quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Nova Natureza e Velha Natureza - o que essas expressões significam?

Não mintais uns aos outros, uma vez que vos despistes do velho homem com os seus feitos e vos revestistes do novo homem que se refaz para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou...
Colossenses 3:9-10

A nova natureza, que Cristo nos concede por seu poder e graça através do Espírito Santo, é uma dádiva maravilhosa, e que jamais deveria ser deixada de ser considerada seriamente por todos aqueles que têm a Jesus Cristo como Senhor e Salvador. Temos nesse post uma tradução de um verbete do Dicionário de Paulo e suas cartas (Dictionary of Paul and His Letters, Gerald F. Hawthorne, Ralph P. Martin [editors]) sobre a "nova" e a "velha" natureza do homem.

O estudo é simples e acessível, mas ainda assim nos conduz a perspectivas importantes sobre esse profundo assunto que nos é revelado na Palavra de Deus!

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Graça e Paz!!!






Nova Natureza e Velha Natureza

Paulo contrasta aquilo que os crentes eram “em Adão”, e o que os crentes são após receberem o dom da salvação em Cristo, nos termos de sua “velha” ou “nova” natureza.

1.      1. Terminologia
2.      2. Romanos
3.      3. Efésios e Colossenses
4.      4. Significado teológico
1. Terminologia
Poucas palavras são mais ambíguas, ou perigosas, do que “natureza.” Por causa disso houveram desentendimentos consideráveis a respeito das expressões: “velha natureza” e “nova natureza” (Rom. 6:6; Ef. 4:22; Col. 3:9) entre os estudiosos. Numerosas explicações populares a respeito da doutrina paulina sobre a vida cristã argumentam, ou presumem, que o apóstolo distingue duas partes ou naturezas de uma só pessoa. Segue-se a essa conclusão errônea, o debate se caso a “velha natureza” é substituída pela “nova natureza” na conversão, ou se a “nova natureza” é apenas acrescentada à velha.
A interpretação de que ho palaios anthrōpos e ho kainos anthrōpos são expressões que se referem a partes, ou “naturezas” de uma pessoa é equivocada e desencaminhadora. Esses termos, na realidade, se referem à pessoa como um todo vista sob o prisma de sua relação com a realidade completa à qual ele ou ela pertencem. Entretanto esses termos são melhores traduzidos como “velho homem” e “novo homem.” A tradução: “velho eu” e “novo eu” (NIV) é muito individualista uma vez que, embora a ideia certamente signifique o cristão individualmente (Rom. 6:6), ela se refere a algo mais do que meramente individual apenas.
“Velho homem” e “novo homem” não são, portanto, expressões orientadas ontologicamente (referentes à natureza humana em si), mas relacionalmente (e se referem à relação do crente com Deus através de Cristo. Nota do tradutor). Essas expressões não falam a respeito de uma mudança na natureza humana (ontológica), mas falam de uma mudança em termos relacionais.
A “velha natureza” não se refere à natureza do pecado que foi condenada na cruz e à qual seria adicionada uma “nova natureza.” O “velho homem” é o que os crentes eram “em Adão” (na velha era). O “velho” aponta para tudo que estava conectado com a queda da humanidade e com sua sujeição à miséria e à morte de uma vida transitória, separada de Deus. Dentro do contexto da teologia de Paulo, esse conceito carrega consigo profundas conotações a respeito da Ira de Deus, e do salário do pecado.
A “nova natureza” é aquilo que os crentes são “em Cristo” (na nova era). Paulo nos direciona a algo completamente novo, à salvação e à cura que os crentes recebem quando estão crucificados com Cristo e ressurgem com Ele (cf. Rom. 6:3-6).
2. Romanos
Em Romanos 6:6 Paulo argumenta que o velho homem (o crente individual) está crucificado com Cristo. A referência à crucifixão é um indicativo surpreendente que demonstra a enorme distância da teologia de Paulo a respeito de “morrer e ressuscitar com Cristo” de qualquer forma de misticismo ou das religiões de mistério de seus dias (veja, Cranfield, 1. 309). O “velho homem” foi crucificado com Cristo no batismo. Pois no batismo os crentes receberam o sinal e o selo apontados por Deus baseados no fato de que por uma decisão da graça de Deus o velho homem estava, à vista de Deus, crucificado com Cristo no Gólgota. A linguagem de Paulo denota a unidade entre os crentes batizados e a própria pessoa de Cristo em sua atividade redentora (veja Beasley-Murray, 134). Mesmo sendo crentes, por se despirem do velho homem, eles devem viver essa “morte” de acordo com o nível moral que pela graça de Deus e pelo ato do batismo eles já experimentaram. Essa é a ênfase de Paulo na carta aos efésios e aos colossenses.
3. Efésios e Colossenses
Por detrás do contraste entre o “velho homem” e o “novo homem” está o contraste entre Adão e Cristo (1 Cor. 15:45; veja Ridderbos, 223-31). Essas frases indicam a solidariedade das pessoas para com uma das duas cabeças das contrastantes eras na história da salvação. Paulo emprega o termo com significado corporativo em Efésios 2:15 e Colossenses 3:10-11, mostrando que judeus e gentios, os circuncisos e incircuncisos, estão unidos em uma só humanidade.
Em Col. 3:9-11 Paulo explica que os crentes se despiram do “velho homem” com suas práticas e revestiram do novo. Isso não significa meramente que Cristo exige um novo padrão de vida de seus redimidos. Isso significa que tudo aquilo que está associado com a humanidade distorcida deve ser conduzido à morte (Col. 3:5-8) por ter sido transformado de acordo com o modelo perfeito, o próprio Cristo (Col. 1:15-20, 2:6), e adiante não há mais desculpas para tais comportamentos distorcidos (Wright, 137-38; Melick, 286-99).
A metáfora “despir” e “revestir” roupas (Col. 3:8-10; Ef. 4:22-24) não se refere a simplesmente uma promessa de mudança de comportamento. Ao invés disso se refere a uma ação graciosa do Espírito de Deus transportando os crentes para uma esfera diferente onde eles obtêm novas regras de vida.
Paulo pode estar fazendo alusão a imagens familiares para aqueles que eram candidatos ao batismo, para quem trocar roupas velhas por novas simbolizava a transferência de solidariedade (de Adão para Cristo. Nota do Tradutor).
Essas duas imagens do que os crentes “são” e do que eles “deveriam ser” não estão em conflito. Os cristãos foram transportados da velha era de pecado e de morte para a nova era de justiça e de vida. Os poderes da velha era deveriam ser constantemente resistidos (por isso os infinitivos imperativos apothesthai e endysasthai em Ef. 4:22-24).
No centro do contraste entre o velho e o novo está a tensão escatológica entre a inauguração da nova era na vida dos crentes (cf. 2 Cor. 5:17) e a consumação da nova era em glória (Rom. 8:17, 19-23; Beker, 288-89; Moo, 392). O que os crentes eram em Adão não mais permanece, mas a luta da vida entre a inauguração e a consumação da nova era ainda está presente.
4. Significado teológico
A vida na nova era para o “novo homem” deve ser vivida entre duas polaridades: aquilo que já foi realizado redentivamente pela manifestação histórica da morte de Cristo, e o que ainda deve ser concretizado plenamente na consumação do plano de redenção de Deus. Os crentes vivem numa tensão temporal entre o “já” e o “não ainda,” e entre o indicativo (o que eles são) e o imperativo (o que eles devem se tornar).
Os crentes vivem nesta era do “ainda não”, mas seus padrões de vida e de conduta não devem pertencer a essa era, que é essencialmente centrada na humanidade e cheia de orgulho, mas na era porvir. A batalha ainda continua.
Enquanto vivendo como um “novo homem” nessa nova era, o homem deve se lembrar do fundamento dessa nova vida. É através da morte e ressurreição do Senhor que o Espírito aplica os benefícios da nova vida para a vida individual dos crentes. A vida para a nova humanidade é viver, pelo poder capacitador do Espírito, o que os crentes se tornaram por causa de Jesus Cristo, filhos de Deus.


Bibliografia

M. Barth, Ephesians. (AB; Garden City: Doubleday, 1974);

J. Baumgarten, “καινός ktl” EDNT 2.229–32;

G. R. Beasley-Murray, Baptism in the New Testament (Grand Rapids: Eerdmans, 1962);

J. Behm, “καινός ktl” TDNT III.447–54;

J. C. Beker, Paul the Apostle: The Triumph of God in Life and Thought (Philadelphia: Fortress, 1980);

C. E. B. Cranfield, A Critical and Exegetical Commentary on the Epistle to the Romans (ICC; 2 vols.; Edinburgh: T. & T. Clark, 1975);

D. S. Dockery, “An Outline of Paul’s View of the Spiritual Life,” CTR 3 (1989) 327–40;

D. Guthrie, New Testament Theology (Downers Grove, IL: InterVarsity, 1981);

H. Haarbeck, “Old, NIDNTT 2.713–16;

M. J. Harris, Colossians and Philemon (Grand Rapids: Eerdmans, 1991);

R. Melick, Philippians, Colossians, Philemon (NAC ; Nashville: Broadman, 1991);

D. J. Moo, Romans 1–8 (WEC; Chicago: Moody, 1991);

H. Ridderbos, Paul: An Outline of His Theology (Grand Rapids: Eerdmans, 1975);

P. Tachau, ‘Einst’ und ‘Jetzt’ im Neuen Testament (Göttingen: Vandenhoeck & Ruprecht, 1972);

R. C. Tannehill, Dying and Rising with Christ (Berlin: Töpelmann, 1967);

N. T. Wright, Colossians and Philemon (TNTC ; Grand Rapids: Eerdmans, 1986).

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