quinta-feira, 5 de abril de 2012

Ironia nas Escrituras - Ekkehardt Mueller

“De igual modo, os principais sacerdotes com os escribas, escarnecendo, entre si diziam: Salvou os outros, a si mesmo não pode salvar-se;” 
(Marcos 15:31)

A ironia é uma ferramenta linguística muito usada pela humanidade para expressar verdades e questionamentos de forma a evitar afirmações diretas, mas fazendo-as por afirmar seu oposto! As Escrituras contém vários exemplos de ironia, e nesse post trago a tradução de um breve artigo de Ekkehardt Mueller sobre "Ironia nas Escrituras" publicado originalmente no site do Instituto de Pesquisas Bíblicas da conferência geral (Acesse esse artigo original em inglês clicando aqui!!!). Espero que essas breves considerações possam contribuir para um melhor entendimento do texto sagrado

Para ter acesso ao artigo apenas cliquem no link "Mais informações" logo abaixo

Graça e Paz!



Ironia nas Escrituras
Ekkehardt Mueller

            A ironia é encontrada não apenas no dia-a-dia, mas também na Escritura. “Em uma conversação comum, a ironia é a afirmação de uma coisa com a intenção de se afirmar outra coisa. ...incongruências irônicas estão presentes tanto os ensinos de Jesus ... como seu destino ... como literatura as Escrituras também estão preenchidas com ironia dramática, na qual o leitor sabe o que o personagem não sabe...”[1]
            Depois do dilúvio Deus prometeu não mandar novamente um dilúvio mundial. Mas os homens construíram uma torre, talvez como um refúgio para um dilúvio futuro, para chegar ao céu e tornar célebres os nomes deles. A despeito de ser um prédio gigante ele era tão pequeno que Deus desceu do céu para ser capaz de vê-lo (Gen 11:5). A situação é descrita em termos irônicos. Quando Natã encontrou Davi depois de seus pecados de adultério e assassinato e lhe contou uma história, sem saber Davi condenou a si mesmo. Jonas não podia escapar de Deus, e no fim ele acabou cumprindo a comissão que ele detestou e da qual ele estava fugindo. Pedro afirmou que ele defenderia Jesus com sua própria vida. Ainda assim ele negou o Senhor e fugiu (Marcos 14:30). Paulo apelou para César com o objetivo de não ser entregue aos judeus e ser morto (Atos 25:11). Contudo, no fim ele foi morto por César. A Bíblia está cheia de ironia.
Ironia na vida de Jesus Cristo
Não intencionalmente, a liderança judaica do tempo de Jesus fez afirmações que pretendiam ser denegridoras a respeito de Cristo, e ainda assim essas próprias afirmações contém profundos vislumbres do plano da salvação e da vida e ministério de Jesus. De acordo com Lucas 15:2 os fariseus e escribas começaram a murmurar, dizendo, “esse homem recebe pecadores e come com eles.” Mas essa afirmação negativa contém novas muito boas. Por causa do que Jesus tem feito pecadores como nós ainda têm alguma chance.
            Em João 11:50 Caifás, o sumo sacerdote, exclamou no concílio da liderança em Jerusalém “nem considerais que vos convém que morra um só homem pelo povo e que não venha a perecer toda a nação.” João prossegue para explicar a ironia da situação nos dois versos seguintes.
            Existem ditos estranhos de Jesus. Na parábola dos trabalhadores na vinha, aqueles que começaram a trabalhar mais tarde receberam seus salários primeiro. E aqueles que trabalharam por uma hora receberam a mesma quantia daqueles que trabalharam as doze horas. “os últimos serão os primeiros” (Mateus 20:16). “Bem aventurados os pobres...” (Lucas 6:20). “Pois quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la, mas quem perder a sua vida por minha causa e por causa do evangelho a manterá” (Marcos 8:35). A vida e o destino de Jesus são irônicos. Como o Messias, o rei da paz, que viveu para servir e salvar os outros, ele é crucificado. A crucifixão do Salvador é uma ironia.
Ironia em Marcos 15:31
O evangelho de Marcos também tem sua porção de ironia. “De igual modo, os principais sacerdotes com os escribas, escarnecendo, entre si diziam: Salvou os outros, a si mesmo não pode salvar-se;” (Marcos 15:31).
            A palavra traduzida por “salvar” pode ser traduzida também por “livrar” ou “curar.” Antes de Jesus nascer o anjo disse que “ele salvará o seu povo dos pecados deles” (Mateus 1:21). Em desespero durante uma tempestade os discípulos exclamaram: “Senhor, salva-nos! Perecemos!” (Mateus 8:25), e Jesus acalmou a tempestade. Jesus encontrou pessoas, ou elas vieram para ser curadas (Marcos 3:4; 5:23, 28, 34; 6:56). Possessos de demônios eram curados e libertos (Lucas 8:36). Jesus ressuscitou uma garota morte, mas antes de fazê-lo Ele prometeu ao seu pai que Ele faria ela ficar bem (Lucas 8:50). Ainda assim Jesus não estava preocupado com cura física, Ele trouxe salvação aos indivíduos que ele encontrou. “Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o perdido.” (Lucas 19:10). Os inimigos de Jesus reconheceram que Ele tinha ajudado e curado outras pessoas. Mas eles clamaram que ele não podia fazer o mesmo em seu favor.
            Poderia Jesus deixar a cruz e salvar a si mesmo? Com certeza, Ele poderia ter chamado em Seu auxílio miríades de anjos (Mateus 26:53). Ele que tinha o poder de entregar a Sua vida e de retomá-la (João 10:18), não teria nenhum problema em se desvencilhar dos pregos da cruz e ascender ao céu. Dessa forma os sacerdotes e escribas estavam errados. Jesus tinha poder de salvar a si mesmo.
            Mas perguntamos mais uma vez: Poderia Jesus deixar a cruz e salvar a si mesmo? E desta vez a resposta é não. Por estar determinado a salvar outros, Ele não podia salvar a si mesmo. Pois para Jesus era uma situação isso ou aquilo, não uma escolha de ambas as coisas. Ou Ele salvava a humanidade ou Ele salvava a Si mesmo. Ou Jesus morria por nós para nós fossemos libertos, ou Ele salvava a Si mesmo e nós encararíamos a morte eterna. Por Jesus estar no “ramo” de salvar pessoas, por Ele amar tanto a humanidade, Ele não podia salvar a Si mesmo. Então, depois de tudo os sacerdotes e escribas estavam certos, sem saber. Eles fizeram uma afirmação sobre a natureza e caráter de Jesus que eles não entendiam/compreendiam. Sua observação pejorativa estava correta. Isso é ironia. Nossa salvação é irônica. “Ele salvou outros, mas não pôde salvar a si mesmo.”


[1] R.N. Soulen, Handbook of Biblical Criticism, third edition (Atlanta: John Knox Press, 2001), 88-89. 


Tradução: Ezequiel Rosa Gomes Junior 

2 comentários:

Alexandre Rangel disse...

Ezequiel, pela definição que conheço de ironia (figura por meio da qual se diz o contrário do que se quer dar a entender; uso de palavra ou frase de sentido diverso ou oposto ao que deveria ser empr., para definir ou denominar algo [A ironia ressalta do contexto.), não consegui ver ironia nos exemplos citados. Se puder me ajudar agradeço.

Eliezer Ferreira Silva disse...

Gostei muito. Para um bom entendedor os exemplos sao mais que suficientes.

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