O príncipe do exército do Senhor em Josué 5:14 é um personagem importante no contexto da conquista de Canaã por parte do povo de Israel, um povo fragilizado por séculos de escravidão e opressão e sem os recursos materiais e bélicos que estavam disponíveis aos povos de Canaã. Israel dependeria totalmente da poderosa intervenção de Deus em seu favor para ser vitorioso na conquista da terra, ao lutar contra povos mais organizados e preparados para a guerra que eles tanto em teorias e estratégias quanto experiências de batalhas reais.
Após a travessia do Jordão “Deus conduziu os israelitas em três eventos: O rito da circuncisão, A celebração da Páscoa, e o comer dos frutos da terra de Canaã. Todos esses eventos eram para a edificação de Israel. Depois viria uma experiência para Josué apenas”. Josué fora exaltado aos olhos de Israel (Josué 3:7) como um líder que estava na presença de Deus e tinha sua benção. Josué era homem de grande experiência em lidar com o povo de Israel e fora um forte e fiel aliado de Moisés enquanto este ainda liderava o povo, tanto nas guerras (Êxodo 17) quanto em assuntos espirituais (Êxodo 33:11). Josué fora um dos espias que confiavam plenamente no Senhor e no poder dele para lhes conceder a terra de Canaã contra toda evidência humana, que apontava em direção contrária (Números 14:6-9) e lhe foi garantido por sua fé de que veria a terra prometida (Josué 14:30). Agora era chegado o momento da conquista e foi concedida a Josué uma experiência sobrenatural e pessoal que lhe fortaleceria a fé e estreitaria sua comunhão com Deus para lhe preparar para guiar o povo na conquista da terra e estabelecimento na mesma.
O texto diz: “Estando Josué ao pé de Jericó...” e seria bem traduzido da seguinte forma: “estando Josué em Jericó...” e indica para alguns críticos do texto bíblico que os israelitas já tivessem conquistado Jericó quando o fato narrado nestes versos ocorreu. Porém o contexto da passagem aqui referida indica que Josué estava muito próximo da cidade, praticamente na entrada da cidade e talvez pudesse mesmo ver suas famosas muralhas. Isso fica claro que presença da conjunção (“Be” em hebraico) antes da palavra Jericó. Estudiosos dizem que possivelmente Josué estivesse realmente em Jericó (ainda que nos arredores) “espiando as fortificações, e meditando no melhor plano para um cerco”.
Nesse momento de possíveis incertezas diante do futuro Josué vê diante de si um homem. A palavra aqui usada tomada isoladamente não indica um mensageiro sobrenatural por si mesma. Indica um homem indistinto de qualquer outro homem puramente humano. “Josué aparentemente não reconheceu esse homem como um mensageiro divino”. Porém esse homem que Josué viu carregava uma espada nua demonstrando talvez intenção de guerrear. Então Josué se lhe dirige as palavras: “És tu dos nossos ou dos nossos adversários?” (Josué 5:13). “Josué demonstra coragem e resolução” e disposição de guerrear contra qualquer um que fosse uma ameaça ao povo de Israel. À pergunta: és tu dos nossos ou dos nossos adversários o homem responde: Não. Calvino explica que essa negação indica que esse homem “negou ser um homem mortal” ou “que estava respondendo a segunda parte da questão” és tu dos nossos adversários? Outros dizem que o homem não se importou com a pergunta de Josué “e nem a respondeu diretamente”, pois tinha “outros interesses em se manifestar a ele” que não satisfazer sua curiosidade e que ele já tinha a disposição de revelar sua identidade como faz mais tarde (verso 14). Outro indicam que o homem responde dessa forma simplesmente por que “a pergunta de Josué estava errada e então ele se recusa a respondê-la”.
Príncipe do exército do Senhor. Esse é o título e posição que esse homem que se manifestou a Josué diz possuir. Isso demonstra plenamente sua origem sobrenatural. O exército do Senhor se refere tanto a Israel literal (Êxodo 12:41) e também o exército celestial e os anjos todos (1Reis 22:19/ salmo 148:2 e salmo 103:21). “Com as palavras: acabo de chegar, o príncipe dos exércitos do Senhor ensaia entrar numa explicação da razão de sua manifestação”. Porém Josué reconhece na presença de quem ele está e com rosto em terra o adora.
Em todos os lugares onde o texto bíblico relata a tentativa humana de adorar seres sobrenaturais, porém não divinos são explícitos em dizer que essa adoração é rejeitada e condenada (Apocalipse 19:10 e Apocalipse 22:8-9). O homem visto por Josué revela sua identidade ao aceitar essa adoração. Mais tarde na seqüência do texto estudado nessa passagem, esse personagem se dirige a Josué dando ordens a respeito de Jericó e é dito na Bíblia não que: um homem disse a Josué, ou um anjo disse a Josué, mas sim, O Senhor disse a Josué: Olha entreguei na tua mão Jericó. Deixando claro que Josué fora visitado pelo próprio Deus em forma humana na noite da qual estamos tratando. “O comandante do exército do Senhor estava com uma espada na mão indicando que Ele lutaria por e com Israel e que a medida da iniqüidade dos Amorreus estava agora completa (Gênesis 15:16)”.
O personagem misterioso ordena a Josué que tire suas sandálias diante de sua presença santificadora de onde irradia luz e vida. O príncipe do exército do Senhor “requer um sinal de reverência e temor. Moisés vivenciou experiência similar (Êxodo 3:5) no deserto” quando teve um encontro com Deus e viu uma manifestação de sua glória. “As sandálias deviam ser tiradas como reconhecimento da presença divina enquanto ela estava acontecendo como uma maneira de demonstrar respeito pelo que é sagrado”.
O Senhor diz a Josué que lhe entregou Jericó e dá instruções especificas de como ele encontrará a vitória. Jericó era ponto estratégico para a conquista da terra de Canaã e uma das cidades mais fortificadas e seguras de toda a região. Somente com o poder de Deus e submissos a Ele é que Israel poderia derrubar Jericó. Assim, ao saírem vitoriosos de uma batalha que a princípio era tão desfavorável, a fé de Israel em Deus e seu poder devia ser fortalecida para todo o período de guerras e conquistas que eles estavam iniciando. As vitórias de Israel viriam a partir de um relacionamento de fé e obediência para com Deus e exigiria estrita obediência a cada detalhe das instruções dadas por Deus ao povo. “De um ponto de vista militar as ordens do capitão do exército do senhor eram ridículas. Marchar ao redor das muralhas sem fazer barulho por 6 dias e no sétimo dia eles deveriam rodear a cidade 7 vezes e soltar um brado de vitória” (Josué 6). Ninguém nunca havia ganho um batalha que fosse dessa maneira e esse era um chamado para que os israelitas não confiassem em estratégias humanas mas na orientação de Deus e para que eles tivessem certeza de que seriam vitoriosos contra todos os seus inimigos enquanto mantivessem uma atitude de fé, amor e obediência irrestrita a Deus durante suas vidas como indivíduos ou como nação eleita do Senhor. A fé do povo e dos líderes seria provada e a recompensa de uma resposta positiva seria efetiva.
Certamente a fé de Josué saiu dessa experiência fortalecida e ele estava, após ela, cheio de “coragem e ousadia” quando entendeu que “o príncipe do exército do Senhor veio em pessoa para conceder a Israel vitória sobre Jericó”. Josué era líder de uma grande nação e seria tentado por muitos do povo a duvidar de que seriam vitoriosos mesmo diante de desafios tão grandes. Deus sabia disso e concedeu a Josué a experiência que ele precisava para entender que o Senhor lutaria por Israel e que dessa forma eles seriam sempre vitoriosos mesmo contra os obstáculos aparentemente mais difíceis e assim podemos nos regozijar na certeza de que não lutamos sozinhos em nossas lutas como indivíduos ou como igreja.
O próprio Deus, único, Criador e redentor desce para nos visitar e dar instruções sobre sua vontade para nossa vida e nos guia na verdade de sua Palavra e de sua Lei e assim devemos seguir em submissão e fé com amor para com Ele que já tudo fez, faz e ainda fará por nós, para nos dar vitórias espirituais eternas por amor de Jesus Cristo Nosso Senhor e Salvador.
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