Esse texto despretensioso não tem
por objetivo discutir se o cristão “deve” (ou não) ir ao cinema, nem incentivar ninguém
a ir. Esse texto simplesmente pressupõe que muitos cristãos, inclusive adventistas do sétimo dia, vão ao cinema e
diante desse fato eu escrevi sobre 10 maneiras de glorificar a Deus nesse famigerado ambiente de cultura e entretenimento. Essa lista não é, nem de longe, exaustiva, mas representativa dos princípios gerais que devem nortear o consumo de praticamente qualquer produção midiática feita num mundo caído.
1- Se você vai ao cinema, decida de antemão a jamais “divinizar” a indústria do
cinema, sua filosofia ou estilo de vida ou seus diretores, atores e atrizes.
Eles não podem nem devem guiar sua vida e exigir sua devoção acima de qualquer
coisa. Essa indústria é humana e imperfeita como tudo o que é humano é
imperfeito. Somente o verdadeiro Deus é digno de ser o centro de nossa adoração
(Ne 9:6) e somente Ele é capaz de oferecer sentido seguro à nossa existência
(Sl 48:14). Nunca troque sua relação com Deus por NADA nem NINGUÉM.
2- No cinema, percebe-se as “imagens” idealizadas por seus criadores de forma a fundamentarem e refletirem seus conceitos
de: sucesso; alegria; poder; medo; beleza e inúmeros outros. Mesmo conceitos
mais complexos e profundos como: moralidade, ética, geopolítica, psicologia, filosofia
e teologia são retratados de muitas formas por tal indústria, a maioria delas
enviesadas numa direção contrária à da cosmovisão bíblica. Ainda que você vá ao
cinema regularmente (ou não tanto) jamais aceite quaisquer “imagens” acriticamente e
jamais confunda o bem e o mal (Is 5:20). Compreenda a cada uma delas da melhor
forma possível e as rejeite e denuncie sempre que estiverem em contradição com a verdade
revelada por Deus através de sua Palavra, de seu Filho e de seu Espírito.
3- Quem vai ao cinema não demora
a perceber que Deus é um “tema” quase sempre presente nos filmes de forma
explícita, mas perceberá também que frequentemente Ele é retratado de forma
irreverente e/ou blasfema. Essa é uma das
maiores razões para que o cristão pense e repense sua “comunhão” com essa
indústria em sentido geral, mas tal não implica em que seja necessário rejeitar
por completo a ida ao cinema. A Bíblia também traz descrição de pessoas tolas
que negam a existência de Deus (Sl 14:1) ou de inimigos que lhe blasfemam o
nome (Sl 74:18), e nem por isso rejeitamos ler a Bíblia para evitarmos entrar em
contato com esse tipo de ideia a fim de que elas “não nos influenciem” a nós
mesmos negarmos a existência do Senhor ou lhe blasfemarmos o nome. Assim como
somos capazes de ler descrições de ações pecaminosas sem nos tornarmos escravas
delas por esse simples fato, também somos capazes de ver filmes que retratem
pecados sem nos tornarmos escravos desses mesmos pecados por causa disso, para
tal resultado seria necessário que houvesse submissão voluntária nessa direção (Rm 6:16).
4- Compre seu ingresso de cinema
com dinheiro ganho sem precisar transgredir a lei de Deus. Ou seja, além de não
ganhar seu dinheiro com criminalidade e/ou
pecados em geral (especialmente roubo e mentira, os mais comuns em relação a esse tema),
lembre-se de ordenar a sua vida no ritmo de seis dias de trabalho e tendo o
sábado do sétimo dia de descanso, conforme a ordem do Senhor que criou o mundo
em seis dias e descansou no sétimo (Ex 20:8-11), e então desfrute do que seu
dinheiro pode te oferecer para a glória do Deus vivo.
5- No cinema se retrata tudo (ou
quase tudo) o que é humano. Hollywood também tem sua visão sobre família, sendo
essa uma área extremamente complexa da nossa existência. Existem muitas
dinâmicas potencialmente complicadas nas relações familiares e o cinema explora
isso com grande apelo emocional e social. Além disso, a superação de valores
tradicionais é uma faca de dois gumes que é muito complexa de ser avaliada
nesse contexto aqui. Por um lado, é óbvio que nenhuma família ou nenhum
conjunto de valores ou relacionamentos familiares é absolutamente ideal em
todas as suas manifestações, de forma que frequentemente podemos e devemos ir
além das tradições familiares em nossa busca por identidade e liberdade. Ainda
assim, a total rejeição de tudo o que é “tradicional” pode fazer com que pessoas
rejeitem o próprio fundamento da civilização em troca de uma busca por
libertinagem irrestrita em torno da satisfação do egoísmo natural do pecador cuja
malícia lhe “subverte” (Pv 13:6). A dinâmica social em torno desses temas é
ampla e devemos estar alertas para que as filosofias, práticas e ideais de uma
indústria que visa acima de tudo o lucro não venham a bagunçar o fundamento de
nossa sobrevivência, convivência, respeito e amor no contexto familiar.
6- Quando for ao cinema tente
vencer uma espécie de ciclo vicioso no qual muitos caem que é o de se
empanturrar de “porcarias” que lhe enchem o estômago enquanto o filme enche a
sua mente. Talvez você devesse levar petiscos e bebidas o mais saudáveis
possíveis para curtir a sessão escolhida para a glória de Deus (1 Co 10:31). Lembrando
que o próprio Supremo Tribunal Federal do país já decidiu que você pode levar para
dentro do cinema o que você quiser comer sem precisar comprar lá o que lhe
apetecer.
7- O cinema é uma arte que
envolve fortemente a questão da imagem e, sendo assim, é natural que a exploração
da beleza e sensualidade de atores e atrizes seja um dos principais chamarizes
dessa poderosa indústria. Antes de rejeitar o cinema como culpado por gerar o “pecado
sexual”, porém, deve ser fácil entender que as dificuldades humanas com a
sexualidade não dependem desse tipo de mecanismo de propagação para existir. O
livro de Gênesis é recheado de histórias de promiscuidade e pecado sexual nível
“hard core”. Naquela época o mundo ainda estava muito longe de conhecer a
sétima arte, mas já era expert em transgressão do sétimo mandamento da lei de
Deus (Ex 20:15). Obviamente que precisamos cuidar com a excitação de nossa
natureza carnal em torno do tema (Mt 5:28), mas isso não é um problema somente para quem vai ao cinema, mas
também para quem vai à praia ou ao centro da cidade, ou a uma festa de
familiares e amigos, ou a quem vê televisão ou acessa a internet. Em resumo, a
sexualidade é um “problema” de quem está vivo no planeta terra,
independentemente do cinema. Glorificar a Deus na sexualidade é um desafio para
todos.
8- A glamourização da parte do
cinema da violência ou de estilos de vida desordenados de uma forma geral (uso
de drogas lícitas ou ilícitas, aceitação do roubo, da mentira, do adultério, da
zombaria e de muitas espécies de males) é um retrato vívido da decadência do
ser humano. Somos uma raça que aparentemente se orgulha de sua própria miséria. Essa realidade
(aliada àquela descrita no terceiro ponto) é a mais forte razão para que o cinema
perca seu brilho e encanto na vida do cristão. Ainda que não precisemos e nem
devamos atribuir à ida ao cinema o status de ”pecado” (cf. Rm 4:15), sabemos
que não há comunhão entre o certo e o errado (2 Co 6:15). Obviamente, também é verdade que nada é tão simples que
não possa ser complicado. A Bíblia é um livro CHEIO de descrições de violência,
imoralidade sexual, traição e maldades geral. Como um exemplo simples desse
tipo de enredo na Bíblia eu proponho uma ilustração (saibam de antemão que sou
péssimo em ilustrações, mas de vez em quando eu tento ilustrar... rsrs). Se tornássemos
passagens bíblicas em filmes, uma das principais produções de toda a história
se chamaria “a hora do poder das trevas”, um filme de terror estrelando Jesus
Cristo, torturado e morto numa cruz (cf. Lc 22:53)! Se as
pessoas não pudessem ir ao cinema pela necessidade de se afastarem de “ter
comunhão” com quaisquer histórias violentas e negativas e ruins, elas deveriam
enxergar que a Bíblia, mais cedo ou mais tarde, deverá ser tomada como um livro
impróprio por gerar imaginações e contato com histórias que descrevem profundo
pecado e maldade em amplas direções. As pessoas podem ir ao cinema para a glória
de Deus tanto quanto podem ler a Bíblia para a glória de Deus, sempre buscando
em tudo discernir a natureza essencial do que é negativo (Hb 5:14) para poder
aprender a vencer o mal com o bem (Rm 12:21).
9- Algumas pessoas defendem que é
impossível “glorificar a Deus no cinema” pelo fato de que essa indústria vive
da “mentira” ou “ficção”. Antes de dar um cheque mate no cinema em nome dessa
situação, quem assim argumenta deveria admitir que a Bíblia contém “ficção”,
rejeitaremos a ela também?
Juízes 9:8-15 fala das árvores decidindo qual delas
deveria reinar entre elas, Lucas 16:19-25 retrata uma conversa envolvendo pessoas que já morreram, as parábolas
do Antigo e Novo Testamentos contam histórias irreais com aplicações
espirituais diversas. A ficção faz parte da vida humana em inúmeros contextos e
não deve ser rejeitada simplesmente por “representar” a realidade. A fantasia
pode ser um problema para pessoas muito imaginativas e pouco práticas,
especialmente diante de quadros de fragilidade ou patologia psicológica, mas
mais uma vez o problema não é o cinema em si, mas a fraqueza humana de tais e
tais pessoas. Recomendo a realidade acima da ficção, sempre, mesmo porque
frequentemente a vida supera a arte, mas a representação da vida faz parte da
arte e pode ensinar muitas coisas a quem esteja disposto a aprender.
10- Deus é glorificado no cinema quando seu povo
avalia qualquer conteúdo nele veiculado à luz de sua Palavra (Jo 17:17) e faz
disso um exercício para se tornar mais e mais seletivo e consciente em relação
a toda mídia que consome em todo e qualquer ambiente ou circunstância ou
momento de sua peregrinação neste mundo, tudo para louvor da graça de Deus em
Cristo Jesus (Ef 1:3-6)!
Nenhum comentário:
Postar um comentário