Também muitos dos que haviam praticado artes mágicas, reunindo os seus livros, os queimaram diante de todos. Calculados os seus preços, achou-se que montavam a cinqüenta mil denários. Assim, a palavra do Senhor crescia e prevalecia poderosamente.
Atos 19:19-20
Estudando o livro “Backgrounds of Early Christianity”
(Panos de fundo do Cristianismo Primitivo) de Everett Ferguson, me deparei com
uma seção interessante chamada: “mágicas e maldições” (p. 227-234), na qual o
autor se dedica a explicar como o mundo que viu o nascimento da religião cristã
lidava com “forças sobrenaturais” que, em sua compreensão, poderiam ser manipuladas para cumprir os
objetivos pessoais de alguém que tivesse habilidade de controlá-las através de
alguma espécie de sabedoria secreta. (p. 227).
Ferguson afirma que algumas pessoas concluem que a
magia se afina com certo aspecto da ciência moderna através da crença de que as
mesmas ações (ou no caso da magia, os mesmos encantamentos ou fórmulas),
repetidas sob as mesmas circunstâncias produziriam os mesmos resultados sempre!
Mas ele relembra que o elemento religioso também estava presente na magia pagã da
antiguidade, e que muitas vezes a noção de pedir algo aos deuses, ou de manipular os deuses para que eles fizessem o que o ser humano desejava, era confundida
como sendo uma e a mesma coisa!
Jesus Cristo carregou a acusação de ser “mago” em
certo sentido, quando “os escribas, que haviam descido de Jerusalém,
diziam: Ele está possesso de Belzebu. E: É pelo maioral dos demônios que expele
os demônios.” (Marcos 3:22). E por outro lado os cristãos também afirmavam que Satanás
era eficaz e agia com todo poder, e sinais, e prodígios da mentira na vida dos que não acolheram a verdade (2
Tessalonicenses 2:9-10). Ou seja, a religião de um grupo era acusada de ser
magia pelo outro grupo!
A Magia, em geral, podia ser simpatética ou contagiosa. Na forma simpatética o autor da
magia imitava o que ele queria que acontecesse. Se ele quisesse que alguém
sofresse ele poderia escrever maldições em uma tábua e jogar essa tábua num rio
gelado onde ela desapareceria e apodreceria. A contagiosa era fazer um ritual
com o objetivo de contagiar/contaminar de alguma forma a pessoa intencionada.
A palavra magia é derivada de magos,
que foi um sacerdote persa. A esse nome foi dado o sentido de algo que
representava a sabedoria do oriente (cf. Mateus 2:1), ou mágicos e charlatães
(Atos 13:6, 8). E a crença básica dos magos era de que haviam duas esferas de
realidade, a natural e a sobrenatural, e que era possível inteferir no mundo
sobrenatural a partir do mundo natural. Ou seja, através do correto emprego de
fórmulas e rituais os deuses poderiam ser “obrigados” a realizar algo que o
mago ordenasse.
Apuleius escreveu um livro chamado metamorfose
e seus leitores manifestavam tanto ou mais interesse nos aspectos da magia
do que nas histórias de amor em seu livro (p. 229). A magia reinava suprema na
antiguidade tardia, e mais tarde veio a receber apoio e legitimação da
filosofia.
Todas as dimensões da religião pagã estavam envolvidas de certa forma
com a magia. A astrologia, a noção de hierarquia entre deuses, a crença em
poderes e demônios, a busca por maravilhas, ocultismo, mistérios, e a noção de
destino (que podia ser quebrado pela interferência da magia).
Nos papiros mágicos de Paris, foi encontrada uma invocação mágica do “Deus
dos hebreus”, uma vez que a ajuda de nenhuma divindade era descartada. Eles
invocavam todo e qualquer “deus” com a noção de que conhece invocar o nome correto de certa divindade
daria poder ao mago sobre a divindade em questão. Uma história que envolve essa
atitude é descrita em Atos 19:11-20 quando alguns judeus exorcistas “tentam”
invocar o nome de Jesus sobre endemoniados e são humilhados pelos espíritos imundos.
Tal episódio ocorreu em Éfeso, que era um dos centros da magia no mundo daquele
tempo, a ponto de as fórmulas mágicas serem conhecidas como ephesia gramata (as palavras de Éfeso).
A maioria dos pedidos mágicos era de caráter mundano: os quatro
principais objetivos eram (1) feitiços eróticos; (2) pedir proteção contra
males diversos; (3) lançar maldições sobre outros; e (4) prever o futuro. Mas
por vezes incluía desejo de cura, de vencer embates jurídicos, por jogos
esportivos e assuntos econômicos, dentre outros.
Dessa gama de informações a respeito do mundo da magia no contexto do nascimento
do cristianismo, podemos tirar algumas lições importantes em um momento
histórico onde a magia invade a sociedade e prevalece como objetivo de
interesse e curiosidade, especialmente da classe adolescente/jovem ocidental,
motivada por livros, games e filmes imersos na atmosfera do oculto, e também
quando igrejas agem como verdadeiros centros de magia “cristã” para atrair
dinheiro e prestígio!
O mundo da magia é o mundo do sobrenatural, mas também da superstição e da
ignorância, e essas características demonstram seu potencial em fazer
o mal através dos agentes sobrenaturais (demoníacos, com certeza), ou da
própria ignorância por si mesma!
Satanás e seus anjos agem com eficácia e poder, como vimos anteriormente,
e tentam fazer com que a influência da magia pareça sempre inocente e
convidativa através de coisas estúpidas como simpatias, e noções de sorte ou
azar, ou conhecimento e manipulação do futuro. E não é de se admirar que muitos seres humanos se permitam influenciar
por horóscopos, feitiçarias, e coisas desse tipo.
Mas a pior dimensão da magia é quando Satanás a usa para destruir a
relação entre Deus e o homem, em sua esfera religiosa cristã. Por exemplo,
quando lemos o livro do Ferguson, e a descrição que ele faz da invocação do Deus
de Israel, em encantamentos mágicos, sob a crença de que a simples invocação do
nome de Deus pudesse dar poder ao homem sobre a divindade invocada, somos
capazes de vislumbrar com horror e tristeza a teologia dos “principais”
pregadores do Brasil hoje, em termos de poder financeiro, alcançe midiático e de público, pois
todos eles enfatizam a “confissão positiva,” a linguagem do “eu determino” (em nome
de Jesus) [???], além de milhares de produtos (sabonetes, etc.) ou elementos naturais (água, flores, etc.) que seriam "poderosos e ungidos" para livrarem a sua vida de todo mal! Qualquer semelhança com a macumba mais simples não é coincidência. Magia negra em nome Cristo, uma vez
que os objetivos de poder político e social, e financeiros não são outra coisa que não escuros e tenebrosos!
Que Deus tenha misericórdia de um povo que é pagão por natureza, e que
se ilude com um falso evangelho, onde mandingas são feitas por sacerdotes do
diabo, disfarçados de ministros de Cristo (2 Coríntios 11:15) e declarando todas as bênçãos do céu sobre quem lhe entregar seu
dinheiro, e as maldições para quem ousar questionar o príncipe deste mundo! “O
fim deles será conforme as suas obras”!!!
Entretanto, o cristianismo verdadeiro não se curva à magia. Essas duas
forças interagem em guerra espiritual, desde o início do movimento
cristão até hoje, e sabemos que será assim até o fim quando o falso profeta
maravilhar o mundo com sua “mágica” (Apocalipse 13:13).
Em nossa caminhada na verdade do Evangelho entendemos que o poder de
Deus se manifesta na igreja não por manipulação do nome de Deus ou de Cristo (cf.
Apocalipse 19:2), mas por sua Graça e Boa Vontade para conosco, que se
manifestam na realidade de nossas vidas mesmo em meio às aflições que vivemos
neste mundo (João 16:33). Por isso adoramos e amamos o Senhor que nos amou
primeiro (1 João 4:19).
A Deus seja a Glória para sempre!
Vem Senhor Jesus!
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