleiteiam por uma “pureza de coração” que eles obviamente ainda não possuem.
Devesse Deus decidir o
destino eterno da igreja remanescente sob a base de sua verdadeira condição
espiritual e comportamento moral, então seu caso seria sem esperança.
Felizmente, Jesus, o poderoso mediador, silencia o acusador com argumentos
fundamentados, não nos méritos dos crentes – pois eles não têm nenhum – mas em
sua dependência de sua atividade redentora em seu favor. Ele remove as vestes
sujas e os cobre com o glorioso manto de sua justiça perfeita e assim os
apresenta ao Pai, justos em Cristo.
O quinto capítulo
tratou de um dos eventos mais significativos em conexão com o fim do tempo de
graça e com o tempo de angústia. Alguns dos principais conceitos discutidos
foram os seguintes: Primeiro, Jesus continuará seu ministério mediador até que
ele atinja completa e plenamente seu objetivo proposto. Ou seja, Ele só deixará
de agir como advogado do homem diante do Pai apenas depois que Ele tiver o
veredito final da aprovação de Deus em favor de Seu povo no fim do juízo
pré-advento. Como resultado eles recebem “o selo do Deus Vivo,” que garante sua
filiação em Cristo como um status permanente, e os dá o direito de serem
herdeiros de Seu Reino.
Segundo, o momento
quando Jesus completa Sua mediação para a última geração de crentes marca
também o final do juízo pré-advento. O “teste final” que determina o destino
eterno deles “o mundo foi submetido à prova final... O número de seus súditos
completou-se.” O futuro de todos é fixado permanente e irrevogavelmente, cada
caso está não apenas decidido, mas está fechado para sempre, para nunca mais
serem abertos para revisão. Por ser a decisão que Deus pronuncia nesse
julgamento uma decisão final, aqueles que estiverem salvos estarão salvos, e
aqueles que estiverem perdidos estão perdidos, em um momento.
Terceiro, pelo menos
três principais fatores dão aos crentes paz, segurança, e esperança ao eles
encararem o fechamento da porta da graça e o tempo de angústia. 1. Jesus vai
fazer mediação em seu favor até que a aprovação final de Deus esteja
permanentemente garantida. 2. Eles não terão que encarar um pós-julgamento para
determinar se eles atingiram ou não justiça sem erros em seu próprio ser e
impecaminosidade de conduta e conseqüentemente são pessoalmente dignos da vida
eterna. 3. Deus protegerá e lhes proverá todas as necessidades durante o curto
espaço de tempo entre o fechamento da porta da graça e a Segunda Vinda de
Cristo, de forma que nada frustre sua salvação.
Quarto, o tempo de
angústia será um período de profunda intensidade espiritual, sincero
auto-exame, e de um sério “lutar com Deus.” A experiência do povo de Deus
durante este tempo tem por objetivo três objetivos. (1) demonstrar que eles se
arrependeram sinceramente de seus pecados e confiam no perdão de Deus; (2)
conduzi-los à plena conscientização de sua indignidade de terem parte no Reino
de Glória; e (3) fortalecer a fé deles de que Deus cumprirá as promessas do
evangelho a eles a despeito de seus desvios, imperfeições, e pecaminosidade.
O sexto capítulo explorou um engano peculiar
que adentrou no adventismo pouco tempo depois de 1844, apareceu novamente na
virada do século, reviveu de forma mais sofisticada no final da década de 1950,
e, de acordo com Ellen White, confrontará a igreja novamente antes do
fechamento da porta da graça. Julgando por sua influência passada, essa
“mensagem do erro” tem potencial para corromper a mensagem da misericórdia de
Deus ao mundo, frustrar a missão do adventismo, e desviar a experiência
religiosa de muitos de seus membros.
Tal “fanatismo”
representa um abandono radical dos ensinos das Escrituras e obviamente
contradiz a maioria dos conceitos significativos que descobrimos nos escritos
de Ellen White. 1. Ele muda o padrão que a última geração precisa atingir para
a salvação e também o método pelo qual os crentes podem atingi-lo. 2. Ele
modifica o papel de Cristo como Salvador tanto na maneira pela qual Ele realiza
a salvação. 3. Ele altera o ministério celestial de Cristo no céu e reduz o
significado da atual mediação que Ele realiza diante do Pai. 4. Ele apaga a
distinção essencial que as Escrituras estabelecem entre o Santo e Justo Filho
de Deus e a culpado pecador a quem Ele veio salvar.
No sétimo capítulo
encontramos que a igreja conterá dois grupos de pessoas radicalmente diferentes
até o fim. Um grupo consiste daqueles que não percebem sua verdadeira condição
espiritual e não entendem os grandes princípios da redenção. Eles procuram
estar numa posição correta diante de Deus através da eliminação do pecado de
suas vidas – para dessa forma cessarem de ser pecadores – ao invés de aceitarem
a solução que Deus proveu para o problema do pecado deles em Cristo. Por não
virem ao Pai, confiando apenas nos méritos do filho, eles não têm acesso aos
benefícios da obra redentora de Cristo. Como resultado eles permanecem em um
estado de perdição, culpa, e eventual morte eterna que é o destino comum de
todos os seres caídos separados de Cristo.
O outro grupo inclui
somente aqueles que entendem tanto sua real condição como seres caídos e a
dinâmica do plano da redenção. Eles sabem que, ao Deus revisar o caso deles
para determinar seu destino eterno, nada menos que a justiça imputada de Cristo
é suficiente, nada adequadamente semelhante é possível, e nada mais é
aceitável. Assim é que eles dependem totalmente da morte expiatória do
Salvador, da vitória redentora, e dos méritos salvíficos para que eles estejam
em uma posição correta diante de Deus. Como resultado eles mantêm seu status,
como filhos e filhas adotivas de Deus em Cristo, e isso os dá o direito de
serem herdeiros da vida eterna.
- Conclusões
Uma das características
mais atraentes dos conceitos que estudamos previamente nos escritos de Ellen
White é que eles retratam um cenário no qual tudo que exerce alguma função no
relacionamento do pecador com Deus ocupa o lugar e a função que é tão
claramente definida pelas Escrituras. Vamos descrever brevemente esse cenário
ao sublinhar alguns dos aspectos mais significativos do papel desempenhado pelo
Espírito Santo, pela lei de Deus, pelo crente, e por Jesus Cristo.
- O
Espírito Santo
Três das funções do
Espírito Santo são particularmente relevantes aqui: A primeira tem a ver com o
comportamento do crente – sua vida como filho adotivo de Deus. O Espírito o
auxilia a adquirir um entendimento crescente da vontade de Deus para o homem,
por um lado, e da enganosa e multifacetada natureza do pecado por outro.
Gradualmente o Espírito aumenta a capacidade espiritual do crente para que ele
diferencie entre o que é verdadeiro, bom, e amável e o que não é. Ele move o
crente a aceitar a vontade de Deus como normativa e a se esforçar para que sua
vida esteja em harmonia com esse padrão. E Ele capacita o crente a fazer o que
Deus sabe ser viável e razoável de se esperar dele a cada estágio de seu
crescimento e maturidade.
A segunda principal
função do Espírito se relaciona com o crente em si – sua natureza e caráter. O
Espírito mantém a natureza pecaminosa do crente sob controle sobrenatural para
que ele não insista em seus maus desejos de forma que ele se separe de Cristo e
se rebele contra Deus. O Espírito o faz desejar a continuar sua batalha para
vencer seus traços pecaminosos de caráter, más tendências, e atitudes. E Ele
capacita o crente a desenvolver um caráter pessoal que crescentemente reflete
os traços santos e as justas virtudes do caráter perfeito de Cristo.
A última principal
função do Espírito tem a ver com o relacionamento de fé que o crente tem com
Jesus Cristo como seu Salvador pessoal e única fonte de justiça salvadora. O
Espírito protege o crente de cair da graça ao ajudá-lo a desenvolver visão
espiritual e reconhecer suas falhas e imperfeições, e sua conseqüente necessidade
de Cristo. O Espírito fortalece a união espiritual do crente com o Salvador e o
motiva a viver em um estado de arrependimento e fé de forma que através de
Cristo ele tenha acesso contínuo à graça de Deus e mantenha seu direito de ser
um filho de Deus e herdeiro da vida eterna.
É importante notar que
o papel do Espírito não é o da competição contra Cristo através da criação de
um caminho alternativo para o pecador atingir uma posição correta diante de
Deus independentemente da mediação de Cristo. Em nenhum lugar as Escrituras
afirmam – ou mesmo remotamente sugerem – que uma das funções do Espírito seja
ajudar o crente a transcender sua condição pecaminosa, superar seu desamparo
espiritual e imperfeição moral, e desenvolver uma justiça pessoal que seja tão
perfeita e meritória quanto a de Cristo. Ao contrário, o Espírito mantém o
crente dependendo da obra redentora de Cristo.
- A
Lei de Deus
O cenário retratado nos
escritos de Ellen White reforça o conceito bíblico de que Deus nunca
intencionou que a lei constituísse em um outro caminho de salvação – um meio
pelo qual o crente poderia desenvolver justiça impecável e adquirir mérito
diante de Deus. Ao contrário, a lei serve para quatro propósitos básicos: 1.
Ela provê princípios específicos que ajudam seres pecaminosos a entender a
distinção de Deus entre o que é certo e o que é errado, bom ou mal,
comportamento de amor ou de não amor. 2. Ela prescreve a conduta do crente
particularmente para com Deus e com o próximo. 3. Ela serve como padrão moral
de acordo com o qual Deus julga nossas vidas. 4. E por revelar nossas falhas e
deficiências em viver em perfeita harmonia com a vontade de Deus ela nos torna
cientes de nossas culpas e nos conduz a Cristo em busca de perdão e justiça
salvadora.
- O
crente
O cenário que descrevemos
nesse livro vê o crente como um pecador reconciliado com Deus através da fé em
Cristo e adotado na família espiritual de Deus, que inclui todos os crentes.
Seu relacionamento de fé com Jesus lhe dá o direito da filiação, e sua filiação
lhe dá o direito de ser um herdeiro do Reino. Por toda sua vida o crente
participa de duas realidades radicalmente diferentes ao mesmo momento. Separado
de Cristo – em si mesmo, por natureza – ele é pecaminoso, culpado, e indigno.
Contudo, em Cristo – por participar de sua obra redentora pela fé – ele é
justo, sem faltas, e digno da vida eterna. Em outras palavras ele ainda é
culpado, mas não mais condenado, ainda é pecaminoso, mas não é mais um perdido.
Por toda sua vida como filho de Deus, o crente
experimenta o desenvolvimento do caráter, a modificação do comportamento, e
crescimento espiritual e amadurecimento reais e significativos. Mas por que o
processo redentivo não foi designado para atingir sua completa realização
durante a vida presente, o crente nunca supera completamente sua pecaminosidade
pessoal e nunca transcende sua necessidade de Cristo neste lado da
glorificação. Somente quando o eternal substituir o temporal, quando o Reino da
Glória de Deus se tornar uma realidade histórica, e quando Deus finalmente
fizer Seus filhos iguais a Jesus “quando ele aparecer” (1 João 3:2; cf. Hebreus
11:39, 40; Filipenses 1:6) – somente então o crente recuperará a perfeição
original com a qual Deus criou o ser humano no princípio. Então ela será, pela
primeira vez, sem impecável em si mesmo, exatamente como nossos primeiros pais
eram antes da queda. No meio tempo o crente só pode ser justo, santo, e digno
unicamente em Cristo.
- Jesus
Cristo
O Salvador está no
topo, incapaz de ser desafiado, inigualável, no próprio centro do plano da
redenção. As Escrituras o definem como o “autor e consumador da fé” (Hebreus
12:2). Ele é o único caminho de volta ao Pai, e o único fundamento para que
estejamos em uma posição correta diante de Deus. Ontem Jesus morreu sobre a
cruz como substituto para expiar nossos pecados, nos libertar de nossa culpa, e
cancelar nossa sentença de morte. Hoje ele faz mediação por nós em Seu trono
celestial para nos assegurar a vida eterna por nos imputar Sua morte
expiatória, vitória redentora, justiça salvadora, e dessa forma nos apresenta
perfeitamente aceitáveis ao Pai. Amanhã Ele voltará para completar nossa
redenção ao remover nossa pecaminosidade e nos restaurar à perfeita integridade
espiritual que o ser humano tinha na criação. Como resultado dessa transformação,
nós refletiremos a imagem de Deus em nosso ser tão completamente como Adão e
Eva a refletiam antes da queda. Restaurados à união espiritual completa com
Deus, viveremos vidas perfeitas na presença pessoa de nosso Justo, Santo e
Gracioso Redentor.
Então o plano inicial
do Criador de um mundo justo, habitado por pessoas saudáveis, felizes, e santas
finalmente se concretizará, graças à redenção que Deus proveu em Cristo. As
marcas nas mãos de Jesus e as vestes brancas que remidos usarão por toda a eternidade
os lembra que foi Seu sacrifício expiatório na cruz em favor deles que os
salvou da morte eterna, e Sua perfeita justiça imputada a eles pela fé os
concedeu acesso à vida eterna. Essa á a razão por que a gratidão vai dominar o
céu – gratidão alegre, expressada em infinito louvor a Deus, pelo fato de que
Ele provou ser infinitamente maior do que o pecado humano. Percebendo isso,
todos os remidos de todas as eras estarão prontamente preparados para atirar
suas coroas de ouro aos pés do Salvador, e avidamente se unem ao coro universal
cantando:
Àquele que está sentado no trono e ao Cordeiro,
seja o
louvor, e a honra, e a glória, e o domínio
pelos séculos dos séculos.
(Apocalipse 5:13)
Apêndice.
Afirmações de
Ellen White que parecem dar suporte ao perfeccionismo
Nós fizemos pelo menos
três afirmações nesse livro que requerem mais elaboração: 1. Na introdução
afirmamos que apesar de Ellen White ter escrito muito sobre o tópico da
mediação de Cristo, ela nem sempre o fez tão sistematicamente ou claramente
como alguns poderiam desejar. Conseqüentemente algumas afirmações são
susceptíveis de serem mal compreendidas. Por essa razão não dever ser uma
surpresa se indivíduos as usem para dar suporte a visões que, ao invés de serem
centralizadas em Cristo e em seu ministério redentivo no céu, focam
primariamente o homem e suas magérrimas realizações aqui nesta terra.
2. No sexto capítulo
desse livro nós indicamos que Ellen White reprovou o pastor E. R. Jones por
usar seus escritos para embasar a idéia de que antes do fechamento da porta da
graça o povo de Deus pode e deve alcançar a condição na qual eles sejam
perfeitamente justos e aprendam a viver sem pecar. Algumas vezes depois ela fez
a mesma coisa com outras pessoas, tais como S. S. Davis e R. S. Donnell, que
advogavam idéias semelhantes. 3. E dissemos que algumas afirmações, se não
entendidas corretamente e propriamente aplicadas, poderiam de fato conduzir às
visões errôneas apresentadas por Jones e outros.
É importante notar logo
no começo que usualmente três fatores se combinam para conduzir a uma má
interpretação de uma passagem dada. O primeiro se relaciona com o que a
passagem realmente diz. Por qualquer que seja a razão, as palavras não são
suficientemente precisas, e por isso o leitor pode interpretá-la de mais de uma
forma. O segundo fator tem que ver com o que o pesquisador traz ao texto – suas
pressuposições e seu primeiro entendimento do assunto tratado. Seu ponto de
vista irá invariavelmente influenciar sua “audição,” a despeito de sua
sinceridade e de suas honestas tentativas de ser objetivo e de ter mente
aberta. O terceiro elemento se refere à metodologia do pesquisador e à
aplicação dos conceitos apresentados pela passagem investigada por ele.
O propósito desse
apêndice é ternário: Primeiro, descobrir se os escritos de Ellen White
realmente contêm passagens que advogam as idéias extremas tais quais as idéias
apresentadas pelo pastor Jones e seus seguidores. Segundo, explorar algumas
razões por que as visões deles não refletem verdadeiramente as passagens nas
quais eles alegam ter sustentação, e examinar algumas das inadequações
metodológicas que os guiaram em suas conclusões equivocadas. E terceiro,
estabelecer tanto quanto possível o verdadeiro significado e a real intenção
que algumas afirmações envolvem. Em outras palavras, desejamos mostrar como
tais passagens na verdade concordam com os conceitos que estabelecemos neste
livro a partir dos escritos de Ellen White.
Nós dividimos nossa
discussão em duas seções gerais. Na primeira nós consideramos algumas
afirmações de Ellen White que parecem endossar a idéia, advogada por Jones e
seus colaboradores, que tanto o corpo do homem quanto seu caráter devem ser
completamente restaurados à impecaminosidade e santidade antes do fechamento da
porta da graça. Infelizmente, o espaço não nos permite tratar desse assunto tão
inteiramente como desejaríamos. Na segunda seção examinaremos em profundidade
os escritos de Ellen White que parecem prover o mais forte suporte à teoria de
que os crentes que estarão vivos na segunda vinda de Cristo devem ser
perfeitamente sem pecado assim como Jesus.
1.
O “suporte” de Ellen White para a idéia de que os crentes devem alcançar um
estado de total santificação antes do fechamento da porta da graça.
Os conceitos sugeridos
pelo pastor E. R. Jones, as pessoas do movimento da “carne santa,” e seus
seguidores (de agora em diante referidos simplesmente como a doutrina da carne
santa) podem ser resumidos da seguinte maneira: 1. Os crentes que estarão vivos
quando Jesus voltar devem alcançar um estado de existência justa, sem mancha.
Os aspectos físicos, morais e espirituais de seus seres – o corpo como o
caráter – devem ser perfeitos, sem pecado, da mesma forma como Jesus o é. 2.
Eles devem aprender a viver sem pecar e a render obediência impecável à vontade
de Deus. 3. Finalmente eles devem atingir esse duplo objetivo antes que o
fechamento da porta da graça aconteça para o mundo. De outra forma eles estarão
desqualificados para a salvação.
A-1
O corpo do crente deve ser totalmente santificado antes que o tempo de graça
dado ao mundo chegue a seu fim.
Nessa seção nós
usaremos a questão da reprodução da imagem de Deus no crente para ilustrar como
uma metodologia falha pode conduzir à conclusão de que Ellen White dá suporte à
idéia de que mesmo o corpo do crente deve recuperar a santidade original
durante sua vida presente, na terra. Nesse processo nós veremos como uma
metodologia falha resulta em visões extremas e indesejáveis mesmo quando a
maioria dos passos que conduzem à conclusão são válidos e lógicos. Para
começar, vamos afirmar quatro pontos básicos que podemos adequadamente
estabelecer a partir dos escritos dela:
1. Deus criou o
homem em sua própria imagem, uma imagem que inclui a pessoa completa – as
dimensões, espiritual, moral, e física de seu ser (educação, PP. 15, 20;
Patriarcas e profetas, p. 45; cf. Grande conflito, p. 645). 2. A imagem de Deus
no homem foi mareada e quase totalmente obliterada pelo pecado (Patriarcas e
profetas, p.595; educação, p. 76; testemunhos para a igreja vol. 4, p. 294). 3.
Cristo veio a fim de restaurar a imagem de Deus no homem (Desejado de todas as
nações, pp. 37, 38, 478, 671; fundamentos da educação cristã, p. 436; grande
conflito, p. 645). 4. A restauração da imagem de Deus é tornada possível através
de tais meios como a obra do Espírito Santo, o conhecimento de Deus, e a
obediência aos dez mandamentos (desejado de todas as nações, p. 391;
testemunhos para a igreja Vol. 8, p. 289; nos lugares celestiais, p. 146).
Alguém poderia
construir um caso aparentemente forte em direção à idéia de que o homem inteiro
– seu espírito, alma, e corpo – tem de ser restaurado antes do fechamento da
porta da graça por citar um grupo cuidadosamente selecionado dentre os escritos
de Ellen White, tais como:
“A santificação
exposta nas Sagradas Escrituras tem que ver com o ser todo - as partes
espiritual, física e moral” (santificação, p. 7, itálicos supridos). “O
cristão verdadeiro obtém uma experiência que promove a santidade. Não tem ele na consciência uma mancha de culpa,
nem uma mácula de corrupção na alma... Seu corpo
é um adequado templo do Espírito Santo (Nos lugares celestiais, p. 200,
itálicos supridos).
“Todo cristão pode
desfrutar a bênção da santificação” (santificação, p. 85). “Mediante a
obediência vem a santificação do corpo, alma e espírito” (minha consagração
hoje, p. 250). “Todo aquele que, pela fé, obedece aos mandamentos, alcançará o estado de impecaminosidade no
qual Adão viveu antes de sua transgressão (nos lugares celestiais, p. 146,
itálicos supridos).
“Quando o Senhor
vier, os que são santos serão santos ainda. Os que houverem conservado o corpo e o espírito em santidade, em santificação
e honra, receberão então o toque da imortalidade... Quando abraçamos a
verdade de Deus, sua influência nos afeta, nos eleva, e remove de nós toda
imperfeição e pecado, de qualquer natureza for. Então nós estamos
preparados para ver o Rei em sua beleza e finalmente para no unir com os anjos
puros e celestiais no reino da glória. É
aqui que esse trabalho deve ser realizado por nós, aqui é que nossos corpos e
espíritos devem ser preparados para a imortalidade... E que é a obra que devemos empreender aqui antes
de receber a imortalidade? É preservar
nosso corpo santo, nossos espíritos puros, para que permaneçamos incontaminados
entre as corrupções tão comuns ao nosso redor nestes últimos dias. (Testemunhos
para a igreja, Vol. 2, pp. 355, 356, itálicos supridos).
Ao se colocar ênfase
sobre certos aspectos dessas passagens e forçando suas palavras ao limite, é
possível chegar a uma conclusão similar a essa: Cristo veio para que a imagem
de Deus se reproduza no homem. Através da obediência vem a santificação do
corpo, alma, espírito, e todos que obedecerem alcançarão a condição de
impecaminosidade na qual Adão um dia viveu. Uma vez que é aqui – neste mundo –
que nossos corpos e espíritos devem ser preparados para a imortalidade, se
segue que devemos alcançar tal estado de total santificação durante nossa vida
no presente antes do fechamento da porta da graça.
É importante notar que
tal conceito tem um considerável grau de consistência interna. De acordo com as
passagens citadas, a completa imagem de
Deus deve ser refletida no crente, não apenas em algumas de suas partes. Por
isso, se a imagem de Deus deve ser
plenamente restaurada na vida presente, então o processo deve incluir tanto o
caráter do homem como seu corpo. Deixar o corpo de fora desse processo de
restauração divide a imagem de Deus, e então destrói todo o argumento.
De acordo com essa
visão, a obra do Espírito e a experiência do crente na vida presente são
suficientes em si mesmas para completar o processo de restauração. Esse é o
porquê de seus proponentes dizerem que a última geração de crentes será capaz
de alcançar a condição na qual eles serão dignos de merecer o veredito final de
Deus no juízo pré-advento sob a base se suas realizações pessoais. Deus não os
irá condenar, por que adiante eles não têm mais nada errado em si mesmos. Ele
os aceitará por que a integridade espiritual que eles alcançaram em suas vidas pessoais
os faz dignos de sua aceitação. A imagem de Deus – envolvendo tanto o caráter
pessoal quanto a natureza básica do ser humano – já foi completamente
restaurada. Como resultado, eles são perfeitamente justos, como Jesus, portanto
são dignos da vida eterna.
A-2
Um exame da idéia que o corpo do homem deve ser restaurado a um estado de total
santificação antes do fechamento da porta da graça.
Parece bastante óbvio
que alguém possa construir um “bom” caso e descobrir o quanto Ellen White dá
suporte à idéia de que o corpo do homem deve ser restaurado à impecaminosidade
tanto quanto por qualquer outro aspecto da doutrina da carne santa. Por isso,
se o conceito realmente representa fielmente o que Ellen White ensinou então a
igreja não deveria ter dificuldade de aceitá-la como uma posição
verdadeiramente adventista.
Esse definitivamente
não tem sido o caso. Ao invés disso, nós temos a seguinte posição: 1. A igreja
adventista nunca endossou a idéia de que a imagem de Deus – incluindo as
dimensões, moral, espiritual e física – será completamente restaurada no crente
antes do fechamento da porta da graça. 2. Conquanto uma interpretação literal
de muitas passagens de seus escritos aparenta expressar a idéia semelhante à
posição do pastor E. R. Jones, do movimento da carne santa, e que seus
seguidores advogaram, Ellen White rejeitou as visões deles, os reprovou por mal
utilizarem seus escritos para dar apoio às suas crenças, e os alertou sobre os
perigos que seus ensinos poderiam causar à igreja em grande escala.
Esses dois fatores
deveriam nos guardar de manter tais idéias extremadas novamente. Infelizmente a
história de nossa igreja indica que enquanto o movimento da carne santa tenha
sido de vida curta, a peculiar mentalidade que seus proponentes exibiram, as visões
extremadas que eles propuseram, e a inadequada metodologia que eles usaram na
interpretação tanto das Escrituras quanto dos escritos de Ellen White,
permanecem conosco. Parece que sempre existe um segmento da igreja adventista
que não falha em fazer ressurgir o movimento anterior, que tem uma forte
atração à idéia de uma perfeição moral absoluta (completa) e uma existência de
total santidade, e que tem uma exagerada fascinação com a possibilidade de
alcançar um estado de impecaminosidade – de ser como Jesus – antes do
fechamento da porta da graça.
Desde que a igreja
adventista tem tão categoricamente rejeitado a idéia de que a imagem de Deus –
compreendendo o espírito, a alma, e o corpo do homem – será completamente
restaurada deste lado da glorificação (ou seja, antes da glorificação, Nota do
tradutor), nós limitaremos nossa discussão a considerar brevemente algumas
afirmações que deveriam nos ajudar a alcançar um entendimento mais equilibrado
desse assunto.
“Muito se pode
fazer para restaurar a imagem moral de Deus no homem, para melhorar as
faculdades físicas, mentais e morais... E se bem que não possamos pretender a
perfeição da carne, podemos possuir perfeição cristã da alma. Mediante o
sacrifício feito em nosso favor, os pecados podem ser perfeitamente perdoados.
Nossa confiança não está no que o homem pode fazer; sem, naquilo que Deus pode
fazer pelo homem por meio de Cristo. Quando nos entregamos inteiramente a Deus,
e cremos plenamente, o sangue de Cristo purifica de todo pecado (Mensagens
escolhidas, vol. 2, p. 32).
Note vários pontos
aqui: 1. “muito pode ser feito” para
restaurar a imagem de Deus no homem, para melhorar as capacidades, moral,
mental, e físicas. Claramente isso se refere a um começo, um melhoramento, mas
não uma plena restauração à perfeição moral, e integridade espiritual que Deus
primeiramente criou.
2. “não podemos reivindicar perfeição da carne” Desde que a expressão a carne se refere à nossa natureza
básica como seres humanos pecadores, e não a nosso sangue, tecidos ou ossos,
essa passagem na realidade estabelece o fato de que não podemos reivindicar
perfeição relativamente àquilo que somos como seres humanos, e não meramente
que não podemos elevar nosso corpo físico à perfeição.
3. Devemos ter
perfeição de alma. “através do sacrifício
feito em nosso favor, os pecados podem ser perfeitamente perdoados” Note
que Ellen White não liga a perfeição da alma à algo que acontece no crente –
tal como a transformação moral, o desenvolvimento do caráter, e a maturidade
espiritual. Nem ela a atribui ao crente – tal como uma obediência sem mancha,
ou vida sem pecado. Ao invés disso ela associa a perfeição de alma com o que
Deus faz para o crente através de Cristo, ou seja, o perfeito perdão e total
purificação que somente a expiação do sangue pode produzir.
A seguinte passagem é
ainda mais clara em sua rejeição da idéia de que nós podemos alcançar perfeição
na carne.
“Se aqueles que
falam tão francamente de perfeição na carne, pudessem ver as coisas sob seu
verdadeiro aspecto, recolher-se-iam com horror de suas idéias presunçosas...
Seja esse aspecto de doutrina levado um pouco mais longe, e conduzirá à
pretensão de que seus defensores não podem pecar; de que uma vez que tenham
carne santa, suas ações são todas santas (ibid.).
Três conceitos aqui
estão particularmente relacionados com nosso tópico:
1. Aqueles que crêem
que é possível para nós sermos perfeitos na
carne – ou seja, em nossa presente condição pecaminosa como seres caídos – não vêem as coisas em sua luz verdadeira. 2.
Se eles pudessem ver as coisas como elas realmente são, eles iriam retroceder
com horror de suas idéias presunçosas.
3. A crença na perfeição na carne conduz a outro erro, a saber, à errônea idéia de que por que eles se
tronaram santos, então agora eles podem viver sem pecar.
O terceiro ponto
radicalmente contradiz o conceito que discutimos anteriormente, a saber, a
idéia de que por causa de nossa natura é caída, pecaminosa, e vil, nós somos
incapazes de render perfeita obediência. Note:
“Era possível a
Adão, antes da queda, formar um caráter justo pela obediência à lei de Deus.
Mas deixou de o fazer e, devido ao seu pecado, nossa natureza se acha decaída,
e não podemos tornar-nos justos. Visto como somos pecaminosos, profanos, não
podemos obedecer perfeitamente a uma lei santa. Não possuímos justiça em nós
mesmos com a qual pudéssemos satisfazer às exigências da lei de Deus (Caminho a
Cristo, p. 62). “A lei requer justiça, e esta o pecador deve à lei; mas é ele
incapaz de a apresentar (Mensagens escolhidas, p. 367). “[a Lei] não podia
justificar o homem, porque em sua natureza pecaminosa este não a poderia
guardar (Patriarcas e Profetas, p. 373).
A perfeição teológica
que estamos discutindo aqui tem pelo menos três principais efeitos colaterais
negativos: primeiro, depois de se empenhar por algum tempo para se tornar
perfeitos no caráter e no comportamento, muitos se tornam desencorajados e
muitas vezes desistem completamente do cristianismo. Isso é particularmente
verdadeiro a respeito de jovens que como via de regra são muito honestos para
enganarem a si mesmos e acreditar que estão de fato se tornando perfeitamente
sem pecado como o foi Jesus. Segundo, a crença na perfeição sem pecado parece
ter pouco – se é que há qualquer – efeito positivo naqueles que a abraçam. Alguém
observou que não há evidências perceptíveis de que eles agora são melhores
pais, vizinhos, trabalhadores, ou que os frutos do Espírito – tais como amor,
bondade, tolerância, e fé – tenham alcançado um nível de maior maturidade neles
do que no resto dos outros discípulos, que são imperfeitos mas estão em
crescimento.
Duas razões básicas
concorrem para isso: 1. Aqueles que foram persuadidos por tais idéias
desenvolvem uma obsessão com uma santidade que é estritamente teológica ou
intelectual. Eles parecem pensar que o que realmente conta não são as
evidências tangíveis de que eles estão de fato mudando, crescendo, e
amadurecendo em Cristo, mas uma prova de que eles abraçaram a idéia de que a
perfeição absoluta e sem pecado como uma possibilidade nesta vida. Eles assumem
que se eles simplesmente se apegarem à sua crença, eles vão de alguma forma
fazer parte do remanescente. Conseqüentemente, eles geralmente são mais
preocupados com convencer a outros de suas teorias do que com o esforço em
desenvolver o fruto do Espírito em suas vidas pessoais.
2. A natureza
escatológica que a doutrina perfeição oferece àqueles que aderem a ela traz
esperança para o amanhã sem impor qualquer obrigação para hoje. Ao projetar o
alcançar a perfeição ao futuro, eles são distraídos das oportunidades e das
responsabilidades do presente. Por isso, ao invés de motivá-los a se esforçar
sobremaneira ruma à vitória progressiva sobre algum problema específico na vida
agora, eles são iludidos com uma esperança irreal de total vitória exatamente
antes do fechamento da porta da graça.
O terceiro efeito
colateral negativo da crença de que podemos ser perfeitamente sem pecado nessa
vida é sua tremenda capacidade de enganar aqueles que a abraçam, tornando-os
pessoas extremamente difíceis de dissuadir de suas idéias erradas, ou de
conduzi-los a uma mais equilibrada compreensão do Evangelho de Cristo. Ellen
White conhecia esse problema a partir de sua experiência pessoal:
“Sentimo-nos
tristes quando vemos professos cristãos desviarem-se pela falsa e fascinante
teoria de que são perfeitos, porque é muito difícil desenganá-los e levá-los ao
caminho reto” (santificação, p.12). “Justiça própria é o perigo desta época;
ela separa a alma de Cristo. Os que confiam em sua própria justiça não podem
compreender como a salvação advém por meio de Cristo” (Fé e obras, p. 96).
Note os seguintes
pontos: 1. Aqueles que acreditam ser perfeitos – que confiam nos próprios
méritos para estarem justos diante de Deus – tem sido desviados por uma idéia
errônea e sedutora. 2. Por essa razão é difícil quebrar seu apego a essa idéia
e os ajudar a entender como a salvação vem através de Cristo. 3. Ellen White
expressou tristeza e dor ao encontrá-los tão entrincheirados em sua teoria
enganosa de tal forma que eles não mais estavam aptos a entender, desejar ou
aceitar ao evangelho.
É importante lembrar
que uma pessoa não necessita dizer, “eu sou perfeita,” para ser culpada da
atitude arrogante que Ellen White achou tão ofensiva. Se tal fosse o caso,
então as afirmações dela se aplicariam a poucas pessoas, uma vez que ninguém em
sua sã consciência jamais ousou fazer tal afirmação. Ao invés disso ela
contradisse uma certa espécie de teologia, um ponto de vista específico, a
saber, a falsa e enfeitiçante teoria de que a perfeição absoluta sem pecado
deve se tornar uma realidade durante nossa vida presente.
A-3.
Uma visão mais equilibrada sobre o assunto da reprodução da imagem de Deus no
crente
Para concluir nossa
discussão nessa seção, vamos afirmar o que consideramos uma compreensão mais
equilibrada desse conceito – uma compreensão que plenamente se harmonize com o
cenário teológico baseado nos escritos de Ellen White tal como descrevemos
nesse livro: A imagem de Deus a ser restaurada no crente no momento no qual ele
é espiritualmente unido a Cristo na conversão, e continua e ser mais plenamente
reproduzida nele por toda a sua vida como cristão, e chega a sua completa,
final e permanente restauração na segunda vinda de Cristo. Naquele tempo –
quando o reino da glória substituir o reino da graça – Deus reconduzirá todos
os redimidos à condição de absoluta perfeição espiritual na qual Ele criou o
homem no princípio. Como resultado de seu ato re-criativo, todos os redimidos
irão então – pela primeira vez jamais – refletir a imagem de Deus em suas vidas
pessoais tão completamente como Adão e Eva antes da queda.
De acordo com essa
visão, a obra do Espírito Santo a e experiência do crente na vida presente –
mudança, crescimento, e amadurecimento – começam a obra da transformação, mas
somente o ato re-criativo de Deus no momento da glorificação completará a
imagem de Cristo no redimido. Desde que a completa restauração é possível
somente na segunda vinda, a última geração de crentes será dependente da
mediação de Cristo na presença do Pai da mesma forma como aconteceu com as
gerações anteriores. A despeito de seu progresso espiritual e de seu
desenvolvimento moral, a última geração não encontrará aceitação de Deus com
base de quem eles foram ou no que eles fizeram, mas no fato de que eles vieram
ao Pai através do filho, e por isso são justos em Cristo.
B-1.
O caráter do crente deve chegar a um estado de perfeição absoluta sem pecado
antes do fechamento da porta da graça
Desde que a idéia de
que o crente tem a imagem de Deus por inteiro – espírito, alma, e corpo –
reconstituída nele antes do fechamento da porta da graça é indefensável, alguns
têm argumentado que é apenas o caráter do crente que deve atingir um estado de
perfeição absoluta sem pecado por aquele tempo. As seguintes passagens são alguma
das passagens que são oferecidas como suporte a essa idéia:
“quaisquer que sejam nossas tendências
herdadas ou cultivadas para o mal, nós podemos vencer através do poder que
Ele está pronto a conceder” (o ministério da cura, p. 176 itálicos supridos). “não há dificuldade dentro ou fora que
não pode ser vencida pela força dEle... não
há natureza tão rebelde que Cristo não possa subjugar, nenhum temperamento tão tempestuoso que Ele não possa acalmar, se o
coração está rendido para ser guardado” (The watchman, 28/04/1908).
“Por meio do plano
da redenção, Deus providenciou meios para subjugar
todo traço pecaminoso, e resistir a
toda tentação, por forte que seja”
(mensagens escolhidas, vol. 1, p. 82; itálicos supridos). “Podemos vencer. Sim;
completamente, inteiramente. Jesus morreu para prover um meio de escape para
nós, para que vencêssemos todo
temperamento, todo pecado, toda tentação, e nos sentar com Ele no fim”
(Testemunhos para a igreja, Vol. 1, p. 144; itálicos supridos). “os que,
mediante uma inteligente compreensão das Escrituras, têm uma visão adequada da
cruz, os que na verdade crêem em Jesus, têm alicerce seguro para sua fé.
Possuem aquela fé que opera por amor e purifica
a alma de todas as suas imperfeições, herdadas e cultivadas” (Testemunhos
para a igreja, Vol. 6, p. 238; itálicos supridos).
“Deus espera que
nós construamos um caráter de acordo com o padrão diante de nós. Nós devemos
colocar tijolo sobre tijolo, adicionando graça sobre graça, descobrindo nossos
pontos fracos e corrigindo-os com as orientações que nos foram dadas”
(Orientação da criança, p. 165). “Por meio da aflição revela-nos Deus os
lugares infeccionados em nosso caráter, para que, por Sua graça, possamos
vencer nossas faltas” (o desejado de todas as nações, p. 301). “As provas são
parte da educação recebida na escola de Cristo, para purificar os filhos de
Deus da escória do que é terreno... Não raro permite que o fogo da aflição os
abrase, a fim de serem purificados” (Atos dos apóstolos, p. 524).
Com base numa leitura
literalista de tais afirmações, alguns argumentam que completa santificação e
perfeição sem falhas é algo mais ou menos assim: 1. Podemos vencer todas as
nossas tendências cultivadas e herdadas para o mal através dos meios que Deus
nos proveu. 2. Lutas e aflições são os instrumentos de Deus para revelar a nós
nosso caráter defeituoso para que o possamos corrigir. 3. Um correto
entendimento das Escrituras e uma fé verdadeira em Jesus purificam a alma de
suas imperfeições. 4. Deus providenciou os meios para resistirmos a todas as
tentações, mesmo as fortes, para que então pudéssemos vender completa e
inteiramente. 5. Por isso nada poderia impedir a última geração de crentes de
alcançar um estado de total justiça de existência e de uma conduta
completamente livre de pecado.
B-2
Um exame da idéia de que o caráter dos crentes deve chegar a um estado de
perfeição sem pecado antes do fechamento da porta da graça.
Antes de chegar a
quaisquer conclusões tanto sobre o significado preciso das passagens
simplesmente citadas ou da verdadeira posição de Ellen White sobre esse
assunto, devemos considerar alguns fatores e conceitos essenciais para um
entendimento correto de toda a questão: 1. Não há nada intrinsecamente errado
com essas afirmações – ela dificilmente poderia ter usado palavras de outra
maneira. Ellen White não poderia dizer, por exemplo, que nós podemos vencer algumas tendências para o mal, que Jesus
pode subjugar apenas algumas naturezas
rebeldes, e aquietar apenas alguns temperamentos
tempestuosos. Além de não ser a verdade por inteiro, tal fraseado poderia
conduzir tanto à racionalização ou ao desencorajamento por parte dos leitores
lutando com tais realidades em suas vidas.
2. O problema é criado
quando forçamos as passagens além de seus limites próprios, quando respeitamos
o fraseado, mas não a intenção, ou quando fazemos com que o significado literal
neutralize o mais profundo, e mais significativo conceito que ele contém. Há
uma radical diferença entre dizer, por exemplo, que Deus não raramente usa
provas e aflições para nos revelar alguns defeitos específicos em nosso caráter
e em afirmar que lutas e aflições são os meios através dos quais nós venceremos
“cada uma” de nossas imperfeições
para que então alcancemos perfeição absoluta. Não temos maior direito de
afirmar de que podemos ser perfeitos e sem pecado por que Ellen White disse que
podemos vencer todo pecado, do que
podemos afirmar que temos infalibilidade teológica uma vez que Jesus prometeu
que o Espírito Santo “nos guiará em toda verdade”
(João 16:13), ou que podemos prever o futuro uma vez que Paulo disse que
podemos “todas as coisas através de
Jesus Cristo” (Filipenses 4:13 King James version).
Para ilustrar como um
leitor conduzido por uma falsa metodologia pode ser levado a erros teológicos,
vamos supor que o irmão A e o irmão B leram as passagens citadas na seção B-1.
O irmão A está experimentando algumas dificuldades espirituais. Ele luta com
algumas tendências ao mal profundamente enraizadas, se esforça para melhorar
seu temperamento tempestuoso, e encara algumas tentações persistentes em sua
vida pessoal. O irmão B, por outro lado, procura em Ellen White algum suporte
para a idéia de que a última geração de crentes deve vencer todas as formas de
pecado em suas vidas e desenvolver perfeição absoluta de existência antes do
fechamento da porta da graça acontecer para o mundo.
Obviamente, cada homem
interpretará e aplicará os conceitos expressos nas passagens de forma
radicalmente diferente um do outro. O que cada um “vê” nessas passagens, o que
elas significam para cada um pessoalmente, pode ser bastante distinto. O irmão
A provavelmente percebe a partir dos textos que nenhum ser humano tem um
problema tão singular, severo, ou complicado para com o pecado que Deus não
possa o ajudar a resolver. Ele verá que seu caso não é sem esperança apesar de
tudo – como ele se sentiu tentado em acreditar. E ele se encorajará pelo fato
de que, por mais sério como seu problema possa ser, Deus providenciou os meios
pelos quais ele eventualmente achará uma solução.
Em contraste, o irmão B
muito provavelmente usa tais citações como evidências de que os escritos de
Ellen White dão suporte às suas idéias extremadas. Pois se não há nada que não
pode ser vencido através dos meios que Deus proveu, o que poderia possivelmente
impedir a última geração de crentes de se tornarem absolutamente perfeitos e
sem pecado, e moralmente justos na mesma medida do próprio Jesus Cristo?
É a esse ponto
específico que uma metodologia defeituosa nos coloca em dificuldades. Com o
objetivo de ser fiel ao texto o irmão B deve permitir com que Ellen White fale
por si mesma. Ele deve começar seu estudo estabelecendo tão precisamente quanto
por possível o que exatamente ela intencionava quando primeiramente ela
escreveu essas passagens. Dessa forma,
ele tem que determinar se ela está tentando provar – como ele está tentando –
que o crente pode e deve alcançar um estado de perfeição absoluta sem pecado
antes do fechamento da porta da graça. Se isso não for o que ela estava
tentando provar, então o irmão B não tem direito de usar as afirmações dela
como um suporte para suas idéias. Fazer tal coisa seria distorcer os
ensinamentos dela, e, portanto, fazê-lo seria eticamente incorreto e
teologicamente enganoso.
A menos que o irmão B
interprete essas passagens dentro da temática contextual à qual elas pertençam,
ele estabelecerá uma construção diferente sobre o que elas realmente dizem e
conseqüentemente fará com que elas signifiquem algo radicalmente diferente do
que Ellen White tinha em mente. Como resultado, os conceitos que ela
intencionava expressar e as idéias que o irmão B advoga não estão relacionados,
a despeito de que a linguagem usada seja a mesma. Uma passagem que é válida e
própria quando interpretada e aplicada como o autor desejava pode conduzir a
sérios problemas teológicos quando nós desconsideramos tanto seus limites,
quanto seus intentos e seu significado mais profundo.
3. Conquanto a expiação
de Cristo tenha acontecido num momento específico da história, sua obra
redentora – com todas as maravilhosas possibilidades que ela proporciona ao
crente – abrange toda a humanidade desde o princípio até o fim do tempo. Por
isso as promessas redentoras de Deus se aplicam com igual força desde ao
primeiro pecador que volveu a Deus com arrependimento e fé e até o último
pecador que o faça exatamente antes do fechamento da porta da graça.
Por isso, a segurança
da vitória que nos é revelada nas passagens tais quais estamos considerando
aqui não é algo novo e diferente e que não era real anteriormente, mas que se
tornou uma possibilidade apenas no tempo em que Ellen White escreveu a seu
respeito. Muito menos é uma promessa especial que se aplica apenas à última
geração de crentes enquanto eles se preparam para o juízo pré-advento, o
fechamento da porta da graça e para o tempo de angústia. Pelo contrário, suas
afirmações se estendem para todas as gerações de crentes, e, portanto, não
deveríamos tratá-las como se elas fossem tanto uma obrigação particular, ou um
privilégio exclusivo da última geração.
Isso nos guia a questões
cruciais: Se obter vitória sobre tudo que deve ser vencido para se atingir
perfeição absoluta sem pecado fosse tão simples quanto as passagens citadas na
seção B-1 parecem indicar, por que é que ninguém jamais transcendeu sua
pecaminosidade, imperfeição e indignidade pessoal? Por que ninguém jamais se
elevou sobre sua condição caída e teve sucesso em oferecer uma obediência
perfeita? Por que nem mesmo os profetas e os apóstolos, aqueles gigantes
espirituais que mais perto estiveram de Deus – homens que morreram por sua fé –
jamais alcançaram estado de total santificação e completa justiça própria?
Note:
“Nenhum dos
apóstolos e profetas declarou jamais estar sem pecado. Homens que viveram o
mais próximo de Deus, que sacrificariam a vida de preferência a cometer
conscientemente um ato mau, homens a quem Deus honrou com divina luz e poder,
confessaram a pecaminosidade de sua natureza. Eles não puseram a sua confiança
na carne, nem alegaram possuir justiça própria, mas confiaram inteiramente na
justiça de Cristo” (Atos dos apóstolos, p. 561).
“Quando o Espírito
de Cristo comove o coração com seu maravilhoso poder despertador, há um senso
de deficiência na alma que conduz à contrição da mente, e humilhação se si, ao
invés de jactância orgulhosa do que se atingiu” (Review and Herald,
16/10/1888). Homem
algum pode, olhando para dentro de si, encontrar em seu caráter o que quer que
seja que o recomende a Deus, ou lhe assegure aceitação. É unicamente por Jesus,
a quem o Pai deu para que o mundo vivesse que o pecador pode encontrar acesso a
Deus. Jesus, unicamente, é nosso Redentor, nosso Advogado e Mediador; nEle
reside nossa única esperança de perdão, paz e justiça” (Mensagens escolhidas,
Vol.1, pp. 332-333).
Uma vez que já
discutimos esse assunto previamente, proveremos apenas cinco razões básicas que
deveriam ajudar a responder nossas questões adequada e suficientemente no
propósito que temos aqui:
Um: a formação de um
caráter justo é uma atividade progressiva que dura o tempo de uma vida.
“A construção do
caráter é obra, não de um dia, nem de um ano, mas de uma vida inteira. A luta para vencer a si mesmo, pela
santidade e pelo céu, é a luta de uma vida. Sem contínuo esforço e
constante atividade, não pode haver avança na vida divina, nenhum alcance da
coroa da vitória” (Ministério da cura, p. 452; itálicos supridos).
A formação de um
caráter nobre é a obra de uma vida toda e deve ser o resultado de diligente e
perseverante esforço. Deus dá as oportunidades; o sucesso depende da maneira
como as usamos (Patriarcas e profetas, p.223). A preciosa graça do Espírito
Santo não é desenvolvida em um momento. Coragem, força, bondade, fé, confiança
inabalável no poder de Deus para salvar, são adquiridas pela experiência dos anos (Testemunhos para a
igreja, Vol. 8, p. 314; itálicos supridos).
Baseados nessas
passagens, concluímos: 1. Somente aqueles que começam formando um caráter nobre
no nascimento e com sucesso continuam a fazê-lo durante todo o período de sua
vida tem a chance de desenvolver um caráter sem mancha. 2. Uma vez que leva uma
vida inteira para formar um caráter justo, se segue que uma pessoa não o
completa antes do fim de seus dias. 3. Por que o fechamento da porta da graça
não completa nada, mas interrompe tudo, ele também estanca o processo do
desenvolvimento do caráter, frustrando dessa forma a possibilidade de sua
completude.
Dois: Um caráter justo
só pode ser formado somente através de
obediência perfeita.
“verdadeira
santificação... consiste
na realização alegre de nossos deveres cotidianos em obediência perfeita à vontade de Deus (Parábolas de Jesus, p. 360;
itálicos supridos). “Era possível a Adão, antes da queda, formar um caráter
justo pela obediência à lei de Deus. Mas deixou de fazê-lo e, devido ao seu
pecado, nossa natureza se acha decaída, e não podemos tornar-nos justos. Visto
como somos pecaminosos, profanos, não
podemos obedecer perfeitamente a uma lei santa. Não possuímos justiça em
nós mesmos com a qual pudéssemos satisfazer às exigências da lei de Deus”
(Caminho a Cristo, p. 62).
Por causa do fato de
que um caráter justo só pode ser desenvolvido através de perfeita obediência, e
nossa obediência é na melhor das hipóteses parcial e imperfeita, se segue
logicamente que não podemos formar um caráter de tal qualidade que Deus possa
aceitar por causa de seus próprios méritos. Quando combinamos o ponto um com o
ponto dois descobrimos que somente
aqueles que renderam obediência perfeita toda a sua vida – do nascimento à
morte – poderiam possivelmente alcançar um caráter justo. Isso deixa Jesus
numa categoria somente dele, e justamente, uma vez que Ele foi o único que
jamais viveu em plena harmonia com a vontade de Deus em todos os aspectos e por
toda a sua vida. Mas aqueles que fazem parte de um dos seguintes grupos não têm
a qualificação necessária que os habilitaria a desenvolver um caráter justo:
1. Aqueles que
experimentam períodos de estagnação ou regressão em algum tempo durante toda a
sua vida. Sua falha temporária de crescer e amadurecer retarda o progresso e,
portanto, frustra suas chances de desenvolver caráter perfeito antes do
fechamento da porta da graça. 2. Aqueles cujas vidas são cortadas cedo por
algum tipo de morte prematura – por acidente, doença, guerra, etc. – e,
portanto, têm um período reduzido para transcender suas imperfeições e então
atingir um estado de justiça. 3. Aqueles que aceitam o evangelho tarde na vida,
e conseqüentemente não têm um pleno tempo de vida durante o qual eles vençam as
atitudes pecaminosas, tendências, e hábitos, e os substituir por coisas justas.
Isso será particularmente verdade para aqueles que experimentarem a conversão
pela primeira vez exatamente antes do fechamento da porta da graça. Desde que
“a preciosa graça do Espírito Santo” “é adquirida na experiência dos anos” e
eles têm apenas um período curto durante o qual devem atingir tais virtudes,
devemos assumir que esses estariam automaticamente desqualificados.
Evidentemente temos um
problema duplo aqui. De um lado é difícil entender como alguém poderia defender
a idéia de que milhões de crentes vivendo na terra durante o tempo do fim
completarão a formação de um caráter cristão maduro exatamente antes do
fechamento da porta da graça. Como qualquer outra geração, essa consiste de
indivíduos de diferentes origens, tanto em características pessoais quanto em experiência
espiritual. Haverá crianças, adolescentes inexperientes, idosos fracos e
doentes. Alguns crentes serão cristãos há muito tempo, enquanto outros serão
bebês recém-nascidos em Cristo. Uma vez que cada um deles terá uma experiência
única com Deus e se encontrarão num estado de mudança, crescimento,
amadurecimento que será diferente uns dos outros, é totalmente irreal esperar
que todos eles alcancem caráter perfeito todos ao mesmo tempo (e da mesma
forma).
Por outro lado, é
difícil entender como alguém pode confundir tais teorias com o Evangelho das
Escrituras. Vimos anteriormente que, de acordo com as Escrituras, todos que
aceitam a obra redentora de cristo em seu favor terão a vida eterna. Jesus é
“capaz de salvar perfeitamente aqueles que vão a Deus através dele” (Heb 7:25)
independentemente de raça, cor, localização geográfica, o tempo particular em
que viveram, ou o ponto específico durante seu tempo de vida quando eles
responderam ao Evangelho com arrependimento e fé. Adiante, vimos que todos os filhos e filhas de Deus em Cristo
são herdeiros de seu reino, não apenas aqueles adotados suficientemente cedo na
vida para ter tempo suficiente para presumivelmente completar o processo de
vencer seus defeitos, desenvolver caráter justo, e aprender a viver sem pecar.
Por que ele foi a
Cristo na undécima hora, o ladrão da cruz dificilmente experimentou qualquer
desenvolvimento de caráter ou modificação de comportamento antes de ser selado
para seu destino eterno em sua morte. Ainda assim Jesus prometeu que ele estará
no paraíso. Obviamente que tal “tição tirado do fogo” (Zacarias 3:2) não é um
caso isolado. Só Deus sabe quantos milhões de pessoas por toda a história
humana tornaram a Deus pela primeira vez no leito de morte. Da mesma forma,
somente Ele sabe quantos milhões mais pela primeira vez aceitarão o evangelho
em resposta ao derramamento da chuva serôdia do Espírito Santo brevemente antes
do fim do tempo.
Agora, se somente
aqueles que transcenderam todas as suas imperfeições, desenvolveram uma
existência de justiça sem mancha, e aprenderam a viver sem pecar estariam
seguros da salvação, então nenhum dos milhões que crerão nos últimos minutos
teriam qualquer esperança de vida eterna. Nesse caso, todos que aceitaram a
Deus breve tempo antes de morrer, e todos que se tornarão crentes em resposta
ao apelo final de Deus exatamente antes do fechamento da porta da graça,
estarão eternamente perdidos por que não tiveram tempo de desenvolver essa
perfeição de caráter. Tal resultado significaria que as promessas escriturísticas
de perdão e reconciliação para aqueles que vêem ao Pai através do Filho não se
aplicariam a eles. Que eles se renderam ao mover o Espírito, aceitaram a última
mensagem de Deus de misericórdia e colocaram sua confiança completa em Cristo e
em sua obra redentora em seu favor, em vão. Uma teoria que cria complicações
tais como essas está claramente em desarmonia com o Evangelho das escrituras.
Três: Em passagens como
as que foram citadas na seção B-1, nas quais Ellen White encoraja o crente a continuar
sua luta cristã e os conclama urgentemente a se elevar a objetivos mais altos e
de se esforçar em direção à perfeição, ela é positiva sobre suas possibilidades
de serem bem sucedidos. Contudo, em passagens nas quais ela descreve a
experiência daqueles que encararão o juízo pré-advento durante suas vidas, ela
apresenta um quadro radicalmente diferente. Como vimos previamente (nos
capítulos 3 e 4) ela claramente indica que nenhum daqueles que ainda estavam
vivendo pela fé quando morreram nem aqueles que estarão vivos que estarão
vivendo pela fé quando se der o fechamento da porta da graça alcançou ou
alcançará o alvo da perfeição absoluta sem pecado. Em ambos os casos elas
menciona especificamente seus “defeitos de caráter” ou “caráter defeituoso” e sua
“dessemelhança com Cristo,” e aponta para o fato de que eles são declarados
justos perante Deus estritamente na base
dos méritos do Salvador imputados a eles pela fé.
Quatro: Os escritos de
Ellen White pintam perfeição de caráter como algo relativo e progressivo, não total e completo.
“A germinação da
semente representa o começo da vida espiritual, e o desenvolvimento da planta é
uma figura do desenvolvimento do caráter. Não pode haver vida sem
crescimento... Nossa vida pode ser
perfeita em cada estágio de seu desenvolvimento; contudo, se o propósito de Deus para conosco se
cumpre, haverá constante progresso” (Educação, pp.105, 106; itálicos supridos).
“Não somos ainda perfeitos; mas é nosso privilégio desvencilharmo-nos dos
obstáculos do eu e do pecado e prosseguir
para a perfeição” (Atos dos apóstolos, p. 565; itálicos supridos).
“O homem deve
crescer em direção a Cristo, sua cabeça viva. Não é a obra de um momento, mas
de uma vida. Ao crescer diariamente na vida divina, ele não atingirá a plena estatura de um homem perfeito em Cristo até
que seu tempo de graça termine. Esse crescimento é obra contínua”
(Testemunhos para a igreja, Vol. 4, p.367; itálicos supridos). “Enquanto reinar
Satanás, teremos de subjugar o próprio eu e vencer os pecados que nos assaltam;
enquanto durar a vida não haverá ocasião
de repouso, nenhum ponto a que possamos atingir e dizer: "Alcancei tudo
completamente." (Atos dos apóstolos, pp. 560, 561; itálicos supridos).
“Em nós mesmos somos pecadores; mas
em Cristo somos justos” (Mensagens escolhidas, Vol. 1, p.394; itálicos
supridos).
“Aqueles que estão
realmente buscando o perfeito caráter cristão, jamais condescenderão com o pensamento de que estão sem pecado...
quanto mais consagram a mente para se demorar no caráter de Cristo e mais se
aproximam de Sua divina imagem, tanto mais claramente discernirão Sua imaculada
perfeição e mais profundamente sentirão seus
próprios defeitos” (santificação, p. 7; itálicos supridos). “Não pode haver
exaltação própria, jactanciosa pretensão
à libertação do pecado, por parte dos que andam à sombra da cruz do
Calvário... Os que mais perto vivem de Jesus, mais claramente discernem a fragilidade e pecaminosidade do ser humano,
e sua única esperança está nos méritos de um Salvador crucificado e ressurgido (Grande
conflito, p. 471); itálicos supridos).
Se devemos entender a
complexa visão de Ellen White sobre esse assunto, devemos dar atenção adequada
a vários ponto aqui: 1. Conquanto ela diga que nossas vidas são “perfeitas” ao
mesmo tempo ela nos diz que “ainda não somos perfeitos.” Temos defeitos, somos
pecaminosos, erramos o alvo, e somos indignos. 2. Enquanto nossas vidas podem
ser perfeitas a cada estágio de desenvolvimento – como uma semente recentemente
germinada, como uma planta em crescimento, como um ramalhete de flor – nós
continuamos a avançar para a perfeição. 3. Nossa batalha contra o eu e contra o
pecado, de um lado, e nosso esforço por justiça e por santidade em outro lado,
nunca serão completos nessa vida. Nunca alcançaremos uma posição onde estaremos
livres do pecado ou atingiremos a perfeição de caráter antes que nosso tempo de
graça termine.
Em vista desses
fatores, concluímos que conquanto Ellen White fale da perfeição de caráter do
crente, ela entende algo radicalmente diferente das idéias advogadas pelo
pastor Jones, o grupo da carne santa, e outros. Jones e seu grupo falaram de um
produto finalizado – um estado ou momento de absoluta impecaminosidade e total
justiça que o crente efetivamente alcança. Eles escreveram sobre caráter sem mancha,
falhas, ou deficiências – um caráter que tem a mesma qualidade moral e
perfeição espiritual iguais as do Salvador. Supostamente se as pessoas que
possuíssem tais qualificações contemplassem o caráter de Cristo bem de perto, e
eles não se aperceberiam de seus próprios defeitos, como Ellen White diz ser o
caso de todos os verdadeiros crentes. Ao invés disso eles concluiriam que eles
de fato têm igualado o padrão absoluto que o caráter de Cristo estabelece, e,
portanto, que são dignos da vida eterna.
Ellen White, por outro
lado, fala de um processo de mudança, crescimento, e amadurecimento que é
progressivo e nunca chega à sua culminação nessa vida. Ela descreve uma
experiência possível apenas através de nossa relação de fé com Jesus Cristo, e
acontece dentro do contexto do Concerto da Graça. Isso nos traz um uma unidade
espiritual gradual com Cristo, e nos faz mais e mais conscientes de nossa total
dependência de sua justiça salvadora, para estarmos corretos para com Deus. De
acordo com a visão dela, nosso relacionamento pessoal com Cristo é a realidade
dinâmica que gera tanto nossa aceitação para com Deus e nosso crescimento como
discípulos.
Quinto: Os escritos de
Ellen White centralizam a perfeição de caráter do crente em Cristo e em sua
obra redentora em favor do homem.
“Cristo veio, a fim
de restaurar no homem a imagem de seu Criador. Ninguém, senão Cristo pode remodelar o caráter arruinado pelo
pecado... Veio para nos erguer do pó, reformar o caráter manchado, segundo o
modelo de Seu divino caráter, embelezando-o
com Sua própria glória” (O desejado de todas as nações, pp. 37, 38;
itálicos supridos).
“Através dos
méritos de Cristo, através de sua
justiça, que é pela fé imputada a nós, devemos atingir a perfeição do caráter
cristão (Testemunhos para a igreja, Vol. 5, p. 744; itálicos supridos).
“Apesar de a imagem moral de Deus ter sido quase obliterada pelo pecado de
Adão, através dos méritos e poder de Jesus ela pode ser restaurada. O homem deve se levantar com a imagem moral
de Deus em seu caráter, pois Jesus a dará a ele (Review and Herald,
10/06/1890; itálicos supridos).
“Os que rejeitam o dom da justiça de Cristo estão
rejeitando os atributos de caráter
que os constituiriam filhos e filhas de Deus. Rejeitam aquilo que, unicamente, lhes poderia conceder aptidão para um lugar na
ceia de bodas” (Parábolas de Jesus, pp. 316, 317; itálicos supridos).
Devemos pegar vários
pontos que ela estabelece: 1. Ellen White identifica a obra de restauração da
imagem de Deus e da transformação do nosso caráter como algo que é feito por
Cristo, e não por nós. E. Ele tornará nosso caráter belo “com sua própria
glória” – isso é claramente algo que Ele provê e não algo que nós
desenvolvemos. 3. Nós devemos atingir a perfeição do caráter cristão através
dos méritos e da justiça de Cristo imputadas a nós pela fé. Isso significa que
o método, ou o caminho para atingirmos perfeição de caráter não é centralizado
em nosso crescimento pessoal, mas na mediação de Cristo em nosso favor.
4. O crente terá
novamente a imagem de Deus em seu caráter por que “Jesus o dará a ele.” 5. A
justiça de Cristo, que somente pode ser nossa como um presente (dom), consiste
“atributo do caráter” que unicamente pode nos tornar aptos para o Reino. 6. O
caráter que Cristo formou como Deus/homem, ele imputará a nós, e é nossa
possessão do caráter de Cristo que determina nossa aceitação por parte de Deus.
“À medida que
tivermos mais clara visão da infinita e imaculada pureza de Cristo,
sentir-nos-emos como Daniel, quando contemplou a glória do Senhor e disse:
"Transmudou-se em mim a minha formosura, em desmaio." Dan. 10:8. Não
podemos dizer "estou sem pecado", antes que este vil corpo seja
transformado segundo a semelhança de Seu corpo glorioso. Se, porém, buscarmos
constantemente seguir a Jesus, será nossa a bendita esperança de nos apresentar
ante o trono de Deus sem mácula, ou ruga ou coisa semelhante; perfeitos em
Cristo, revestidos de Sua justiça e perfeição” (Para conhecê-lo, p. 361).
A passagem precedente
reforça dois pontos que mencionamos antes: 1. Não podemos clamar estar sem pecado até o segundo advento, no qual
Deus nos restaurará ao estado original de perfeição absoluta e sem pecado. Como
apontamos antes, a razão pela qual não podemos clamar estar sem pecado não é
que haja algo errado com o atual significado dessas palavras, mas por que
simplesmente isso não é verdade. 2. Se constantemente procurarmos seguir a
Jesus, nós estaremos de pé diante do
trono de Deus completos em cristo, vestidos com sua justiça e perfeição.
Claramente o que nos capacita para comparecer imaculados perante Deus não é a
perfeição de caráter que tivermos desenvolvido, mas a justiça de Deus que é
imputada a nós pela fé.
A seguinte passagem
provê o equilíbrio adequado para entendermos esse conceito corretamente.
Falando sobre a experiência de Daniel na presença do Filho de Deus (Dan.
10:5-8), Ellen White atesta:
“Todos os que estão verdadeiramente
santificados, hão de ter experiência semelhante. Quanto mais claras suas
visões da grandeza, glória e perfeição de Cristo, tanto mais vividamente verão sua própria fraqueza e imperfeição. Não
terão nenhuma disposição para dizer que
têm caráter impecável; aquilo que neles tem parecido correto e conveniente,
aparecerá, em contraste com a pureza e glória, ser indigno e corruptível. É
quando os homens... têm distorcidas visões de Cristo, que dizem: "Eu estou
sem pecado; estou santificado" (Santificação, pp. 50, 51; itálicos
supridos).
Note: 1. Essa passagem
não descreve a condição tanto de novos crentes, ou daqueles que tem uma vida
espiritual precária. Ao contrário, ela descreve aqueles que, como Daniel, “são
verdadeiramente santificados.” 2. Tais crentes não consideram e eles mesmos
como fracos imperfeitos, e indignos por causa de sua falta de discernimento
espiritual, mas por que tem uma confiável visão da perfeição de Cristo. É em contraste à sua pureza que eles vêem a
eles mesmos como eles realmente são – como Deus os veria se a perfeita
justiça de Cristo não os cobrisse.
3. Finalmente, esses
crentes não evitam afirmar que eles têm caráter sem pecado tanto por extrema
modéstia ou porque fazer tal afirmação seja inerentemente errado – mesmo por
que, não há nada errado em dizer algo que seja um fato de verdade, algo que
alguém possa substanciar com evidências sólidas. A razão pela qual “eles não
têm disposição de afirmar possuir um caráter perfeito” é que a distinta visão
que eles têm de Cristo os tornou dolorosamente cônscios de que o caráter que
eles têm está longe de ser perfeito, e por
causa disso seria errado para eles fazer tal afirmação.
“Cristo nos
apresenta a mais alta perfeição de caráter cristão que devemos ter em mira por todo o nosso tempo de vida. ... Quanto a essa perfeição, Paulo
escreve: "Não que já a tenha alcançado ou que seja perfeito; mas prossigo para alcançar aquilo para o que
fui também preso por Cristo Jesus. ... Prossigo para o alvo, para o prêmio da
soberana vocação de Deus em Cristo Jesus”
(Para conhecê-lo, p. 130; itálicos supridos).
“O ideal do caráter
cristão é a semelhança com Cristo. Há diante de nós um caminho aberto de constante avanço. Temos um objetivo a
ganhar, um padrão para alcançar, isso inclui tudo que é bom, e puro, e nobre, e
elevado. Deveria haver constante esforço
e constante progresso adiante e para cima em direção à perfeição de
caráter” (Testemunhos para a igreja, Vol. 8, p. 64; itálicos supridos). “Quando
o coração está disposto a obedecer a Deus; quando se fazem esforços neste
sentido, Jesus aceita esta disposição e este esforço como sendo o melhor
serviço do homem, e preenche a
deficiência, dando-lhe Seu mérito divino” (Minha consagração hoje, p. 250;
itálicos supridos).
Essas passagens trazem
juntas os três elementos mais significantes concernentes ao tópico do
desenvolvimento do caráter: 1. O padrão foi estabelecido – o ideal em direção
ao qual devemos nos esforçar – é a semelhança com Cristo. Isso inclui tudo que
é bom, puro, nobre e elevado. 2. A obrigação do crente é se esforçar,
perseverar, prosseguir ao alvo de atingir o objetivo da perfeição de caráter,
de experimentar constante progresso para avante e para cima por todo seu tempo
de vida. 3. Quando esse é o objetivo deliberado do crente – quando ele faz o
que Deus sabe ser razoável de se esperar dele – então Jesus aceita sua
disposição e seus esforços e preenche suas deficiências. Como resultado, o
crente é aceito como sendo justo em Cristo, pela fé, a despeito do fato de que
ele é ainda imperfeito e indigno em si mesmo, por sua natureza.
B-3
Um entendimento mais equilibrado do assunto da perfeição de caráter
Em termos gerais
podemos dizer que Deus quer cumprir um propósito duplo através do plano da
redenção: (1) restaurar o homem à condição de integridade e perfeição
espiritual no qual ele foi inicialmente criado, e (2) restaurar o
relacionamento entre Ele mesmo e o homem que o pecado destruiu. Tal restauração
dupla capacitará os redimidos a serem trazidos de volta à presença imediata de
Deus para renovar a unidade espiritual e comunhão pessoal com Deus da qual Adão
e Eva desfrutaram antes da queda.
Na maioria dos casos, o
plano de Deus para trazer o homem ao estado original se realiza totalmente em
três estágios básicos. 1. Na conversão o pecador tornado crente experimenta um
despertar espiritual fundamental. Sua atitude básica para com Deus, para
consigo mesmo, para com o pecado, e para com as pessoas muda radicalmente. Em
suas afeições ele encontra um novo centro, sua vontade se torna alinhada com a
vontade de Deus e sua vida toma uma direção inteiramente nova.
2. Por toda a sua vida
como um filho adotivo de Deus em cristo ele experimenta uma mudança
progressiva, crescimento, e amadurecimento que o capacita a refletir mais e
mais as virtudes do caráter santo de Cristo em sua vida pessoal. Essa é uma
obra progressiva que varia de pessoa para pessoa e nunca é absolutamente
completa nessa vida. Durante esse tempo, “Cristo trabalha dentro de nós e sua
justiça está sobre nós” (mensagens escolhidas, Vol. 1, p. 360 (395, nota do
tradutor)). Desde que o que Jesus faz em nós envolve o que nós somos como seres
pecadores, é sempre parcial e incompleto, e por causa disso dependemos de seus
méritos imputados a nós para sermos aceitos por Deus. Em contraste, o que Ele
faz por nós envolve o que Cristo é – sua justiça pessoal, e seu caráter
perfeito – e por causa disso é sempre total, completo e totalmente aceitável a
Deus em nosso favor.
3. Na segunda vinda de
Cristo, quando o eternal substituir o temporal, e a incorrupção à corrupção,
todos os filhos de Deus serão total e permanentemente restaurados à perfeição
absoluta na qual não há pecado. Então, e não antes disso, o pleno de Deus para
nossa redenção alcança seu cumprimento. Tanto o relacionamento que o pecado
destruiu e os seres que ele perverteu serão novamente exatamente o que eles
eram antes da queda.
2.
Uma significativa e controvertida passagem examinada
Nessa seção vamos
ilustrar como uma investigação cuidadosa de uma passagem em particular pode às
vezes levar o pesquisador a uma interpretação radicalmente diferente da
conclusão que ele teria alcançado com base numa leitura superficial do texto.
Escolhemos essa passagem em particular por três razões básicas. Primeiro, ela
aparentemente apóia a teoria de que aqueles crentes que estiverem vivos no
segundo advento devem ser perfeitos, da mesma forma que Jesus. Segundo, é uma
parte de um livro publicado na década de 1880, e por causa disso pode ter sido
que essa foi uma das passagens que Jones e seus seguidores usaram para apoiar
suas idéias extremadas. E terceiro, esse texto não é um testemunho direcionado
para um indivíduo em particular, mas é parte de um livro intencionado para ter
larga circulação pública – um fato que aumenta seu significado teológico.
“Agora, enquanto nosso grande Sumo Sacerdote
está a fazer expiação por nós, devemos procurar tornar-nos perfeitos em Cristo.
Nem mesmo por um pensamento poderia nosso Salvador ser levado a ceder ao poder
da tentação. Satanás encontra nos corações humanos algum ponto em que pode
obter apoio; algum desejo pecaminoso é
acariciado, por meio do qual suas tentações asseguram a sua força. Mas
Cristo declarou de Si mesmo: "Aproxima-se o príncipe deste mundo, e nada
tem em Mim." João 14:30. Satanás nada pôde achar no Filho de Deus que o
habilitasse a alcançar a vitória. Tinha guardado os mandamentos de Seu Pai, e
não havia nEle pecado que Satanás pudesse usar para a sua vantagem. Esta é a condição em que devem encontrar-se
os que subsistirão no tempo de angústia” (O grande conflito, p. 623;
itálicos supridos).
Uma leitura causal
poderia facilmente conduzir à impressão de que Ellen White concordava com a
idéia de que antes do fechamento da porta da graça, o povo de Deus deve
desenvolver justiça pessoal que se equipare à de Cristo e aprenda a viver sem
pecar – mesmo em pensamentos – tal como Jesus viveu. Mesmo por que, a passagem
afirma que: o povo de Deus tem que ser perfeito, que Jesus não sucumbiu à
tentação nem por um pensamento, que Satanás não pôde encontrar nele nenhum
pecado que ele poderia usar para ter vantagem, e que essa é a condição daqueles
que devem enfrentar o tempo de angústia.
Contudo, com base numa
investigação mais próxima, concluímos que tal interpretação é inaceitável.
Primeiro, por que cria alguns problemas sérios. Vamos considerar apenas três
desses problemas. 1. Se Ellen White realmente acreditava que o povo de Deus
pode e deve alcançar um estado de perfeição, sem pecado – assim como Jesus –
antes do fechamento da porta da graça, então é extremamente difícil de entender
por que ela se opôs tão decisivamente a Jones quando ele promoveu tal ideia. É
também difícil de ver como ela poderia ter advogado exatamente o mesmo
ensinamento que ela chamou de engano, provas feitas por homens, uma mensagem de
erro que impede que a verdadeira mensagem de Deus seja aceita, etc. Tal curso
de ação teria sido completamente inconsistente – uma óbvia e inaceitável contradição
que teria manchado severamente sua credibilidade para com aqueles que
desejariam levar ela a sério.
2. Fazer essa passagem
endossar as idéias de Jones a coloca em tensão com seu contexto conceitual.
Como vimos anteriormente, esse capítulo é parte que estabelece que o povo de
Deus vivendo no tempo de angústia não são mais impecáveis, justos, ou dignos de
salvação do que qualquer geração antecedente de crentes. Ela afirma que eles
podem ver pouco bem em suas vidas inteiras e estão plenamente conscientes de
suas imperfeições, fraquezas e indignidade, e conseqüentemente, dependem de
Cristo para estarem em pé diante de Deus. Eles têm a segurança da vida eterna,
não por que tenham transcendido suas condições caídas e atingido integridade
espiritual igual à de Jesus, mas por que eles se arrependeram de seus pecados e
aceitaram plenamente a obra redentora de Cristo em seu benefício.
3. Se a citação
realmente afirma que aqueles que enfrentarão o tempo de angústia devem sem tão
sem pecado e tão justos quanto Jesus Cristo, então ela contradiz um
considerável número de conceitos significativos claramente estabelecidos em
outros textos nos escritos de Ellen White. Nesse caso, seus escritos não seriam
capazes de ajudar a esclarecer a dinâmica do plano de Deus para a salvação dos
homens pecadores. Ao contrário, ao advogar duas visões opostas simultaneamente,
eles confundiriam e desviariam o leitor que acabasse por consultar primeiro um
particular grupo de escritos e que determinariam suas conclusões. Uma interpretação
que conduz a problemas tão significativos tem que ser abandonada como sendo
inadequada.
A segunda razão pela
qual a interpretação acima é inaceitável é que ela não reflete o real
significado de verdadeiro intento da passagem em questão. Quando a examinamos
mais de perto, encontramos quatro conceitos maiores e que devemos considerar
para a entendermos corretamente. 1. “devemos
procurar tornar-nos perfeitos em Cristo.” Há uma diferença sutil, ainda que
extremamente significativa, entre desejar se tornar “perfeito em Cristo” e
tentar ser “perfeito” como Cristo. Ser perfeito como Cristo é ser tão justo,
santo, e digno em nós mesmos quanto Jesus era em si mesmo. Isso significa
alcançar em nossas vidas uma integridade espiritual igual à perfeição do
salvador em cada aspecto singular. Mas essa não é a meta que essa passagem
estabelece aos crentes. Ao contrário, ela desafia o crente a se tornar perfeito
em Cristo, que, como vimos anteriormente – especialmente no primeiro capítulo –
significa ser justos através dos méritos de Cristo imputados a nós pela fé.
2. “Agora, enquanto nosso grande Sumo Sacerdote
está a fazer expiação por nós, devemos procurar nos tornar perfeitos em
Cristo.” Duas razões nos compelem a nos tornarmos como Jesus agora, enquanto
Jesus ainda está fazendo expiação por nós – por que “Os que se retardam no
preparo para o dia de Deus, não o poderão obter no tempo de angústia, ou em
qualquer ocasião subseqüente. O caso de todos estes é sem esperanças” (ibid.,
p.620). Primeiro, por que o perdão de Deus aos nossos pecados e a justiça
salvadora de Cristo pela qual somos aceitos por Deus são unicamente mediados
por Cristo enquanto Ele ministra ativamente em nosso favor na presença do Pai.
Se segue que por causa disso que se queremos que nossos pecados vão a
julgamento de antemão, e sejam apagados, se queremos estar cobertos com a
justiça imputada de Cristo e desta forma permanecer imaculado diante do
tribunal de Deus, então nós devemos nos assegurar do perdão de Deus e nos
apropriarmos dos méritos do Salvador antes que Jesus cesse de fazer mediação em
nosso benefício.
Segundo, por que o
nosso destino eterno será selado no ponto em que Jesus completar sua obra
ministerial mediadora por assegurar o veredito final e irrevogável da aceitação
de Deus. Uma vez que o julgamento cessa e nossos casos são permanentemente
lacrados, será muito tarde para fazer qualquer coisa para mudar a decisão de
Deus. Agora enquanto estamos em nosso tempo de graça – hoje é o dia da
salvação. Por isso, qualquer coisa que desejemos fazer para afetar nosso
destino eterno de uma forma ou de outra deve ser feito agora. O caso daqueles
que falharem em se tornar perfeitos em Cristo enquanto agora ele faz mediação
em nosso favor “é sem esperança” precisamente por que uma vez que Jesus complete
seu ministério mediador no céu, os
benefícios de sua obra redentora não estão mais disponíveis para eles. Como
resultado, eles perderam os únicos meios pelos quais eles poderiam ser
reconciliados com Deus e ser adotados em sua família de crentes.
3. “Nem mesmo por um pensamento poderia nosso Salvador
ser levado a ceder ao poder da tentação.” Desde que o pensamento é um processo
consciente, se segue que a passagem descreve a resposta de Cristo a situações
que ele reconhecia como incitação de pecado. Ceder mesmo por pensamento a uma tentação perceptível
seria pecar conscientemente, deliberadamente, e por vontade própria. Então
quando Ellen White mais tarde afirma que “Esta é a condição em que devem
encontrar-se os que subsistirão no tempo de angústia,” ela não afirma que eles
têm que se desenvolver em suas vidas pessoais uma justiça equivalente à
perfeição absoluta de Cristo em todos os aspectos. Ao invés disso, a passagem
diz que eles devem chegar à posição onde eles não mais cedam a uma tentação
perceptível – onde eles se recusam a
pecar por vontade própria.
4. “Satanás encontra
nos corações humanos algum ponto em que pode obter apoio; algum desejo
pecaminoso é acariciado...” Claramente a passagem não lida com o pecado em seu
aspecto mais abrangente, mas somente com o pecado acariciado. Ellen White aqui
estabelece um significativo contraste entre Jesus e o resto de nós. No coração humano Satanás acha um ponto
“pelo qual suas tentações asseguram seu poder.” Desejos pecaminosos
acariciados são como portas abertas que dão a Satanás acesso ao coração. Eles
aumentam o poder de suas tentações e facilitam suas vitórias contra nós. Em
contraste
“Satanás nada pôde achar no Filho de Deus
que o habilitasse a alcançar a vitória. Tinha guardado os mandamentos de Seu
Pai, e não havia nEle pecado que Satanás
pudesse usar para a sua vantagem.”
Desta forma podemos ver
que o que a citação está realmente dizendo é que aqueles que vão passar pelo
tempo de angústia deve ser alcançar a “condição” de não ter desejos e pecados
acariciados pelos quais Satanás possa usar para tirar vantagem em sua obra de
causar nossa ruína eterna. A seguinte passagem nos ajuda a entender a
experiência deles.
“Quando estamos
revestidos da justiça de Cristo, devemos não ter nenhum contentamento em relação
ao pecado; pois cristo estará trabalhando conosco. Nós podemos errar, mas vamos
odiar o pecado que causou os sofrimentos do Filho de Deus” (review and Herald,
18/03/1890).
Baseados em tais
considerações concluímos que essa passagem dos escritos de Ellen White indica
que aqueles que devem passar pelo tempo de angústia devem preencher três
características: Primeira, eles são
perfeitos em Cristo. Eles estão completamente perdoados – remidos no sangue
expiatório de Cristo – e cobertos com os méritos imputados do Salvador em
virtude dos quais eles ficam de pé diante do Pai justos em Cristo, pela fé.
Segunda, eles não pecam por
conscientemente, deliberadamente, ou por vontade própria. E terceira, eles não acariciam quaisquer desejos
pecaminosos ou pecados pelos quais satanás poderia ganhar vitória contra
eles.
É importante notar que a justiça descrita aqui não representa nem
um padrão mais elevado do que o que Deus designou no passado, nem um novo
método para assegurar a aprovação de Deus e de ser encontrado digno de vida
eterna. Pelo menos quatro conceitos básicos discutidos anteriormente dão
suporte a essa interpretação: 1. Deus sempre requereu uma existência de
perfeita justiça e conduta totalmente imaculada por parte de seus filhos. Então
ao invés de estar introduzindo um novo padrão único à última geração de
crentes, Ellen White reafirma o já existente requerimento por parte de Deus ao
estabelecer o fato de que Ele não abaixará essas expectativas para aqueles que
viverem “no tempo de angústia.”
2. O único caminho para
qualquer ser caído alcançar uma existência de perfeita justiça e de conduta
totalmente imaculada sempre foi o que se segue através da imputada justiça de
Cristo. A última geração encontrará aceitação por parte de Deus exatamente da
mesma forma. Nossa passagem é uma afirmação de “que” e não uma afirmação de
“como.” Ela menciona o objetivo que Deus estabeleceu sem descrever os meios que
Ele providenciou para sua realização no plano da redenção. Mas o contexto deixa
claro que enquanto o problema está em nós – nosso pecado, nossa ignorância e
fraqueza, e nossa indignidade – a solução é encontrada em Cristo, seu sangue
expiatório, sua sabedoria, seu poder, seus méritos (O grande conflito, pp. 623,
617ss.). Dessa forma ela mostra que o problema do nosso pecado só pode ser
resolvido através da obra redentora de Cristo imputada por nós pela fé.
3. Vimos previamente
que no passado alguns viveram tão perto de Deus que escolheria morrer ao invés
de conscientemente cometer um ato errado. Eles alcançaram a condição descrita
na passagem que estamos considerando. Ainda assim eles perceberam a despeito de
seu comprometimento radical e fidelidade excelente para com Deus, sua
dependência dos méritos de Cristo tanto quanto quaisquer outros seres caídos.
Essa é a razão pela qual eles confessaram sua pecaminosidade, sua indignidade,
e confiaram completamente na obra redentora, imputada a eles pela fé, para
estarem em pé diante de Deus.
4. A experiência da
igreja remanescente – os crentes que ainda estarão vivos durante o tempo de
angústia – será similar à de todos os filhos de Deus fiéis no passado. Eles
honestamente se esforçaram para viver em harmonia com a vontade de Deus,
sinceramente se arrependeram de seus pecados, e deliberadamente se afastaram de
conscientemente acariciar qualquer desejo pecaminoso. E ainda assim eles
confessarão sua pecaminosidade, reconhecerão sua indignidade, e se
entristecerão grandemente por suas falhas. Essa é o porquê de que eles
dependerem da obra redentora de Cristo em seu benefício tão completamente
quanto o fizeram todos os crentes antes deles.
Esse entendimento dessa
passagem que estamos considerando tem muitas vantagens significativas sobre a
interpretação que foi mencionada anteriormente. Primeiro, ela permite que a
passagem fale por si mesma sem ler nela algo que não está escrito quanto não
forçar os limites dela além de suas limitações próprias. Segundo, ela preserva
a consistência natural entre a passagem e o contexto conceitual – discutido
previamente no capítulo cinco – Terceiro, ela se harmoniza com os muitos
comentários que Ellen White faz sobre este assunto em muitos outros lugares de
seus escritos – alguns dos quais discutimos nesse livro. Quarto, ela evita os
sérios problemas criados por uma interpretação que tenta harmonizá-la com as
visões perfeccionistas de E. R. Jones e outros. E quinto, podemos adequadamente
substanciá-la a partir das Escrituras.
Muitas diferenças, e ainda nenhuma
diferença
Muitas diferenças
existirão entre os redimidos enquanto eles entram na cidade de ouro. Em suas
vidas sobre a terra alguns deles foram bem educados e estavam bem
familiarizados com o que Deus revelou sobre seu plano de redenção. Outros não
tinham nenhuma educação formal – eles nunca nem mesmo ouviram falar que existia
tal coisa como uma Bíblia. Alguns foram honestos, pessoas moralmente
irrepreensíveis mesmo antes de se tornarem filhos e filhas adotivos de Deus em
Cristo. Outros foram criminosos endurecidos que tiveram que lutar com suas más
tendências e hábitos viciosos durante toda a sua vida. Alguns responderam ao
Evangelho em arrependimento e fé muito tempo antes de seus casos serem
considerados no juízo pré-advento, e conseqüentemente fizeram consideráveis
progressos em seu caráter e modificaram seus comportamentos. Mas outros
aceitaram a reconciliadora graça de Deus na “hora undécima” e por isso
dificilmente experimentaram quaisquer mudanças.
Essas são diferenças
reais e significativas. Ainda assim são todas circunstanciais, e por causa
disso não têm influência no destino eterno dos envolvidos. Tanto quanto a base
de sua salvação for considerada, os redimidos serão todos iguais. Se Deus os
tivesse julgado e recompensado com base em quem eles realmente foram e no que
eles realmente fizeram, então todos eles sem exceção teriam sido achados culpados
diante dEle. Nenhum deles teria sido considerado digno de vida eterna. Mas por
que Ele os tratou na base em suas respostas à salvação providenciada em Jesus
Cristo, eles todos foram feitos participantes com Ele da herança do Pai.
Por causa de seu arrependimento
eles indicaram que eles reconheciam sua pessoal inadequação, e por sua fé eles
indicaram que aceitaram a obra redentora de Cristo em seu favor, todos os
redimidos de todos os tempos são considerados plenamente como filhos através de
Jesus Cristo e são bem vindos como convidados do banquete de casamento do
cordeiro.
Cada um deles têm uma
coroa de ouro, o sinal de vitória total através do sangue expiatório de Cristo.
E cada um deles está vestido de roupas brancas, o símbolo da perfeita justiça de
Cristo, que os deu acesso á vida eterna. Eles todos sabem:
“A justiça de Deus é mediante a fé em Jesus Cristo, para todos os que crêem;
porque não há distinção, pois todos pecaram e carecem da glória de Deus, sendo
justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo
Jesus... (Deus) o fez para demosntrar sua justiça no tempo presente, para ele
mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus.” (Romanos
3:22-26).
Essa é a razão pela qual Jesus Cristo será o primeiro e o
maior para todos os redimidos na terra renovada.
Tradução: Ezequiel Rosa Gomes Junior
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