segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

O Armagedom (Etimologia e Significado) - Jon Paulien

Então (os três espíritos imundos), os ajuntaram no lugar que em hebraico se chama Armagedom...
Apocalipse 16:16

O Armagedom é uma palavra bíblica com uma etimologia incerta que descreve a última guerra entre o bem e o mal! muitas são as interpretações de qual seja o seu significado nas Escrituras e esse é um tema que levanta cada vez mais o interesse das pessoas de uma forma geral.
Nesse Post trago a tradução do verbete "Armagedom" do Anchor Bible Dictionary, escrito por Jon Paulien. O texto é interessante e fruto de uma pesquisa profunda a respeito das diversas posições sobre a etimologia do nome e termina com uma aplicação espiritual sobre o significado bíblico da última guerra entre o bem e o mal no contexto da adoração: o Armagedom!

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Graça e Paz!!!


Armagedom
Jon Paulien


Armagedom (Lugar) [grego: Ἀρμαγεδων]. O local da batalha final da história da terra como descrita pelo livro do Apocalipse. A palavra aparece apenas uma vez na Bíblia e tem origem hebraica (Ap. 16:16). O entendimento mais natural dessa expressão grega, tal qual ela é encontrada na maioria dos manuscritos, é “montanha [do hebraico Har] de Megido”. Conquanto as letras gregas difiram consideravelmente da palavra hebraica para “Megido,” ela é idêntica à transliteração encontrada na Septuaginta (LXX) em Josué 12:21 (Manuscrito A, mageddōn), Juízes 1:27 (Ms A), e 2 Crônicas 35:22. Assim é que Nestle (HDB 2:305) considerou uma alusão à Megido como a mais provável explicação para o termo “Armagedom.” É interessante, contudo, que a Septuaginta não transliterou essa palavra no único lugar onde o Antigo Testamento adiciona uma letra “n” no final na palavra Megido (em Zacarias 12:11), antes traduziu a expressão “Vale de Megido” como “(o pomar de romãs) cortado na planície” (ekkoptomenou).
            A região de Megido era um antigo campo de batalha. Ali os exércitos de Débora e Baraque derrotaram Sísera e seu exército cananita (Juízes 5:19 e contexto). Mais tarde, ali ocorreu a cena da luta fatal entre Josias e o Faraó Neco (2 Reis 23:29-30; 2 Crônicas 35:22). Esse foi um evento tão memorável na história de Israel que a lamentação por Josias ainda era relembrada um século depois (Zacarias 12:11). Dessa forma, se o autor do Apocalipse estava fazendo alusão a esse campo de batalha, seu significado para o Israel antigo o tornou o pano de fundo apropriado de sua descrição da batalha final entre as forças do bem e do mal.
            Bousset (Apocalipse, MeyerK 399), todavia, disse que a frase “montanha de Megido” é problemática. Enquanto o AT fale de uma cidade de Megido (Jos. 17:11; Jz. 1:27; 1 rs 4:12; 9:15; 2 Rs 9:27; 23:29, 30), um rei de Megido (Jos. 12:21), um vale de Megido (2 Cro. 35:22; Zac. 12:11), e águas de Megido (Jz. 5:19), ele não fala de nenhuma “montanha de Megido.” Várias soluções a esse problema têm sido oferecidas pelos séculos e continuam sendo oferecidas.
            Pais da igreja, tais quais Hipólito e Jerônimo, tentaram localizar o Armagedom na palestina, oferecendo sugestões como o Vale de Josafá (Joel 3:2, 12) ou o monte Tabor (Jz. 4:6, 12). A primeira proposta a ganhar ampla circulação foi advogada pelo mais antigo comentador do livro do Apocalipse, Oecumenius (Começo do século 6. – ver Hoskier 1928: 179-80) e André de Cesaréia (900 DC – ver Schmid 1955:1/175). Talvez usando a dica dos tradutores de Zac. 12:11 da LXX, que aparentemente entenderam que mĕgiddôn derivava da raiz hebraica gdd que significa “cortar,” “talhar,” eles argumentaram que os reis da terra foram reunidos em Ap. 16 na “montanha da matança” para serem exterminados. Apoiada por Hans LaRondelle (1985: 23, 1989: 71-73), essa visão nunca foi refutada, ainda que não atraia um amplo apoio entre os eruditos.
            F. Junius (1599) associou o Armagedom com “os lugares montanhosos de Megido.” Nas notas marginais da Bíblia e Genebra ele sugeriu que a batalha do Armagedom é a inversão divina da derrota que Seu povo sofreu junto como rei Josias. Muitos estudiosos de século 19 tentaram driblar a ausência de uma “montanha de Megido” no AT por fazerem ligações entre as batalhas de Megido e a descrição de Ezequiel das “montanhas de Israel” (ver Ezequiel 38 e 39, uma passagem aludida em Apocalipse 20:8-10).
            Lohmeyer (Apocalipse HNT, 133-34) deu uma nova guinada à interpretação da “montanha de Megido” por associar o Armagedom com o Monte Carmelo, uma alusão ao confronto de Elias e os profetas de Baal. Ele buscou apoio no Ginza mandeano (um trabalho bem mais tardio onde os poderes demoníacos se reúnem no monte Carmelo para planejar seu assalto final sobre as forças de Deus). Shea (1980:160-162) leva o argumento um passo além ao ver um grande número de alusões à experiência de Elias no Monte Carmelo por todo o livro do Apocalipse com o Dragão, a Besta, e o Falso profeta como sendo as contrapartes dos últimos dias de Acabe, Jezabel e os profetas de Baal. Como no evento original, o assunto é resolvido no Apocalipse pelo fogo e pela espada (Apocalipse 19:20, 21).
            Enquanto as duas primeiras explicações estão baseadas em sobre como os tradutores da LXX entenderam a Bíblia hebraica, várias tentativas de retificação também foram feitas. Muitos estudiosos do século 19 (ver Nestle HDB 2:304-5 e Bousset Apocalipse MeyerK) notaram que a diferença entre Har e ar em grego é apenas uma simples marca de respiração, e tais marcas são comumente omitidas nos manuscritos mais antigos. Dessa forma, Armagedom poderia ser o equivalente hebraico a “cidade de Megido” (˓ı̂r-mĕgiddô), uma alusão à cidade fortificada que guardava a passagem montanhosa mais crítica do antigo Israel.
            Outros estudiosos, começando com um artigo anônimo em ZAW (1887: 170-71), deram atenção à retificação em magedōn. Em hebraico não vocalizado mĕgiddô é idêntico em forma à migdô (que significa “frutífero,” “sua capacidade de dar frutos,” “seus dons mais bem escolhidos”). Assim é que Bowman (IBD 1:227) pensa que Armagedom significa “montanha frutífera,” uma referência à Jerusalém escatológica (Joel 3:16-18; cf. Zac. 14). Isso associaria a cena da batalha final com Jerusalém, o que também ocorre em Ap. 14:14-20 e 20:7-10. Charles (Apocalipse ICC, 2: 50) combina ambas as retificações; Armagedon significa “cidade frutífera,” o que recorda o título de João para a cidade celestial em Ap. 20:9 (grego: tēn polin tēn ēgapēmenēn [a cidade amada]).
            Uma das retificações mais populares sobre magedōn foi proposta por Hommel (1890). Ele sugeriu que a letra Gama em grego encontrada em magedōn é uma transliteração, não de uma letra Gimel em Hebraico, mas de uma letra ˓ain. Dessa forma har-magedōn seria uma corrupção do hebraico de har-mô˓ēd, que significa “Monte da Assembléia.” Torrey (1938: 244-48) argumenta que Armagedom é uma referência a Isaías 14:13 onde o “monte da assembléia” é a corte celestial onde o trono de Deus está localizado. Em Isaías 14 o Rei de Babilônia é chamado de “estrela da manhã,” um termo aplicado a Cristo no Apocalipse. Dessa forma, har-mô˓ēd relembra a mitologia Israelita, onde o Monte Sião é a contraparte terrestre da sala do trono celestial (Salmo 48:2). O Armagedom, portanto, é a tentativa final de Babilônia usurpar o trono de Deus em seu ataque contra a Jerusalém dos últimos dias.
            Gunkel (1895: 263-66) entendeu o Armagedom como um nome de origens míticas, provavelmente baseado em 1 Enoque 6 onde os anjos maus se reúnem no monte Hermon para se prepararem para seu ataque sobre as filhas dos homens. Bousset segue a Gunkel em sugerir que por detrás dessa referência está um mito antigo, preservados nos escritos mandeanos, que descreve o ataque da montanha sagrada dos deuses por um exército de demônios que é ajuntado por maus espíritos, e então são destruídos pelos deuses de luz.
            A abundância de soluções e a grande criatividade com a qual elas têm sido desenvolvidas sugere que é estupidez ser dogmático a respeito da etimologia do nome Armagedom. No entanto, a erudição atual geralmente coloca Megido ou har-mô˓ēd como as melhores explicações por detrás do termo.
            A maior dificuldade com har-mô˓ēd é a grande distância lingüística entre mô˓ēd e magedōn. Enquanto seja verdade que a letra Gama é a única letra grega que poderia corresponder com a letra hebraica ˓ain, não existe nenhuma evidência externa de que mô˓ēd jamais tenha sido transliterado como magedōn ou mesmo como mogēd, mas há a evidência da Septuaginta para as transliterações mĕgiddô e mĕgiddôn. Além disso, a força do argumento de Torrey é grandemente diluída caso não se aceite que o Apocalipse (em grego) seja a tradução de um livro original escrito em hebraico.
            É provavelmente mais seguro, então, evitar fazer retificações e seguir os pais da igreja, ou Lohmeyer e Shea ou considerar o problema insolúvel. Muitos argumentos têm sido levantados contra as interpretações “montanha de Megido,” particularmente por Jeremias (1932) e Torrey (1938): (1) Não existe nenhuma montanha de Megido na literatura antes do Novo Testamento; (2) Os mais antigos exegetas nunca interpretaram dessa forma; (3) a mítica montanha do mundo nunca foi associada com Megido no Apocalipse; (4) na escatologia hebraica a luta final é lutada ao redor de Jerusalém (Zac. 12 e 14; Joel 3; cf. Apocalipse 14; 20:7-10). Esses são, todavia, basicamente argumentos do silêncio. Eles não impedem a possibilidade de que o autor do Apocalipse tenha visto elementos da batalha ideológica travada no Monte Carmelo como decisivos na batalha final entre o bem e o mal.
            De fato, como Shea (1980: 158-60) aponta, Megido é geralmente usado para se falar de algo além em sua área geográfica. A frase “águas de Megido” (Jz. 5:19) é uma referência ao ribeiro Quison. E conquanto Megido não fosse uma montanha também não era um vale – estava localizado em uma elevação que tinha vista para a planície de Jezreel ou Esdraelon. Uma vez que a cidade estava localizada aos pés da cordilheira do Carmelo, “montanha de Megido” poderia ser uma referência direta ao Monte Carmelo (1 Rs 18:19, 20; 2 Rs 2:25; 4:25). Foi no monte Carmelo que o fogo desceu do céu para provar que Yahweh era o verdadeiro Deus (cf. Apocalipse 13:13, 14). Foi ali que os falsos profetas foram derrotados (cf. Ap. 16:13-16). Se João estava aludindo à experiência de Elias no Monte Carmelo, ele entendeu a batalha do Armagedom como um conflito espiritual em torno da questão da adoração (Ap. 13:4, 8, 12, 15; 14:7, 9, 11; cf. 16:15; 17:14) na qual todos seriam trazidos a uma decisão final que teria resultados permanentes.
            Como parte da sexta praga (Ap. 16:12-16), a batalha do Armagedon está incluída num ponto crucial do livro do apocalipse. Seu paralelo com a sexta trombeta (9:13-21), onde a imagem militar é combinada com a descrição de seres demoníacos. O ajuntamento levado a efeito pelos três espíritos imundos (16:13) é a contraparte satânica do chamado ao ajuntamento dos três anjos de Apocalipse 14:6-12. A referência à trindade satânica conecta também essa passagem com os capítulos 13 e 19, onde os mesmos personagens estão presentes. E finalmente, a batalha é descrita em outros termos, mas paralelos em 17:12-17. A sexta praga não é a batalha do Armagedom em si, é o ajuntamento das forças para a batalha. A batalha em si acompanha a queda de Babilônia, que é delineada pela sétima praga (16:17-21), em 17:16 e no capítulo 18.

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