Porquanto, para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro.
Filipenses 1:21
Vida e morte são temas absolutamente abrangentes e estão conectados às perguntas mais complexas e amplas que um ser humano faz a respeito de sua própria existência. A obra de Paulo nos dá perspectivas interessantes sobre como entender algumas das questões que envolvem esse assunto e trago nesse post a tradução do verbete: "Vida e Morte" do dicionário de Paulo e suas cartas (Dictionary of Paul and His Letters, Gerald F. Hawthorne, Ralph P. Martin [editors]).
Espero que esse estudo auxilie aqueles que gostam desse assunto a compreendê-lo à luz da inspiração do Espírito de Deus que se faz manifesta na obra desse grande homem, o apóstolo Paulo.
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Graça e Paz!!!
Vida e Morte
Paulo usa os termos vida e morte em contextos diversos e com mais de um ponto de referência. Mas falando de forma geral, ele vê vida e morto como opostos entre si sendo a vida um dom gratuito de Deus, e a morte o salário do pecado. Os crentes passam do domínio da morte para a vida por morrerem com Cristo.
- Vida
- O Reinado da Morte
- Morte para o pecado
- Mortalidade e corrupção
- Resumo
1. Vida
Ocasionalmente Paulo usa zōē (vida), e suas formas correlatas para se referir à existência terrena, presente (Rom. 5:10; 71-2, 9; 8:12-13; 1 Cor. 3:22; 7:39; 15:19, 45; Fil. 1:20, 22; 1 Tess. 4:15, 17; 1 Tim. 5:6; 2 Tim. 4:1). Bios (“vida diária,” ou “existência material”) ocorre duas vezes, e somente nas epístolas pastorais (1 Tim 2:2; 2 Tim. 2:4). Zōē é mais freqüentemente usada por Paulo para denotar alguma coisa diferente da existência física; ela se refere a uma qualidade única de vida que vem através da fé em união com Cristo. Nove vezes ela é combinada com aiōnios para significar “vida eterna,” uma vida qualitativamente diferente da vida como é presentemente conhecida, uma vida concedida por Deus como uma parte da era porvir (Rom. 2:7; 5:21; 6:22; Gál. 6:8; 1 Tim. 1:16; 6:12; Tito 1:2; 3:7). “Vida eterna” ou “vida” podem ser expressões usadas como sinônimo de “imortalidade” (aphtharsia, Rom. 2:7, cf. 1 Tim. 1:16-17) ou como antônimo de corrupção ou decadência (pthora, Gál. 6:8).
Psychē pode seu usada com uma variedade de sentidos que muitas vezes são difíceis de serem distinguidos uns dos outros. Paulo a usa referindo-se à existência física (ex. Rom. 11:3; 16:4; 1 Cor. 15:45; Fil. 2:30), conquanto em Filipenses 2:30 ela pode significar mais do que apenas a vida física. Epafrodito arriscou “seu próprio ser.”
Pneuma também pode se referir à vida física (como ela claramente se refere em Apocalipse 11:11; 13:15), mas Paulo não parece usá-la dessa forma (comparar porém pneuma e sarx em 2 Cor. 2:13 e 7:15, onde as palavras parecem se referir aos aspectos interiores e exteriores de uma pessoa como um todo). Não obstante, a nova vida espiritual é uma vida pelo Espírito e no Espírito (Rom. 7:6; 8:3-13; 1 Cor. 15:45; 2 Cor. 3:6; Gál. 5:16, 25; 6:8; Fil. 1:27).
2. O Reinado da morte
“Morte,” thanatos (e os verbos relacionados: apothnēskō, “morrer”; thanatoō, “matar,” “executar”; apokteinō, “matar”; anaireō, “matar” “se livrar de”) podem se referir à cessação da vida terrena, física, psíquica de um ser humano (porém cf. Ef. 2:16). Mais comumente elas designam a condição física e espiritual da humanidade “em Adão,” que veio à existência inicialmente pelo pecado de Adão (Rom. 5:12-21; 1 Cor. 15:21-22). “Morte,” “carne” e “pecado” são expressões que podem ser usadas por Paulo com relação íntima, particularmente nos capítulos 5 a 7 de Romanos, onde elas estão na narrativa que Paulo faz da vida em Adão e da vida em Cristo, como poderes personificados. Morte e pecado operam juntos com a morte vindo através do pecado (Rom. 5:12) e exercendo seu domínio universal (Rom. 5:12, 17) desde Adão até Moisés (5:14). Com a vinda da lei o pecado aumentou (5:20) se espalhou pela vida (7:5) e exerceu seu domínio na morte (5:21). A humanidade se tornou escrava do pecado e da morte (Rom. 6: 6, 9, 12, 14, 16, 18, 20), com esses dois poderes operando em aliança (veja Beker, 231-34, que os interpreta como uma aliança de poderes apocalípticos; cf. De Boer). Paulo não fala de uma eterna separação de Deus e da punição final como “morte” como apocalipse 21:8 faz claramente ao se referir à segunda morte, mas ele aparenta ter isso em mente quando ele se refere à morte como o salário do pecado (Rom. 6:23) em última instância. Em efésio 2:1, 5 e colossenses 2:13 Paulo se refere ao crente como “morto” em sua humanidade pecaminosa irremediável e necessidade da iniciativa graciosa de Deus para a salvação (Ef. 2:8) pela qual Deus os vivifica (syzōopoieō, Ef. 2:5; Col. 2:13) com Cristo.
A morte é o último inimigo (1 Cor. 15:26), que será tragada pela vitória de Cristo na consumação (1 Cor. 15:55-57; cf. 2 Tim. 1:10). Novamente aqui a personificação da morte é evidente, com Paulo em 1 Cor. 15:25-26 a listando entre os inimigos descritos no Salmo 110:1, e em 1 Cor. 15:54-55 escarnecendo do poder da morte (cf. Is. 25:7; Os. 13:12), que no Antigo Testamento é, às vezes, caracterizada como um poder cósmico. O reinado da morte ultrapassa a humanidade e alcança o cosmos, que anseia por libertação do cativeiro da decadência (Beker, 221; De Boer).
3. Morte para o pecado
Paulo também usa o conceito de morte de uma forma diferente. Para ser libertada do domínio da morte, uma pessoa deve morrer para o pecado (consulte o verbete: Nova Natureza e velha natureza). Isso é possível através da morte de Cristo, na qual o crente participa (Rom. 6:8-10). Ao mesmo tempo Paulo conclama os crentes para a ação consciente, para “reconhecer” ou “considerar” a si mesmos como “mortos para o pecado” e vivos para Deus (6:13) para que a nova vida em Cristo atinja seus efeitos de forma plena (Rom. 8:1-17).
4. Mortalidade e corrupção
A vida natural, sujeita tanto à morte física como espiritual, é “mortal” (thnētos). A presença da morte também produz corrupção, um efeito de podridão. A palavra “corruptível” (diaphthora) no pensamento de Paulo está associada somente em Atos 13: 34-37 (que foi bastante influenciada pelo salmo 16:10 segundo a leitura contida na LXX) com a referência tanto à decomposição do corpo físico na sepultura, ou possivelmente ao permanente abandono de uma pessoa ao domínio da morte (še˒ôl). Paulo emprega phthartos e diaphtheirō de forma a poderem ser traduzidas por palavras como “destruir,” “corromper,” “arruinar,” “depravar,” “desviar” ou “corromper.” A última palavra (corromper) é freqüentemente usada para traduzir diaphtheirō em 2 Cor. 4:16 “mesmo que o nosso homem exterior se corrompa” (RSV, NIV, NRSV; “pereça” KJV). Aqui diaphtheirō se refere à força destrutiva e progressiva que trabalha em nossa “natureza exterior,” presumivelmente nosso corpo físico, conquanto possa se referir à nossa natureza pecaminosa como um todo.
A presente condição depravada, ou a “antiga forma de viver” dos cristãos é corrupta (phtheirō, Ef. 4:22) e depravada (diaphtheirō, 1 Tim. 6:5). Mesmo o crente está sujeito a influências corruptoras das más companhias (1 Cor. 15:33), de mensageiros infiéis (2 Cor. 7:2), ou dos maus pensamentos (2 Cor. 11:3).
Paulo fala da vida, da morte, da decadência e da mortalidade na maioria de suas cartas, mas quatro passagens são especialmente importantes. Romanos 5:12 – 8:39 está focado na entrada do pecado e da morte através de Adão e na graciosa dádiva da vida em um sentido novo e superabundante vindo através de Cristo pelo Espírito. Esse mesmo tema ressoa em 1 Cor. 15:12-57 onde a derrota da morte e a disponibilidade da vida são ligadas à ressurreição de Cristo.
2 Cor. 5:1-10 introduz a comparação entre a “presente tenda terrena” (o corpo físico), que será “demolido,” ou “desfeito,” e o “edifício da parte de Deus ...eterno nos céus.” Aqui também Paulo faz uma ligação entre o presente estado “nu” e o estado futuro como “vestido.” Isso ocorre “para que o mortal seja absorvido pela vida” (2 Cor. 5:4). 2 Cor. 5:6 contém uma afirmação importante, “enquanto no corpo, estamos ausentes do Senhor.” Quando lemos o testemunho pessoal de Paulo em Filipenses 1:20-24, parece que ele está aqui afirmado que na morte o crente passa imediatamente à presença de Deus. Por outro lado, ele pode estar aqui fazendo apenas uma afirmação geral sobre sua expectação do que viria após a morte sem implicar uma sequencia temporal/cronológica exata.
5. Resumo
Paulo afirma que os seres humanos foram criados como “seres vivos” no sentido mais pleno da expressão, mas todos “morreram” no pecado de Adão. Essa “morte” é tanto física quanto espiritual, com aspectos temporais e atemporais. A morte espiritual se iniciou imediatamente com a entrada do pecado na humanidade e não está presa ao tempo. Com ela vem a separação de Deus. A morte domina a vida física no presente (Rom. 5:14), torna a humanidade impotente (Ef. 2:1), e resulta na destruição física e espiritual do indivíduo.
A vida espiritual está disponível aos seres humanos através da fé na ação salvadora de Deus através da vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo. Isso é um sinônimo de justificação através de Cristo (Rom. 1:17; 5:17-18; cf. Gál. 3:11), que é a fonte, o significado, a realidade e o alvo da vida espiritual tanto no presente quanto no futuro. A vida espiritual é caracterizada por comunhão e união com Cristo. A nova vida envolve a “morte” da velha vida e um novo estilo de vida que surge da presença viva do Espírito dentro do cristão. Dessa forma Paulo descreve seu próprio entendimento da vida e da morte, pois para ele: “Viver é Cristo, e morrer é lucro” (Fil. 1:21).
Bibliografia
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