quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para ser apóstolo (Rom 1:1) - Karl Barth

Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para ser apóstolo, separado para o Evangelho de Deus
Romanos 1:1

O comentário da carta aos Romanos de Karl Barth (1922) marca o início da teologia dialética, e sua contribuição para o estudo desse maravilhoso livro bíblico é bastante importante no mundo teológico. Estou trazendo nesse post a tradução de seu comentário sobre o primeiro verso do primeiro capítulo de Romanos. O texto é curto e acessível, mas já demonstra o peso filosófico e teológico com o qual Karl Barth aborda o texto bíblico.

Para ter acesso ao texto apenas clique no link "Mais informações" logo abaixo

Graça e Paz a todos!!!




Comentário sobre a carta aos Romanos – Karl Barth

Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para ser apóstolo...

Aqui nós temos “não um gênio se regozijado em sua própria habilidade criativa” (Zundel). O homem que está agora falado é um emissário, compelido a realizar sua obra; o ministro de seu Rei; um servo, não o Mestre. Não importa quão importante ou grande o homem Paulo possa ter tido, o tema essencial de sua missão não está nele, mas acima dele – inatingivelmente distante e inexprimivelmente estranho. Seu chamado ao apostolado não é um episódio familiar em sua própria história pessoal: “O chamado para ser apóstolo é uma ocorrência paradoxal, jazendo sempre além de sua identidade pessoal própria.” (Kierkegaard). Paulo, é verdade, é sempre ele mesmo, e se move essencialmente no mesmo plano de todos os outros homens. Mas, em contradição consigo mesmo, e em distinção de todos os outros, ele é chamado por Deus e enviado adiante. Devemos então nomeá-lo de fariseu? Sim, um fariseu – “separado,” isolado e distinto. Mas ele é um fariseu de uma alta ordem. Fabricado da mesma matéria dos outros homens, uma pedra que não é diferente das outras pedras, e ainda assim, em sua relação com Deus – e apenas nessa relação – ele é único.
Como apóstolo – e somente como apóstolo – ele não mantém nenhum relacionamento orgânico com a sociedade humana, tal qual ela existe na história, ele não pode ser considerado nem mesmo como uma exceção, mas como uma impossibilidade. A posição de Paulo só pode ser justificada somente com base em Deus, e somente dessa forma as palavras dele podem ser consideradas com crédito, pois elas são incapazes de serem apreendidas diretamente tal como Deus mesmo é. Por essa razão ele ousa abordar os outros e demanda que eles o ouçam sem temer que ele possa se exaltar ou se aproximar perto demais deles como sua audiência. Ele apela somente para a autoridade de Deus. Esse é o fundamento de sua autoridade, e não existe outro fundamento.
Paulo é autorizado a manifestar – o evangelho de Deus. Ele é comissionado a entregá-lo aos homens como algo absolutamente novo e sem precedentes, alegre e bom, - a verdade de Deus. Sim, precisamente: de Deus. O Evangelho não é uma mensagem religiosa para informar a humanidade a respeito de sua divindade ou para dizê-los como eles podem se tornar divinos eles mesmos. O Evangelho proclama um Deus completamente distinto dos homens. A Salvação vem dEle para eles, pois eles são, como homens, incapazes de conhecê-lo, e por que eles não têm nenhum direito de pedir nada dEle. 


O Evangelho não é uma coisa entre outras coisas, para que seja diretamente apreendido e compreendido. O Evangelho é a palavra da Origem Primeira de todas as coisas, a Palavra que, uma vez que é sempre nova, deve sempre ser recebida com temor e tremor renovados. O Evangelho, portanto, não é um evento, nem uma experiência, nem uma emoção – contudo é delicado! Antes, é a percepção clara e objetiva daquilo que o olho não pode ver, nem o ouvido ouvir. Além do mais, o que ele pede dos homens é mais do que notar, entender, ou manifestar simpatia. Ele demanda participação, compreensão, co-operação; pois ele é uma comunicação que presume fé no Deus Vivo, e que cria aquilo que ele presume.
Sendo o Evangelho de Deus que foi prometido desde anteriormente, o Evangelho não é um intruso no presente. Como a semente da eternidade é o fruto do tempo, o significado e a maturidade da história é o cumprimento da profecia. O Evangelho é a Palavra falada pelos profetas desde tempos imemoriais, a palavra que agora pode ser recebida e aceita. Tal é o Evangelho que foi confiado ao apóstolo. Por ele seu discurso é autorizado, mas por ele também nos é dito que o discurso será julgado. As palavras dos profetas há muito tempo aprisionadas e chaveadas, agora foram libertas. Agora é possível ouvir o que Jeremias, Jó e o pregador Salomão proclamaram há muito tempo atrás. Agora podemos ver e entender o que está escrito, pois agora temos um portal de “entrada para o Antigo Testamento” (Martinho Lutero). Portanto, o homem que agora fala, está firmemente baseado na história que já foi exposta e entendida como verdade: “desde o início ele repudia a honra que deve ser conferida a alguém inovador.” (Schalatter).

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