...advertindo a todo homem e ensinando... em toda a sabedoria, a fim de que apresentemos todo homem perfeito em Cristo
Colossenses 1:28
O tema da perfeição cristã é maravilhoso, instigante, e reconhecidamente difícil. Existem muitas concepções filosóficas e teológicas em torno de sua definição e de qual seja sua manifestação na realidade da vida cristã, e para enriquecer ainda mais esse debate trago aqui a tradução do verbete: "Perfeição/Maturidade" do Dicionário de Paulo e suas cartas (Dictionary of Paul and His Letters, Gerald F. Hawthorne, Ralph P. Martin [editors]) na esperança de que ele auxilie a compreensão dos leitores de alguma forma!
Para acessar a tradução apenas clique no link "mais informações" logo abaixo e bom estudo!
Perfeito/Maduro
Nos
escritos de Paulo a perfeição ou maturidade transmitem várias ideias
relacionadas ao conceito de cumprimento, de se atingir um alvo ou conclusão. A
palavra efetivado em português
captura uma nuance importante no pensamento de Paulo sobre esse assunto: aquele
que é perfeito ou maturo atingiu seu alvo pretendido. Paulo comumente utiliza o
adjetivo grego teleios (“perfeito,” “completo,”
“maduro”) para transmitir o conceito, apesar de várias palavras cognatas também
contribuírem para formar o quadro como um todo: teleioō (“aperfeiçoar,” “completar,” “amadurecer”), teleō
(“completar,” “finalizar”), telos (“fim,”
“resultado,” “propósito,” “completamente”) e teleiontēs (“maturidade,” “perfeição”).
O conceito paulino inclui quatro aspectos diferentes: (1) simples maturidade,
ou o alcance de um alvo; (2) a perfeição espiritual como o status de todos os
cristãos “em Cristo”; (3) uma posição de perfeição relativa atingida pelos
cristãos nesta vida; e (4) o estado de perfeição última que os cristãos esperam
experimentar na era porvir.
1. Maturidade, tendo alcançado o alvo.
2. Perfeição espiritual como existência “em Cristo”.
3. Perfeição relativa nesta vida.
4. Perfeição absoluta na era porvir.
1. Maturidade,
tendo alcançado o alvo.
Em vários lugares Paulo fala de maturidade em um
sentido não teológico. Ele encoraja os coríntios a pensar somo adultos –
pessoas maduras – não como crianças (1 Cor 14:20). Ele insiste, possivelmente
de forma irônica, que cristãos maduros exercem uma espécie de julgamento sóbrio
(Fil 3:15). O poder de Cristo, ele argumenta, cumpria seu alvo intencionado ou
estava verdadeiramente operante quando Paulo estava mais fraco (2 Cor 12:9 –
ver Fraqueza). Ao ponto da morte Paulo pôde afirmar que ele cumpriu com sucesso
sua atribuição como apóstolo cristão (2 Tim 4:7).
2. Perfeição
espiritual como existência “em Cristo”.
Paralelo ao senso de atingir o alvo/objetivo, se
tornar um cristão conduz o ser humano a se torna perfeito, ou completo. Assim é
que Paulo alude aos coríntios como “perfeitos,” ou “maduros” (1 Cor 2:6) pois
para eles o Espírito revelou sua sabedoria que “não é deste século” (2:6, 10).
Os coríntios são colocados em contraste com aqueles que não têm o Espírito
(2:12, 14), que não possuem nenhum discernimento espiritual. O alvo/objetivo de
Deus para Seu povo é que eles fossem perfeitos, e atingir esse alvo energizava
o ministério apostólico de Paulo. Convencido de que Deus quer que todos sejam
salvos, Paulo não deseja nada menos do que apresentar “cada pessoa” perfeita em
Cristo (Col 1:28). Seu ministério fosse de exortação, ensino ou de outros
meios, servia a esse alvo intencional (ver Du Plessis, 198-99).
Apesar
de a salvação em si trazer um status de perfeição, a nova vida em Cristo
precisa ser efetivada. Qual é o seu alvo/objetivo intencionado? Para Paulo o
alvo é a perfeição, em um nível tanto pessoal quanto coletivo. E a perfeição
tem dois estágios: uma espécie relativa de perfeição que os cristãos atingem
nessa vida, e um estágio de perfeição final e absoluta realizada somente na
vida porvir.
3. Perfeição
relativa nesta vida.
Primeiro Paulo defende a perspectiva da perfeição
para os crentes individuais. Paulo insta os cristãos que foram tão grandemente
agraciados com a salvação de Deus a procurarem a perfeição (Rom 12:2). A
vontade de Deus é “perfeita,” os crentes, pela transformação renovadora de suas
mentes realizada pelo Espírito de Deus, podem conhecer a vontade de Deus. Os
propósitos de Deus em nada diminuem o alvo de que Seu povo devesse cumprir
perfeitamente sua vontade. Ao mesmo tempo Paulo insiste que a perfeição, ou a
maturidade, é obtida apenas através de se viver de acordo com a vontade de Deus
(Col 4:12). Esses são alvos presentes para os cristãos procurarem.
Em
segundo lugar, na questão coletiva, Paulo insta a igreja à perfeição – para que
eles se tornem adultos plenamente amadurecidos em todos os seus caminhos. Em
efésios 4:13 Paulo chama não os crentes individualmente, mas a igreja inteira,
para o objetivo de Deus para sua existência: a plenitude de Cristo.
A
maturidade também transmite a expressão corporativa da igreja de uma unidade
caracterizada pela fé e pelo amor. Apesar da igreja já existir “em Cristo” como
uma nova pessoa madura (Efésios 2:13), ainda assim ela precisa buscar essas
virtudes com a ajuda dos ministros que Cristo tem dado a ela (Efésio 4:16). Isso
se encaixa na ênfase de Paulo no amor em Colossenses 3:14, onde o amor liga e
une os dons e os esforços dos membros da igreja. Buscar o amor, Paulo diz,
produz a perfeição. Dessa forma a igreja se torna o que Deus intencionou que
ela fosse. Aqui o dito de Lietzmann é útil em explica Paulo: “se torne o que
você é.” “trabalha eticamente tudo o que está envolvido ao estar em Cristo” (Flew,
59).
4.
Perfeição absoluta na era porvir.
Apesar da perfeição permanecer o alvo para os cristãos
nesta vida, e que uma perfeição relativa deva ser atingida, Paulo vislumbrava
um eventual estado de inteira perfeição para aqueles que estão em Cristo. Isso
consiste em sentido supremo “o fim” ou “o estado completo.” Nesta era, tão
santos ou amorosos quanto qualquer individuo ou igreja possam se tornar, a
perfeição absoluta permanece ilusória, pois ela pertence à era porvir. Tudo é “em
parte” até que venha o que é perfeito (1 Cor 1310). Mesmo as melhores
qualidades ou ações que os crentes possam exibir no presente – incluindo-se o
exercício dos dons espirituais mais impressionantes – são menos do que o
objetivo final de Deus para Seu povo. Mas no fim, quando Cristo retornar e a
igreja atingir seu destino final, a perfeição reinará. Paulo vê aquele destino
como um prêmio no fim da linha, e ele trabalha diligentemente para alcançar aquela
perfeição (Filipenses 3:12-14). Ele reconhece que ele ainda não era perfeito,
mas ainda assim o estado consumado inspirava sua vida presente. Quando a
ressurreição vier, ele receberá o prêmio. Então os cristãos serão
verdadeiramente aquilo que Deus designou que eles fossem – perfeitos.
Acreditava
Paulo que os cristãos poderiam se aproximar nessa vida da perfeição final de
estar sem pecado? Apesar de não ser extensa, a evidência sugere que Paulo nunca
vislumbrou que os cristãos pudessem atingir um estado de impecaminosidade nesta
vida. Ele nunca faz essa afirmação sobre si mesmo, nem ele jamais toma algum
cristão como modelo de impecaminosidade. Ao mesmo tempo Paulo claramente vê o
pecado como um inimigo derrotado. Apesar do cristão nunca se tonar completamente
impecável nessa vida, Deus tem o objetivo de que eles devam e consigam evitar
de pecar. E Paulo também ensina que é impossível para os cristãos não
pecarem. Em Gálatas 5:16-26 ele defende o poder do Espírito sobre a natureza
pecaminosa, e em Romanos 6:2, 6, 11-14, 18, 22 ele claramente insiste que
resistir ao pecado não só é possível, mas é a resposta requerida daqueles que
Deus justificou. O ponto não é que os cristãos alcancem um estágio no qual eles
não possam pecar, mas que Deus os capacitou para que eles não pequem.
Bibliografia
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G. Delling, “τέλος ktl” TDNT VII.49–87;
R. N. Flew, The Idea of Perfection in Christian Theology (London:
Oxford University Press, 1934);
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(Kampen: Uitgave, 1959);
H. K. La Rondelle, Perfection and Perfectionism (Berrien Springs,
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R. Schippers, “τέλος,” NIDNTT 2.59–66;
R. Schnackenburg, “Christian Adulthood according to the Apostle Paul,”
CBQ 25 (1963) 254–370;
B. B. Warfield, Perfectionism, Vol. 1 (New York: Oxford
University Press, 1931);
J. A. Ziesler, “Anthropology of Hope,” ExcT 90
(1979) 104–9.
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