A igreja de Cristo na Terra será imperfeita, mas Deus não destrói Sua igreja por causa de sua imperfeição.
(EGW, A igreja remanescente, p. 42)
“Perfeccionismo”
Versus “Nova Teologia” – Uma discussão em perspectiva.
Minha
história pessoal com o tema
Desde que Jesus Cristo
me alcançou, eu aprendi muita coisa que eu não sabia. Além disso, tornei-me uma
pessoa muito melhor que era, apesar de permanecer até hoje um ser humano muito
ruim, imaginem então como que eu era antes desse encontro! Mas de tudo que
aprendi como cristão adventista um assunto me chamou mais a atenção do que os
outros (sem fazer juízo de valor sobre temas diferentes), o tema da perfeição
cristã, especialmente à luz da ideia do fechamento da porta da graça. Esse tema
concentrou grande parte do meu interesse teológico e dos meus esforços
acadêmicos desde há muitos anos até hoje.
Houve um tempo (entre
seis e três anos atrás, mais ou menos) onde eu discutia quase que diariamente
esse assunto na internet de maneira geral com pessoas que pensam de forma
diferente de mim, várias delas. Nesse processo aprendi muito sobre a teologia
pós-lapsariana e sobre as pessoas por detrás dessa teologia. Não que as muitas
pessoas diferentes que crêem nessa ideia sejam todas iguais, longe disso, mas
os padrões de pensamento e construção teológica não variam muito nas discussões
específicas, então já li, vi e ouvi repetidamente os mesmos argumentos sendo
colocados por pessoas diferentes em contextos diferentes a fim de defender uma
e a mesma ideia, podemos (ou poderemos em breve) viver sem cometer pecado.
A ideia em si (viver
sem pecar) não me foi inicialmente repulsiva quando comecei a entrar em contato
com ela, mas a forma de se defender essa possibilidade sempre me pareceu, no
mínimo, insatisfatória. O maior responsável humano por minha ojeriza pelo
perfeccionismo foi um ex-professor de teologia no IAENE (instituto adventista
de ensino do Nordeste) extremamente culto, gente fina acima da média dos
pastores professores de teologia e alguém radicalmente ancorado nas questões
básicas dessa ideia no adventismo. O nome dele era Joaquim de Azevedo. Ele
defendia dentro e fora do SALT (seminário latino americano de teologia) a
natureza pecaminosa de Cristo e “idêntica” à nossa natureza, a vitória completa
sobre o pecado antes e/ou após o fechamento da porta da graça e a possibilidade
de atingirmos genuína “perfeição”.
Eu era novo na igreja
quando cheguei ao seminário de teologia e não tinha o menor preconceito contra
tais ideias, as avaliei sempre com a seriedade que elas merecem. Mas nesse
processo uma coisa em especial me chamou a atenção, sempre tive a impressão de
que essa ideia toda incluía a defesa de um ponto de vista um pouco estranho. E
o ponto é o seguinte:
As
pessoas pecam e são imperfeitas “porque querem pecar e ser imperfeitas” por sua
rebeldia deliberada em aceitar “a verdade” (venha ela da
Bíblia ou de EGW, com ênfase especial nessa segunda fonte de autoridade).
Essa impressão foi a primeira
razão que me fez questionar as teorias do professor supracitado e tudo o que
elas representam na IASD.
Logo, entretanto, eu entendi
que a visão dele não era a única visão dentro da igreja e tive especialmente um
professor radicalmente contra todo esse “perfeccionismo” do Joaquim. O nome
dele era Luis Nunes. Um pastor inspirador por sua forma contundente de pregar o
Evangelho. Um excelente ganhador de almas, batizou milhares de pessoas através
de sua atuação evangelística na época em que não era professor. Ele foi uma
grande influência na minha vida.
Isso tudo ocorreu há
quase 10 anos atrás (estudei no IAENE entre 2007 e 2008) e me fez pensar muitas
coisas sobre muitas coisas. Sempre li muito e sempre fui alguém com pensamento crítico
e dediquei-me a aprender esse assunto especificamente. Nesse processo todo,
amadureci imensamente como cristão e como líder da igreja e a partir da
construção das minhas próprias convicções sobre o assunto é que passei a
defender a verdade e a atacar o erro sendo fiel à minha consciência baseada na
Bíblia acima de tudo. Hoje, provável e possivelmente sou o pastor brasileiro
que mais produziu materiais em áudio sobre esse assunto em geral em todo o
território da DSA, mesmo sendo iniciante no ministério adventista.
Através de minha
postura sobre o tema fiz muitos amigos e alguns inimigos, mas não por vontade
própria. Hoje, há quem me ame e há quem me deteste. Há quem creia que eu sou
usado por Deus e há quem creia que eu sou usado pelo Diabo. Mas as discussões
sobre esse assunto precisam ser supra-pessoais. Não estamos numa luta de
Joaquim contra Luis Nunes, nem de Perfeccionistas malignos contra Pecadores
contumazes. A luta em torno desse assunto é uma luta em torno da verdade bíblica
a respeito da humanidade, do pecado, de Cristo, da salvação e do fim do mundo.
No passado, quando eu
discutia esse assunto e perdia muito tempo com ele nas redes sociais, tive
posts que chegaram a ter mil comentários. Centenas ou milhares de textos
bíblicos e de EGW eram colocados aliados a centenas ou milhares de argumentos.
Com esse tipo de embate eu comecei a amadurecer minha abordagem e quando eu
comecei a aprender a combater essa ideia de forma mais efetiva, contundente e potencialmente
séria, aqueles que tentavam me converter para “a verdade da vitória contra o
pecado” começaram a tentar a prejudicar meu ministério por meios que só mesmo o
inferno conhece e admite. Isso me mostrou como é que é a tal vitória contra o
pecado e perfeição na prática.
Ver amplamente como
essa ideia toda funciona na teoria e na prática me fez perder parte de minha
proverbial paciência com essa discussão e tenho estado, em grande medida longe
dela, já há uns 2-3 anos. Mesmo assim, eu sou apaixonado por esse assunto e
esporadicamente voltei nos últimos 2-3 meses a postar coisas sobre isso e a
discutir com amigos que têm acreditado nessa ideia. Tem sido bom, mas sinto o
chamado a colocar as questões em torno dessa discussão em termos mais claros
para o benefício e instrução daqueles que desconhecem a teoria e as implicações
práticas dessa longa briga hermenêutica dentro da IASD. A isso me dedicarei
brevemente no que se segue.
Contextualizando
os descontextualizados
Na última quinta
feira (25/02) publiquei uma breve provocação no facebook dizendo assim: “Gente!
Descobri que a ‘Nova Teologia’ adventista mudou a compreensão tradicional e
unânime da cristologia da igreja a partir de 1950 com a publicação do livro Questões sobre doutrina e agora ensinam
erroneamente que não podemos guardar a lei de Deus e que somos pecadores
(quantos absurdos!!!), vê se pode?”
E abaixo coloquei a
citação:
“ela (a lei) não
podia justificar o homem, porque em sua natureza pecaminosa este não a poderia
guardar”
Ellen G. White,
1890
_______________________________________________
Algumas pessoas
escreveram pontos de interrogações nos comentários (???), mas eu estava sem
tempo naquele momento de explicar a piada. Limitei-me a dizer que aquilo se
tratava de uma “treta sem fim”.
Então, abaixo recebi
uma resposta longa e desafiadora de um amigo pós-lapsariano, chamado Juliano, dizendo
assim:
______________________________________________
Ezequiel, o texto
supracitado, como muitas vezes faz, foi retirado do contexto ou não? Por vezes,
você acusa outros, até mesmo colegas de ministério, de desonestidade por
descontextualizar. Porém, mais uma vez você cometeu a mesma infração, o que me
leva a lembrar da admoestação em Mateus 7:1-3.
O trecho citado podemos
encontrar em Patriarcas e profetas, p. 268. Recomendo que se leia o capítulo,
porque ele afirma exatamente o contrário do seu exposto. Para não delongar,
aqui apenas postarei a parte anterior ao citado, para demonstrar:
“Havia, porém, uma
verdade ainda maior a ser-lhes gravada na mente. Vivendo em meio de idolatria e
corrupção, não tinham uma concepção verdadeira da santidade de Deus, da
excessiva pecaminosidade de seu próprio coração, de sua completa incapacidade
para, por si mesmos, prestar obediência à lei de Deus, e de sua necessidade de
um Salvador. Tudo isto deveria ser-lhes ensinado.
Deus os levou ao Sinai;
manifestou Sua glória; deu-lhes Sua lei, com promessa de grandes bênçãos sob
condição de obediência: “Se diligentemente ouvirdes a Minha voz, e guardardes o
Meu concerto, então [...] me sereis um reino sacerdotal e o povo santo.” Êx
19:5,6. O POVO NÃO COMPREENDIA A PECAMINOSIDADE DE SEUS CORAÇÕES, E QUE SEM
CRISTO LHES ERA IMPOSSÍVEL GUARDAR A LEI DE DEUS; e prontamente entraram em
concerto com Deus. Entendendo que eram capazes de estabelecer sua própria
justiça, declararam: "Tudo o que o Senhor tem falado faremos, e
obedeceremos." Êx 24:7. Haviam testemunhado a proclamação da lei, com
terrível majestade, e tremeram aterrorizados diante do monte; e no entanto
apenas algumas semanas se passaram antes que violassem seu concerto com Deus e
se curvassem para adorar uma imagem esculpida. Não poderiam esperar o favor de
Deus mediante um concerto que tinham violado; e agora, vendo sua índole
pecaminosa e necessidade de perdão, foram levados a sentir que necessitavam do
Salvador revelado no concerto abraâmico e prefigurado nas ofertas sacrificais.
Agora, pela fé e amor, uniram-se a Deus como seu Libertador do cativeiro do
pecado. Estavam então, preparados para apreciar as bênçãos do novo concerto.
As condições do
"velho concerto" eram: Obedece e vive - "cumprindo-os [estatutos
e juízos] o homem, viverá por eles" (Ez 20:11; Lv 18:5); mas "maldito
aquele que não confirmar as palavras desta lei". Dt 27:26. O "novo
concerto" foi estabelecido com melhores promessas: promessas do perdão dos
pecados, e da graça de Deus para renovar o coração, e levá-lo à harmonia com os
princípios da lei de Deus. "Este é o concerto que farei com a casa de
Israel depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei a Minha lei no seu interior, e
a escreverei no seu coração. [...] Porque lhes perdoarei a sua maldade, e nunca
mais Me lembrarei dos seus pecados." Jr 31:33 e 34.
A mesma lei que fora
gravada em tábuas de pedra, é escrita pelo Espírito Santo nas tábuas do
coração. Em vez de cuidarmos em estabelecer nossa própria justiça, aceitamos a
justiça de Cristo. Seu sangue expia os nossos pecados. Sua obediência é aceita
em nosso favor. Então o coração renovado pelo Espírito Santo produzirá os
"frutos do Espírito". Mediante a graça de Cristo viveremos em
obediência à lei de Deus, escrita em nosso coração. Tendo o Espírito de Cristo,
andaremos como Ele andou. Pelo profeta Ele declarou a respeito de Si mesmo:
"Deleito-Me em fazer a Tua vontade, ó Deus Meu; sim, a tua lei está dentro
do Meu coração." Sal. 40:8. E, quando esteve entre os homens, disse:
"O Pai não Me tem deixado só, porque Eu faço sempre o que Lhe
agrada." João 8:29.
O apóstolo Paulo
apresenta claramente a relação entre a fé e a lei, no novo concerto. Diz ele:
"Sendo pois justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor
Jesus Cristo." Rm 5:1. "Anulamos, pois, a lei pela fé? De maneira
nenhuma, antes estabelecemos a lei." Rm 3:31. "Porquanto o que era
impossível à lei, visto como estava enferma pela carne" - ou seja, ela não
podia justificar o homem, porque em sua natureza pecaminosa este não a poderia
guardar - "Deus, enviando o Seu Filho em semelhança da carne do pecado,
pelo pecado condenou o pecado na carne; para que a justiça da lei se cumprisse
em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito." Rom.
8:3, 4” (ênfase suprida)
Então como vemos na
inspiração, ao vir o Filho em semelhança de carne pecaminosa (sem discutir a
natureza dessa expressão paulina), e condenar o pecado na carne, foi tornado
possível ao homem, pela graça de Deus, harmonizar-se com a vontade divina,
cumprindo-se a justiça da lei em nós, “escrita pelo Espírito Santo nas tábuas
do coração”. Bem sabemos o que significa “coração” nos idos da antiguidade.
Israel já poderia ter esse benefício pela fé no Messias vindouro, mas falhou
nisso. Por que repetir o mesmo erro hoje imputando impossibilidade?
___________________________________________________
As dúvidas daqueles que
desconhecem a discussão aliadas às convicções e provocações do meu amigo
indicam que esse tema precisa continuar a ser trabalhado entre os adventistas
brasileiros.
Aproveitando a manifestação
do Juliano outros, como o Marcell, também se aproveitaram para dizer coisas do
tipo assim: “Ele [referindo-se a mim, Ezequiel] adora isolar essa frase de tudo
que é texto do Espírito de Profecia para contradizer o que a própria EGW
ensinou. Lamentável.”
A partir disso eu
afirmei que iria responder às afirmações deles, mesmo diante do fato de que
eles NUNCA respondem satisfatoriamente àquilo que se lhes pergunta. A reação do
Juliano foi dizer que eles respondem sim, mas “não da forma como eu gostaria” e
então o Marcell disse que a minha “tática” ao debater o assunto poderia ser
resumida assim:
1) isolar passagens
claras da Bíblia e do Espírito de Profecia;
2) distorcer o sentido
para fazer crer que podemos viver uma vida pecaminosa e que a “graça” de Deus
vai passar tudo por alto;
3) repetir a acusação
de Satanás de que é impossível para os filhos de Adão obedecerem à lei de Deus;
4) fazer perguntas sem
sentido para desviar do foco;
5) acusar os
pós-lapsarianos de “perfeccionistas”; e
6) achar que está com a
razão. Fim do debate.
Diante desse amplo
contexto passo a me dedicar ao breve esclarecimento dos pontos principais desse
debate cada vez mais atual.
_________________________________________________________
O
que é contexto e o que é descontextualizar?
Juliano me pergunta se
a frase “a lei não podia justificar o homem, pois em sua natureza pecaminosa
este não a poderia guardar” não está “descontextualizada”. A partir dessa
pergunta ele supõe que a resposta seja sim, além de supor que eu combato a descontextualização
feita por “colegas de ministério” e que, por isso, eu deveria ler Matheus 7:1-3
e me envergonhar diante de minha terrível hipocrisia em ver os erros dos outros,
mas não os meus.
Essa argumentação
ignora milhares de problemas, vamos a alguns deles.
Juliano não nos oferece
uma definição de “descontextualização”, não oferece um ou mais exemplos onde eu
combato alguma forma de descontextualização e ainda ele pessoalmente descontextualiza
os textos de EGW que citou e Matheus 7:1-3 para me acusar! Estranho, no mínimo!
Perguntemos: Qual é o
contexto da citação de EGW que eu ofereci? Os parágrafos imediatamente
anteriores e superiores ou o capítulo inteiro ou o livro inteiro ou a obra de
EGW inteira? Creio que tudo isso faz parte do “contexto”, sendo assim, qualquer
pessoa que retira uma frase, meia dúzia de parágrafos, um capítulo ou um livro
do “contexto” da obra de EGW como um todo, envolvendo TUDO que ela escreveu, “descontextualiza”
o que ela disse para se concentrar na discussão ou aplicação de ideias particulares
presentes em determinados pontos de um texto escrito por ela.
Por exemplo. Na visão
de “descontextualização” como “isolamento de passagens de um contexto imediato”,
o próprio Juliano retira alguns parágrafos do capítulo “a lei e os concertos”
e, nisso, ele “descontextualiza”, pois que ele não citou o capítulo inteiro!
E mesmo que ele tivesse
citado o capítulo inteiro ainda teria “descontextualizado” o capítulo de uma
obra maior, um livro, e mesmo que tivesse citado o livro inteiro teria “descontextualizado”
esse livro de uma obra maior, o conjunto de todas as coisas que EGW jamais
escreveu em toda sua vida.
Assim, se esse tipo de
argumentação for correta e não podemos “descontextualizar”, então não podemos
citar NENHUMA frase, parágrafo, capítulo ou livro de EGW em nenhuma discussão,
pois teremos que citar tudo que ela escreveu (cem mil páginas) em cada post e
discussão no facebook.
Mais um exemplo, se
isolar frases de um texto maior e mais completo é sinônimo de descontextualizar, então separar
Matheus 7:1-3 do restante do Evangelho de Matheus também é descontextualizar. E
é isso que Juliano faz, ele cita apenas a parte do livro (7:1-3) que ele acha
que é adequado aos propósitos imediatos dele e não cita os versos do final do
capítulo 6 nem os próximos do capítulo 7 (aliás, Matheus 5-7 foram uma unidade,
um só sermão da montanha).
É óbvio que a
descontextualização de frases e ideias são frequentemente mal feitas e podem
ser mal usadas (cf. Mt 4:5-6), mas isolar uma frase para discutir ou pregar sua
ideia não é sinônimo de fazer isso. Posso fazer uma mensagem unicamente sobre
Matheus 7:1-3 sem precisar ler e pregar o sermão da montanha inteiro em
determinada ocasião, assim eu também posso citar essa frase de EGW sem precisar
citar meia dúzia de parágrafos anteriores ou posteriores a título de “contextualização”.
A discussão precisa ser
outra. Matheus 7:1-3 é um texto contraditório em relação a seu “contexto”, essa
porção do texto isolada prega o “contrário” do que o sermão da montanha? Essas
são as perguntas a serem feitas e se as respostas fossem positivas então
teríamos contradição na palavra de Deus. Matheus 7:1-3 em contradição com 5:15,
ou 6:9, ou 8:3 e assim por diante.
Com EGW é da mesma
forma, se a informação que eu expus é CONTRADITÓRIA ao contexto, então há uma
contradição em EGW, essa frase está em contradição com outra(s) frase(s) e
assim por diante.
Minha convicção pessoal
é que EGW não se contradiz e se eu estiver correto, a frase dela que prega a
incapacidade do homem guardar a lei em função de sua natureza pecaminosa é
verdadeira e as implicações disso são imensas para o pós-lapsarianismo.
Mas se alguém quiser
defender que a frase dela é contraditória com o pensamento dela, que traga seus
argumentos e se prepare para ensinar a igreja sobre quais frases de EGW são
verdadeira daquelas que não são, uma vez que assim percebemos que não podemos
confiar em tudo que EGW disse.
________________________________________________
O
homem pode ser perfeito em guardar a lei e viver sem pecar?
É isso mesmo?
Juliano termina sua provocação dizendo que a vinda
de Cristo em semelhança de carne pecaminosa torna possível ao homem, pela graça
de Deus, harmonizar-se com a vontade divina de forma que a lei de Deus é
escrita no coração do homem.
Eu não tenho nenhuma objeção a essa lógica a menos
que ela seja usava para pregar que Jesus capacitou o homem a viver
absolutamente sem pecado após sua vinda, não é isso que vemos no Novo
Testamento. João pecou após a vinda de Cristo (1 Jo 1:8; Ap 22:8-9), Paulo
também (Rm 7:14-25), Pedro também (Gl 2) e Tiago também (Tg 3:2). Esses homens
escreveram suas cartas bem depois que Cristo já tinha vindo em semelhança de
carne pecaminosa e condenado o pecado na carne e capacitado o homem a ter a lei
de Deus no coração, mas não vemos vitória absoluta contra o pecado na vida
deles.
Além disso, a pergunta
do Juliano: “Por que repetir o mesmo erro hoje imputando impossibilidade [em o
homem guardar perfeitamente a lei de Deus]?” demonstra uma dúvida direta ao que
EGW disse, de que em sua natureza pecaminosa o homem não poderia guardar a lei,
mas o Juliano chama essa mensagem de “erro”. Em outras palavras, EGW só fala a
verdade quando ela concorda com os pós-lapsarianos!
Mas e se essa
impossibilidade do homem guardar a lei em função de sua natureza tenha sido
passageira e superada, que mal há nisso? Essa é uma boa questão e nos ajuda a
desmascarar outra pilar da fé pós-lapsariana, a “natureza pecaminosa” de
Cristo.
Para o benefício da
argumentação, concedamos ao Juliano que as coisas sejam assim. Antes de Cristo
vir em semelhança de carne pecaminosa ERA impossível ao homem obedecer a lei,
mas AGORA É possível ao homem obedecer a lei mesmo com sua natureza pecaminosa.
A pergunta que surge nesse contexto é:
Jesus Cristo já teve “natureza
pecaminosa’ idêntica à natureza pecaminosa do homem por um milésimo de segundo
durante sua história na terra durante a encarnação? Por que essa pergunta é
importante? Porque ela desmorona o pressuposto pós-lpasariano.
Se a natureza
pecaminosa dos homens lhes impediu de guardar a lei (no passado, um dia), então
Jesus que guardou a lei de Deus perfeitamente durante toda a sua vida JAMAIS
teve a mesma natureza pecaminosa que o homem, de outra forma ou Jesus teria
deixado de ser capaz de guardar a lei ou seria MENTIRA que a natureza
pecaminosa impede o homem de guardar a lei (o que EGW afirma com clareza). Ou
seja, mesmo concedendo que essa impossibilidade era apenas passageira e já está
superada, ainda assim, isso não ajuda o pós-lapsarianismo. Além disso, se
realmente a impossibilidade está superada, desejamos conhecer pós-lapsarianos
SEM PECADO hoje (cf. Ec 7:20). Apresentem-se a nós, por favor e provem que a
Palavra de Deus não se aplica a vocês! Grato.
________________________________________________
Contradição
no Espírito de Profecia?
Uma das acusações que
me foram feitas nessa discussão toda é que eu isolo frases de EGW para negar o
que EGW disse. Essa acusação é um pouco confusa para mim e pressupõe que há
frases contraditórias na obra dela. É isso mesmo? Há frases verdadeiras e frases
mentirosas na obra de EGW? Se sim, como identificar as que são verdadeiras das
que são mentirosas?
_______________________________________________
Por fim, o Marcell disse
que eu tenho uma estratégia de:
1) isolar passagens
claras da Bíblia e do Espírito de Profecia;
2) distorcer o sentido
para fazer crer que podemos viver uma vida pecaminosa e que a “graça” de Deus
vai passar tudo por alto;
3) repetir a acusação
de Satanás de que é impossível para os filhos de Adão obedecerem à lei de Deus;
4) fazer perguntas sem
sentido para desviar do foco;
5) acusar os
pós-lapsarianos de “perfeccionistas”; e
6) achar que está com a
razão. Fim do debate.
A esses pontos me
dedicarei brevemente.
1) Não creio que as
passagens de EGW estejam divididas entre as “claras” e as “não-claras”. Creio
que todas, ou a maioria pelo menos, delas são simples e as complexidades lidam
mais com os conceitos e implicações subjacentes do que com as frases em si.
Por exemplo, a frase
que o homem “NÃO PODERIA guardar a lei” vinda da pena de EGW é MUITO CLARA, mas
é problemática à luz dos conceitos e implicações que tal frase tem diante de
outras frases dela e etc, mas o problema não é de “clareza”.
Não poder “isolar” uma
frase de EGW para estudá-la equivale a dizer que não podemos “isolar” um
versículo bíblico para estudá-lo. E essa metodologia não é coerente, mesmo
porque, quem estaria apto a definir o número mínimo de frases ou versículos que poderíamos "isolar" a fim de estudar um tema qualquer? Polêmica inútil.
2) EGW afirma que temos
“deficiências inevitáveis” (ME, v. 3, p. 195-196), portanto, pregar que somos
inevitavelmente pecadores e deficientes não é “distorcer” o sentido do que ela
ensinou, é apenas reconhecer o básico da realidade. Quem quiser contender que
se levante dizendo que Jesus só aceita quem for “ex-pecador”.
3) Se a ideia de que é
impossível guardar a lei é satânica, então EGW foi usada por ele ao escrever a
frase destacada de Patriarcas e Profetas:
“a lei não podia
justificar o homem, pois em sua natureza pecaminosa este NÃO A PODERIA GUARDAR”.
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4) Dê-me exemplos de
perguntas sem sentido e que desviam o foco que eu fiz a você(s).
5) Quem reclama de ser
acusado de ser “perfeccionista” não deveria acusar os outros de forma direta e
indireta de ser apóstata usado pelo Diabo para pregar a mentira dentro da
igreja sem jamais discutir ou esclarecer o mérito da questão e sem jamais
demonstrar na prática a famosa "vida perfeita e sem pecado", possível, pelo menos em teoria.
6) A Palavra de Deus
está com a razão e ela afirma claramente que não há homem "que não peque".
Graça e Paz
Saibam mais...