...porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens [santos] falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo. (2 Pedro 1:21)
A natureza da Bíblia enquanto Palavra de Deus é um assunto que tem ocupado as melhores mentes humanas pelos séculos de sua história, e isso é verdade mesmo nos céticos dias que em temos vivido. Homens e mulheres têm se empenhado em estudar e compreender o livro sagrado e têm concluído de sua natureza Divino-Humana de forma inseparável.
Trago nesse post, uma tradução de um breve artigo de Kwabena Donko publicado no site do instituto de pesquisas bíblicas da conferência geral dos adventistas do sétimo dia (acesse o post original em inglês no link: http://biblicalresearch.gc.adventist.org/documents/Dealing%20with%20discrepancies.pdf) sobre como lidar com as discrepâncias encontradas no registro bíblico.
Esse é um material acessível, da fácil leitura, e nos ajuda a entender melhor de que maneira devemos proceder ao lidarmos com a tarefa de interpretar a bíblia de forma fidedigna e em seus próprios termos.
Para ter acesso a esse estudo clique no link "Mais informações" e desfrute
Graça e Paz!!!
Lidando com “discrepâncias” na Bíblia
Kwabena Donko
O que é uma discrepância na Bíblia? Para o nosso propósito, uma discrepância nas Escrituras seria uma ideia, um pensamento, ou uma afirmação que parece discordar, ou ser contraditória com outras ideias, pensamentos e afirmações contidas na Bíblia. Agora a questão crucial é a seguinte, existem discrepâncias na Bíblia? Essa pergunta, em sua essência, lida com a natureza da Bíblia. A Bíblia contém, em sua natureza, ideias e informações conflitantes? Ao definirmos, porém, a natureza de alguma coisa qualquer, nós não podemos (nem devemos) restringir nosso entendimento da natureza da Bíblia a este ou aquele fenômeno. Em outras palavras, o que a Bíblia é não é plenamente definido pela que ela aparenta ser.
Uma ilustração pode ser útil aqui. Um bastão de ferro mergulhado parcialmente em uma piscina geralmente aparenta estar torto. Isso é um fenômeno. Contudo, existem razões causais para que o bastão pareça estar torto, enquanto que na verdade ele não está torto!
É bastante evidente que olhando para o fenômeno da Bíblia, ou seja, olhando Para ela como ela se nos apresenta, existem discrepâncias. Quando os críticos da Bíblia apontam para datas inconsistentes, números, etc. Eles estão lidando com a Bíblia formalmente como um fenômeno. Contudo, essa questão se torna ainda mais difícil quando começamos a prestar atenção em outras razões causais a respeito da natureza da Bíblia. Um exame “mais de perto” nos conduz a perguntar, por exemplo, como a Bíblia veio a ser o que ela é hoje, e para quais fins ela foi escrita? São esses os tipos de perguntas que condicionarão nossas respostas à questão de se a Bíblia tem ou não fatos e ideias contraditórias e inconsistentes. Em outras palavras, da mesma forma como ocorre com o bastão de ferro que possui razões que o fazem aparentar torto, quando mergulhado em uma piscina, sendo que na verdade ele não está torto, essa questão nos obriga a perguntar: podem existir razões causais para as aparentes contradições e inconsistências da Bíblia?
Primeiro, o que nós sabemos a respeito da forma pela qual a bíblia veio a ser o que ela é hoje? Os textos clássicos de 2 Timóteo 3:16 e 2 Pedro 1:19-21 demonstram de uma forma fundamental “agentes” humanos e divinos trabalharam juntos para produzir as Escrituras. Esse fato não pode ser ignorado. As Escrituras não são apenas um produto humano, Deus estava envolvido em sua produção. Além disso, mesmo sem a compreensão completa da dinâmica e da logística na interação divino-humana, 2 Pedro 1:19 torna claro que a influência Divina dotou o produto final de firmeza, credibilidade e estabilidade. Esses pontos não fatores causais que não podem ser ignorados em qualquer tentativa de se entender a natureza da Bíblia.
Segundo, o que nós sabemos sobre os fins para os quais a Bíblia foi produzida? Aqui novamente 2 Pedro 1:19 pode nos ajudar. Seja lá como interpretemos “uma lâmpada brilhando em lugar tenebroso, até que o dia nasça e a estrela da manhã surja em nossos corações” o texto é inequívoco a respeito do objetivo pelo qual as Escrituras nos foram dadas. Nós andamos em um mundo escuro, e Deus através de sua graça nos deu uma lâmpada, as Escrituras, para nos reprovar, guiar, e corrigir. O objetivo do texto é que o curso de nossas vidas devem ser direcionados pela Palavra de Deus.
Como esses fatores sobre como a Bíblia veio a existir e sobre os fins para os quais ela foi escrita nos ajudam a lidar com as “discrepâncias” da Bíblia? Primeiro, sem sucumbir à visão da “inerrância” que associa a perfeição da Bíblia com a perfeição atemporal de Deus. Não deveria o fato do envolvimento de Deus na produção da Bíblia significar alguma coisa quando conversamos sobre discrepâncias na Bíblia?
Segundo, nos parece que o envolvimento Divino na produção da Bíblia era necessário para dar a ela a certeza, segurança e estabilidade de que ela precisaria para funcionar como uma lâmpada e guia para nossa caminhada. Um guia incerto e inseguro não seria muito parecido com um bom guia. Nessa compreensão é um pouco difícil de ser ver como a Bíblia em sua natureza poderia ser inconsistente e contraditória e ainda assim ter a função efetiva de iluminar e guiar a vida humana.
O argumento que estou estabelecendo ao trazer á luz esses efeitos causais em conexão com o fenômeno (existência) da Escritura é dizer que por sua própria natureza, a Escritura nos encoraja a se aproximar da Bíblia como um documento harmonioso, consistente, e confiável, mas que ainda mostrará evidências de imperfeição humana relativas às agências humanas envolvidas em sua origem. A tensão entre as contribuições humanas e divinas na produção das Escrituras é uma tensão criativa que não deveria ser resolvida de forma impertinente tanto em direção ao total controle divino como na visão da inspiração verbal/mecânica, ou em direção à ingenuidade humana como na visão do “encontro.”
Portanto, assumindo a harmonia essencial da Escritura, devemos procurar resolver as contradições e discrepâncias aparentes, tanto quanto possível, por observar, dentre outras coisas, os seguintes pontos: (1) Leia os textos em seus contextos e preste atenção ao tempo e circunstâncias de sua escrita; (2) Esteja ciente de que o autor bíblico pode ter usado os escritos de outros escritores e apontado para aspectos que não eram facilmente discernidos nas afirmações originais; (3) mantenha a perspectiva oriental para as parábolas e hipérboles; (4) Note a prática usual de dar vários nomes a uma mesma pessoa (ex. Esaú/Edom e Gibeão/Jerubaal) (5) Lembre-se que autores diferentes podem enfatizar pontos de vista diferentes; e (7) Estude diferentes formas (princípios) de organizar ideias e datas diferentes.
Conquanto possamos estar interessados em harmonizar tensões e discrepâncias na Escritura, não deveria ser nossa função colocar nosso foco sobre elas. Os estudantes da Bíblia vislumbram a impressionante unidade e beleza das Escrituras. Muitos eruditos têm adotado os princípios demonstrados aqui em sua abordagem dos textos das Escrituras e no processo resolveram o que antes pareciam ser discrepâncias insolúveis. Talvez não devesse nos surpreender que algumas vezes nós teremos que procurar e cavar arduamente e por bastante tempo para podermos ver a harmonia e a beleza da verdade bíblica. Algumas discrepâncias serão resolvidas no futuro, como algumas foram resolvidas no passado. Alguns textos contendo tensões deverão ser harmonizados, outros não trazem essa necessidade. Devemos estudar diligentemente.
Jesus, na parábola do tesouro escondido (Mateus 13:44) e na parábola da pérola de grande preço (13:45-46), parece sugerir que existem coisas de tremendo valor que não estão aparentes para o observador casual. A alegria aguarda aqueles que encontrarem esses tesouros escondidos. Se não conseguirmos achar uma solução, não nos tornemos obcecados com detalhes que nos façam perder de vista o quando completo. Vamos aprender a suspender nosso julgamento, pois nós somos apenas seres humanos lidando com a Palavra de Deus que nos foi dada em linguagem humana.
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