Se eu não viera, nem lhes houvera falado, pecado não teriam; mas, agora, não têm desculpa do seu pecado. (João 15:22)
A possibilidade de ser fiel à lei de Deus (Isaías 51:7; Apocalipse 12:17; 14:12) é atestada na Bíblia, assim como a impossibilidade (Eclesiastes 7:20; 1 João 1:8, 10). Essas verdades em tensão devem ser consideradas juntas quando tratamos desse assunto, nenhuma das duas dimensões desse ser enfatizada a ponto de negar a outra.
A fidelidade que podemos (e devemos) oferecer a Deus deve ser uma bandeira a ser defendida veementemente por nós, mas ela não significa perfeição absoluta sem pecado, pois se significasse os textos mencionados, e vários outros[1] com o mesmo sentido, estariam equivocados e não poderiam ser chamados de “Palavra de Deus”, ou “verdade” (João 17:17; 2 Timóteo 3:16-17).
Esse assunto é amplo e tem sido objeto de profundas reflexões teológicas, e traduzindo um livro a respeito dele (Perfect in Christ: “Perfeito em Cristo”, de Helmut Ott) entrei em contato com a argumentação de que uma pessoa pode, em certo sentido, obedecer à lei de Deus e não obedecer ao evangelho (2 Tessalonicenses 1:8), e que ao fazer isso ela estará tão perdida quanto quem desconsidera e desobedece a lei de Deus “por completo”.
Eu achei esse argumento muito interessante e encontrei em João 15:22 um texto que pode ilustrar essa verdade.
Cristo está falando de pessoas que eram culpadas de pecado por não terem crido naquilo que ele veio lhes falar. De outra forma, Cristo diz, eles “não teriam pecado”.
Muitas coisas podem ser ditas sobre esse verso, e uma verdade que chama a atenção é a natureza relativa da afirmação de Jesus Cristo. O Senhor foca a condenação dessas pessoas no fato de que sua culpa se fundamentou na descrença de suas palavras, e não na “transgressão da lei” (1 João 3:4).
Isso obviamente não significa que Cristo isentaria aqueles homens de serem pecadores caso tivessem crido em suas palavras, pois, mesmo aqueles que creram nele foram todos pecadores, sem exceção. (Romanos 3:23).
Portanto, as palavras do Salvador indicam que para a culpa que advém da transgressão da lei de Deus há solução no evangelho, mas para a descrença nEle como Salvador não há nenhuma solução.
Através da redenção realizada na cruz, a redenção eterna (Hebreus 9:12), todo pecado pode ser perdoado (Marcos 12:31; Romanos 3:24-26). Mas aqueles que não dão ouvidos a Cristo, através da fé, não têm onde encontrar perdão diante de Deus para sua justificação e salvação.
Essa verdade é ilustrada também no santuário de Israel. Havia sido preparado por Deus um sistema sacrifical para expiar a culpa daqueles que transgredissem sua Santa Lei (Levítico 4:27-35, 6:7), mas para aqueles que se negavam em participar do processo da expiação dos pecados eram condenados à morte (Levítico 23:29).
Dessa forma, devemos nos manter em alerta para não nos iludirmos de que qualquer grau (possível) de obediência à lei de Deus tenha poder de nos oferecer paz com Deus caso venhamos a desobedecer a qualquer dimensão do evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo pela fé.
Os homens a quem Jesus se refere no verso 22 de João 15 podem ter sido homens de profundo respeito e obediência à lei de Deus, tanto quanto é possível ser respeitoso e obediente, mas isso de nada os adiantaria se eles não reconhecessem a Cristo como Messias e Salvador.
O Senhor provou a perfeição de seu caráter Divino através de suas palavras e obras, tais quais nenhum outro jamais realizou na face da terra, e ninguém teria desculpas legítimas para apresentar sua descrença para com a identidade (Deus) e missão do Senhor ( ser o Salvador da humanidade).
Cristo veio nos salvar dos nossos pecados (Mateus 1:21), e ninguém pode pretender ser, ou estar, sem pecado (1 João 1:8, 10), ou seja, ninguém pode dizer que não depende de Cristo para a salvação!
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