domingo, 23 de agosto de 2009

O dom de línguas na igreja de Corinto


O dom de línguas é um dom do Espírito Santo, e isso é uma verdade bíblica inquestionável (1 Cor 12:7-11; Atos 2:4 e 33, dentre outros) mas qual a sua natureza e a forma genuína de sua manifestação?



Essa pergunta teria uma resposta clara e definitiva se considerássemos apenas a presença, natureza e manifestação desse dom no livro de Atos. Cheios do Espírito Santo e movidos pelo mesmo Espírito os discípulos falaram em outras línguas (atos 2:4) e a multidão foi tomada de perplexidade quando ouviram os discípulos de Jesus anunciando as grandezas de Deus em suas próprias línguas maternas (Atos 2:6-12).
A natureza das línguas faladas pelos apóstolos conforme relatado em Atos 2 foi a de línguas inteligíveis e isso é um fato indiscutível entre os estudiosos sérios da Palavra de Deus e entre todos que respeitam o registro Sagrado como inspirado e fidedigno, devendo ser respeitado como a verdade (Jo 17:17).
Mas o dom de línguas em 1 Coríntios 14 não é tão claro quanto em Atos e existem muitas posições diferentes e divergentes sobre o contexto histórico desse texto específico, a natureza do dom manifesto em Corinto e se sua manifestação era produzida genuinamente pelo Espírito Santo, ou se seria uma contrafação satânica a qual Paulo teria se oposto, e inda há a questão de se a manifestação moderna do dom de línguas conforme se vê nas igrejas carismáticas e pentecostais hoje seria um equivalente da experiência da igreja de Corinto.
O contexto histórico de 1 Coríntios
Ninguém duvida do fato de que a Palavra de Deus revela que a igreja de Corinto era problemática. Sem pretender dar uma lista completa de seus problemas, sabemos que a igreja de Corinto foi chamada por Paulo de carnal (3:1), uma igreja onde existia inveja, divisão e soberba (4:6-8 e 18-19), e imoralidade (5:1). Essa “pequena” amostra de problemas enfrentados nessa igreja demonstra a dificuldade dessas pessoas em Corinto em serem cristãos que vivessem à altura do chamado de Deus para eles. Ainda assim, apesar dessa situação, a igreja de Corinto não é vista como uma igreja de pessoas imorais e perdidas definitivamente, eles são chamados de santificados e chamados para ser santos (1:2), objetos da graça e da paz de Deus invocando o nome do Senhor Jesus Cristo(1:3), e uma igreja rica da palavra de Deus e do conhecimento e na qual não falta nenhum dom (do Espírito) enquanto esperam a manifestação (o retorno) do Senhor (1:4-7).
Essa situação, já no início da história da igreja cristã, nos leva a encarar com grande seriedade a parábola de Jesus em Mateus 13:18-43. O joio e o trigo estariam juntos até os momentos finais da história da igreja (Mt 13:29).
Esse é o contexto da epístola em geral, mas reconstruir o contexto histórico dos capítulos 12-14 é uma tarefa muito mais ingrata. A grande quantidade de opiniões divergentes e o fato de que muitas delas (a maioria) é fruto de fantasiosa especulação pessoal de estudiosos do texto e não de verdades históricas, e essa realidade torna a reconstrução do contexto histórico do texto discutido aqui uma tarefa amarga.
Seria o dom de línguas manifesto em Corinto, listado entre os dons do Espírito Santo (1 Cor 12:7-11/28-30), um dom semelhante ou diferente do dom manifesto em Atos?
Anthony Hoekema diz: “Os comentaristas estão muito divididos nesta questão; ainda que a maioria reconheça que as línguas do dia de Pentecostes eram idiomas estrangeiros, alguns sustentam que as línguas em Corinto eram expressões extáticas diferentes dos idiomas ordinários. Parece difícil, se não impossível, emitir um juízo definitivo neste assunto.”.

Hoekema está certíssimo quando diz que a maioria dos comentaristas do texto bíblico reconhece a verdade bíblica sobre o que aconteceu em Atos, especialmente no Pentecostes.

Já foi demonstrado biblicamente nesse texto que nessa ocasião os discípulos falaram línguas inteligíveis e conhecidas no mundo e não línguas extáticas e ininteligíveis (incompreensíveis aos homens) semelhantes às “línguas” que se manifestam entre os carismáticos e pentecostais em nossos dias.

Porém, o dom de línguas em Corinto parece ter características diferentes das que vemos em Atos e vamos analisar essa situação a partir de agora.
A natureza das línguas em 1 Coríntios

No início do capítulo 12, Paulo revela sua preocupação de que a igreja em Corinto não fosse ignorante no assunto dos dons espirituais. Isso indica que possivelmente já havia alguma confusão em torno do assunto entre os membros da igreja e Paulo agora passa a esclarecer a questão.

O apóstolo passa a lembrar aos coríntios sua experiência passada na idolatria (12:2) e coloca a primeira distinção espiritual na questão dos dons: O Espírito de Deus age no sentido de exaltar o senhorio de Jesus Cristo (12:3). A partir do verso quatro Paulo deixa claro que o Espírito Santo é um, e que é Deus quem opera tudo em todos os seus filhos, e isso com um fim proveitoso (12:7).

Apesar de o Espírito ser um seus dons são diversos:
A palavra da sabedoria, a palavra do conhecimento, a fé, o dom de curar, a operação de milagres, o discernimento dos espíritos, a variedade de línguas e a capacidade de interpretar as línguas (12:8-10).

Mas Paulo enfatiza que o mesmo Espírito, o Espírito Santo é quem realiza todas essas coisas e é Ele quem distribui individualmente cada dom, sempre com um objetivo útil. O comentário bíblico adventista (SDABC), referindo-se a esse texto (1 Cor 12:11) diz que “o Senhor controla a operação dos dons e é correto concluir que esses dons devem estar em harmonia com o plano supremo da terminação da obra de Deus na terra”.

A utilidade do dom de línguas no Pentecostes foi vasta:

Explicitamente o texto bíblico revela que o dom de línguas (inteligíveis) foi dada aos discípulos para que eles:

(1) anunciassem as grandezas de Deus nas línguas das nações dos presentes naquela circunstância em Jerusalém (Atos 2:6-12); (2) anunciassem a glorificação e exaltação de Jesus à destra do Pai (Atos 2:33); e (3) para que os pecadores ali fossem convidados a responder ao evangelho e a serem batizados para que tivessem seus pecados perdoados e recebessem eles mesmo, o dom do Espírito (Atos 2:37-38) para a salvação.

Implicitamente o texto bíblico deixa a entender que o dom de línguas foi dado também para: (1) capacitar os discípulos a pregarem o evangelho provavelmente nas regiões às quais eles iriam trabalhar posteriormente. E (2) para que as pessoas reconhecessem a presença de Deus no meio de sua igreja com poder.

A utilidade do dom de línguas em 1 Coríntios traz uma “novidade”.

Certamente os objetivos do dom de línguas segundo o padrão visto no pentecostes continuariam a ser reais e válidos, porém em 1 Coríntios Paulo acrescenta uma utilidade estranha à manifestação do dom de línguas em Atos e essa utilidade é: a de edificar a si mesmo (1 Cor 14:4). O SDABC comenta o seguinte sobre esse texto (“o que fala em outra língua a si mesmo se edifica...”). “Este dom, portanto, cumpria uma função útil e tinha seu lugar”. A posição da IASD nesse ponto é interessante, Ela não nega essa “novidade” na função do dom de línguas quanto comparado ao que aconteceu no livro de atos, pelo contrário, a igreja crê que esse dom de falar em outra língua revelado em 14:2-4 foi útil e tinha seu lugar na igreja. Esse é o ensino do Novo Testamento.

O comentário bíblico adventista acrescenta que, numa circunstância onde a presença da Palavra escrita de Deus não era abundante, é possível que fosse necessário que Deus concedesse “revelações pessoais da verdade divina” aos membros da igreja de Corinto para fortalecê-los e os edificar na verdade. Fica implícito nesse comentário do SDABC que esse dom de “línguas”, genuíno ainda que manifesto de forma diferente do visto em Atos, poderia cumprir essa função.

Essa situação comprova que nenhum dom necessário para a salvação e para a capacitação para a missão faltava aos coríntios (1 cor 1:7), porém a partir do verso cinco do capítulo 12 Paulo começa a esboçar uma correção na visão e prática espiritual dessa igreja abençoada ao mesmo tempo que problemática.

O apóstolo usa vários versos em 1 Cr 12:5-31 para demonstrar que a unidade do corpo de Cristo implica em diversidade de dons (12:27-30) como um corpo é formado por vários membros diferentes.

Ele diz também que a todos os membros batizados foi dado beber do mesmo Espírito (1 Cor 12:13) ainda que não manifestem os mesmos dons (12:29-30), provando que a idéia de que todos os batizados só recebem o Batismo no Espírito Santo depois do batismo das águas (após a conversão) e que como evidência disso devem manifestar o dom de línguas, segundo ensinam os pentecostais, é totalmente falsa e não bíblica.

O capítulo 13 da primeira carta aos coríntios demonstra qual é o dom supremo, e certamente esse não é o dom de línguas. Paulo chega a dizer que ainda que um ser humano recebesse a capacidade de falar a própria língua dos anjos isso não seria um sinal de que ele seria “batizado no Espírito Santo”. Sem o amor a única coisa que o dom de línguas significa é a capacidade de fazer barulho por parte de quem fala, não se importando se essas línguas sejam: línguas inteligíveis (nações), ininteligíveis (extáticas) ou angélicas e celestiais.

É importante dizer, entretanto, que ao citar a língua dos anjos Paulo não está declarando que algum ser humano já tenha recebido ou possa receber esse dom de forma literal, mas está dizendo que mesmo que isso acontecesse tal ser humano não seria superior a um sino barulhento de cobre se não tivesse o amor: o supremo dom do Espírito Santo e que revela a própria essência de Deus (1 João 4:8).

No capítulo 14 Paulo exorta a igreja a que seguisse o amor e procurasse com zelo os dons espirituais, principalmente o dom de profetizar (1 Cor 14:1). O servo de Deus revela que seu desejo (1 Cor 14:5) era de que todos falassem em línguas, mas lembra que o que profetiza é superior ao que fala em línguas pois edifica a igreja (todo o corpo de crentes) em contraste com quem só edifica a si mesmo (1 Cor 14:4).

Muitas tentativas de se entender a natureza do dom manifesto em Corinto tem sido de feitas e muitas conclusões têm sido apresentadas.

Alguns dizem que apesar da diferença na “forma da manifestação” do dom de línguas em atos e em corinto, o dom era o mesmo e as línguas em ambos os casos eram inteligíveis e conhecidas em algum lugar do mundo (ainda que desconhecido ao que falava no caso de Corinto). Nessa interpretação o dom manifesto em Corinto deve ser interpretado à luz do livro de Atos. Essa posição tenta resolver o impasse criado pela diferença existente entre os dons, mas acaba ignorando verdades bíblicas a respeito dessa diferença.

A mais contundente prova de que a posição que ensina que o dom em Corinto deve ser entendido com base no que aconteceu em atos é falsa é que quando o dom foi concedido no pentecostes, não havia necessidade de intérpretes ao que recebia o dom e falava numa língua estrangeira. O mesmo não ocorre em 1 Coríntios onde a pessoa que recebe o dom deveria orar para o poder interpretar (1 cor 14:13). Voltarei a discutir esse texto em breve.

Outra tentativa de se resolver o problema das “línguas” em 1 Cor é fazer uma diferença entre o significado dos termos originais do grego. Essa diferença na tradução em português não é tão clara, mas pode-se fazer uma diferença entre língua (referindo-se a uma língua extática, sobrenatural e ininteligível), e línguas (referindo-se às línguas das nações faladas e entendidas pelos homens). Essa diferenciação pode não estar equivocada ainda que às vezes possa ser usada para mal interpretar o ensino da Bíblia.

Paulo inspirado pelo Espírito Santo declara que o dom de falar outra língua (extática segundo essa interpretação) edifica ao que fala (1 cor 14:4) e não é possível ser fiel à Palavra de Deus ao se dizer que Paulo era a favor do dom de línguas(inteligíveis) mas contra o dom de se falar outra língua (ininteligíveis) se admitirmos essa diferenciação entre “dom de línguas” (inteligíveis) e “dom de falar em outra língua” (ininteligível).

Colocar Paulo a favor de um dom e contra o outro é distorcer o significado básico do texto bíblico. Não é esse o ensinamento do apóstolo dos gentios chamado por Deus para pregar o evangelho (1 Cor 14:2-4/ 13-17/ 27-28).

Voltando ao texto mencionado anteriormente (1 cor 14:13), em certo momento de sua exortação aos coríntios Paulo diz que aquele que ora em outra língua deve orar para que a possa interpretar indicando que a própria pessoa que recebia o dom continuava em ignorância quanto ao conteúdo e significado da mesma. Anthony Hoekema diz que: “É evidente que as línguas que se falavam em Corinto não podiam ser compreendidas... se não fossem interpretadas”. O texto indica que nem os ouvintes nem o portador do dom conseguiam entender o significado da língua sem a interpretação.

Alguns tentam dizer que Paulo estava aqui sendo irônico (1 Cor 14:13) para com pessoas que estavam manifestando um falso e espúrio dom de línguas em Corinto exortando-os desafiadoramente (como Elias desafiou os profetas de Baal) a buscar interpretação para aquele monte de palavras sem sentido, mas essa posição é totalmente contrária e estranha ao texto bíblico e distorce seu claro significado.

Paulo diz que, além de orar para interpretar a língua desconhecida (14:13), deve-se entender que nessa situação o “espírito” humano ora de fato! apesar de sua mente ficar infrutífera (14:14). Paulo diz também que o crente dotado deste dom fala a Deus e não aos homens (1 cor 14:2).

Paulo diz ao que recebe esse dom que ele deve orar sim com o espírito (sinônimo de falar em outra língua, interpretada em oração ou com o recebimento do dom de interpretar “as línguas” 1Cor 14:13 e 12:10), mas também orar com a mente (1 cor 14:15).

Paulo está dizendo que o relacionamento com Deus não pode ser levado adiante somente em êxtase (SDABC diz: (orar com o espírito) semelhante a um profeta em visão) ou em experiências sobrenaturais (nas quais a mente fica infrutífera), mas também em um relacionamento normal de comunhão consciente e natural (14:15).

No verso 17 Paulo afirma que quem ora a Deus em outra língua ora bem! e apenas lembra àquele que tem esse dom de que as pessoas ao seu redor não são edificadas com sua prática, e que ele deve ser restringido e controlado no culto público (1 cor 14:27-28).

Apesar de não negar a existência ou a importância do dom de fala “outra língua”, Paulo revela que sua manifestação deve seguir critérios que visem a edificação da igreja (14:12), a utilidade (12:7) e a fim de evitar as possíveis más compreensões de pessoas não cristãs na igreja conforme os textos a seguir indicam (14:6-19/22-25/27-28/40).

Paulo declara que é melhor falar na igreja 5 palavras compreensíveis (inteligíveis) do que 10 mil palavras que não se possa entender (14:19).
Paulo defende claramente a inteligibilidade das línguas em sua função de edificar a igreja (14:12) e ataca como loucura o abuso e mau uso do dom de falar em outra língua (14:9). Que fique, porém claro que, o que o apóstolo ataca é o mau uso e abuso do dom e não sua genuinidade.

Paulo, em algumas de suas sugestões relativamente à situação vivida nessa igreja, dá a entender que algumas pessoas em Corinto haviam recebido o dom de línguas e achavam que esse era o dom mais importante, ou que havia certa preeminência espiritual em tê-lo e isso explica o porquê da ênfase no amor como dom supremo (1 Cor 13) e no dom de profecia como um dom mais elevado e útil do que o dom de línguas (14:1/4-5). Paulo estava corrigindo enganos e distorções correntes entre os membros da igreja.

Billy Graham disse em seu livro: o Espírito Santo, que: “o dom de línguas mencionado em 1 Coríntios 12-14 é realmente um dos dons do Espírito menos importantes – parece até mesmo ser o último de todos. A razão disto é que muitas vezes ele não traz nenhum benefício espiritual a outros crentes”.

O amor e a profecia como elementos de edificação da igreja são elevados na Palavra de Deus, mas o dom de línguas manifesto em Corinto, conquanto fosse importante num contexto de pouco acesso por parte de todos os crentes à Palavra de Deus, é o último na lista dos dons espirituais em 1 Cor 12:8-10 indicando não sua superioridade, mas inferioridade (ainda que nenhum dom do Espírito Santo seja inútil (1 Cor 12:7) ou desprezível).

A análise que Paulo faz do dom de línguas é tão diferente da dos membros da igreja em Corinto que, ainda que muitos coríntios fossem desejosos de colocá-lo em primeiro lugar, ele o põe em último lugar.
Na realidade, o que é ainda mais surpreendente é que nas outras duas listas de dons e ofícios espirituais, isto é, em Éfesios 4:11-12, e Romanos 12:6-8, Paulo não se faz a mínima menção das línguas.


O dom de línguas manifesto em Corinto era o dom manifesto hoje entre carismáticos e pentecostais?

Toda a discussão teológica no mundo cristão de hoje em torno desse tema tem como pano de fundo a alegação do movimento pentecostal e carismático de que esse dom do Espírito Santo se manifesta ente eles e que esse dom é o sinal do batismo no Espírito Santo que eles receberam.

Na tentativa de defenderem a legitimidade de seu movimento, os pentecostais apelavam fortemente para o dom de línguas manifesto no livro de Atos, em especial na ocasião de pentecostes (de onde tiram o nome de seu movimento) como prova de que eles eram sucessores do mesmo movimento que os apóstolos e restauradores do cristianismo apostólico.

Quando a posição ficou insustentável diante do fato de que o livro de Atos sem sombra de dúvidas defende um dom de línguas inteligíveis numa manifestação extraordinária e maravilhosa, eles começaram a apelar para a primeira carta aos coríntios para basear a manifestação genuína do dom de línguas em seu meio. Porém, já foi demonstrado que também nesse caso as especificações não são atendidas.

Paulo ordena que no caso de alguém falar em outra língua na igreja deve-se seguir o seguinte cronograma:

(1) Não falem em língua estranha mais do que duas ou três pessoas; (2) Elas devem falar sucessivamente e não ao mesmo tempo; (3) deve haver interpretação do que for falado; e (4) não havendo intérprete fique calado na igreja, falando com Deus (em pensamento, na consciência). (1 Cor 14:27-28). Tem sido esses conselhos inspirados seguidos nas igrejas pentecostais e carismáticas?

A Bíblia diz que muitos são os dons, mas um só é o Espírito (1 Cor 12:4) e deixa claro que nem todos falam em línguas (1 Cor 12:30). A obrigação de se falar em línguas como evidência de que a pessoa foi batizada no Espírito Santo é uma doutrina enganosa, falsa e mentirosa. Forçar a Bíblia a dizer o que ela não diz é defender uma mentira e toda mentira é obra de satanás como dia a Palavra do Senhor (Jo 8:44).

Billy Graham em seu livro já citado escreveu: “não devemos considerar o dom de línguas como o ponto alto da maturidade do cristão. Milhões de cristãos maduros nunca falaram em línguas, e muitos dos que falaram em línguas não são maduros espiritualmente.”.

As qualidade e frutos do Espírito Santo revelados em gálatas 5 são vistos na vida de muitas pessoas que nunca receberam o dom de falar línguas (nem segundo o padrão do livro de Atos nem segundo o padrão de 1 Cor 14), mas nem por isso essas pessoas não eram batizadas no Espírito Santo e também é verdade que muitas pessoas que professam ser batizadas no Espírito estão longe de manifestar os frutos que são as verdadeiras evidências dessa verdade.

Pedro Apolinário faz uma citação importante em seu livro Explicação de textos difíceis da Bíblia:
Indica a Bíblia que toda a pessoa batizada com o Espírito Santo falaria línguas? Os pentecostais declaram de maneira enfática que os cristãos que recebem o Espírito Santo precisam falar línguas.
Eis suas declarações:
"Um cristão que não foi batizado com o Espírito Santo, tendo como prova disso o falar em línguas, é um fracalhão espiritual, comparado com aquilo que poderia ser caso fosse batizado com o Espírito Santo, de acordo com Atos 2:4."
É dogma entre as igrejas pentecostais, que o batismo no Espírito Santo sempre vem acompanhado das 1ínguas. A Constituição das Assembléias de Deus afirma: "O batismo no Espírito Santo é testemunhado pelo sinal físico inicial do falar em outras línguas, segundo o Espírito de Deus lhes concede." (Pedro Apolinário).
Seria interessante que aqueles que no mundo carismático e pentecostal negam a verdade de que é possível ser batizado e cheio do espírito Santo sem falar em línguas (como aconteceu no caso de Jesus, de Estevão, e de vários outros personagens da Bíblia) pudessem explicar a passagem da Bíblia onde está escrito:

“E se alguém não tem o Espírito de Cristo este tal não é dele” (Rm 8:9).

A Palavra de Deus está dizendo que quem não tem o Espírito Santo não pertence a Jesus e nem é salvo. Agora, se temos o batismo no Espírito Santo somente falando em línguas e de outra forma não o temos, então isso indica que quem não fala em línguas não é salvo?

Essa é a implicação natural dessa compreensão da doutrina pentecostal, mesmo que eles tentem fugir dessa situação. E por que? Por que muitos membros de igrejas carismáticas e pentecostais não falam em línguas e por que a visão pentecostal e carismática implica que alguém que aceite sinceramente a Jesus como único, suficiente e soberano Senhor e Salvador, mas não fala em línguas, não tem o Espírito Santo (Rm 8:9) e por conseqüência não é salvo, e assim ensinando o movimento pentecostal está negando a Palavra de Deus! (Rm 10:9).

O Batismo no Espírito Santo

O Espírito Santo é o consolador que viria aos crentes de forma plena após a ascensão e glorificação de Cristo nas cortes celestiais (Atos 2:33 e Jo 16:7), e como Espírito de Deus estaria conosco e em nós (Jo 14:17).

As condições para se receber o Espírito Santo são simples:

Arrependimento e aceitação do batismo (atos 2:38). É importante lembrar aqui que conquanto simples essas condições devem ser levada a sério de forma profunda.

Primeiramente arrependimento é tristeza pelo pecado na própria experiência de vida e também tristeza pela presença do pecado e na experiência de vida de todos os seres humanos.

Não podemos e nem somos capazes de nos arrepender em lugar dos outros, mas ao perceber o que o pecado fez com a humanidade, tornando as criaturas de Deus, criadas a sua imagem e semelhança, em criaturas cheias de tudo que é podre e imundo (a própria essência de satanás) e que nós mesmos participamos de alguma forma dessas más inclinações e manifestações (Efésios 2:1-2), nos arrependemos sinceramente.

Em uma segunda etapa o arrependimento é um desejo de mudar de rumo e direção, do pecado (1 João 3:4) em direção ao amor (Rom 13:10). Uma mudança de 180º graus.

A aceitação do batismo como condição de recebimento do Espírito Santo é uma realidade bíblia, mas que também tem condições para se tornar efetiva e se concretizar na experiência de vida dos cristãos.

Batismo não é mágica. É o atender a um chamado de Deus de entrega, consagração e entrar numa relação de filiação espiritual (ainda que adotiva) em relação a Deus. O próprio arrependimento é uma necessidade que precede o batismo assim como a fé (Mc 16:16).

Essas características demonstram que o batismo bíblico é uma cerimônia que indica um encontro com Deus e aceitação de sua verdade e reconhecimento de seu chamado para a salvação e para o serviço fiel (Mt 28:19-20). E sempre que essas realidades forem vividas de forma consciente na alma humana, o batismo será o momento da descida do Espírito Santo sobre a pessoa como selo e penhor.

Ainda assim, isso não impede que pessoas já batizadas nas águas e no Espírito Santo sejam ungidas, enchidas, capacitadas pelo Espírito Santo em tempos posteriores para funções e missões especiais (1 Cor 12:7).

Essas experiências posteriores ao batismo nas águas não contradizem o fato de que no batismo bíblico a pessoa é também batizada no Espírito (o mais claro exemplo disso é o batismo de Jesus).

Existem experiências na Bíblia que aparentemente fogem a essa regra, mas elas são exceções e não regra e devem ser tratadas como tal, uma vez que o contexto de cada experiência deve ser analisado de forma singular e específica.

O verdadeiro sinal, ou os verdadeiros sinais de que somos batizados no Espírito Santo

A evidência da presença do Espírito Santo na vida de uma pessoa é tão vasta como sua obra! (Dr. Wilson H. Endruveit).

A obra do Espírito Santo é convencer (Jo 16:8); converter e conceder liberdade (2 Cor 3:16-17); ungir (Is 61:1); consolar (Jo 14:16); Guiar em toda a verdade (Jo 16:13); Glorificar a Jesus (Jo 16:14); produz frutos na vida dos que lhe pertencem (gálatas 5:22-25); conceder dons aos homens (1 Cor 12:4) e etc.

Esses poucos exemplos dão um bom vislumbre da maravilhosa obra do Espírito santo na vida do ser humano redimido por Cristo na cruz do calvário e santificado pelo lavar regenerador do Espírito (Tito 3:5).

A Palavra de Deus não dá nenhuma abertura para se anular todas essas e as outras revelações a respeito da obra do Espírito Santo em favor da manifestação de apenas um dom do espírito Santo (seja qual for) como evidência do Batismo no Espírito Santo.

Uma vida transformada é a maior evidência do batismo no Espírito Santo. Uma vida que outrora estava em trevas, mas que agora conhece e proclama a maravilhosa luz de Deus (1 Pe 2:9).

A presença de Deus através do batismo no Espírito Santo na vida de uma pessoa ou de uma igreja resultará em uma pessoa ou igreja que ama a lei de Deus e a colocam em prática, pois o Espírito nos iria guiar em toda a verdade (Jo 16:13) e uma das colunas da verdade na Bíblia é a Lei de Deus (Salmo 119:142). Um resultado muito diferente deste é visto no mundo pentecostal. Quando confrontados com a Lei de Deus (Êxodo 20:1-17 e Tiago 2:10) eles justificam a transgressão em vez de se permitirem moldar e guiar pelo Espírito do Senhor (João 16:13 e Romanos 8:14). E essa é a maior prova de que a obra que é levada adiante entre eles não é do Espírito de Deus, e sim de outro espírito.

Claro que estou falando isso em relação às pessoas que se dizem batizadas no Espírito Santo, mas conscientemente rejeitam a Lei de Deus e escolhem o pecado, justificando suas transgressões distorcendo a palavra de Deus e desonrando ao Senhor, mentindo contra ele.

Não estou dizendo que as pessoas que são pentecostais, mas ainda não receberam luz suficiente para perceberem o engano nas quais estão acreditando não sejam influenciadas pelo Espírito de Deus.

Conclusão

A obra do Espírito Santo é maravilhosa e quão grande privilégio é podermos estudá-la, compreendê-la e vivê-la e essa experiência está disponível hoje e agora a todos que confiarem na Palavra do Senhor e é por isso que temos visto satanás trabalhando pesadamente para evitar que as pessoas estudem, compreendam e vivam o Batismo no Espírito Santo de forma genuína e essa é a verdadeira razão por detrás de tão grande confusão e perplexidade que envolve esse tema no mundo cristão hoje.

É triste, entretanto, que com o objetivo de desmascarar a qualquer custo essa obra falsificada e espúria que visa enfraquecer o discernimento do ser humano sobre o verdadeiro dom do Espírito Santo, algumas pessoas têm tentado distorcer desnecessariamente a verdade bíblica para defender que o movimento pentecostal não cumpre os requisitos de um genuíno derramamento do Espírito Santo.

Existe a tentativa de diminuir a força da inspiração bíblica em 1 Coríntios 14:2/4/13-17/27-28. Essa tentativa é levada adiante pela interpretação de que as idéias contidas nestes textos, citados nesse parágrafo, não são idéias de Paulo e nem Palavra de Deus, porém idéias a serem rebatidas pelo apóstolo! Isso é uma inconsistência com o significado claro e natural do texto e ao colocar-se em dúvida a verdade de Deus por detrás dos conceitos expressos nesses textos, se está colocando em dúvida a própria Palavra do Senhor (Jo 17:17). É correto dizer que esses textos são os textos mais difíceis da Palavra de Deus sobre o dom de línguas, mas nem por isso eles não são Palavra de Deus.

Paulo não insinua que o “falar em outra língua a Deus e não aos homens que não o entendem” (1 Cor 14:2) seja um falso dom. A tentativa de se dizer que essa “outra língua” seria uma língua estrangeira, inteligível e existente no mundo, mas apenas desconhecida do recebedor do dom contradiz a expressão desse dom em atos, pois em atos os que receberam o dom de falar em línguas estrangeiras não precisavam orar para interpretá-las (o que indica que eles a compreendiam e falavam miraculosamente as línguas das nações) como foi o caso desse dom manifesto em Corinto (1Cor 14:13).

Admitir, porém, um dom de língua em Corinto em padrões de alguma forma diferentes do dom manifesto em Atos não é admitir a legitimidade do falso dom manifesto nas igrejas populares e carismáticas de hoje em dia como vários versos do texto bíblico deixam claro (1 Cor 14:5-11/19/22-26/33 e 40). Esse movimento moderno cai diante da revelação de Deus e nenhum texto da Bíblia precisa ser mal interpretado para que isso fique claro!

A posição adventista é a de que a Palavra de Deus é a verdade e inspirada em sua totalidade (2 Tm 3:16). E não devemos distorcer essa verdade para atacar a falsa manifestação do dom de línguas. Espero que todos compreendam a seriedade e relevância dessas breves considerações e colocações feitas aqui.

As complicações e tensões entre o dom de línguas em Atos e em Corinto devem ser mantidas de forma saudável e entendendo-se que elas não se contradizem e muito menos dão apoio a movimentos fanáticos e falsos e que já são por eles mesmos refutados e desmascarados pela Palavra do senhor.

“E nisto conheceremos que somos da verdade, bem como, perante Deus tranqüilizaremos o nosso coração” (1 João 3:19).
Ezequiel Rosa Gomes Júnior

Um comentário:

PAULO disse...

Houve uma época em que me preocupava muito em discutir a natureza do dom de línguas em Corinto, se igual ou diferente daquele encontrado em Atos. Hoje,porém, para mim o que importa é a origem: se vem de Deus, inteligível ou não, é bem-vindo. Mas se é produto de hipnose coletiva, sugestão malígna, fraude ou qualquer outra origem, aí é caso de tratamento ou de polícia. Um abração.

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